As mãos formigavam, a cabeça latejava, a gastrite fazia seu estômago doer, a coluna clamava por ajuda. Luísa estava um completo lixo, com as mãos amarradas por uma corda presa na grade de uma janela fechada com tapumes. Acabara de voltar a si e viu as mãos roxas no alto. A barriga roncava e a garganta parecia um deserto de tão seca. Não soube dizer que horas eram. Agora ela era uma prisioneira de verdade.
Uma mulher mais velha, cabelo castanho amarelado de aspecto sujo, presos num rabo de cavalo miúdo e de avental, entrou com um prato de macarrão e um copo de água. Ela notou estar em um quarto muito velho. Chão de madeira mofada, uma cama torta com o colchão fundo, cortinas que vedavam a entrada de luz e um guarda roupas de cimento puro com portas de ferro. A desconhecida puxou uma cadeira e colocou às costa de Luísa para que sentasse para comer. Uma mesa de ferro de montar foi colocada à frente com a comida.
Luísa não pensou duas vezes, precisava comer, não se importou se tinha veneno, Franco a queria e não a mataria tão fácil. Não era como quando foi para a casa de Daniel, ela precisava arranjar um jeito de fugir e ir ao encontro dele. Pensar no marido doía. Ela tentou engolir uma porção de macarrão, mas ficou entalado na garganta. A ânsia subiu e ela vomitou aos pés de sua vigia que ficou calada o tempo inteiro. A mulher só resmungou quando teve que limpar a bagunça.
A garota lembrou de Franco, com certeza ele está cuidando dela pessoalmente. Ela bebeu um gole de água com as mãos ainda juntas e tentou forçar o macarrão novamente. Conseguiu comer um pouco mais da metade com dificuldade e jogou a cabeça para trás para respirar e fazer a comida ficar no estômago. Não queria colocar tudo para fora de novo, embora a tontura não ajudasse. Ficou parada para se acalmar. Parecia que foi há um século que viu o marido pela última vez, que fez amor com ele. Foi preciso apenas algumas horas para ela ficar infeliz de novo.
Basicamente, ficava amarrada no mesmo canto enquanto a mulher a observava sentada numa cadeira no canto oposto, de vez em quando ela cochilava ou saía do quarto para reclamar, devia estar casada do serviço de capacho a que foi designada. Luísa até pensou em tentar fazer amizade com a carcereira, mas sua cara de poucos amigos a desanimava. Fora suas forças, que estavam no mínimo para que tentasse fazer qualquer coisa. A única vez em que tentou falar, foi ignorada.
- Por favor, sabe ao menos me dizer que dia é hoje? – A mulher nem ao menos a olhou. – Será que meu marido está morto? – Ela sabia que a outra não responderia, fez a pergunta mais para si mesma.
Assim ela permaneceu por sete dias. Foi o que conseguiu contar desde quando acordou após ser sequestrada. Depois desistiu. Daniel talvez estivesse mesmo morto, ninguém a procuraria mais. A polícia, provavelmente, foi subornada por Franco e sua mãe e irmã continuavam escondidas com a ajuda de Felipe.
Luísa se sentia parte daquele ambiente, criando raízes, empoeirada e cheirando mal. Não trocava de roupa e ia ao banheiro amarrada e com hora marcada. Tomar banho era só quando a mulher chegava pela manhã. Se ela não vinha, Luísa ficava do mesmo jeito até o dia seguinte. A comida era quase a mesma todos os dias. Alternando só entre arroz e macarrão. Aos poucos seus pensamentos se tornavam mais silenciosos e vazios. As vezes ouvia suas próprias batidas do coração, fazendo ritmo com a respiração. Barulho de carro só ouvia a noite quando o silêncio ficava maior. Conseguia ouvir também o tique taque de um relógio em algum lugar perto do cômodo. A única coisa que passou a lhe incomodar era a necessidade de escovar direito os dentes. Fraca e com as mãos presas, o serviço parecia não ficar completo.
Franco, este ficou todos esses dias sem dar as caras. Quem sabe, esperando a poeira abaixar para depois tomá-la, finalmente.
Passaram-se períodos de calor intenso, de chuva, de frio. Luísa nem se preocupava mais em sentir medo dos raios e trovões. Então, enquanto ouvia o barulho de chuva pesada sentiu que o ambiente ficava mais obscuro. Teve tanto tempo para meditar que quase conseguia sentir as vibrações espirituais das pessoas. E estava certa. Ele apareceu.
Vestindo uma camisa de manga curta, cor vinho com desenhos geométricos em dourado, a canela de fora, com uma bermuda jeans azul o demônio apareceu. Com certeza havia bebido. Deu um trago no cigarro que trazia entre os dedos e soprou a fumaça em direção ao rosto de Luísa que não se moveu e continuou a encará-lo.
- Agora sim, estou satisfeito. – Franco soltou a última baforadas e apagou o cigarro esfregando a ponta na parede, jogando a bituca em qualquer lugar. – Agora eu sei que estão tomando conta de você de verdade.
Luísa reparou no objeto que ele balançava na outra mão. Uma faca fina e pontiaguda. Aos poucos se recobrava do sono que a pouco sentia. Ultimamente ficava muito cansada.
Pensou por um breve instante em Daniel, como se arrependia de não tê-lo impedido de sair. Poderia ter feito qualquer coisa. Ainda sofria muito e ver seu ex padrasto a fez lembrar do marido. Franco foi a última pessoa com quem ele teve contato.
A garota já o esperava pronta para qualquer briga. Não tinha mais medo. Houve tanto tempo para pensar que sua mente a deixou mais forte. Seu coração só deu um salto ao vê-lo novamente, uma batida forte em expectativa, esperando por esse momento de glória em que encararia de frente seu maior pesadelo sem temer.
- E agora? Cadê aquele abusado para vir dizer que você é mulher dele? Cadê ele para vir se fazer de valentão e me desafiar? Olha, acho que a essa altura ele deve estar enterrado.
- Eu não acredito em você. – Luísa disse entredentes. Ela não tremia mais e as lágrimas finalmente secaram. - Ele é uma coisa que você nunca vai ser para mim. Tenho nojo de você. – Luísa proferiu calma.
Franco a deu um tapa e ela não respondeu.
- Parou de querer lutar? – Ele a apertou pelas bochechas para que o encarasse, fazendo com que seus lábios desenhassem o formato da boca de um peixe. – Você é minha, nunca será dele.
- Eu acho que você chegou atrasado, se não percebeu, estou usando uma aliança e isso significa alguma coisa. – Falou debochada.
Franco reparou o anel pela primeira vez. Seu semblante mudou rapidamente e seus olhos arderam em fúria com as ideias fervilhando em sua mente psicopata.
- Quer saber, eu não vou fazer nada com o seu rosto porque sua beleza me excita, mas não me impede de cortar todos os seus dedos para que não use nenhum anel.
Ele arrancou a aliança com violência, mesmo que a magreza excessiva facilitasse o processo, jogou a joia longe e encostou a faca no dedo onde ela estava.
- Vai ser fácil arrancar esse dedinho tão fino. Não tem medo?
- Vá em frente e faça o que quiser. Nunca vou ser sua, eu já pertenço a ele há muito tempo.
Mais um tapa com o dorso da mão que a feriu no lábio inferior e lhe tirou um pouco de sangue. Ele a pegou pelos cabelos.
- Você se acha muito esperta, não é?
Ela o olhou nos olhos e sorriu.
- Eu acho que você estava se achando muito inteligente e pensou que me prendendo com ele me manteria guardada para você. Eu transei com ele mais vezes do que você pode contar e eu adorei.
Dessa vez ele a empurrou no chão fazendo-a se chocar contra a parede.
- Nunca vou ser sua. Pode me bater quantas vezes quiser, arrancar todos os meus dedos, pode me estuprar, mas nunca vai arrancá-lo de mim. Ele foi meu primeiro. – Ela dizia rindo como outra psicopata.
Ela conseguiu atingir o ponto fraco do homem, tirá-lo do controle da situação. Como louco ele chutava e quebrava os poucos móveis do quarto. Luísa gargalhava.
Tomado de ódio, ele arrancou a corda da grade e arrastou a mulher até a cama velha, que soltou uma camada de poeira com o impacto.
Incrivelmente, ela não tremia mais. Não tinha nada a perder. Seu único objetivo era conseguir sair dali. Então, o que ela temia durante quase toda sua vida estava para acontecer. Luísa virou o rosto para não ter que ver a cena seguinte. Franco desprendeu o cinto e começou abrindo o zíper da bermuda. Tomada por nojo, a mulher teve ânsia de vômito. Seu estômago estava tão vazio e embrulhado que só conseguiu soltar saliva. Ao notar que nada acontecia ela voltou a olhar e viu o homem tentando em vão fazer seu membro ressuscitar.
A garota não conseguiu disfarçar o deboche e riu. Luísa ria tanto que deixava o outro mais louco e raivoso. Ela sabia que essa era a pior derrota para ele, ver sua virilidade indo por água abaixo.
Enlouquecido, Franco avançou. A golpeou por todos os lados que conseguia alcançar com socos. Se houvessem mais pessoas por perto, com certeza podiam ouvir as pancadas e as exclamações de dor. Com a última pancada na cabeça, Luísa apagou.
Ainda furioso com o que lhe acabara de acontecer, o ex padrasto saiu quase derrubando a porta. Ele queria se recuperar desse episódio e daria um jeito de dar o troco na ex enteada.
Franco ficou desaparecido por mais alguns dias, enquanto isso, Luísa se recuperava das agressões. Ficou com muitos hematomas pelos braços e no rosto. Dessa vez, ele não teve piedade de sua beleza, como sempre dizia que preservaria. Talvez vendo ela rir de sua debilidade em fazer seu membro ficar rijo tenha ferido seus sentimentos masculinos. A mulher também sabia que ele era orgulhoso demais para recorrer à uma pílula azul. Ele se sentiria mais débil e inútil. Para ele, ser o homem machão era tudo.
Agora ela aguardaria a próxima investida. Como sempre, ele não deixaria barato seu ar de superioridade ao debochar dele, mesmo que já tenha se vingado daquela forma. Começou a deixando várias vezes com sede e sem comer, querendo deixá-la fraca psicológica e fisicamente.
Passados mais dias eternos Franco retornou com um engradado de cerveja e sentou na cadeira que a carcereira costumava ficar para vigiá-la. Em silêncio, o maldito abria lata por lata e bebia lentamente sem tirar os olhos da garota amarrada. Luísa o encarava algumas vezes, mas logo desviava o olhar porque Franco lhe parecia muito demoníaco. Essa brincadeira esquisita durou quase três dias, se repetindo da mesma forma: Franco a olhava interessado como se fosse um programa de TV, bebendo uma lata atrás da outra, dando espaço somente para fumar e encher o quarto com a neblina da fumaça de nicotina intoxicante.
Luísa acabou dando uma risada soprada após horas de vigília do ex padrasto.
- O que acha tão engraçado? – Ele perguntou depois de uma baforada para o alto.
- Você é ridículo. – Ela sussurrou.
- Ah? – Franco se levantou, jogou a ponta de cigarro para o lado com um peteleco sem apagá-la completamente e se agachou na frente de Luísa e, como fazia na maioria das vezes, soprou a fumaça em seu rosto. – Fale mais alto, não consigo te ouvir. – Riu em seguida com seus dentes amarelados.
- Eu tenho tanto nojo de você. – Luísa falou calmamente. – Como você aguenta isso?
- Isso é um bom sinal. – Ele continuava rindo e se sentou ao lado dela para explicar. – Já ouviu falar em síndrome de Estocolmo?
- Você precisa urgentemente de um tratamento psiquiátrico. – Luísa jogou a cabeça para trás para tirar os cabelos do rosto. – Se você acha que vou me apaixonar por você, está perdendo tempo.
- Meu erro foi deixar você viver sob o mesmo teto que outro homem. – Franco se levantou calmamente. – Mas você vai ser minha, você vai querer ser minha, vai me desejar, vamos ficar juntos.
- Só com meu corpo morto você vai conseguir isso, porque nem em sonhos eu me entregaria por vontade própria a você.
- Se aquele bastardo conseguiu fazer você se atrair por ele eu vou fazer melhor.
Em silêncio, ele se distanciou e pegou um pedaço de tecido que Luísa não havia notado anteriormente na cadeira. O homem se aproximou, a vendou com o pano preto e desamarrou a corda da grade. A impulsionou, mas ela resistiu, o que o fez puxá-la com um solavanco. A mulher prendia os lábios para não chorar. Quem sabe, esse seria seu último dia de vida.
Lentamente, como se estivesse sendo muito romântico, Franco a fez deitar na cama e a prendeu na cabeceira. Ela não tinha forças para lutar, estava fraca demais. De vez em quando, quase alucinava, pensando que ainda estava na casa de Daniel, mas eram apenas sonhos rápidos. O homem tirou-lhe lentamente a calça de algodão folgada que usava, a única peça que lhe disponibilizaram para que se livrasse do mal cheiro da outra e, logo depois, livrou-se da calcinha.
Luísa já se sentia invadida de todas as formas. Só de sentir aquelas mãos ásperas apalpando suas coxas, desejava profundamente morrer para não ter que passar pelo restante do processo.
O homem tentou beijá-la na parte interna da coxa, mas ela deu-lhe uma joelhada, mesmo que inutilmente fraca. Então ele a beliscou ali, fazendo-a gritar de dor.
- Isso, quero ouvir você gritar desse jeito. – Ele sussurrou.
Intimamente, Luísa pedia por favor, que ele não fizesse o que pretendia. Ela não queria dizer em voz alta, não queria se humilhar fazendo esse pedido de súplica, porque sabia que não seria atendida e o instigaria mais. Mas tentava com todas as forças do pensamento fazê-lo desistir.
- Diz que você quer. – Franco pediu com sua voz arrastada.
- Eu quero meu marido. – Luísa gritou chorando.
Franco afastou brutalmente as pernas dela a deixando exposta.
- Você nunca mais verá aquele verme. Eu o matei. ELE ESTÁ MORTO. – Ele respirava rápido e pesado. – Agora você é só minha.
Com violência ele lhe penetrou dois dedos, arrancando um grito de dor da garota.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Lyli_
Haha desculpa, mas foi a própria plataforma. Eu escrevi, mas eles bloquearam o capítulo duas vezes. Então tive que modificar 😢
2023-09-25
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janilda forechi santos
não pode ter luxuria mas violência pode??? não entendi autora amor não pode só ódio???
2023-09-23
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Leandra alves da silva pacheco
não acredito que depois de tudo que ela passou a autora vai permitir que ele a estrupe. isso vai ser o fim da história pra mim
2023-09-19
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