Entre Sombras e Promessas

Entre Sombras e Promessas

Capítulo 1

O Legado dos Clark's

— Elicy? Você está bem? — A voz de Mathias ecoou suavemente no ambiente silencioso, quebrando a tensão do escritório mal iluminado. Ele hesitou por um momento, apoiado na porta. — Desculpe, foi uma pergunta idiota. — Ele sabia que o pai dela não era o homem mais gentil do mundo, mas ainda assim, era seu pai.

Sentada na cadeira de couro, Elicy moveu-se levemente, desviando os olhos da enorme foto de família pendurada na parede. O peso do dia ainda recaía sobre seus ombros. Enterrar seu pai havia sido exaustivo, mas o que a deixava verdadeiramente esgotada era a constante presença de homens velhos, arrogantes, que mal esperaram a cerimônia terminar antes de bombardeá-la com perguntas sobre o futuro da empresa. “Seu pai faleceu em pleno inverno,” pensava ela, “como se o frio gélido e implacável combinasse perfeitamente com ele.” Assistiu sua mãe chorar como se Thomas tivesse sido um bom homem, um bom marido. Mas Elicy sabia a verdade. E, por pensar assim, sentia-se ainda mais fria, como se estivesse se tornando uma versão sombria do próprio pai.

— Então, veio saber o que vou fazer agora? — Elicy perguntou com uma amargura na voz, sem sequer olhar para Mathias. — Se vou vender ou nomear um novo presidente? — Antes que ele pudesse responder, ela cortou com outra pergunta. — Ou quer saber se já aceitei me casar com você?

Mathias deu um passo à frente, seu rosto uma mistura de dor e amor. — Você sabe que o que mais quero é me casar com você, Elicy. Mas isso… isso não tem nada a ver com o acordo dos nossos pais. Não tem nada a ver com a empresa. Eu te amo. Sempre te amei, e sempre amarei.

Um sorriso irônico se formou nos lábios dela, enquanto girava lentamente na cadeira que fora de seu pai, como costumava fazer quando criança. — Sabe o que o seu querido pai me disse hoje, enquanto baixavam o caixão?

Mathias suspirou, antecipando o que estava por vir. — Elicy, por favor… você sabe que ele é um babaca. Não pode me culpar pelo que ele faz.

Ela nem piscou. — Ele olhou nos meus olhos e disse que uma mulher frágil como eu deveria deixar os negócios para homens de verdade, aqueles que podem lidar com os terremotos e tempestades sem fraquejar.

— Elicy… — Mathias tentou intervir, mas ela o interrompeu novamente.

— Ele trouxe o maldito contrato para o velório! — A voz dela subiu. — O contrato! Para o velório, Mathias! Ele exigiu que eu assinasse antes do fim do dia, como se a morte do meu pai fosse apenas mais uma transação comercial.

Mathias apertou os punhos, visivelmente irritado com o comportamento de seu pai, mas tentando manter a calma. — Eu juro, eu não sabia que ele faria isso. Ele deve estar desesperado, os investidores estão pressionando. Mas você não precisa assinar nada, Elicy. Você ainda tem dois anos para decidir. Eu só quero que, quando tomar sua decisão, seja por mim… não pela empresa. — Ele pegou a mão dela, segurando-a com ternura.

Elicy puxou a mão de volta lentamente, o olhar distante. — Estou exausta, Mathias. Eu não consigo sair desse escritório sem esbarrar em um desses abutres engravatados. — Ela suspirou, a voz carregada de frustração. — E você sabe que não há mais decisão a ser tomada. Quero que continuemos como amigos. Porque como casal… somos um desastre.

Mathias sentiu uma pontada no peito, mas lutou para manter o controle. — Eu já te pedi perdão. Quantas vezes mais, Elicy? — Sua paciência estava se esgotando, e ele se levantou abruptamente. — Desculpe, eu só… — Ele se interrompeu, fechando os olhos por um momento, tentando acalmar a raiva crescente. — Também estou exausto. Isso tudo me deixa louco.

Elicy encolheu-se um pouco na cadeira enorme. Não era só cansaço. Ela estava à beira de um colapso emocional, lutando para manter as paredes que a cercavam intactas. Mathias percebeu isso e se ajoelhou ao lado dela.

— Desde pequena, meu destino foi traçado, Mathias — disse ela, a voz mais baixa, quase um sussurro. — Meu pai sempre deixou claro que eu o sucederia, mesmo quando eu sonhava com outros caminhos. Agora que ele se foi, não posso simplesmente abandonar tudo. Tenho que lutar pelo que ele construiu… por mais que me doa. Assumirei a RealFort. É o que me resta.

Mathias ficou de pé, andando de um lado para o outro, suas emoções oscilando entre o desespero e a raiva. — Você vai voltar para Nova Aurora? — perguntou, a voz tremendo. — Não acha que é cedo demais? Você e sua mãe continuam vulneráveis, Elicy. E a empresa pode desmoronar ao menor sinal de fraqueza.

— Minha mãe é mais forte do que você pensa, Mathias. — Elicy levantou-se, com determinação nos olhos. — Meu pai a subestimou, mas ela é muito mais capaz do que ele jamais foi. E quanto a mim… deixarei bem claro para todos que sou a única herdeira legítima desta empresa. — Ela se aproximou de Mathias, firme e decidida. — E eu vou destruir aquele maldito contrato, custe o que custar.

Mathias recuou um passo, chocado com a intensidade nas palavras dela. — E quanto a mim, Elicy? — Ele perguntou, desesperado. — Se você destruir esse contrato, eu também vou me despedaçar! Isso não é só sobre você! Meu futuro também está ligado a isso!

A máscara de calma que Mathias sempre usava começou a rachar, revelando o homem inseguro que Elicy, por muito tempo, fingiu não ver. Ela o olhou, seus olhos cheios de decepção.

— Vou te proteger, Mathias. — Elicy respondeu, a voz firme. — Mas saiba que eu não serei uma marionete nas mãos do seu pai. Nem um troféu. — Ela atirou os papéis no chão, o som seco ecoando pela sala.

Mathias olhou para os documentos caídos, como se sua própria dignidade estivesse ali, despedaçada. — Você ainda o ama, não é? — Ele murmurou, a voz embargada. — Mesmo depois de tudo… você ainda tem esperança.

Elicy não respondeu. O silêncio que se seguiu era pesado, cheio de significados não ditos.

— Não me trate como uma de suas amantes, Mathias. — Elicy finalmente falou, sua voz carregada de desdém. — Estou cansada desses joguinhos. Não vou mais tolerar seus acessos de ciúme. Entre nós dois, acabou.

Mathias, tomado pela raiva, pegou um jarro de flores e o lançou contra a parede. O som do vidro quebrando fez Elicy recuar, o coração disparado, sua mente sendo arrastada para uma lembrança do passado, quando o caos e a violência faziam parte de sua vida. Ela se encolheu no chão, como fazia quando criança, tentando se proteger do que viria a seguir.

Mathias, agora arrependido, tentou ajudá-la, mas foi interrompido pela chegada repentina de Amélia, que, ao ver a cena, correu para amparar a filha.

— Elicy, querida, estou aqui. Você está segura. — Amélia sussurrou suavemente, abraçando-a com força.

Mathias, impotente, observava. Ele sabia que, naquele momento, algo entre ele e Elicy havia mudado para sempre.

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Comments

Denise

Denise

O povo tá parecendo formigas atacando açucareiro. ELICY tem que ficar atenta aos falsos interessados.

2024-09-27

1

Zaki

Zaki

Comecei a ler agora, mas ja quero que a Elicy bote todo mundo de joelho pedindo perdão, e termine com um final feliz/Proud//Right Bah!/

2024-09-21

1

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