Apocalipse: O Último Refúgio

Apocalipse: O Último Refúgio

O cadáver

Um mês de monotonia e caos. Alice dirigia em direção ao trabalho, com as mãos firmes no volante e os olhos atentos à estrada. Pelo rádio, o som de sirenes e gritos esporádicos misturava-se às notícias conflitantes. Os noticiários insistiam que não havia motivo para pânico, mas então por que tanta polícia em um único lugar?

Com um suspiro, Alice aumentou o volume do rádio para ouvir melhor a transmissão.

— Lisa, isso só pode ser brincadeira, não é? — A voz de uma mulher soava incrédula, mas com uma ponta de alegria nervosa. — Será que tudo isso é verdade?

— Não sei o que pensar, Ana! — respondeu outra voz, claramente aflita. — Dizem que não é nada grave e que logo vai acabar.

— Mentira! — Ana exclamou, a tensão crescendo em sua voz. — Estamos na quinta semana desses incidentes, e ainda tem gente sendo morta nas ruas! Onde isso vai parar?

A voz das repórteres começou a se misturar com o zunido incessante de pensamentos na mente de Alice. Ela desligou o rádio com um movimento brusco, o silêncio repentino preenchendo o carro. Respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que ameaçava dominá-la. Apesar do medo crescente e da incerteza, ela se manteve focada. Amava seu trabalho, mesmo que isso significasse colocar sua vida em risco todos os dias.

Enquanto o carro se aproximava do prédio onde trabalhava, Alice não podia deixar de notar os olhares nervosos das pessoas nas calçadas e a presença cada vez mais constante de patrulhas policiais. Algo grande estava acontecendo, e ela sabia que não poderia ignorar os sinais por muito mais tempo.

Estacionou o carro, pegou sua bolsa e, antes de entrar no prédio, lançou um último olhar para a cidade. Algo sombrio e desconhecido pairava no ar, e uma sensação de que o pior ainda estava por vir começou a enraizar-se em seu peito. Determinada, Alice endireitou os ombros e entrou, pronta para enfrentar o que quer que estivesse à espreita além das portas de vidro.

Ao atravessar as portas automáticas do prédio, Alice percebeu que algo estava muito errado. A entrada, normalmente movimentada com cientistas apressados e conversas técnicas, estava vazia. Nenhum som de passos ecoava pelos corredores desérticos, e a sensação de desolação era palpável.

Ela avançou, os passos ecoando no chão brilhante. Ao passar pela guarita de segurança, notou que o guarda, normalmente impassível, parecia inquieto, movendo-se de um pé para o outro. Seus olhos evitavam os dela, uma expressão de preocupação profundamente gravada em seu rosto. Alice acenou, tentando parecer despreocupada, mas ele apenas acenou de volta com um gesto breve e ansioso, sem dizer uma palavra. A inquietação no ar era evidente, mas Alice decidiu ignorar, pelo menos por enquanto.

Parou diante do elevador e pressionou o botão para subir, a espera marcada pelo silêncio pesado. De repente, uma voz a chamou:

— Alice! Espera!

Ela se virou e viu Diego correndo em sua direção, empurrando uma maca com um corpo coberto por um lençol sujo. O cheiro era nauseante, uma mistura de morte e decomposição.

— O que é isso, Diego? — perguntou ela, os olhos arregalados fixos no cadáver.

— Um novo exame para nós — respondeu ele, um sorriso sombrio nos lábios enquanto observava o corpo amarrado. — Achei que ia querer ver isso.

O elevador chegou com um "ding" agudo, e os dois entraram, levando o corpo consigo. O cheiro de putrefação se intensificou no espaço confinado, um lembrete constante da presença macabra ao seu lado.

— Há quanto tempo ele está morto? — perguntou Alice, tentando controlar o enjoo.

— Alice, ele só está morto há quatro horas — respondeu Diego, o olhar fixo no rosto dela, avaliando sua reação.

O silêncio preencheu o espaço, ambos absorvendo a gravidade da situação. O elevador finalmente parou e as portas se abriram para o corredor frio e iluminado que levava ao laboratório. Eles saíram, a tensão crescente a cada passo. Alice ajudou Diego a empurrar a maca, o corpo oscilando ligeiramente sobre ela.

Quando chegaram ao laboratório, Alice abriu a porta, o cheiro de produtos químicos misturando-se ao odor de morte. Diego entrou primeiro, empurrando a maca para dentro. Alice o seguiu, fechando a porta atrás de si. O ambiente era frio e clínico, as luzes brancas refletindo nas superfícies de aço inoxidável.

Diego se aproximou da mesa de exames e começou a preparar os instrumentos. Alice, tentando manter a compostura, olhou para o corpo inerte. Algo parecia errado, algo mais do que apenas a morte. Havia uma sensação de urgência e perigo no ar, uma tensão que ela não podia ignorar.

— Diego, o que exatamente estamos procurando? — perguntou ela, sua voz soando estranhamente alta no silêncio do laboratório.

Diego se virou, seu olhar sombrio e sério.

— A verdade, Alice. Precisamos descobrir o que está acontecendo com essas pessoas. Antes que seja tarde demais.

Alice assentiu, uma sensação de pavor crescendo em seu peito. Sabia que este era apenas o começo de algo muito maior e mais aterrorizante do que poderia imaginar.

Diego transferiu o cadáver para uma maca de aço no centro do laboratório, o rosto impassível enquanto Alice ajudava a amarrar firmemente o corpo com tiras de couro. O som das fivelas se ajustando ecoava no ambiente silencioso.

— Por que estamos amarrando ele? — perguntou Alice, franzindo a testa. — Nunca fizemos isso antes.

— Alice, não sabemos com o que estamos lidando — respondeu Diego, ajustando as luvas de látex com um estalo seco. Alice observou-o, intrigada. Seria possível que Diego soubesse mais do que estava deixando transparecer?

— Tudo bem, deixe-me ajudar você — disse ela, decidida a manter a situação sob controle.

Os dois começaram a examinar o cadáver com a precisão de cirurgiões em meio a uma operação complexa. Alice pegou um fichário próximo e começou a folhear as páginas amareladas pelo tempo, lendo os detalhes sobre o falecido.

— Junior Penefri, vinte e cinco anos. Soldado do exército — leu Alice, a voz ressoando na sala fria. — Causa da morte: múltiplas mordidas por um ser desconhecido.

Ela ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no corpo pálido e imóvel diante deles.

— Ele morreu por causa de uma mordida? — perguntou Alice, a incredulidade permeando sua voz.

— Sim, é estranho, não é? — Diego respondeu, concentrado em seus instrumentos. — Parece que ele estava em uma operação em outro laboratório. Sua equipe foi atacada, e ele foi mordido.

Alice caminhou ao redor da maca, os olhos fixos nas marcas de mordida. No braço direito, uma laceração profunda, com bordas irregulares e um tom roxo escuro que se espalhava pela pele. Na perna direita, uma mordida ainda mais feroz, com pedaços de carne faltando e um cheiro pungente de podridão. E no pescoço, uma marca que parecia quase circular, como se algo houvesse cravado os dentes e sugado a vida de Junior.

— Três mordidas? Que estranho... — murmurou Alice, a mente trabalhando para compreender o que estava diante dela.

Enquanto estudava as feridas, um calafrio percorreu sua espinha. Havia algo nas mordidas que não parecia natural. O padrão irregular, a profundidade, e a maneira como a carne ao redor parecia se decompor mais rapidamente do que o normal. Alice se afastou, inquieta, uma sensação crescente de que algo sinistro estava prestes a se revelar.

Diego, percebendo a preocupação de Alice, tentou acalmá-la.

— Vamos fazer uma autópsia completa. Precisamos entender o que estamos enfrentando aqui — disse ele, tentando soar confiante, mas a ansiedade em seu olhar traía suas palavras.

Alice assentiu, embora a dúvida continuasse a corroer seus pensamentos. Algo estava terrivelmente errado, e cada detalhe que descobriam apenas aprofundava o mistério. Ela sabia que, por mais terrível que fosse a verdade, era fundamental desvendá-la. Não só para entender o que havia matado Junior, mas para proteger a si mesma e a todos os outros de um destino semelhante.

Com um último olhar para o cadáver, Alice se preparou para o trabalho meticuloso e sombrio.

Os dois começaram a examinar o cadáver de forma minuciosa, atentos a cada detalhe que pudesse fornecer pistas. Diego pegou uma seringa e cuidadosamente tirou uma amostra de sangue de Junior, colocando-a em um tubo de ensaio para análise posterior. A atmosfera no laboratório estava carregada de tensão, como se um segredo sombrio estivesse prestes a ser revelado.

— Diego? — chamou Alice, a voz um pouco trêmula. — Quando terminarmos aqui, o que faremos com o corpo?

Diego, concentrado em suas anotações, levantou os olhos para encará-la.

— Bem, o coronel Lian está exigindo um relatório completo do exame — respondeu ele, uma sombra de preocupação em sua expressão. — Você sabia que somos os últimos a descobrir o que está acontecendo?

Alice ficou em silêncio, confusa. As palavras de Diego a intrigavam e a deixavam inquieta.

— Últimos? O que quer dizer com isso? — perguntou ela, tentando entender o significado por trás daquelas palavras.

Diego suspirou, sua expressão tornando-se ainda mais sombria.

— Alice, Junior veio do penúltimo laboratório. Eles estavam em uma missão de descoberta, mas quando chegaram lá, todos os outros cientistas já estavam mortos. — Ele a encarou com seriedade, a verdade chocante refletida em seus olhos. — Estamos encarregados de entregar isso ao Lian antes que seja tarde demais.

Alice ficou em silêncio, a mente lutando para processar a gravidade da situação. Se eles eram os últimos a descobrir o que estava acontecendo, isso significava que algo terrível estava se espalhando rapidamente, e a situação era mais desesperadora do que imaginavam.

— E se acabarmos morrendo? — murmurou ela, a voz mal passando de um sussurro.

Diego não respondeu de imediato. Em vez disso, terminou de etiquetar a amostra de sangue e colocou-a cuidadosamente em uma bandeja.

— Não sei ao certo, Alice — disse ele finalmente, a voz baixa e cheia de incerteza. — Vou tomar uma água, já volto.

Ele saiu do laboratório, certificando-se de não tocar em nada que pudesse contaminar a área. Alice o observou sair, a mente fervilhando de perguntas e preocupações. Por que Diego estava tão evasivo? E o que exatamente ele sabia que ela não sabia?

Com ele fora da sala, Alice pegou uma amostra do sangue de Junior, a cor escura e espessa refletindo a luz fluorescente do laboratório. Levou-a até o microscópio, o coração batendo acelerado enquanto se preparava para analisar o que poderia estar escondido naquele líquido vital.

Ao ajustar a lente e focar a amostra, algo inusitado chamou sua atenção. Células estranhas, com formas irregulares e movimentos anômalos, se destacavam em meio às células sanguíneas normais. Era como se o sangue de Junior estivesse vivo de uma maneira perturbadora, algo que não deveria ser possível.

Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que estava vendo não fazia sentido, era algo além da compreensão científica atual. Ela sabia que tinha que descobrir mais, mas também sabia que o tempo estava contra eles. Se não encontrassem respostas rapidamente, poderiam ser os próximos a cair.

Diego retornou ao laboratório, sua expressão ainda mais preocupada.

— Alice, precisamos nos apressar — disse ele, percebendo a intensidade com que ela observava a amostra. — O tempo está se esgotando, e temos que entregar isso ao coronel Lian antes que seja tarde demais.

Alice assentiu, os olhos ainda fixos no microscópio. Sabia que estavam à beira de uma descoberta que poderia mudar tudo — ou condená-los de vez.

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Comments

Jadson Augusto

Jadson Augusto

história sensacional

2024-11-08

2

Cecilia geralda Geralda ramos

Cecilia geralda Geralda ramos

Interessante estou gostando da leitura

2024-10-07

2

Karoline

Karoline

gostei muito

2024-09-09

2

Ver todos
Capítulos
1 O cadáver
2 A contaminação
3 O chamado
4 Refúgio temporário
5 Uma solução
6 Dores e percas
7 Andando sem rumo
8 A estrada
9 Vai uma briga por aqui?
10 Abrigados na farmácia
11 Presença inesperada
12 A fazenda
13 Podemos confiar neles?
14 Morte rápida
15 O silêncio
16 Momento de paz
17 Sempre bom confiar no local
18 A caminho de uma peça
19 Em busca de uma peça
20 Momento de paz
21 Em uma pequena fazenda
22 Então... Eu cuido de você
23 Um novo membro!
24 Menos um
25 De cara a cara com a fera
26 Salve-se quem puder!
27 Risos e conversas
28 Refúgio no meio do mato
29 Vamos fortalecer nosso abrigo
30 O ataque na loja de Conveniência
31 Judith e Rafael
32 Confio nela, mais do que em mim mesmo
33 Apenas eles dois
34 Novos sobreviventes
35 Trinta e cinco
36 Confiança em primeiro lugar
37 Trinta e sete
38 O Kaito precisa descansar!
39 Trinta e nove
40 Se queria ficar abraçada comigo, era só ter pedido
41 Brigados
42 Um clima pesado
43 A refém
44 Quarenta e quatro
45 A beira do sangue
46 Seja com ele ou sem
47 Ele até tenta ser bonzinho
48 Se conhecendo
49 Chapter 49
50 Chapter 50
51 Chapter 51
52 Chapter 52
53 Chapter 53
54 Luto pela família de Filipe
55 Em busca do Daniel
56 Daniel
57 A busca pelo amanhã
58 Um Momento de Intimidade
59 Chapter 59
60 Chapter 60
61 Chapter 61
62 Acho que estamos sendo seguidos
63 Chapter 63
64 Chapter 64
65 Uma grande esperança a frente
66 Redenção
67 Chapter 67
68 Eu perguntei quem é você, seu imbecil!
69 Chapter 69
70 Estamos do mesmo lado. Por enquanto.
71 Qualquer passo errado... vai ser você, Kaito
72 eu não sou um salvador.
73 desconfiados
74 Eu fui enviado para resgatar ela.
75 Lugar para se chamar de Lar
76 Ainda parece surreal
77 Quando o bravo hesita perto de Alice
78 O desejo
79 Kaito complicando tudo
Capítulos

Atualizado até capítulo 79

1
O cadáver
2
A contaminação
3
O chamado
4
Refúgio temporário
5
Uma solução
6
Dores e percas
7
Andando sem rumo
8
A estrada
9
Vai uma briga por aqui?
10
Abrigados na farmácia
11
Presença inesperada
12
A fazenda
13
Podemos confiar neles?
14
Morte rápida
15
O silêncio
16
Momento de paz
17
Sempre bom confiar no local
18
A caminho de uma peça
19
Em busca de uma peça
20
Momento de paz
21
Em uma pequena fazenda
22
Então... Eu cuido de você
23
Um novo membro!
24
Menos um
25
De cara a cara com a fera
26
Salve-se quem puder!
27
Risos e conversas
28
Refúgio no meio do mato
29
Vamos fortalecer nosso abrigo
30
O ataque na loja de Conveniência
31
Judith e Rafael
32
Confio nela, mais do que em mim mesmo
33
Apenas eles dois
34
Novos sobreviventes
35
Trinta e cinco
36
Confiança em primeiro lugar
37
Trinta e sete
38
O Kaito precisa descansar!
39
Trinta e nove
40
Se queria ficar abraçada comigo, era só ter pedido
41
Brigados
42
Um clima pesado
43
A refém
44
Quarenta e quatro
45
A beira do sangue
46
Seja com ele ou sem
47
Ele até tenta ser bonzinho
48
Se conhecendo
49
Chapter 49
50
Chapter 50
51
Chapter 51
52
Chapter 52
53
Chapter 53
54
Luto pela família de Filipe
55
Em busca do Daniel
56
Daniel
57
A busca pelo amanhã
58
Um Momento de Intimidade
59
Chapter 59
60
Chapter 60
61
Chapter 61
62
Acho que estamos sendo seguidos
63
Chapter 63
64
Chapter 64
65
Uma grande esperança a frente
66
Redenção
67
Chapter 67
68
Eu perguntei quem é você, seu imbecil!
69
Chapter 69
70
Estamos do mesmo lado. Por enquanto.
71
Qualquer passo errado... vai ser você, Kaito
72
eu não sou um salvador.
73
desconfiados
74
Eu fui enviado para resgatar ela.
75
Lugar para se chamar de Lar
76
Ainda parece surreal
77
Quando o bravo hesita perto de Alice
78
O desejo
79
Kaito complicando tudo

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