Percebendo o quão próximos estavam, acabaram se distanciando sem graça. Naquela noite cada um foi para seu lugar. Luísa não conseguia pregar os olhos de tanto pensar no outro do quarto ao lado, nunca se sentiu tão impelida a gostar de um homem e de se entregar dessa forma, mesmo com todos os problemas, ele a fazia esquecer qualquer coisa.
Um chiado baixo se iniciou e então Luísa percebeu que começara a chover, uma garoa fraca, mas que foi suficiente para Jonas uivar uma orquestra a uma hora da manhã, para a agonia de Daniel. Alguns minutos depois ela abriu a porta para verificar e o marido já subia com o cão mau humorado.
- Pode voltar a dormir, ele vai ficar comigo. – Daniel estava cansado e andava curvado.
A mulher não sabia exatamente o que fazer, mas a vontade era de pegar o marido no colo e cuidar dele. Ele acordaria cedo novamente para trabalhar, como vinha fazendo a semana toda.
Quando voltou para a cama ouviu barulhos de objetos caindo. Ela sorriu, ele, muito provavelmente, estava travando uma batalha com Jonas. Luísa foi até o quarto de Daniel e quando ele atendeu o cachorro corria em volta dos dois.
- Desculpe por isso. – Ele pediu e bocejou passando a mão pelos cabelos.
Ela fingiu não ouvir e sentou na cama acariciando Jonas que deitou a cabeça em seu colo. Daniel colocava os objetos derrubados em cima da cômoda de qualquer jeito para depois se aninhar na cama.
- Pode dormir, eu fico aqui até ele se acalmar e volto para o meu quarto. – Sugeriu esperançosa.
- Mas você vai ficar cansada... – Outro bocejo.
- Tudo bem, você trabalha e eu não.
Daniel fechou os olhos por dois minutos enquanto ela fazia carinho no cão no escuro. Logo depois ele levantou e ajeitou alguns travesseiros para que a esposa encostasse ao lado dele. Ela não percebeu quando adormeceu, mas foi com ele de novo.
Luísa despertou assustada quando o marido tentava colocar suas pernas em cima da cama.
- Desculpe, não era para acordá-la. Você dormiu com as pernas ao lado de fora da cama.
- Ah, eu não percebi quando peguei no sono. Eu já vou, não quero atrapalhar. – Ela se pôs de pé ainda tonta de sono.
- Fique aqui.
Com o pedido inesperado Luísa tentou distinguir o rosto de Daniel na escuridão e saber se aceitava ou saía. Ela precisava vê-lo para sentir o desejo de ficar aumentar, senão iria embora e aguentaria a vontade.
- Tudo bem? – Daniel tocou em seu braço para chamar atenção. – Se não quiser, não tem problema.
A garota se aproximou e o abraçou segurando suas costas com força e colando o ouvido em seu peito para ouvir o coração. Ele a abraçou de volta e cheirou o cabelo. O rapaz preferiu não falar, esfregava as costas da esposa com carinho.
- Fale alguma coisa. – Pediu Luísa.
- O quê, por exemplo?
- Qualquer coisa, gosto de ouvir sua voz, me deixa mais tranquila. – Ela afastou a cabeça enquanto continuava a abraçá-lo.
O homem levou uma das mãos até a bochecha de Luísa que fechou os olhos esperando.
- Você quer ouvir que estou apaixonado por você? – Ele aproximou os lábios dos dela. – A verdade é que agora eu te amo.
Ela deixou que ele a beijasse e correspondeu. Daniel a prendeu num abraço e perdeu o fôlego num beijo quente. Jonas, que os observava em silêncio, começou a latir desesperado até pular em cima dos dois, que foram obrigados a parar. O homem tentou colocar o cachorro para fora do quarto, mas ele não deixou, o que arrancou risos de Luísa.
- Tudo bem, acho que vou voltar para meu quarto. Você tem que voltar a dormir. – Ela deu de ombros, achando graça de Jonas que dava pequenos impulsos para correr querendo brincar.
- Espere, fique aqui comigo. – O marido pediu a puxando para seus braços.
Os dois se beijaram mais uma vez. Luísa sabia que estava indo longe demais, mas não conseguia evitar, não conseguia parar esse sentimento que crescia. Não era capaz de calar o coração aos gritos querendo ficar com ele.
- Está frio, fique aqui.
- Que desculpa ruim. – Ela o beijou dessa vez. – Eu fico.
Jonas não estava disposto a deixá-los juntos, a impressão dele é que o dono estava fazendo algo de errado com Luísa, então fazia de tudo para lhes chamar a atenção. Inclusive subiu nas costas de Daniel quando este abraçou a esposa embaixo do cobertor para dormir.
Luísa não dormia bem assim há semanas. Sentir o calor de outra pessoa era incrível. Porém, quando acordou, o marido já não se encontrava.
Berta já estava na cozinha quando a mulher desceu com o cachorro.
- Daniel sai muito cedo, não é. – Luísa chegou afirmando somente para puxar assunto.
- Sim, essa semana ele tem uns trabalhos urgentes para resolver. – Berta sorria desconfiada. - Está mais sorridente.
- E eu sinto que essa felicidade vai durar pouco. – Disse aleatoriamente com os pensamentos perdidos.
- Por que diz isso? – Berta perguntou apreensiva.
- Franco já quer que eu vá embora. Talvez eu não os veja nunca mais. – Ela tremeu um pouco só de pensar que a qualquer momento seria arrancada da casa onde foi possível ter um pouco de paz. Também pensou no que estava fazendo, se deixando levar pelo sentimento que tinha pelo marido. – Agora Franco está em silêncio, mas eu tenho certeza que alguma coisa muito pior vai acontecer. Tenho medo por você e Daniel.
- Não se preocupe com nós dois. Nós é que ficamos preocupados com você. Temos que arranjar um jeito para que fique conosco.
- Não posso ficar. Daniel me disse o mesmo, que não deixará que eu vá, mas isso envolve muitas coisas. Como fica minha família? Como vocês vão conviver com Franco perseguindo todo mundo?
- Mas se você não deixar meu menino tentar, nunca vai saber se vai dar certo. Deixe-o tentar te proteger. Ele tem recursos para procurar sua família e deixá-las seguras.
- Eu não quero arriscar vocês. Não quero.
- Minha filha, nós não nos arriscamos, você é quem corre mais perigo sendo dominada desse jeito por esse crápula.
Luísa abaixou a cabeça e ficou em silêncio. Esse era um assunto indiscutível para ela. Aquela sensação boa que sentia foi se esvaindo, dando lugar a pensamentos ruins de Daniel sendo machucado por seu padrasto, de sua mãe e irmã em perigo. Era a ansiedade novamente atacando. Sabia que estava transformando esse problema num monstro horrível, talvez Daniel pudesse ajudá-la, contudo, não queria arriscar a vida do homem que começou a amar. Espantou o pensamento ruim quando começou a sentir um nó se formar em sua garganta.
Tentou fazer seu dia agradável, acabou confessando a Berta que dormira junto de Daniel, ela não ficou surpresa e Luísa deduziu que o homem devia confidenciar tudo a ela, afinal, era como sua mãe. Brincou com Jonas quase a tarde inteira, mas o pensamento estava mesmo no marido, estava ansiosa por sua chegada. O coração disparava só de pensar nele abrindo a porta. Não queria admitir, mas também começou a amá-lo.
Berta teve que ir para cuidar do neto, deixando Luísa sozinha na sala assistindo TV com Jonas ao lado e embrulhados num cobertor. Ficava mais frio e a garoa não ajudava. Ela gostava do clima assim, era perfeito para ficar agarrada em Daniel mais uma noite.
[...]
- Cara, eu estou quebrado. – Felipe reclamava se espreguiçando. – Não sei como você aguenta. – Ele fechava abas no computador, eliminando as tarefas que havia concluído. – Ah, você tem uma esposa esperando em casa. Com certeza deve receber massagem.
Daniel lançou um olhar de lado e continuou lendo um arquivo.
- O que foi? Eu queria ter uma esposa.
- Você? Casado? – Daniel debochou.
- E por que não? Você disse que ela tem uma irmã, não é? Por que não me apresenta sua cunhada?
- Pare de dizer asneiras. – Daniel já desligava o computador. – Se vire aí que estou saindo.
- Vai aonde?
- Preciso resolver um assunto. – Disse já levantando.
- E desde quando não me diz onde vai? Não vou ficar trabalhando sozinho.
- Não quero que vá comigo porque você é muito chato.
- Aaaah, já sei o que vai fazer. – Felipe pegou o casaco da cadeira ao lado, fechou o notebook sem desligar e seguiu o amigo até o elevador do prédio. – É o aniversário dela e você vai encomendar um presente. Que lindo, vai mimar a esposa de mentirinha.
- Qual é o seu problema? É muito difícil parar de debochar de tudo? Não te conto mais nada. – Daniel apertava o botão de comando do elevador várias vezes irritado. – E outra coisa, pare de ser fofoqueiro e ficar olhando as coisas que eu pesquiso.
- Mas eu não vi nada.
- Como você sabe que vou encomendar alguma coisa?
- Tudo bem, você me pegou. – Ele levantou as mãos. – É que meu amigo está muito romântico e isso me deixa preocupado.
Daniel ficou calado fingindo que não ouvia Felipe. O elevador abriu e os dois saíram para a rua em direção ao centro comercial.
- Agora, falando sério, irmão. Você sabe que esse casamento é um absurdo, tem certeza que vai dar isso a ela?
Daniel continuou andando até entrar num estabelecimento.
- Você sabe o tamanho, por acaso? – Insistia Felipe.
- Sei. Eu medi mais ou menos a noite.
- Você entra no quarto dela no escuro pra ficar tocando nela? Que pervertido.
- Ela dormiu comigo, seu doente.
- Está brincando? Vocês já dormiram juntos? Então é por isso que está todo apaixonado.
- Nós literalmente dormimos, nada mais que isso. – Daniel afastou o amigo se colocando na frente dele quando uma mulher chegou para atendê-lo.
Felipe ria de Daniel balançando a cabeça.
[...]
Daniel chegou muito tarde e Luísa estava na fase entre a vigília e o sono e não percebeu quando ele entrou. Só sentiu um carinho leve no topo da cabeça, o que a despertou instantaneamente. Estava aprendendo a não se assustar.
- Estava me esperando? – Perguntou ele. Parecia muito mais cansado.
- Sim, estava preocupada, mas Berta disse que você chegaria tarde a semana inteira novamente. – Ele olhou para ela depois de um bocejo como se pedisse colo. – Quer jantar?
- Acho que prefiro dormir. Estou com dor nas costas.
Ele lhe esfregou os cabelos e subiu para o quarto. Ela ouviu o chuveiro de Daniel ligado e foi para o outro quarto. Não queria abusar, ele parecia realmente cansado. Se sentia culpada por ficar tão feliz, mas o queria tanto que talvez tivesse uma crise de tanto que necessitava de carinho.
Ela se enfiou embaixo dos cobertores no escuro, pronta para dormir. Se torturava entre o pensamento de que não devia estar tão contente sabendo que sua família estava em perigo e a vontade de se jogar nos braços do marido e quem sabe até se entregar a ele.
Sem querer dormiu. Sonhou que Franco empurrava sua mãe das escadas do apartamento onde moravam e que tentava lutar com ele e não conseguia. Acordou com Daniel acariciando sua cabeça.
- Meu amor, o que veio fazer aqui sozinha? – Ele sussurrou sentado ao lado dela.
- Eu também... – Ela parou a frase no meio, atordoada entre o sono e o pesadelo. – Também estou cansada. Não queria atrapalhar.
- Vem ficar comigo.
- É melhor não. Eu acho que estou expondo vocês demais ao perigo. – Luísa falava sem prestar atenção realmente nas palavras que saíam de sua boca. – Eu não quero prejudicar a você e nem a mim.
- Se arrependeu do que aconteceu ontem?
Ela ficou em silêncio, não soube se era melhor dizer a verdade de que não havia arrependimento ou se mentia dizendo o contrário. Olhou no fundo dos olhos dele que pareciam igualmente cansados.
- Não precisa me dizer nada, não posso exigir algum sentimento seu nessa situação. Só quero que saiba que estou aqui para você. – Ele se levantou e saiu.
A situação em que se encontrava era extremamente difícil. Não conseguia simplesmente deixar que o marido a ajudasse após carregar todo esse fardo por mais da metade de sua vida. Luísa temia ser um fardo para Daniel. Um dia ele acabaria se cansando disso.
A mulher não suportava também saber que o homem de sua vida estava ali, ao seu lado, mas não podia se jogar facilmente em seus braços. Sim, agora ela sentia que Daniel era o homem de sua vida, mesmo que não tivesse experimentado relacionamento com nenhum outro.
Mesmo cansada, ela saiu do quarto e desceu para ficar um pouco na cozinha. Temia fraquejar e se abrigar na cama do marido. Bebeu um pouco de água e sentou no chão, ao lado de Jonas que depois de segui-la foi dormir em sua caminha de espuma com desenhos de ossinhos. Luísa o acariciou enquanto ele continuava imóvel lhe dando algumas olhadas.
- Eu gosto tanto de você. – Ela começou a conversar com Jonas. – Pena que não pode ir comigo, vou sentir muito sua falta. Acho que vou embora no final de semana. – Deu um beijo no topo da cabeça do cão. – Nunca mais irei vê-lo. Isso me dói porque eu me apeguei a você.
Um nó se formou em sua garganta, se esforçando para não chorar.
- Luísa? O que faz aqui sentada no chão? Está chorando?
Ela levantou rapidamente e sorriu sem graça.
- Estava conversando um pouco com ele. – A mulher indicou o cachorro. – Atrapalhei seu sono? – Ela perguntou ao ver ele franzir a testa.
- Não. Eu costumo dar uma olhada em você a noite para verificar se está tudo bem. – Ele deu de ombros e se aproximou. – Desde que você me deu aquele susto eu fico apreensivo em deixá-la sozinha.
- Desculpe, eu não sabia. – Ela dirigiu o olhar para os lados envergonhada.
O rapaz a pegou pela mão e a trouxe para mais perto.
- Eu sei que está confusa. Eu sei que internamente está travando uma batalha de escolhas difíceis. Mas, pense um pouco em você. Sua mãe e sua irmã estão bem. Pelas informações do meu pai, elas sumiram da vista de Franco e ele está ficando louco com isso, por isso quer que você vá com ele, para que não fuja também. Eu tomei a liberdade de mandar investigar. – Luísa o ouvia em silêncio. Ele tomou o rosto dela entre as mãos. – Durma comigo, fique do meu lado, vamos ser companheiros um do outro. Não quero te exigir nada, mas já que é minha mulher eu posso protegê-la, quero cuidar de você. Eu preciso e não me vejo mais sem você aqui como minha esposa. Eu casaria contigo mais uma vez, mesmo sendo muito cedo para dizer isso.
Mais uma vez se beijaram. Devagar, Daniel experimentava os lábios macios de Luísa. A beijava repetidas vezes.
- Não se dê por vencida, não se entregue a ele. – Ele pediu com o rosto muito próximo ao dela. – Fica comigo.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Lima
mata esse padrasto QUERIDA AUTORA!!!!
2022-04-21
0
Angelica Pacheco
por favor faz eles ficarem juntos e esse padrasto pagar por tudo morrer num acidente de carro bêbado por favor
2020-03-11
5
Luna
Se fosse eu ela já que ta com ah corda no pescoço ia me inforcar de vez,ia de cabeça nesse romance se entregava pra ele de corpo e alma lógico que ia abusar do corpito do gato do meu marido,oque ela tem ah perde,oh futuro dela é incerto então querida desfrute do momento 😏😏
2020-03-11
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