Luísa desistiu de se esforçar para ficar forte. Se ninguém apareceu para salvá-la, provavelmente, Daniel estivesse morto e sua mãe escondida com sua irmã.
Estava tão fraca e debilitada por causa da violência que sofria que não se davam mais ao trabalho de amarrá-la, ficava deitada na mesma posição o dia inteiro até a mulher responsável por lhe dar banho chegar.
A essa altura desejava a morte. Tudo doía, respirar doía, pensar doía. Sangrava tanto que não sabia dizer se era menstruação ou os machucados que Franco lhe causara. Se passaram dois meses de cárcere, não que Luísa estivesse contando, porque para ela parecia mais de um ano. Pelo menos Franco não conseguia lhe penetrar da forma convencional, só a atormentava com torturas. Agradecia mentalmente pelas falhas, ela odiaria ficar grávida dele. Agora ele esperava que ela parasse de sangrar todos os dias para continuar a lhe atormentar.
Depois do primeiro abuso, ele dormia com ela algumas noites, mas só ele fechava os olhos, ela passava a noite em claro com medo de que tudo se repetisse mais de uma vez por dia. Era tanto terror e estado de vigília que o esforço para não dormir a fazia alucinar muitas vezes ao dia. Muitas das vezes tinha pesadelos acordada.
Em uma manhã qualquer a mulher que cuidava dela chegou, se aproximou lentamente, talvez com medo de que encontrasse um cadáver. Ajudou Luísa a sentar. Ela estava de olhos abertos e catatônica, vegetando, como se estivesse mesmo muito drogada ou presa em mais um sonho acordada. A outra puxou os lençóis ensanguentados debaixo da menina e observou as manchas de sangue por alguns instantes, com curiosidade. Depois a levou para tomar banho. Luísa tremia as pernas fracas, quase sucumbindo, mas deixou a água gelada cair em seu corpo para se limpar da noite anterior.
A garota não sabia dizer se era compaixão, mas sentia a mulher, que nem sabia o nome, ser mais sensível com ela, mesmo que não se falassem. Se concentrou em resistir a reclamar das dores que sentia quando a moça lhe ajudava a passar sabão no corpo e então a mão da mulher repousou na altura de seu ventre. As duas se entreolharam por longos segundos, mas ainda assim sem trocar palavras.
Luísa foi levada de volta a cama e vestida. Alguém fazia barulho na fechadura da porta para entrar. Antes, a garota suplicou com o olhar em direção à sua carcereira e negou sutilmente com a cabeça.
Franco entrava com uma sacola nas mãos e a jogou em direção às duas.
- Quero isso para amanhã. – Ele falou e acendeu um cigarro.
- Se quer que ela fique com a cor da modelo da caixa, precisa de um descolorante. O cabelo dela é muito escuro para isso pegar. – A mulher revirava entre as mãos uma caixa de tinta de cabelo da cor loira, quase branco platinado.
Era a primeira vez que a menina ouvia claramente a voz da mulher, autoritária e sem intimidação.
- Eu não sei ver essas coisas. Então você vai e compra o que precisar. – Ele tirou dinheiro do bolso da calça e jogou em cima da cama. – Ela já parou de sangrar? – Ele perguntou indicando Luísa.
- Ainda não.
- Isso não vai embora nunca?
- A menina está raquítica. Acho difícil, com a saúde que ela está, ficar bem de alguma coisa.
- Eu vou falar com o segurança, você termina aí e vá urgente comprar o que precisa. Preciso dela pronta até amanhã.
- Impossível. Isso é um processo...
- E como as mulheres saem loiras no mesmo dia do salão? – Franco começava a ficar irritado.
- Você disse bem, no salão eles têm produtos profissionais especializados. O que a gente tem aqui são produtos de farmácia. Fazer em casa é um processo longo, senão é capaz dela ficar careca.
- Ah, eu não entendo de nada disso. Faça o que precisar para mudar a cor desse cabelo. Quando chegarmos no outro esconderijo ela vai escurecer o cabelo novamente. Eu prefiro ela morena. – Franco disse debochando e saindo.
Ao perceber que Franco saiu a mulher se dirigiu rapidamente a Luísa, que todo esse tempo olhava para a parede para não ter que ver o ex padrasto.
- Você está grávida. Vai perder essa criança. – Ela falou e se levantou.
- Por favor, não diga nada. – Luísa pediu com lágrimas silenciosas escorrendo do canto de seus olhos assustados.
A mulher saiu sem responder, mas no fundo, Luísa tinha confiança de que ela não diria nada, vê-la discutir com Franco para não tingir seus cabelos foi uma confirmação. Outra coisa que percebeu é que talvez alguém a estivesse procurando, já que Franco queria trocar de esconderijo e mudar seu cabelo.
Sobre a gestação, Luísa não sabia. Só se deu conta quando a mulher passou a mão por sua barriga e então reparou o pequeno volume que se destacava em sua magreza. Agora, mais que nunca, ela tinha que sair daquele lugar. Mesmo que morresse tentando. Não podia deixar aquele pedaço de seu marido morrer. Talvez fosse impossível, porque já sangrava há dias e Franco abusava dela constantemente, porém daria um jeito de manter seu filho vivo. Tentaria ser forte por ele. Daniel, desde o início, sabia que ela ficaria grávida. Agora tinha uma nova missão a cumprir, por seu marido, por seu filho.
A tarde, pela primeira vez, chegou um almoço generoso, quase um banquete. A boca de Luísa salivava e suas mãos tremiam em busca do garfo para poder comer. Ela só pensava em alimentar o pequeno ou pequena que crescia dentro dela. Pensando mais claramente e com um novo objetivo, começou a comer devagar para não dar indigestão. Também se motivava em pensamento a ter controle sobre os enjoos, pois finalmente entendeu que seus vômitos não eram por comer pouco ou ficar sem comer e sim por conta da gravidez.
A carcereira a olhava, de certa forma, com pena. Sentada ainda longe, ficava tomando conta de Luísa que terminava de comer. Depois de tirar o prato da mesa, a mulher tirou do bolso do avental sujo um comprimido e entregou metade de um copo d’água. A garota olhou aquilo sem entender.
- É uma vitamina. – Falou baixo.
Luísa pegou o copo e bebeu a água toda, mas deixou o remédio de lado. A mulher revirou os olhos, recolheu o comprimido e enfiou novamente dentro do bolso, saindo calada em seguida. Meia hora depois ela estava de volta com materiais comprados para pintar os cabelos de Luísa. Começando por uma mecha na nuca, a mulher fez um teste com descolorante e depois que clareou aquela pequena parte ela pegou uma tesoura e cortou a mecha loira. Luísa só observava sem dizer uma palavra.
Com uma caixa de fósforos escondida dentro do bolso a mulher se trancou no banheiro e acendeu um para queimar um pouco da mecha e fazê-la ficar com aspecto feio. Esperou um tempo até o cheiro de queimado sair e deixar o cheiro da tinta dominar o ambiente para sair do cômodo. Minutos depois Franco entrou no quarto com a mulher logo atrás.
- E agora? Eu não gosto do cabelo dela curto e nem vai fazer diferença. Eu precisava mudar a cor. – Ele estava visivelmente agitado. – Ah, quer saber, arrume tudo que vou tentar partir hoje. Você não tem peruca, não é?
- Não. – A mulher respondeu obviamente.
O homem estava tão nervoso que não se preocupou em ir perturbar Luísa e apenas saiu do quarto. A carcereira recolheu o material que havia preparado previamente e antes que fosse embora Luísa sussurrou um “obrigada".
Não demorou muito a mulher voltou com um homem magro e de cabelo falhado para recolher e limpar algumas coisas e ajudar Luísa a sair. Fizeram tudo muito apressados e pela primeira vez a menina se viu em um local diferente, um corredor curto e escuro, abaixo dos seus pés o chão era de madeira velha como o quarto. Logo depois havia uma claridade vinda de um andar inferior que iluminava degraus igualmente velhos, parecia que qualquer passo em falso ali faria desabar a casa inteira. Logo antes de descer as escadas, no alto da parede, havia um relógio grande e redondo, era esse o tique e taque que Luísa ouvia quando estava tudo quieto. O quarto de onde Luísa saiu com a outra mulher ficava na lateral, no fundo do pequeno corredor havia mais uma porta de cor marrom descascada e foi dali que Franco saiu e chamou as duas e mais o segurança raquítico para entrarem.
Luísa era praticamente arrastada pelos dois enquanto Franco ia na frente. Entraram no quarto e depois se espremeram no banheiro velho da suíte. A garota prestava atenção a tudo que podia e se perguntava que loucura o ex padrasto estava aprontando. O banheiro dava nojo de tão sujo, mas o que mais surpreendeu foi o fato de que arrastando o armário tipo estante, onde guardavam itens de higiene e toalhas, havia uma passagem estreita que não caberia mais de duas pessoas em fila. Do outro lado era outro banheiro que também tinha a passagem escondida por uma armário um pouco mais largo. Esse banheiro por onde saíram era um pouco mais limpo se assim podia-se dizer. Era velho, mas parecia que alguém passava regularmente para limpar.
Ficou óbvio que Luísa estava muito bem escondida em uma passagem secreta, só lhe restava descobrir onde ficava isso.
- Eu deixei o carro aberto no estacionamento. Vou levar ela até lá, passem um pano no chão, deixem todos os pertences dela naquele lençol, joguem um amaciante forte por cima e levem imediatamente para que eu possa sair.
Franco deu a ordem e agarrou o braço de Luísa, fazendo-a correr para acompanhá-lo. Desceram alguns degraus até chegar no primeiro andar térreo do que parecia ser a recepção de algum lugar. Os olhos da garota doeram com a claridade forte que passava pelas portas de entrada que ficavam mais distantes. Se tivesse um pouco mais forte poderia correr. Talvez gritar fosse a melhor opção, mas precisava esperar a hora certa.
Passaram por uma passagem lateral e que tinha cobertura. Ficava um nível abaixo e de relance Luísa reconheceu a pintura do lado de fora, mas seu raciocínio e memória não a ajudavam a lembrar. Ela foi empurrada para o banco de trás e impulsivamente gritou por socorro. Tentou gritar o mais alto que pôde, mas além de estar rouca, o tempo que levou sem falar não deixou que sua voz se elevasse o suficiente. Franco tampou sua boca imediatamente, apertando sua cabeça com força no encosto do banco. Seu rosto feroz e maligno ficou à centímetros do dela, a olhando ameaçadoramente.
- Nem tente fazer isso. – Ele disse entre os dentes cerrados.
Ele estava desesperado, sim, estava e muito. Luísa voltou a reclamar, mas dessa vez de dor, Franco amarrou muito forte uma corda em seus punhos, quase fazendo seus antebraços ficarem juntos paralelamente.
- Se você gritar... – Ele tirou uma pistola de trás das costas, estava presa no cós da calça, engatilhou e mostrou sacudindo em sua direção.
Antes que pudesse fechar a porta seu celular tocou. Franco atendeu e sua expressão se modificou mais ainda, mudando para total pânico. Algo estava acontecendo.
- Cara, você não pode fazer isso comigo. – Bradou. – Você disse que tinha um lugar... Polícia? Que polícia? Estão todos do meu lado, não estão? Você vai arranjar tudo, estou te pagando, não interessa.
- SOCORRO! – Luísa aproveitou para gritar enquanto Franco estava distraído – SOCOR...
Com um puxão forte Franco a arrancou de dentro do carro e a jogou no chão com violência.
- Cale a boca, eu já disse, cale a boca...
Sem dar atenção aos protestos de dor Franco a puxou mais uma vez, agora a arrastando sem pena de volta ao interior do local por onde saíram.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 21
Comments
ʎqǝᗡ 🐝
Mesmo que esse monstro seja esquartejado mil vezes, e sirva de tapete para o capeta, nada vai amenizar o sofrimento dessa mulher!
É muita maldade contra um único ser🤢
2022-10-25
2
Angelica Pacheco
tomara que ela seja encontrada logo ta me dando muita pena dela tá sofrendo tanto
2020-03-15
2