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Apocalipse: O Último Refúgio

O cadáver

Um mês de monotonia e caos. Alice dirigia em direção ao trabalho, com as mãos firmes no volante e os olhos atentos à estrada. Pelo rádio, o som de sirenes e gritos esporádicos misturava-se às notícias conflitantes. Os noticiários insistiam que não havia motivo para pânico, mas então por que tanta polícia em um único lugar?

Com um suspiro, Alice aumentou o volume do rádio para ouvir melhor a transmissão.

— Lisa, isso só pode ser brincadeira, não é? — A voz de uma mulher soava incrédula, mas com uma ponta de alegria nervosa. — Será que tudo isso é verdade?

— Não sei o que pensar, Ana! — respondeu outra voz, claramente aflita. — Dizem que não é nada grave e que logo vai acabar.

— Mentira! — Ana exclamou, a tensão crescendo em sua voz. — Estamos na quinta semana desses incidentes, e ainda tem gente sendo morta nas ruas! Onde isso vai parar?

A voz das repórteres começou a se misturar com o zunido incessante de pensamentos na mente de Alice. Ela desligou o rádio com um movimento brusco, o silêncio repentino preenchendo o carro. Respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que ameaçava dominá-la. Apesar do medo crescente e da incerteza, ela se manteve focada. Amava seu trabalho, mesmo que isso significasse colocar sua vida em risco todos os dias.

Enquanto o carro se aproximava do prédio onde trabalhava, Alice não podia deixar de notar os olhares nervosos das pessoas nas calçadas e a presença cada vez mais constante de patrulhas policiais. Algo grande estava acontecendo, e ela sabia que não poderia ignorar os sinais por muito mais tempo.

Estacionou o carro, pegou sua bolsa e, antes de entrar no prédio, lançou um último olhar para a cidade. Algo sombrio e desconhecido pairava no ar, e uma sensação de que o pior ainda estava por vir começou a enraizar-se em seu peito. Determinada, Alice endireitou os ombros e entrou, pronta para enfrentar o que quer que estivesse à espreita além das portas de vidro.

Ao atravessar as portas automáticas do prédio, Alice percebeu que algo estava muito errado. A entrada, normalmente movimentada com cientistas apressados e conversas técnicas, estava vazia. Nenhum som de passos ecoava pelos corredores desérticos, e a sensação de desolação era palpável.

Ela avançou, os passos ecoando no chão brilhante. Ao passar pela guarita de segurança, notou que o guarda, normalmente impassível, parecia inquieto, movendo-se de um pé para o outro. Seus olhos evitavam os dela, uma expressão de preocupação profundamente gravada em seu rosto. Alice acenou, tentando parecer despreocupada, mas ele apenas acenou de volta com um gesto breve e ansioso, sem dizer uma palavra. A inquietação no ar era evidente, mas Alice decidiu ignorar, pelo menos por enquanto.

Parou diante do elevador e pressionou o botão para subir, a espera marcada pelo silêncio pesado. De repente, uma voz a chamou:

— Alice! Espera!

Ela se virou e viu Diego correndo em sua direção, empurrando uma maca com um corpo coberto por um lençol sujo. O cheiro era nauseante, uma mistura de morte e decomposição.

— O que é isso, Diego? — perguntou ela, os olhos arregalados fixos no cadáver.

— Um novo exame para nós — respondeu ele, um sorriso sombrio nos lábios enquanto observava o corpo amarrado. — Achei que ia querer ver isso.

O elevador chegou com um "ding" agudo, e os dois entraram, levando o corpo consigo. O cheiro de putrefação se intensificou no espaço confinado, um lembrete constante da presença macabra ao seu lado.

— Há quanto tempo ele está morto? — perguntou Alice, tentando controlar o enjoo.

— Alice, ele só está morto há quatro horas — respondeu Diego, o olhar fixo no rosto dela, avaliando sua reação.

O silêncio preencheu o espaço, ambos absorvendo a gravidade da situação. O elevador finalmente parou e as portas se abriram para o corredor frio e iluminado que levava ao laboratório. Eles saíram, a tensão crescente a cada passo. Alice ajudou Diego a empurrar a maca, o corpo oscilando ligeiramente sobre ela.

Quando chegaram ao laboratório, Alice abriu a porta, o cheiro de produtos químicos misturando-se ao odor de morte. Diego entrou primeiro, empurrando a maca para dentro. Alice o seguiu, fechando a porta atrás de si. O ambiente era frio e clínico, as luzes brancas refletindo nas superfícies de aço inoxidável.

Diego se aproximou da mesa de exames e começou a preparar os instrumentos. Alice, tentando manter a compostura, olhou para o corpo inerte. Algo parecia errado, algo mais do que apenas a morte. Havia uma sensação de urgência e perigo no ar, uma tensão que ela não podia ignorar.

— Diego, o que exatamente estamos procurando? — perguntou ela, sua voz soando estranhamente alta no silêncio do laboratório.

Diego se virou, seu olhar sombrio e sério.

— A verdade, Alice. Precisamos descobrir o que está acontecendo com essas pessoas. Antes que seja tarde demais.

Alice assentiu, uma sensação de pavor crescendo em seu peito. Sabia que este era apenas o começo de algo muito maior e mais aterrorizante do que poderia imaginar.

Diego transferiu o cadáver para uma maca de aço no centro do laboratório, o rosto impassível enquanto Alice ajudava a amarrar firmemente o corpo com tiras de couro. O som das fivelas se ajustando ecoava no ambiente silencioso.

— Por que estamos amarrando ele? — perguntou Alice, franzindo a testa. — Nunca fizemos isso antes.

— Alice, não sabemos com o que estamos lidando — respondeu Diego, ajustando as luvas de látex com um estalo seco. Alice observou-o, intrigada. Seria possível que Diego soubesse mais do que estava deixando transparecer?

— Tudo bem, deixe-me ajudar você — disse ela, decidida a manter a situação sob controle.

Os dois começaram a examinar o cadáver com a precisão de cirurgiões em meio a uma operação complexa. Alice pegou um fichário próximo e começou a folhear as páginas amareladas pelo tempo, lendo os detalhes sobre o falecido.

— Junior Penefri, vinte e cinco anos. Soldado do exército — leu Alice, a voz ressoando na sala fria. — Causa da morte: múltiplas mordidas por um ser desconhecido.

Ela ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no corpo pálido e imóvel diante deles.

— Ele morreu por causa de uma mordida? — perguntou Alice, a incredulidade permeando sua voz.

— Sim, é estranho, não é? — Diego respondeu, concentrado em seus instrumentos. — Parece que ele estava em uma operação em outro laboratório. Sua equipe foi atacada, e ele foi mordido.

Alice caminhou ao redor da maca, os olhos fixos nas marcas de mordida. No braço direito, uma laceração profunda, com bordas irregulares e um tom roxo escuro que se espalhava pela pele. Na perna direita, uma mordida ainda mais feroz, com pedaços de carne faltando e um cheiro pungente de podridão. E no pescoço, uma marca que parecia quase circular, como se algo houvesse cravado os dentes e sugado a vida de Junior.

— Três mordidas? Que estranho... — murmurou Alice, a mente trabalhando para compreender o que estava diante dela.

Enquanto estudava as feridas, um calafrio percorreu sua espinha. Havia algo nas mordidas que não parecia natural. O padrão irregular, a profundidade, e a maneira como a carne ao redor parecia se decompor mais rapidamente do que o normal. Alice se afastou, inquieta, uma sensação crescente de que algo sinistro estava prestes a se revelar.

Diego, percebendo a preocupação de Alice, tentou acalmá-la.

— Vamos fazer uma autópsia completa. Precisamos entender o que estamos enfrentando aqui — disse ele, tentando soar confiante, mas a ansiedade em seu olhar traía suas palavras.

Alice assentiu, embora a dúvida continuasse a corroer seus pensamentos. Algo estava terrivelmente errado, e cada detalhe que descobriam apenas aprofundava o mistério. Ela sabia que, por mais terrível que fosse a verdade, era fundamental desvendá-la. Não só para entender o que havia matado Junior, mas para proteger a si mesma e a todos os outros de um destino semelhante.

Com um último olhar para o cadáver, Alice se preparou para o trabalho meticuloso e sombrio.

Os dois começaram a examinar o cadáver de forma minuciosa, atentos a cada detalhe que pudesse fornecer pistas. Diego pegou uma seringa e cuidadosamente tirou uma amostra de sangue de Junior, colocando-a em um tubo de ensaio para análise posterior. A atmosfera no laboratório estava carregada de tensão, como se um segredo sombrio estivesse prestes a ser revelado.

— Diego? — chamou Alice, a voz um pouco trêmula. — Quando terminarmos aqui, o que faremos com o corpo?

Diego, concentrado em suas anotações, levantou os olhos para encará-la.

— Bem, o coronel Lian está exigindo um relatório completo do exame — respondeu ele, uma sombra de preocupação em sua expressão. — Você sabia que somos os últimos a descobrir o que está acontecendo?

Alice ficou em silêncio, confusa. As palavras de Diego a intrigavam e a deixavam inquieta.

— Últimos? O que quer dizer com isso? — perguntou ela, tentando entender o significado por trás daquelas palavras.

Diego suspirou, sua expressão tornando-se ainda mais sombria.

— Alice, Junior veio do penúltimo laboratório. Eles estavam em uma missão de descoberta, mas quando chegaram lá, todos os outros cientistas já estavam mortos. — Ele a encarou com seriedade, a verdade chocante refletida em seus olhos. — Estamos encarregados de entregar isso ao Lian antes que seja tarde demais.

Alice ficou em silêncio, a mente lutando para processar a gravidade da situação. Se eles eram os últimos a descobrir o que estava acontecendo, isso significava que algo terrível estava se espalhando rapidamente, e a situação era mais desesperadora do que imaginavam.

— E se acabarmos morrendo? — murmurou ela, a voz mal passando de um sussurro.

Diego não respondeu de imediato. Em vez disso, terminou de etiquetar a amostra de sangue e colocou-a cuidadosamente em uma bandeja.

— Não sei ao certo, Alice — disse ele finalmente, a voz baixa e cheia de incerteza. — Vou tomar uma água, já volto.

Ele saiu do laboratório, certificando-se de não tocar em nada que pudesse contaminar a área. Alice o observou sair, a mente fervilhando de perguntas e preocupações. Por que Diego estava tão evasivo? E o que exatamente ele sabia que ela não sabia?

Com ele fora da sala, Alice pegou uma amostra do sangue de Junior, a cor escura e espessa refletindo a luz fluorescente do laboratório. Levou-a até o microscópio, o coração batendo acelerado enquanto se preparava para analisar o que poderia estar escondido naquele líquido vital.

Ao ajustar a lente e focar a amostra, algo inusitado chamou sua atenção. Células estranhas, com formas irregulares e movimentos anômalos, se destacavam em meio às células sanguíneas normais. Era como se o sangue de Junior estivesse vivo de uma maneira perturbadora, algo que não deveria ser possível.

Alice sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O que estava vendo não fazia sentido, era algo além da compreensão científica atual. Ela sabia que tinha que descobrir mais, mas também sabia que o tempo estava contra eles. Se não encontrassem respostas rapidamente, poderiam ser os próximos a cair.

Diego retornou ao laboratório, sua expressão ainda mais preocupada.

— Alice, precisamos nos apressar — disse ele, percebendo a intensidade com que ela observava a amostra. — O tempo está se esgotando, e temos que entregar isso ao coronel Lian antes que seja tarde demais.

Alice assentiu, os olhos ainda fixos no microscópio. Sabia que estavam à beira de uma descoberta que poderia mudar tudo — ou condená-los de vez.

A contaminação

Após uma breve pausa para analisar o sangue sob o microscópio, Alice voltou sua atenção para os registros e fichários, organizando meticulosamente cada detalhe. Enquanto isso, Diego continuava a examinar o cadáver de Junior, procurando por qualquer pista que pudesse ajudar a entender o que estava acontecendo.

— Alice, olha isso aqui — chamou Diego, entregando-lhe um pequeno tubo contendo um fragmento de algo branco. — Achei esse pedaço de dente em uma das mordidas.

Alice franziu a testa, observando o fragmento à luz. Era um pedaço de dente, mas não parecia um dente humano normal. A superfície era áspera, e o tamanho era ligeiramente maior do que o de um dente comum.

— Um dente? Como ele poderia ter ficado cravado no ferimento? — perguntou ela, intrigada.

— Quando os corpos começam a se decompor, os dentes podem se soltar e ficar fracos. Talvez tenha sido isso — sugeriu Diego, ainda que sua voz não soasse completamente confiante.

Alice assentiu, absorvendo a explicação e voltando sua atenção para o exame. As horas passaram rapidamente enquanto eles mergulhavam nas análises. O silêncio do laboratório era quebrado apenas pelo som de instrumentos sendo manipulados e pelos ocasionais suspiros de cansaço.

Quando a noite caiu, o cansaço começou a pesar sobre os ombros de ambos, mas Alice estava determinada a continuar.

— Você pode descansar enquanto eu continuo, Alice — sugeriu Diego, percebendo o cansaço no rosto da colega.

— Jamais, Diego! Já passei muitas noites em claro antes. Não vou descansar agora — respondeu ela com um sorriso teimoso, sentindo uma determinação renovada. Diego sorriu de volta, grato pela companhia e pelo apoio inabalável de Alice.

Os dois continuaram a trabalhar, analisando cada detalhe com uma dedicação feroz. Alice mergulhou nos resultados das amostras de sangue, notando padrões estranhos nas células e uma presença anômala que parecia se mover de forma independente. Diego, por sua vez, explorava as feridas no corpo de Junior, tentando entender a natureza das mordidas.

— Olha só isso, Alice — disse Diego, aproximando-se dela com uma expressão preocupada. — Essas mordidas são diferentes. Cada uma parece ter sido feita por um tipo de dente distinto. É como se não fossem todas do mesmo ser.

Alice olhou para ele, a inquietação crescendo dentro dela.

— Como assim, diferentes? — perguntou ela, sentindo um frio na espinha.

— Veja aqui — ele apontou para a mordida no braço, depois para a da perna e, finalmente, para a do pescoço. — Cada mordida tem um padrão de dentes diferente. Como se fossem de criaturas distintas.

Alice examinou as mordidas mais de perto, percebendo que Diego estava certo. As marcas no braço eram profundas e largas, enquanto as da perna pareciam mais estreitas e irregulares. A do pescoço, por outro lado, era quase circular e rodeada por pequenas perfurações, como se algo com dentes afiados e serrilhados houvesse cravado ali.

— Isso é muito estranho, Diego. É como se ele tivesse sido atacado por várias criaturas diferentes — murmurou Alice, a mente trabalhando para juntar as peças desse quebra-cabeça macabro.

A noite avançava, e a sensação de urgência crescia. Cada nova descoberta parecia trazer mais perguntas do que respostas. Alice e Diego sabiam que estavam correndo contra o tempo para entender o que havia matado Junior e o que isso significava para todos ao seu redor.

— Alice, precisamos enviar essas informações para o coronel Lian o mais rápido possível — disse Diego, sua voz carregada de preocupação. — Se não encontrarmos uma forma de conter isso, podemos estar diante de algo muito pior do que imaginamos.

Alice concordou, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Sabia que não poderiam descansar até descobrir a verdade. A escuridão da noite envolvia o laboratório, e a sensação de que algo sinistro estava prestes a acontecer pairava no ar, aumentando a urgência de sua missão.

Enquanto os dois continuavam a trabalhar, uma inquietação crescente tomava conta deles.

Com um misto de nervosismo e determinação, Diego decidiu avançar no procedimento, ignorando os protestos de Alice. Ele precisava entender o que estava acontecendo com o corpo de Junior, mesmo que isso significasse desafiar os protocolos habituais do laboratório.

— Alice, venha me ajudar aqui — chamou Diego, enquanto preparava os instrumentos necessários ao lado da maca. — Vou abrir ele, preciso ver o coração.

Alice arregalou os olhos, horrorizada.

— Você está louco? Nós não fazemos isso! — exclamou ela, com a voz carregada de urgência. — Você sabe que não podemos!

Diego olhou para ela com seriedade, seus olhos refletindo uma determinação implacável.

— Alice, não temos mais ninguém para fazer isso. Não podemos perder tempo — disse ele, começando a se preparar rapidamente para o procedimento.

Alice hesitou por um momento, debatendo-se internamente com o dilema ético. Mas a urgência da situação e a falta de alternativas a convenceram a se juntar a Diego. Juntos, eles abriram cuidadosamente o corpo de Junior, revelando órgãos que, apesar de mortos, ainda mantinham algumas funções incompreensíveis.

Horas se passaram em um silêncio carregado de tensão. Diego examinava o coração de Junior, surpreso com o que descobria.

— Aqui, está frio e quente ao mesmo tempo. Que estranho — murmurou Diego, pedindo que Alice trouxesse uma bandeja para ajudá-lo.

Alice se apressou e observou junto com ele.

— Olha, você está vendo isso? — perguntou Diego, apontando para as veias que ainda pulsavam fracamente. — Essas veias ainda estão funcionando, alimentando o cérebro. Mas algo está errado, o coração dele está batendo.

Diego se aproximou mais, observando fascinado enquanto o coração de Junior pulsava lentamente, como se tentasse retomar a vida. A descoberta era desconcertante e aterrorizante ao mesmo tempo.

Com cautela, Diego colocou a mão perto do rosto de Junior, verificando se havia algum sinal de respiração. O silêncio no laboratório era ensurdecedor, apenas interrompido pelo som dos batimentos cardíacos irregulares e pela respiração pesada dos dois cientistas.

— Tenha cuidado, Diego — sussurrou Alice, os olhos fixos no cadáver.

Diego assentiu, tomando cuidado ao examinar a boca de Junior em busca de sinais de vida. E então, no momento mais inesperado, o cadáver abriu os olhos de repente, agarrando a mão de Diego com uma força sobrenatural.

— Ele me mordeu! Seu desgraçado! — gritou Diego, em pânico, enquanto tentava se libertar da mordida. Ele recuou rapidamente, correndo até a pia para lavar freneticamente a mão.

Alice agiu com rapidez, pegando os suprimentos médicos para tratar o ferimento de Diego enquanto tentava processar o que acabara de testemunhar. O horror da situação se desdobrava diante deles, desafiando toda a lógica e compreensão científica.

O cadáver de Junior permanecia imóvel na maca, os olhos agora fixos no teto, como se nada tivesse acontecido. Mas a experiência deixou uma marca indelével em Alice e Diego, uma lembrança sinistra de que algo terrível estava se desenrolando ao seu redor.

Enquanto Alice cuidava do ferimento de Diego, o silêncio pesado no laboratório era interrompido apenas pelo eco distante de seus próprios pensamentos. Eles sabiam que precisavam relatar o que haviam descoberto ao coronel Lian, mas também sabiam que uma verdade ainda mais sombria estava à espreita nas sombras do laboratório.

A noite se arrastava lentamente, mergulhada em suspense e terror, enquanto Alice e Diego lutavam para entender o que haviam desencadeado e como poderiam sobreviver ao pesadelo que se desdobrava diante deles.

Diego, com o rosto pálido e a expressão de dor, tentava processar a gravidade de sua situação enquanto Alice limpava a mordida em seu braço. Os dentes de Junior haviam rasgado a carne de Diego, deixando uma marca profunda e sangrenta. Alice sabia que não podia perder tempo; precisava tratar a ferida e evitar uma possível infecção.

— Ele mordeu você profundamente! Venha, deixe-me colocar álcool na ferida — disse Alice, pegando um frasco de álcool e despejando-o na mordida. Diego gemeu de dor, o álcool queimando ao entrar em contato com a pele ferida.

— Que droga, Alice! Isso dói demais! — reclamou Diego, o rosto contorcido em uma expressão de agonia.

— Eu avisei a você! Você é muito teimoso — respondeu Alice, a voz cheia de frustração e preocupação. Ela começou a enfaixar a mordida e a cuidar dos dedos mutilados de Diego, tentando conter o sangramento o máximo possível.

Diego observou seus dedos enfaixados, a dor latejando constantemente. — Além dos meus dedos, ele me mordeu. Isso é uma loucura — murmurou ele, sua voz carregada de raiva e desespero.

— Tenha mais cuidado. Não sabemos com o que estamos lidando. Agora, sobre essa mordida, precisamos descobrir se é contagiosa — disse Alice, pegando um tubo de coleta de sangue. Ela sabia que a mordida poderia ser perigosa e precisava verificar se havia alguma anomalia no sangue de Diego.

Ela coletou uma amostra de sangue de Diego, que a observava com uma expressão preocupada.

— Se eu morrer, diga para a Kessia que eu gosto dela — disse Diego, sua voz tremendo ligeiramente com a admissão.

Alice olhou para ele com surpresa e, depois de um momento de hesitação, respondeu com um tom cauteloso.

— Kessia? Mas ela já está namorando — disse Alice, tentando não aprofundar ainda mais a dor emocional de Diego.

Diego respirou fundo, a tristeza invadindo seus olhos. — Sério? Ela nunca me disse nada sobre isso — disse ele, abaixando a cabeça, sentindo-se abatido.

Alice ficou em silêncio, seu coração apertado ao ver a decepção de Diego. Ela pegou a amostra de sangue e caminhou até o microscópio, determinada a analisar o que poderia estar acontecendo no corpo dele. O laboratório parecia mais silencioso e sinistro do que nunca, como se a escuridão ao redor estivesse se fechando sobre eles.

Ao olhar através do microscópio, Alice viu algo alarmante. As células sanguíneas de Diego estavam começando a apresentar mudanças, semelhantes às que haviam visto no sangue de Junior. Havia uma atividade anômala, com células deformadas e movimentos anormais, indicando uma possível infecção que parecia estar se espalhando rapidamente.

Seu coração disparou, e a respiração ficou ofegante. Alice sabia que precisava agir rápido. Ela precisava de mais informações, mas, mais do que isso, precisava proteger Diego e a si mesma de qualquer ameaça iminente. O que eles estavam enfrentando era mais perigoso do que qualquer coisa que já haviam imaginado.

Alice voltou até Diego, tentando manter a calma, mas sua voz traía o medo crescente.

— Diego, temos um problema. Seu sangue está mostrando sinais de infecção, semelhante ao que vimos em Junior. Não sei o que isso significa exatamente, mas não é um bom sinal — disse ela, tentando manter a voz firme.

Diego olhou para ela, o pânico começando a tomar conta.

— O que vamos fazer, Alice? Se isso for contagioso, eu... — Ele não conseguiu terminar a frase, o medo e a incerteza esmagando suas palavras.

Alice sabia que precisava manter a cabeça fria. Eles estavam lidando com algo além de sua compreensão, algo que poderia se espalhar rapidamente e causar uma catástrofe inimaginável.

— Vamos manter a calma, Diego. Precisamos contatar o coronel Lian e informar sobre o que encontramos. Ele deve ter recursos para lidar com isso. E enquanto isso, vamos tentar conter essa infecção aqui — disse ela, tentando soar confiante.

O terror pairava no ar, e cada segundo parecia se arrastar, carregado de medo e incerteza. Alice e Diego estavam no centro de um pesadelo, lutando contra um inimigo invisível e implacável, sem saber como poderiam sobreviver ou se havia algum fim para aquele horror.

O chamado

Um dia havia se passado desde a infecção de Diego, e sua condição estava se deteriorando rapidamente. Ele estava pálido, com a pele fria ao toque, e tremia incessantemente, como se estivesse em um estado febril perpétuo. Alice, preocupada, entrou na sala com um prato de comida, tentando convencê-lo a se alimentar.

— Você precisa comer, Diego. Não pode ficar sem comer — insistiu Alice, segurando o prato de comida na esperança de que ele aceitasse.

— Estou sem fome, Alice — respondeu Diego, a voz fraca e entrecortada pelo frio que parecia consumir seu corpo. — Abaixe mais o ar-condicionado. Está tão frio aqui.

Alice olhou para ele, seu coração apertado de preocupação. — Está desligado, Diego. E o outro está em 31 graus. — Observou-o atentamente, tentando manter a calma. Ele estava trancado em uma sala isolada, sua condição piorando a cada hora.

Enquanto Alice lutava com a impotência diante da deterioração de Diego, o cadáver de Junior, que se debatia na sala ao lado, aumentava sua ansiedade. A presença daquela figura morta-viva era um lembrete constante do horror que eles estavam enfrentando, e Alice sabia que precisava agir rápido para encontrar uma solução.

De repente, a porta da sala se abriu, e o guarda entrou, trazendo um momento de alívio e surpresa.

— Alice! Você ainda está aqui? — perguntou ele, com uma expressão curiosa. Alice forçou um sorriso, tentando esconder seu crescente desespero.

— Eu nem saí daqui ainda. Mas o que você está fazendo aqui? Não deveria estar em casa? — perguntou ela, tentando manter a conversa casual.

— Sim, deveria. Mas vi que você ainda estava aqui e fiquei preocupado. Diego ainda está aqui também? — perguntou o guarda, olhando em direção à sala onde Diego estava.

Alice queria mentir, queria proteger seu amigo e ganhar mais tempo para encontrar uma solução. Mas sabia que seria pior se o guarda descobrisse a verdade por conta própria.

— Está sim, me faz um favor? Eu preciso fazer uma ligação urgente. — Ela olhou para Diego, ainda tremendo na sala. — Você pode cuidar daqui? Não mexa em nada!

— Claro, Alice. — O guarda concordou, e Alice agradeceu, saindo rapidamente da sala e dirigindo-se para a sala telefônica.

Atravessando os corredores vazios do laboratório, o coração de Alice batia acelerado. Cada passo parecia mais pesado do que o anterior, a ansiedade e o medo de perder Diego a qualquer momento pressionavam seus pensamentos. Ao chegar na sala telefônica, Alice começou a procurar o número do coronel Lian com urgência. Cada segundo contava, e ela sabia que o tempo estava se esgotando para Diego.

Encontrou o contato e, com mãos trêmulas, discou o número. Enquanto o telefone chamava, Alice respirava fundo, tentando acalmar os nervos e organizar seus pensamentos.

— Alô? — A voz autoritária do coronel Lian atendeu, interrompendo seus pensamentos.

— Coronel Lian, aqui é Alice. Estou no laboratório, e temos uma emergência. Diego foi mordido por um dos infectados, e a situação está piorando rapidamente. Ele está tremendo, pálido, e eu não sei quanto tempo mais ele tem — disse Alice, a voz carregada de urgência e desespero.

Houve uma pausa do outro lado da linha, e Alice podia quase ouvir o coronel processando as informações.

— Alice, mantenha a calma. Vou enviar uma equipe para aí imediatamente. Precisamos isolar o local e garantir que essa infecção não se espalhe. Quanto ao Diego, precisamos monitorar a evolução dos sintomas. Pode ser crucial para entender a natureza dessa praga — respondeu o coronel, com uma voz firme e decidida.

Alice sentiu um pequeno alívio ao ouvir que ajuda estava a caminho, mas sabia que o tempo era crítico. Cada segundo perdido poderia significar a morte de Diego, ou pior, sua transformação em algo monstruoso como Junior.

— Entendido, coronel. Vou continuar monitorando Diego e garantir que ninguém entre em contato com ele — respondeu Alice, tentando manter a voz firme.

— E Alice, tome cuidado. Se a situação ficar incontrolável, precisamos pensar na segurança de todos. Não podemos arriscar mais vidas — acrescentou o coronel, a gravidade de suas palavras pesando sobre ela.

Após desligar o telefone, Alice caminhava lentamente de volta para o laboratório, seus pensamentos perdidos em um turbilhão de preocupações e medos. Ela sabia que o tempo estava se esgotando para Diego e sentia uma mistura de culpa e desespero, determinada a não deixar seu amigo sucumbir à infecção.

Enquanto isso, no laboratório, Xavier, o guarda, observava Diego com crescente inquietação. Ele estava sozinho, vigiando o amigo de Alice, cuja condição se deteriorava visivelmente a cada minuto. O cadáver de Junior, que se debatia em uma sala adjacente, parecia sentir o medo de Xavier, aumentando ainda mais a tensão no ambiente.

— Xavier, venha aqui — chamou Diego, sua voz fraca e desesperada.

Xavier hesitou, lembrando-se das ordens de Alice. — Alice disse para eu ficar aqui, Diego! São ordens! — respondeu ele, tentando manter a calma.

Diego soltou um suspiro fraco e seus olhos se fecharam lentamente. — Diego? Está tudo bem? — perguntou Xavier, sua voz carregada de preocupação.

De repente, o corpo de Diego caiu no chão com um baque surdo. Xavier correu em desespero até ele, ajoelhando-se ao seu lado e tentando reanimá-lo.

— Diego! Responde, Diego! — gritou Xavier, sacudindo o corpo inerte. Ele tentou manobras de ressuscitação, pressionando o peito de Diego e tentando fazê-lo respirar novamente, mas sem sucesso. O desespero de Xavier crescia a cada segundo, sua mente tentando processar o horror da situação.

Então, de repente, Diego abriu os olhos. Mas algo estava terrivelmente errado. Seus olhos estavam completamente brancos, vazios e sem vida, suas veias marcando profundamente sua pele pálida. Um calafrio percorreu a espinha de Xavier ao ver aquela transformação aterrorizante. Antes que pudesse reagir, Diego atacou, agarrando o pescoço de Xavier com uma força sobrenatural.

Xavier, em pânico, empurrou Diego com todas as suas forças, afastando-o momentaneamente. Ele correu desesperadamente em direção à porta, o coração disparado e o terror tomando conta de seus pensamentos. Mas Diego, agora transformado em algo monstruoso, movia-se com uma velocidade surpreendente. Ele se lançou sobre Xavier novamente, derrubando-o no chão e atacando com uma fúria incontrolável.

Alice, ainda a caminho do laboratório, ouviu os gritos desesperados de Xavier ecoando pelos corredores. Seu coração disparou, e ela correu em direção à origem dos gritos, temendo o pior. Ao chegar à porta do laboratório, Alice viu uma cena que parecia saída de um pesadelo. Diego, agora irreconhecível, estava sobre Xavier, seus dentes cravando-se no pescoço do guarda, sangue jorrando e espalhando-se pelo chão.

— Diego! Não! — gritou Alice, seu coração se partindo ao ver a monstruosa transformação de seu amigo. Ela correu para a sala, tentando puxar Diego para longe de Xavier, mas a força dele era avassaladora. Em um último esforço desesperado, Alice conseguiu empurrar Diego, que caiu para trás, seus olhos vazios fixando-se nela com uma fome insaciável.

Xavier estava mortalmente ferido, seu corpo convulsionando enquanto o sangue escorria de sua ferida. Alice sabia que não havia mais tempo para salvar Xavier, e o horror da situação a atingiu com toda a força. Ela olhou para Diego, que agora se levantava, seus movimentos desajeitados e bestiais.

Diego, transformado em uma criatura bestial, se levantava lentamente, os movimentos desajeitados e os olhos brancos fixos em Xavier. A respiração de Xavier era ruidosa, interrompida pelas mordidas profundas que o haviam dilacerado. Ele sabia que seu tempo estava acabando, mas seu instinto de proteção ainda prevalecia.

— Corre, Alice! — gritou Xavier, sua voz fraca, mas carregada de urgência.

Alice, assustada e paralisada pelo horror de ver seu amigo transformado em um monstro, sentia uma mistura de tristeza e terror. Xavier, em um último ato de coragem, se levantou com dificuldade e segurou Diego com todas as suas forças, tentando impedir que ele avançasse sobre Alice.

— Alice, corra agora! — gritou ele pela última vez, antes que Diego cravasse os dentes em sua garganta, silenciando seu grito com um som abafado e aterrorizante.

Alice, com o coração disparado e a mente em pânico, correu para fora da sala, fechando a porta atrás de si. O som da porta se trancando ecoou nos corredores vazios do laboratório. Seus passos eram rápidos e desajeitados enquanto procurava um lugar seguro para se esconder. Seus olhos estavam marejados de lágrimas, a mente uma mistura de confusão e desespero.

Ela encontrou uma sala grande e escura, aparentemente abandonada, e entrou rapidamente, fechando a porta atrás de si. A escuridão era densa, e Alice não conseguia ver nada à sua volta. Com as mãos trêmulas, pegou o celular e ligou a lanterna, iluminando o espaço sombrio e revelando pilhas de caixas e equipamentos cobertos de poeira.

— O que eu faço agora? — murmurou para si mesma, sua voz cheia de angústia. Sentou-se no chão, as lágrimas escorrendo por seu rosto. — Será que a mordida é a causa de tudo isso? Será que é a mordida que transforma as pessoas em monstros? — Sua mente estava uma confusão, tentando encontrar sentido em meio ao caos, mas tudo parecia desmoronar ao seu redor.

Enquanto se sentava no chão frio, tentando recuperar o fôlego e controlar o pânico, Alice ouviu um som que gelou seu sangue. Uma porta estava sendo aberta em algum lugar próximo. O som reverberou na sala escura, amplificando o medo que já a dominava.

Ela se levantou devagar, quase sem fazer barulho, movendo-se nas pontas dos pés em direção a uma pequena brecha na porta. Espiou pela fresta, o coração martelando no peito, e viu que a porta do laboratório havia sido destrancada. O que quer que estivesse lá fora, agora tinha acesso a ela.

Alice segurou a respiração, tentando ouvir qualquer sinal do que pudesse estar se aproximando. Seus sentidos estavam em alerta máximo, cada som, cada sombra parecia potencialmente ameaçadora. O som de passos arrastados começou a ecoar pelo corredor, um lembrete sinistro de que Diego, ou algo pior, poderia estar se aproximando.

Ela olhou ao redor da sala, procurando desesperadamente uma saída ou um esconderijo melhor. A sala estava cheia de equipamentos velhos e caixas empilhadas, oferecendo poucas opções de fuga. Seu olhar caiu sobre uma pequena janela no alto da parede oposta, uma possível rota de escape, mas alcançá-la seria um desafio.

Enquanto os passos se aproximavam, Alice sentiu o pânico tomar conta. Ela não podia ficar ali e esperar ser encontrada.

Alice, tremendo de medo, percebeu que, embora a rua oferecesse uma possível rota de fuga, o caos e o perigo lá fora eram ainda maiores do que dentro do laboratório. Ela sabia que, trancada naquela sala escura, pelo menos teria um mínimo de segurança até que a ajuda do coronel Lian chegasse. Com a respiração entrecortada e o coração disparado, ela trancou a porta, certificando-se de que ninguém — ou nada — pudesse entrar.

Enquanto caminhava para trás, os olhos arregalados tentando se ajustar à escuridão, Alice sentiu a fria e úmida parede atrás dela. Sua mente corria, tentando planejar seus próximos passos, mas o medo e o pânico estavam dificultando sua capacidade de pensar claramente.

O som de passos arrastados se aproximava, e ela sabia que Diego, agora uma criatura horrível, estava do outro lado da porta. A respiração gutural de Diego ecoava pelo corredor, um lembrete sinistro de que o perigo estava a poucos metros de distância.

— Diego... — murmurou Alice para si mesma, sua voz um sussurro desesperado. — Sinto muito, meu amigo. — As lágrimas escorriam pelo rosto dela, misturando-se ao suor frio da testa. Ela apertou o celular contra o peito, como se fosse um talismã que pudesse protegê-la da escuridão e do terror.

O som dos passos se intensificou, seguidos por um batimento pesado na porta. Diego estava tentando entrar, suas forças sobrenaturais fazendo a porta tremer em suas dobradiças. Alice sabia que a porta não resistiria por muito tempo e, mesmo que o coronel Lian viesse, poderia ser tarde demais.

— Preciso de uma saída... — murmurou Alice, seus olhos percorrendo a sala escura. Ela viu um armário velho e enferrujado no canto, que poderia oferecer um esconderijo temporário. Sem perder tempo, ela correu até ele, abrindo a porta com cuidado para não fazer barulho.

Dentro do armário, o espaço era apertado e cheirava a mofo, mas oferecia uma chance de se esconder. Alice se espremeu para dentro, puxando a porta atrás de si e deixando apenas uma pequena fresta para espiar. O coração dela batia tão forte que parecia ecoar pelo pequeno compartimento, cada batida uma marcação do tempo que ela tinha até Diego encontrar uma maneira de entrar.

Do lado de fora, os golpes na porta ficaram mais violentos. Alice ouviu um grito gutural, que fez seu sangue gelar. Diego estava perdendo o controle, sua fome insaciável de carne humana dominando completamente o que restava de sua humanidade.

— Lian, por favor, apresse-se... — sussurrou Alice, a voz tremendo. Ela sabia que sua única esperança estava no coronel, mas não tinha como saber se ele chegaria a tempo.

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