Cap. 20 - Especial (sem revisão)

P.O.V. Rui

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Fazem dois dias que Lua e eu não nos falamos mas eu sinto como se fossem anos.

Eu realmente quero chegar até ela mas estou perto de mais do meu objetivo para me distrair e estar afastado dela tem lá suas vantagens. O que eu farei se, no fim, ela for um deles?

Eu odeio indagar sobre isso porque me deixa com medo, eu sinto meu coração morrendo só de imaginar que ela pode estar contra mim.

Eu sei que é paranóia mas também é um fato que ela já não é a mesma de antes. E se a influenciaram enquanto ela estava longe de mim?

Só de pensar que seus pais verdadeiros a esconderam de mim e que Eduardo não me contou que ele era irmão adotivo dela, sinto meu sangue ferver e penso novamente se o caminho menos sangrento vale a pena.

Um jogo mental não é fácil e é bem possível que meu inimigo seja bom nisso o bastante para me driblar... mas no fim o palco está armado, as quatro pessoas mais suspeitas irão estar reunidas e talvez eu possa por um ponto final a tudo isso. Se Lua for inocente, também irá ser nossa chance; vou assumir para todos que ela é minha sem medo de que ela se machuque por isso.

-Kazuki? Você está bem? - Valquíria me perguntou preocupada.

-Sim, me desculpe. - eu me afastei dela e tentei não pensar muito mais nisso.

Lua entrou no salão de baile com um vestido azul escuro, agora que seus cabelos estão curtos é possível ver toda a extensão das suas costas, que só estão cobertas por uma renda azul claro transparente, as mangas do vestido também são longas e o decote chega um pouco a cima do seu umbigo, deixando um V provocante de renda indo do seu colo, passando por entre os seios e acabando onde o decote termina. A saia do vestido é bem cheia, não sei para que tanto tecido mas vê-la assim só saz a minha mente fantasiar como seria arrancá-lo.

A solução que encontramos para a confusão que foi armada, é a de fazer um baile. Para os pais adotivos dela, que devem chegar em alguns minutos, isso é um baile com tema antigo; para os piratas é um lugar para beber a vontade mas com classe; e para Jhonatan, é o modo de Lua demonstrar seu poder.

O plano inicial era esperar a pessoa por trás de tudo se mostrar mas, como se viu necessário, Lua voltou para cá e montou um palco onde ela é a antagonista. Quando eu me revelar, hoje, duas coisas podem acontecer: A pessoa por de trás do incidente de anos atrás vai tentar a recrutar ou vai tentar fingir estar ao meu lado.

Entre os meus suspeitos principais estão Jhonatan, George, Lua e Carlos. Pode ser paranóia minha mas, sim, vou deixar o sentimentalismo de lado e acabar com a pessoa que matou meus pais e me separou de Lua.

- No que você está pensando? - Lua quase consegue fazer com que seu nome saia dos suspeitos só de me olhar com seus olhos verdes como dois vagalumes em uma noite totalmente escura.

-Nada. - não consigo evitar que meus olhos foquem no seu decote. - Você não deveria vestir esse tipo de...

-E você não deveria ditar o que faço. - ela encheu as bochechas de ar e fez um biquinho fofo.

-Você veio até aqui para dizer isso? - perguntei mordendo o lábio inferior ao olhar sua boca, hoje ela se maquiou e está usando um batom vermelho que só faz com que sua boca fique ainda mais atraente para mim.

- Eu ia perguntar sobre meu irmão mas não quero mais saber. - ela corou e saiu batendo os pés em direção ao jardim.

Alguns minutos depois notei que George foi atrás dela, então o segui e me deparei com uma cena que fez meu sangue ferver.

Lua está sentada em um balanço (faço a mínima ideia de como foi parar aí esse troço) e olha para os seus pés descalços sobre a grama, andar de salto deve ser um inferno para ela. George se aproximou dela e se curvou, a cumprimentando.

-Boa noite, eu sou...

-Rui! - Lua agarrou o rosto dele e apertou as bochechas. Preciso me segurar para não ir até lá acabar com isso.- Você é igualzinho aquele idiota.

-Isso é uma ofensa ou um elogio? - ele perguntou com certa dificuldade por causa do aperto dela.

-Não sei.- ela o olhou nos olhos. Desgraçado. - Por que vocês se parecem tanto?

-Eu sou tio dele. - George respondeu me fazendo ficar irritado. Precisava mesmo dizer isso?

-Sério?! Então por que nunca ouvi nada de você?! - ela o soltou mas fez uma expressão de impressionada.

-Ele acha que eu matei os pais dele.

-Você matou?

-Não.

-Aquele idiota...

-Você nem o conhece mas já está do lado dele? - perguntei finalmente me mostrando.

-Rui é cego às vezes. - ela deu de ombros.

-Olha só... - finalmente me dei conta do que estava fazendo, ela sorriu com as sobrancelhas franzidas.

-Tio, esse é o Kazuki. Foi me dado como presente pelo Sr. Jhonatan. - ela me apresentou tentando contornar a situação.

-Oh, já vejo... - ele evitou me olhar. - Se importaria de pedir para que ele nos deixasse a sós, por favor?

Ela olhou para mim com certa hostilidade e eu me senti obrigado a fazer isso de longe, ainda pude ver ela sorrindo para ele enquanto dizia algo. Por que me sinto tão mal?

Essa sensação... é como se eu tivesse perdido algo. Pela primeira vez eu sinto que deveria dar o braço a torcer e ir pedir desculpas a ela, seja lá qual for o motivo para estar brava.

Volto ao salão e tento disfarçar meu desconforto por conversar com Carlos, que já havia chegado quando eu entrei.

-Cadê a minha maninha? - ele perguntou se pendurando nos meus ombros, sinto o cheiro de álcool e concluo que ele já encontrou com seus amigos piratas.

-Não sei. - me afastei dele. - Cadê aquelas pessoas?

-Oh, a "prima" e os tios estão no quarto Amélia. - ele olhou para as escadas. - Você cuida daqui para frente, eu vou ver a minha esposa.

-Você realmente planeja continuar esse casamento? - perguntei já sabendo a resposta.

-A Aninha é tudo para mim, claro que planejo.

Ele saiu cambaleando do salão ao mesmo tempo George e Lua entraram juntos, ela sorriu para as pessoas que foram a cumprimentar e depois veio na minha direção.

-Carlos chegou? - ela perguntou lançando um sorriso para George por cima do ombro. Como ela pode flertar com outros caras quando está na minha frente?

-Qual é a de vocês dois? - perguntei recebendo um olhar duro em troca. - Seus pais adotivos estão no seu quarto.

-Então eu vou até lá... Asumi ficou no seu quarto? - ela perguntou indo em direção as escadas enquanto eu a seguia.

-Asumi não está mais na mansão. - respondi seco, seus ombros caíram um pouco.

-Entendi.

Andamos em silêncio todo o caminho até o quarto Amélia, quando entramos tinha uma bagunça de vestidos no chão e uma garota alta e extremamente magra nos olhou com os olhos mais azuis que eu já vi.

-Prima! - ela exclamou abraçando Lua. - Faz tanto tempo! Como você não me diz que estava mudando para tão longe?

-Eu...

-Luna sempre foi muito egoísta, ela acha que ninguém se importa com ela e também não se importa com ninguém. - a mulher mais velha falou, eu a vi quando fui atrás de Luna no outro mundo e acredito que seja a mãe dela.

Lua encolheu os ombros e eu coloquei a minha mão em suas costas para mostrar que a apoio. Ela deu um pulo e se afastou de mim imediatamente.

-Você deve ser o namorado dela. - a garota que a chamou de prima se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto que foi propositalmente no canto da boca. - Prazer.

Eu a afastei cuidadosamente enquanto forçava um sorriso. O trio (a prima e os pais) jogaram conversa fora por alguns minutos e depois todos haviam terminado de se vestir adequadamente e ido para o salão.

Está mais que na hora de voltar.

Subi em um palanque preparado para a banda e chamei a atenção de todos ao bater um garfo em uma taça.

Lua foi uma das primeiras a me olhar, George se aproximou dela e colocou uma mão em sua cintura, quando ela sorriu para ele eu quase desci do palanque para ir os separar mas obviamente não seria a melhor opção.

-Boa noite, senhores e senhoras. - eu falei no tom que não uso a dias.

Murmurinhos começaram aqui e ali, a maioria das pessoas já me reconheceram pela voz e postura.

-Eu sinto muito interromper este belo baile, mas gostaria de dizer algumas palavras. - Lua se soltou delicadamente de George e saiu do salão.- Eu estive ausente por muitos dias mas creio que tenham ficado em boas mãos, visto que minha leal conselheira esteve aqui para ajudar vocês a administrar tudo.

Os murmurinhos ficaram ainda maiores, eu pude distinguir palavras como "usurpação", "falsidade" e "golpe".

-Mas tenho o prazer em anunciar que partir de hoje, eu retomo o poder. - palmas foram ouvidas pelo salão, pude ver a "família" de Lua confusa mas não perderam a chance de seguir os outros.

Recebi o cumprimento de muitas pessoas e quando finalmente pude ir por um pouco de ar, subi ao pátio onde levei Lua da primeira vez. É um dos meus lugares favoritos na mansão e talvez eu consiga vê-la lá.

Como esperado, Lua estava sentada no parapeito, encarando as estrelas. Ela havia trocado o vestido e estava agora com as roupas que trouxe do seu mundo.

-Podemos conversar? - pedi me debruçando ao seu lado. - Eu queria me desculpa...

-Eu estou indo embora. - ela me interrompeu em um tom seco.

-O que? - eu segurei firme o seu pulso. Que tipo de brincadeira de mau gosto é essa?

-Eu cansei de todo esse jogo, okay? Foi muito bom bancar a normal e ser a sua "namoradinha", mas não foi para isso que vim. - ela fez uma careta e eu soltei seu braço, fiquei tão apavorado que esqueci de controlar minha força.

-O que diabos você está dizendo? - perguntei irritado. - Você é minha.

-Não, eu não sou. Você não tem nada de mais para me oferecer e por isso vou embora. - ela virou o corpo e desceu do parapeito. Eu dei alguns passos para trás e impedir que ela passasse. - Esse jogo foi realmente muito divertido!

Ela riu.

Sinto que posso matar alguém a qualquer momento, uma dor enorme se instala no meu peito e minha voz fala ao continua a conversa.

-... e para onde você vai? - perguntei perdendo a paciência.

-Não te interessa. - ela deu de ombros.

-O que foi que George disse? - eu me aproximei dela e coloquei a mão na sua cintura, a impedindo de se afastar de mim.

-Rui, me solta. - ela mandou, mas firmei ainda mais a mão na sua cintura e com a outra segurei seu rosto.

Antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo, a beijei desesperadamente. Ela retribuiu meu beijo com certo receio, mas depois do alguns segundos me empurrou e se afastou.

-Era isso que você queria? - ela sorriu limpando a boca com as costas da mão.- Não mais dizer nada se você prefere estar preso à ilusão de que eu ainda sou sua.

Ela passou por mim de queixo erguido e bateu a porta ao sair.

É tão escuro e frio aqui sem ela.

Eu não sei mais o que está acontecendo, perdi o controle no mesmo segundo que achei que tinha recuperado Lua e agora sinto como se fosse apenas uma peça de um jogo idiota.

Eu deveria tentar algo para pegar quem quer que seja que esteja movendo as peças mas já não sinto mais vontade de fazer isso.

Eu pensei que já estava preparado para caso Lua fosse uma das pessoas que estivesse me traindo mas parece que me equivoquei. No fundo eu não pensava que ela fosse capaz de algo assim, mesmo não tendo as lembranças antigas dela.

Volto para o salão e dou o baile como acabado, Lua e George já não estão mais presentes.

Chego no meu quarto sentindo que ele está maior do que nunca, mesmo que nos últimos dias não tenhamos dormido juntos, eu sabia que ela estava no quarto ao lado e não me sentia tão desolado.

Comecei a me despir para ir tomar um banho e quanto tirei as calças, um papel muito bem dobrado caiu no chão. Deixei minhas roupas caírem sobre ele e as juntei de um jeito que pudesse pegá-lo.

No banheiro coloquei a roupa suja no cesto e apenas quando estava dentro do box, com o chuveiro ligado, tive coragem de abrir o papel.

A caligrafias de Lua mudou muito desde o dia em que ela escreveu o nome de Asumi na fita.

___________💕Recado da Autora💕____________

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