Alice concordou, e os dois se acomodaram no chão empoeirado da loja, os ouvidos atentos aos sons do lado de fora. A horda de zumbis ainda se movia lá fora, seus passos arrastados e gemidos baixos ecoando pela rua deserta. O tempo parecia se esticar enquanto esperavam, cada segundo se transformando em uma eternidade na tensão daquele momento.
A ruiva tentava manter a calma, seus olhos verdes percorrendo as prateleiras ao redor. O lugar estava desordenado, com roupas espalhadas por todos os lados, algumas ainda penduradas em cabides tortos, outras amontoadas em pilhas no chão. Ela sabia que a situação pedia cautela, mas, enquanto aguardavam, a jovem decidiu aproveitar o tempo. Levantando-se com cuidado, ela começou a examinar as peças de roupa que ainda estavam intactas.
O mais velho observou a mesma em silêncio, seus olhos escuros atentos a qualquer movimento suspeito do lado de fora. Ele entendia a necessidade de distrair a mente naquele momento, mas continuava alerta, mantendo sua arma em punho. O som dos mortos-vivos parecia diminuir gradualmente, mas ele sabia que ainda não era seguro sair.
Enquanto isso, a garota examinava as roupas, pegando uma blusa de cor neutra e uma calça confortável. Vestígios de normalidade em um mundo que havia perdido completamente o sentido. Ela suspirou ao notar um espelho quebrado ao fundo da loja, onde os pedaços de vidro refletiam imagens distorcidas da realidade.
O jovem olhou para ela, percebendo que a mesma estava tentando escolher algo que pudesse usar para se sentir melhor, mesmo em meio ao caos. Sem dizer nada, o maior voltou sua atenção para a rua, onde os gemidos estavam se tornando mais distantes. Os mortos estavam se afastando lentamente, procurando por algo que não estava ali.
O sobrevivente sentiu um alívio temporário ao notar que a horda começava a desaparecer. Mas ele sabia que não podiam baixar a guarda. Os zumbis eram imprevisíveis, e qualquer descuido poderia ser fatal. A ruiva, agora vestindo as roupas recém-encontradas, aproximou-se dele.
— Acho que estão se afastando, mas precisamos ter certeza. — A voz do mesmo era um sussurro, o olhar atento fixo nela.
A ruiva assentiu em silêncio, mantendo os olhos no horizonte além das vitrines empoeiradas da loja. O barulho dos zumbis diminuía lentamente, mas ainda era cedo demais para arriscar qualquer movimento imprudente. Ela sabia que qualquer som ou distração poderia atrair os mortos de volta.
O mais velho se aproximou da porta, espiando cuidadosamente pela pequena fresta entre a madeira e o vidro quebrado. Do lado de fora, as ruas pareciam vazias, exceto por algumas sombras se movendo ao longe, zumbis que haviam perdido o interesse e estavam vagando em outra direção.
— Ainda não podemos sair — murmurou ele, recuando e voltando a se sentar ao lado dela.
Ela suspirou, cruzando os braços e olhando para as roupas que tinha acabado de vestir. O tecido era mais confortável do que o que usava antes, mas, mesmo assim, o desconforto emocional parecia estar pesando mais.
— É estranho pensar em roupas agora, não é? — comentou ela, tentando aliviar a tensão. — Como se isso ainda fosse importante...
O mais jovem a olhou de relance e deu um leve sorriso, algo raro no seu rosto sério.
— Importante ou não, ainda faz você se sentir melhor, e isso conta — respondeu ele, com um tom que, embora firme, continha um toque de empatia.
A ruiva sorriu de volta, embora brevemente. O ambiente, mesmo com o perigo iminente, parecia momentaneamente mais leve. Eles ficaram em silêncio por um momento, ouvindo atentamente, mas o som de zumbis já era quase inexistente agora.
— Acho que agora é seguro verificar. — Ele se levantou, cauteloso, e fez um sinal para que ela o acompanhasse.
Os dois caminharam juntos até a porta, ela logo atrás do maior. Com cuidado, ele abriu a porta da loja e espiou novamente para a rua. Estava vazia. Os zumbis haviam realmente se afastado, pelo menos por enquanto.
— Vamos sair devagar — disse ele, mantendo a voz baixa.
Ela seguiu o mesmo, sentindo o nervosismo percorrer sua espinha à medida que os dois avançavam com passos cautelosos para fora da loja. O sol, que começava a se esconder no horizonte, lançava sombras compridas pelas ruas desertas. Eles sabiam que não tinham muito tempo antes de o perigo retornar.
Enquanto a ruiva seguia o mais velho pela rua deserta, seus olhos varriam os arredores em busca de algo que pudessem aproveitar.
— Precisamos de mais mantimentos antes de voltarmos para a fazenda — comentou o mesmo, sem olhar para trás. Ele segurava a bateria do ônibus em uma das mãos, enquanto a outra mantinha a arma pronta.
— Certo — respondeu a jovem, ainda nervosa com a calmaria momentânea. — Mas a gente precisa ser rápido. Não quero ser pega de surpresa de novo.
Eles passaram por uma pequena loja de conveniência e decidiram verificar o local. O vidro da porta estava quebrado, o que tornava mais fácil a entrada, mas também indicava que poderia já ter sido saqueado. Entraram com cuidado, ambos atentos a qualquer som ou movimento.
— Acha que ainda tem algo útil aqui? — perguntou a ruiva, abrindo uma prateleira que, para sua surpresa, ainda tinha alguns enlatados.
— Vamos ver — respondeu o mais velho, enquanto vasculhava outra área. — Melhor pegar o que der e sair antes que escureça de vez.
Alice, sempre prática, começou a encher sua mochila com o que encontrava. Latas de feijão, pacotes de arroz e macarrão instantâneo. Não era muito, mas já ajudaria.
Enquanto isso, Kaito, o mais jovem dos dois, observava um canto do local que parecia intacto. Ele encontrou algumas garrafas de água e pacotes de bandagens. Carregou tudo para perto de Alice, que o olhou com uma leve curiosidade.
— Você sempre foi assim? — ela perguntou de repente, tentando quebrar o silêncio que parecia opressor demais naquele ambiente.
— Assim como? — Ele levantou uma sobrancelha, sem parar de empilhar as coisas na mochila.
— Preparado para tudo. Sempre tão... focado — explicou a mesma, enquanto enfiava mais latas na bolsa. — Nunca te vi relaxar, mesmo nos momentos mais tranquilos.
Ele hesitou por um momento antes de responder, como se estivesse pesando suas palavras.
— Acho que é o que o mundo faz com a gente, né? — respondeu o mais velho, finalmente. — Não dá mais pra relaxar. Não com tudo isso lá fora.
Ela ficou em silêncio por um tempo, digerindo o que ele disse. Não podia negar que havia verdade nas palavras dele. Desde que o apocalipse começou, a noção de "relaxar" parecia quase uma piada.
— Mas e antes de tudo isso? — insistiu ela, ainda curiosa sobre o homem que agora liderava o grupo deles. — Como você era?
Ele parou o que estava fazendo e olhou para a ruiva, seus olhos sérios, mas havia uma leveza ali, uma pequena faísca de quem ele poderia ter sido antes de o mundo desmoronar.
— Era diferente, eu acho. — Kaito deu de ombros. — Tinha uma vida normal. Família, amigos... Trabalho. Mas agora... isso não importa mais, não é?
Ela assentiu, embora uma parte dela quisesse saber mais, entender melhor quem ele era além do líder determinado. Mas, ao mesmo tempo, sabia que todos ali carregavam suas próprias feridas, e talvez ele não estivesse pronto para revelar as dele.
— Vamos pegar o que pudermos e sair logo daqui — sugeriu ela, quebrando o silêncio incômodo que começava a se formar.
Os dois terminaram de encher suas mochilas e voltaram para a rua, seus passos rápidos, mas calculados. O sol já estava quase no fim do horizonte, e a noite trazia mais perigos do que queriam enfrentar.
Enquanto seguiam para a próxima loja, um armazém de ferragens, Alice olhou de relance para Kaito. Havia algo em sua postura, uma rigidez que nunca o abandonava, e isso a deixava ainda mais intrigada. Talvez, em algum momento, eles pudessem ter uma conversa mais profunda, mas agora, tudo o que importava era sobreviver.
Entraram no armazém, onde conseguiram encontrar algumas ferramentas que Rubens havia pedido. Era um espaço pequeno, e parecia ter sido poupado dos saqueadores. Eles pegavam o que podiam, mas sempre em silêncio, atentos aos sons da rua.
— Quando isso acabar — ela começou a falar, sua voz baixa — se é que vai acabar, o que você vai fazer? Tem algum plano?
Ele parou, encarando-a por um segundo.
— Não sei — admitiu, quase em um sussurro. — E você?
— Eu só quero... viver. — A ruiva deu de ombros. — Ver se o mundo ainda pode ser um lugar onde a gente não precise lutar todo dia.
Ele soltou um leve suspiro.
— É um bom plano.
Eles compartilharam um raro sorriso, antes de voltarem à tarefa de reunir os mantimentos. Sabiam que, apesar da calmaria temporária, o caos poderia voltar a qualquer momento.
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Atualizado até capítulo 113
Comments
Roberta Azevedo
Tô amando demais essa história
2025-01-18
1
Albert Lucca
AMOOO
2024-09-22
2