Uma enfermeira e um maqueiro ajeitaram Luísa num dos quartos disponíveis no hospital para começar uma coleta de sangue e colocarem um acesso venoso para soro e medicamentos.
Depois de entrar no quarto Daniel achou estranho o jeito que Luísa dormia e ao se aproximar a ouviu respirando com dificuldade. Sem pensar muito ele a pegou no colo e levou até o carro do jeito que estava, desmaiada e de roupão. Dirigiu apressado até o hospital. Foi levada para a emergência enquanto ele tentava preencher uma ficha. Não sabia muito sobre ela e teve que voltar em casa para buscar seus documentos e roupa para sair.
Ao retornar, um assistente social foi chamado para conversar com Daniel numa sala reservada. Sem jeito, ele admitiu que a esposa estava em depressão e que não lhe dava a devida atenção. Um médico entrou em seguida na sala informando que acionaria a polícia, deixando o homem confuso.
Luísa tinha marcas recém curadas de agressão. O marido ficou assustado, não reparou marca alguma e foi sincero ao dizer que não sabia. O assistente e o médico não se convenceram, afinal, como o próprio marido não saberia se dormia com a paciente?
A enfermeira que cuidava de Luísa avisou que a paciente havia recobrado os sentidos, para a sorte do rapaz que foi deixado por um instante sozinho. Ele estava realmente assustado, não por ser acusado de algo que não fez, mas por entender o motivo de Franco não querer que a enteada fosse exposta em público e nem que fosse ao médico para procurar ajuda. Ele estava lidando com algo muito maior.
- Como se sente? – Perguntou o doutor a Luísa.
- Estou bem. – Mentiu.
- Aqui você está segura, eu vi as marcas no seu corpo. Foi seu marido? Podemos chamar a polícia e vai ficar tudo bem.
- Não é necessário, ele não me fez nada.
- Tem certeza? Se ele a estiver ameaçando não precisa ter medo de me contar. Temos uma equipe de assistentes para auxiliá-la.
- Eu já disse, ele não me fez nada.
O médico respirou fundo e franziu as sobrancelhas ainda incrédulo.
- De verdade. – Luísa continuou. – Foi meu padrasto quem fez isso. Tive uma briga com ele por agredir minha mãe e acabei sendo agredida também.
- E como seu marido não reparou? Ele não faz nada a respeito?
- Não contei porque não queria preocupá-lo e estou sem contato físico com ele há algum tempo.
- Por que?
- Eu não quero que ele se envolva nessa briga, meu padrasto é um homem perigoso. Olha, doutor, não quero falar sobre isso. Meu... Meu ma-ri-do é inocente e não sabe nada do que acontece. Eu estou mal emocionalmente e não quero conversar, preciso ir embora. – Ao falar a palavra marido Luísa sentiu-se desconfortável, era estranho mencionar. Ela precisava sair dali antes que Franco soubesse e quisesse puni-la.
Após longos minutos o médico voltou sozinho para a sala onde Daniel aguardava.
- Está tudo bem, rapaz. Ela só está desidratada e com uma leve anemia. - O médico entregou uma receita a Daniel. - Prescrevi algumas vitaminas e quando o soro terminar ela poderá ir para casa.
- E o que ela disse sobre as manchas?
- Confirmou que não foi sua culpa e que brigou com o padrasto. Você sabia que o padrasto dela era tão violento assim?
- Não, não sabia. - Ele estava sendo sincero.
- Isso é grave, vou recomendar ajuda psicológica e que a leve para registrar um boletim de ocorrência, ela não quer ficar aqui. Insistiu para ir embora com você.
Daniel ficou surpreso, além de tê-lo inocentado ela queria ir embora com ele.
- Doutor, posso pedir um favor?
[...]
A garota fingiu dormir até o medicamento acabar. Daniel entrou e a observou atentamente, reparou no rosto delicado um pouco abatido e sôfrego. Se sentiu impelido a tocá-lo, e foi o que fez. Com cuidado e suavidade passou os dedos pela bochecha, agora rosada e aparentemente mais saudável e vívida, e pegou uma das mechas que se espalhavam pelo rosto e colocou ao lado da orelha. A enfermeira o despertou chamando para terminar de preencher a ficha para que pudessem liberar a paciente.
Ainda de olhos fechados, a mulher esperava passar os arrepios que sentiu ao ser tocada daquela forma, não sabia o que pensar, sua mente entrou em curto.
O soro chegou ao fim e a enfermeira voltou para remover a agulha do braço de Luísa fazendo-a abrir os olhos assustada. O rapaz de camisa preta entrou.
O coração de Luísa deu um salto novamente e pareceu, por um instante, que morreria ao olhar nos olhos do marido pela primeira vez. Ele se aproximou da cama, não sorriu, a observava sério. Ela desviou o olhar tentando organizar os pensamentos. A voz dele soou em seus ouvidos perguntando como se sentia, seu coração mais uma vez deu um salto. Estava muito surpresa para responder. Esperava ver um homem velho e feio, tão repulsivo quanto seu padrasto e sogro. Daniel era totalmente diferente do que imaginava. Seu olhar era inocente, quase de um menino, levemente puxado, semicerrado, como se quisesse seduzi-la, sem contar o tom de castanho mais parecendo puro mel escuro, que se não estivesse perto o suficiente não daria para notar. O cabelo estava um pouco desalinhado, mas completava seu charme. A boca tinha um desenho fino perfeito. Seu corpo era mediano, mas atlético. Um pouco mais alto que a esposa, altura certa para que sua cabeça repousasse confortavelmente em seu peito. Aparência de ser um pouco mais velho que ela.
- É verdade o que contou para o assistente social? – Perguntou Daniel já dirigindo de volta para casa.
“Até parece que não sabe o que fizeram comigo." Pensou Luísa, observando a paisagem escurecida através da janela no banco ao lado dele. Não falou o caminho todo.
O marido até que foi gentil, embora ela tenha negado a ajuda, ele a faz apoiar em seu braço até a casa.
Luísa chegou amparada por Daniel, sua fraqueza ainda era óbvia, emagrecera muito e sua palidez combinava. Inesperadamente a garota caiu, mesmo com o marido a segurando o choque de algo grande vindo em sua direção no escuro tornou sua queda inevitável.
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Atualizado até capítulo 21
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