Ao chegarem à farmácia, Kaito e Alice foram recebidos por olhares curiosos e preocupados do grupo que ali estava. A pequena farmácia, que servia como abrigo temporário, tinha prateleiras reviradas e apenas o essencial espalhado pelo chão. A tensão no ar era palpável, enquanto todos aguardavam notícias sobre o que haviam encontrado.
Um dos rapazes, Daniel, um jovem de cabelos escuros e olhar inquieto, aproximou-se rapidamente, a preocupação evidente em sua voz.
— Onde vocês estavam? — perguntou ele, seus olhos varrendo Kaito e Alice em busca de respostas. — Estávamos ficando preocupados. Alguma novidade?
Kaito, mantendo a postura firme e a expressão fechada, respondeu de forma direta. — Encontramos um refúgio. Uma fazenda a poucos quilômetros daqui. Eles têm suprimentos e estão dispostos a nos receber. Precisamos nos preparar para a mudança. — Sua voz era autoritária, deixando claro que não havia tempo para discussões.
Os olhos de Daniel se arregalaram com a notícia. — Isso é incrível! Finalmente podemos sair daqui. Mas... — Ele parou, notando uma mancha escura na blusa de Kaito. — E esse sangue na sua blusa? O que aconteceu?
Kaito olhou para baixo, como se só agora notasse a mancha. Ele levantou os olhos para Daniel, a expressão dura como sempre. — Apenas de um infectado. Não se preocupe. — Ele desviou o olhar, indicando que a conversa sobre o sangue estava encerrada. — Vamos arrumar nossas coisas. Temos um longo caminho até a fazenda.
Alice, tentando aliviar a tensão, sorriu de forma encorajadora para Daniel. — Vai ser bom para todos. Eles têm espaço e são acolhedores. Precisamos confiar neles e aproveitar essa oportunidade.
Daniel parecia aliviado, mas ainda tinha um brilho de dúvida nos olhos. — E é seguro? Podemos realmente confiar neles?
Kaito cruzou os braços, seu tom ficando mais firme. — Não temos muitas opções, Daniel. O lugar parece seguro e bem protegido. Temos que dar um voto de confiança e trabalhar juntos para manter isso.
Outro membro do grupo, Helena, uma mulher de meia-idade com um semblante cansado, se aproximou, segurando uma pequena mochila. — Se há uma chance de termos um pouco de paz, devemos tentar. — Sua voz era baixa, mas cheia de esperança.
Alice assentiu, pegando a mão de Helena em um gesto de apoio. — Exatamente, Helena. Vamos aproveitar essa oportunidade. Podemos reconstruir uma vida lá.
Enquanto o grupo começava a arrumar suas coisas, um silêncio determinado tomou conta do lugar. Cada um deles estava envolvido em seus próprios pensamentos sobre o que a nova jornada traria. Alguns arrumavam mochilas, outros verificavam armas e suprimentos, enquanto a tensão do que viria pela frente pairava no ar.
Kaito, observando a movimentação, dirigiu-se a Alice em voz baixa. — Precisamos estar prontos para qualquer coisa. Não sabemos o que vamos encontrar pela frente.
Alice concordou, olhando para ele com uma expressão de determinação. — Certo.
Com tudo pronto, o grupo se reuniu na entrada da farmácia, os rostos misturando-se em uma expressão de esperança e cautela. Kaito liderava o grupo, com Alice ao seu lado, prontos para enfrentar a nova jornada e construir um futuro mais seguro na fazenda que haviam encontrado.
Após arrumarem tudo na farmácia, o grupo saiu pelos fundos, carregando suprimentos e mantimentos essenciais. O clima entre eles era tenso, especialmente entre Alice e Kaito. Desde o incidente com a mulher infectada, Alice estava profundamente abalada. Ela não conseguia tirar da mente a imagem da garota sendo morta por Kaito, nem a sensação de culpa que a consumia.
Enquanto caminhavam pela estrada deserta, a noite começou a cair lentamente. O sol poente tingia o céu de vermelho, criando uma atmosfera sombria e melancólica. Alice mantinha-se afastada dos outros, perdida em seus pensamentos sombrios. Daniel, um dos membros do grupo, notou a mudança nela e decidiu se aproximar.
— Está tudo bem, Alice? Você parece distante desde que saímos da farmácia — perguntou Daniel com preocupação em sua voz, enquanto continuavam a caminhar lado a lado.
Alice tentou sorrir para tranquilizá-lo, mas seus olhos revelavam tristeza e confusão. — Estou tentando ficar bem, Daniel. Só estou um pouco cansada, é tudo.
Daniel olhou para ela com compreensão. Ele sabia que algo mais estava acontecendo, mas decidiu não pressioná-la mais naquele momento.
Ao chegarem às duas pistas com os carros abandonados pelo exército e pelos civis, Kaito decidiu que deveriam descansar até o amanhecer. Após todos se acomodarem nos carros em busca de alimentos e um lugar para passar a noite, Kaito assumiu sua posição de vigia, seu olhar perdido na distância enquanto a noite se instalava ao redor deles.
Sua expressão era tensa, mas determinada; ele estava completamente focado em manter todos seguros. Cada som era meticulosamente analisado, cada movimento observado com cautela. Seu papel ali era o de proteger o grupo, custasse o que custasse, mesmo que isso significasse tomar decisões difíceis.
Enquanto isso, Alice estava sentada no capô de um carro antigo, contemplando o céu estrelado acima dela. O brilho das estrelas contrastava com a escuridão ao redor, criando um cenário de beleza serena que contrastava fortemente com o ambiente tenso e perigoso em que estavam. Ela tentava encontrar um momento de paz em meio ao caos que se instalara em sua mente desde o incidente com a mulher infectada.
Daniel se aproximou dela com um pequeno pote de comida nas mãos, interrompendo seus pensamentos sombrios. Ele sorriu gentilmente ao oferecer o alimento, preocupado com o estado emocional de Alice.
- Olá, Alice! Dividimos as comidas para todos. Talvez você esteja com fome - disse Daniel com voz suave, sentando-se ao lado dela.
Alice aceitou o pote com um sorriso grato. - Obrigada, estou sim. Estou feliz por termos encontrado a fazenda - respondeu ela, tentando parecer animada apesar da turbulência interna.
Daniel sentou-se ao lado dela, e os dois começaram a conversar sobre a fazenda, compartilhando pequenos momentos de tranquilidade em meio ao desconforto constante da vida pós-apocalíptica. Enquanto conversavam, Kaito observou discretamente a interação entre eles, notando o sorriso de Alice e como ela parecia mais relaxada na presença de Daniel. Um misto de emoções percorreu seu rosto, uma combinação de alívio por vê-la um pouco mais leve e uma pontada de tristeza por saber que ele próprio havia contribuído para sua dor.
Ele suspirou profundamente, sentindo o peso de suas decisões sobre seus ombros. Não era fácil ser o protetor frio e calculista que todos esperavam que ele fosse. Às vezes, a crueldade necessária para sobreviver no mundo atual parecia esmagadora.
Enquanto a noite avançava lentamente e o grupo se preparava para descansar antes do amanhecer para continuar a jornada até a fazenda, Kaito decidiu que precisava resolver as coisas com Alice. Ele se aproximou do grupo reunido em torno de uma fogueira improvisada, onde todos compartilhavam histórias e um pouco de companheirismo.
- Alice - chamou ele, sua voz mais suave do que o habitual, mas ainda carregada de seriedade. Ela olhou para ele com surpresa e um toque de apreensão nos olhos. - Podemos conversar um momento? - perguntou Kaito, seu tom deixando claro que havia algo que ele precisava esclarecer entre eles.
Alice ergueu os olhos para Kaito, surpresa com o pedido dele para conversar. Ela assentiu lentamente, pedindo licenças aos colegas. A mesma seguiu Kaito até um canto mais afastado da pequena área iluminada pela fogueira, onde poderiam ter mais privacidade.
Kaito permaneceu em silêncio por um momento, reunindo suas palavras. Ele olhou diretamente nos olhos de Alice, procurando transmitir sinceridade em suas palavras.
- Eu sei que as coisas têm sido difíceis desde aquele incidente com a mulher infectada - começou Kaito, sua voz séria e cuidadosa. - E sei que você está abalada com tudo o que aconteceu.
Alice abaixou o olhar por um instante, sentindo um aperto no peito ao lembrar da cena que presenciara. Ela respirou fundo e depois encarou Kaito novamente.
- Eu... Eu não consegui evitar de me sentir culpada - admitiu Alice em um tom baixo, as palavras saindo com dificuldade. - Ver você... fazendo o que fez... foi difícil. Eu sei que você age assim para proteger o grupo, mas...
Kaito assentiu lentamente, compreendendo o peso das palavras de Alice. Ele sabia que sua maneira de agir poderia parecer cruel aos olhos dela, especialmente quando tomava decisões duras para garantir a sobrevivência do grupo.
- Eu entendo como você se sente, Alice - disse ele sinceramente. - E eu sinto muito se te magoei. Não foi minha intenção. Às vezes, as escolhas que fazemos são... brutais. Mas são necessárias. A segurança do grupo vem em primeiro lugar.
Alice olhou para ele, vendo a seriedade em seus olhos. Ela sabia que Kaito não era insensível, apenas tinha uma maneira diferente de lidar com as situações extremas que enfrentavam diariamente.
- Eu sei - murmurou Alice, tentando encontrar as palavras certas. - Eu sei que você faz o que precisa ser feito. É só... difícil aceitar às vezes.
Kaito assentiu novamente, reconhecendo a dor de Alice. Ele colocou a mão no ombro dela com gentileza.
- Eu entendo. E estou aqui se você precisar conversar mais sobre isso - ofereceu ele sinceramente. - Você não está sozinha, Alice. Somos um time. Você sempre fala isto.
Alice sorriu fracamente, sentindo um peso sendo aliviado de seus ombros. Ela sabia que Kaito estava ali por ela, mesmo que sua abordagem fosse mais dura.
- Obrigada, Kaito - disse ela com gratidão. - Eu... eu vou tentar entender melhor.
Kaito assentiu, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto. - Estamos juntos nisso. Agora, vamos descansar um pouco. Amanhã será um novo dia e temos uma jornada pela frente até a fazenda.
Com isso, os dois se encaminharam de volta para o grupo, onde encontraram Daniel e os outros conversando em volta da fogueira.
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Atualizado até capítulo 113
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