Bônus - O Outro Lado da História

________________💕PV Rui💕_________________

Acordei com o chamado de Valquíria*, que estava de pé ao meu lado, seu tom de voz me deu uma sensação de desespero.

- Mestre... - eu finalmente abri os olhos, parece que Lua já foi se arrumar para o café, estou sozinho na cama. Encaro a garota que é uma das servas de Lua e reparo que seu rosto está pálido.- ... nós procuramos em todo a casa, mas a senhorita Luna desapareceu.

Que péssimo senso de humor. Não aceitaria que outra pessoa fizesse esse tipo de brincadeira, mas Valquíria é uma garota muito dedicada e Lua parece gostar dela, então vou relevar.

- Eu vou ir tomar banho e me vestir para o café, pode vesti-la bem hoje. - só de imaginar Lua em um vestido bonito, com todas as suas curvas (que para mim são perfeitas) e seu sorriso adorável, me faz querer ir vê-la agora mesmo.

- Mestre, me perdoa, mas eu não estou brincando. - Valquíria se ajoelhou e começou a chorar. Isso foi um pouco longe de mais.

Só pode ser brincadeira. Ontem ela me disse que estaria sempre ao meu lado e agora isso... essa garota vai me deixar louco a qualquer momento!

Ordenei que procurassem em toda a capital e também que informassem Carlos do sumiço dela, enquanto isso fiz minha higiene matinal e fui tomar café.

- É verdade que Lua fugiu? - Carlos perguntou aparentando estar bem calmo. Me sentei à mesa e acenei com a cabeça. - E nem você pode encontrá-la?

- Cala a boca. - mandei lhe lançando um olhar ameaçador. - Ela não pode ter ido muito longe.

- Deve ser de família! Veja eu, estou aqui planejando um golpe de estado e ninguém me descobriu! - ele parecia orgulhoso. Irritante. - Aliás, sua decisão de nomear ela como conselheira de assuntos militares irritou os nobres bem mais do que o anúncio de casamento faria. Mas por que escolheu isso?

- Não quero que ela pense que eu a pedi em casamento apenas para irritar os nobres. - dei de ombros. Ele me olhou com reprovação. - Não faça essa cara, me lembra ela quando está brava e não combina com você.

- E o que combina comigo? - Carlos começou a comer, eu resolvi apenas tomar uma xícara de café preto.

- Não sei. - Ana entrou no salão com o rosto corado, evitando olhar Carlos. - ...se não é minha cunhada.

- E-eu... - ela parecia tão sem graça que quase me fez rir. - ... alguém viu a senhorita Luna ontem.

- Onde? - eu e Carlos perguntamos ao mesmo tempo.

- O guarda que falou com ela não quer me contar, ele disse que é confidencial e que agora que ela é importante ele precisa seguir ordens. - Ana fez um sinal e um homem meio rechonchudo entrou com um sorriso meio assustado. - Pedi para que ele dissesse isso pessoalmente ao senhor.

- Bom trabalho, Aninha! - Carlos bateu palmas, ela sorriu e se retirou com uma reverência desnecessária.

O homem não me parece familiar, não lembro de ter visto ele desde o último recrutamento. Hm, é um espião então, tenho quase certeza.

- Então, onde ela foi? - eu perguntei começando minha atuação, soei tão irritado quanto planejava e o homem se encolheu um pouco.

- Não sei ao certo, ela subiu ao pátio superior, mas quando passei lá alguns minutos depois, ela já havia sumido. - ele fez uma reverência enquanto falava.

- Ela voltou para o outro mundo? - Carlos perguntou, notei que o homem ficou mais atento.

- Provavelmente. - se ele quer informações importantes, vamos lá. - Vou ir buscá-la!

- Você não pode ir! Quer que todos saibam que você foi atrás de uma Viajante suja e ... - soquei a mesa, o guarda tremeu de medo. Ótima reação.

- Não se atreva a dizer isso! Eu vou onde for preciso, você vem comigo. - eu peguei meu cunhado pelo colarinho.

- Não! - Carlos protestou, eu precisei segurar o riso. - Você vai deixar o país sem um governante?

Parei de arrastá-lo para olhar o guarda.

- Você é o único que sabe disso. Se mais alguém souber, o país vai virar um caos e sua cabeça vai rolar! - ameacei enquanto o via concordar frenéticamente.

Continuei meu caminha para fora da sala de jantar, assim que estávamos longe dos ouvidos e olhos do homem, soltei Carlos e cruzei os braços.

- Veja pelo lado bom, além de termos uma desculpa para sair de férias, vamos conseguir fazer com que as pessoas por de trás das cortinas finalmente se movam! - Carlos falou sorrindo alegremente.

- Pode até ser verdade, mas me preocupa como sua irmã está. - lembrei de Eduardo, tenho certeza que ele sabe um modo de nos levar até o "outro mundo", mas provavelmente vai fazer birra por ter ficado tanto tempo preso.

- Ela deve estar bem, afinal, tem sangue Maram nas veias dela! - novamente ele parecia orgulhoso. - Ninguém se atreveria a mexer com ela!

- E quando foi que descobriram isso? Ninguém lá sabe e mesmo que soubesse, seria só um sobrenome bizarro. - apontei o fato e ele pareceu magoado. - Nem mesmo ela sabe.

- Claro, eu não posso colocar ela em perigo. Quanto menos ela souber, melhor. - Carlos tirou um celular do bolso e me mostrou um mapa. - Essa é uma rota pouco conhecida, dizem que leva até a fronteira entre o seu país e o mundo dela.

- Algo assim realmente existe? - perguntei me afastando do pequeno aparelho, prefiro me manter longe das tecnologias para não acabar gostando demais e virar o governante de um país conservador que ama coisas que o país todo odeia.

- É uma teoria... mas nós podemos testá-la e, se der errado, perguntamos para aquele cara.

- Não me parece um plano ruim. - falei enquanto chegavamos ao pátio principal, chamei uma das serventes e pedi que preparasse tudo para nossa viagem.

Enquanto eu e Carlos estivermos lá, provavelmente vão tentar um golpe de estado e isso vai fazer com que as pessoas que não são verdadeiramente leais a mim se delatarem por conta própria. Seria incômodo desconfiar de todos, por isso vamos dar uma chance para eles agirem e depois derruba-los.

Pode parecer problemático deixar que o governante do país vizinho saiba tanto, mas os pais de Carlos e Lua sempre foram muito amigos dos meus pais e eu quero que toda a confiança seja passada também para a minha amizade com Carlos.

Quando meus pais foram assassinados e eu fui obrigado a assumir, infelizmente toda a rivalidade e repulsa que o povo sentia por Maram voltou. Na época eu pensei que eles fingiam antes para agradar meus pais, mas no fundo ainda odiava os marianos.

Por ironia os países tem o sobrenome da família que os governa, é como um lembrete de quem manda em tudo. Quando Lua perguntou o nome do país dele, Carlos mentiu com medo de que o nome fizesse ela se lembrar de algo desagradável.

A verdade é que alguém está causando tumulto e rumores pela capital e também nas vilas mais remotas e a culpa estava sendo colocada nos "selvagens".

Como eram amigos dos meus pais e eles não estão mais vivos para os receber, os pais de Carlos não viajam para cá mas ainda mandavam os filhos frequentemente para cá. Eu me apeguei bastante a Lua, ela passava mais tempo comigo do que Carlos e tínhamos apenas quatro anos de diferença de idade.

No fim eu fui fraco e não consegui manter minha promessa de proteger ela. Lua desapareceu diante dos meus olhos e eu me senti desamparado. Senti que se Maram decidisse começar uma guerra por termos sumido com a primeira filha dos governantes, eu não me importaria.

A guerra? A vida de dois milhões de pessoas? Nosso ouro, nosso gerin* ou nosso combustível? O que era nossas armas, nossos recursos e nossa água, perto da vida de Lua?

"Não queremos mais vítimas, queremos nossa filha de volta. Duvido que ela esteja morta, por isso se responsabilize e se torne forte. A traga de volta para nós." foram as palavras da governante de Maram, Lisa.

Enquanto Nyur* é um país patriarcal, Maram é um país matriarcal, por isso as palavras da mulher sempre tem mais peso. O marido dela era a favor de me matar, quando apareci indefeso na mansão deles mas ela achou que a culpa era um castigo pior para mim.

Era minha culpa ser fraco e negligenciar o meu país. Era minha culpa Lua não estar mais com a gente.

Conheci Eduardo dois anos depois, ele havia vindo como representante de outro mundo e eu quase não acreditei. Maram havia descoberto uma tecnologia que estava em fase de teste a anos e permitia a viagem entre dimensões diferentes e em um experimento, Eduardo vaio parar aqui e foi nomeado como "representante" do outro mundo.

Um ano depois, firmamos um tratado de paz com o mundo dele mas junto com o demorado processo eu ganhei um amigo. Ele me falava direto sobre sua irmã adotiva e eu nunca me importei muito. Isso até Lua aparecer aqui de repente e o reconhecer.

Na hora, a raiva me dominou e eu me não me contive. Em dez anos eu havia a procurado em todos os cantos e ela estava ao lado dele? Que tipo de relação eles tinham? Dúvidas e mais dúvidas.

No fim, acabou como acabou. Eduardo ainda está preso e eu estava muito bem ao lado de Lua, apesar de ela não se lembrar de mim. Eu preferi assim, recomeçar do zero.

Eu treinei nos últimos dez anos, não havia nada de errado em querer substituir a imagem do eu fraco pela do meu eu atual. Ela não precisava lembrar da dor, nem do medo. Ela só precisava ficar ao meu lado e me deixar protegê-la dessa vez.

Mas ela foi embora e eu não sei o porquê. O que sei é que, mesmo que doa, quando a encontrar, terei que dizer a verdade.

_________________💕Nota💕__________________

*Nota 1 - Valquíria é a Número 1;

*Nota 2 - "gerin" foi a primeira coisa que me ocorreu para o nome do minério especial, o da escada e do colar da Luna. Eu sei, sou péssimas para escolher nomes;

*Nota 3 - Nyur é o sobrenome que escolhi para o Rui e consequentemente o nome do país dele, também foi o primeiro que me ocorreu ;--;

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