O grupo de sobreviventes seguiu em frente, deixando o riacho para trás. A floresta parecia infinita, com árvores altas e densa vegetação, dificultando a passagem e obscurecendo a visão. A luz do sol mal penetrava pelas copas, criando um ambiente sombrio e opressor. Kaito, sempre à frente, liderava com passos firmes e sem hesitação, mas a incerteza sobre o destino deixava todos inquietos.
Alice, observando o cansaço e a fome nos rostos de seus companheiros, tentava manter o moral elevado, mas cada vez mais sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros.
— Temos que encontrar um abrigo logo. Não podemos continuar assim por muito mais tempo. — Murmurou Alice, mais para si mesma do que para qualquer outro.
— Continue andando. — Kaito ordenou, sem sequer olhar para trás. — O próximo ponto seguro pode estar a alguns quilômetros. Não podemos nos dar ao luxo de parar agora.
O grupo obedeceu, embora a exaustão fosse evidente. A jovem loira, cuja voz suave antes pedira uma pausa, agora caminhava com dificuldade, cada passo um esforço hercúleo. O namorado dela tentava ajudar, mas ele também estava em seus limites. Alice percebeu a angústia nos olhos deles e se aproximou.
— Precisamos de um plano, Kaito. — Ela insistiu, tentando não mostrar seu desespero. — Estamos andando sem rumo. Isso não é sustentável.
Kaito parou abruptamente e se virou, seu olhar frio como aço. — Você acha que eu não sei disso? — Sua voz era baixa, mas carregada de tensão. — Cada decisão que eu tomo é para manter todos vivos. Se não consegue entender isso, então está livre para seguir seu próprio caminho.
Alice balançou a cabeça, tentando manter a calma. — Não estou dizendo que você está errado, Kaito. Só acho que precisamos ser mais estratégicos. Encontrar comida, água, abrigo. Precisamos de um plano que vá além de apenas andar.
O olhar de Kaito suavizou por um momento, mas logo ele se virou novamente, continuando a caminhada. — Fique de olho nas árvores. Às vezes, há marcas de antigos grupos de sobreviventes. Pode nos levar a algum lugar seguro.
O grupo continuou a avançar, agora com a esperança de encontrar alguma pista que indicasse um refúgio próximo. As horas se arrastavam, cada passo ficando mais difícil. A floresta parecia se fechar ao redor deles, como se fosse um labirinto sem saída.
De repente, um dos membros do grupo gritou. — Ali! Eu vejo algo! — Todos se voltaram para o som, ansiosos por qualquer sinal de esperança. Um homem, em seus quarenta anos, apontava para uma estrutura parcialmente encoberta pela vegetação.
Alice correu até lá, seu coração batendo forte com a possibilidade de encontrar um abrigo. Chegando mais perto, ela viu que era uma cabana antiga, desgastada pelo tempo, mas ainda sólida. Kaito e os outros logo se juntaram a ela, examinando a construção.
— Parece seguro o suficiente. — Kaito disse, dando uma olhada cuidadosa nas janelas e na porta. — Vamos entrar e ver se é seguro para passar a noite.
Com cuidado, Kaito abriu a porta, e o grupo entrou na cabana. Era um espaço pequeno, mas suficiente para abrigar todos. Havia sinais de que outros sobreviventes já haviam passado por ali: latas vazias, cobertores desgastados e algumas ferramentas básicas.
Alice respirou aliviada. Finalmente, um lugar para descansar. — Precisamos fazer uma varredura completa e garantir que não há nenhuma ameaça aqui dentro. — Disse ela, pegando uma lanterna para iluminar os cantos escuros.
O grupo se dividiu, verificando cada canto da cabana. Não encontraram nada além de traços de ocupantes anteriores. Estava claro que era um refúgio temporário, mas por agora, seria o suficiente.
Kaito, sempre atento, deu as instruções finais. — Vamos nos revezar para manter a vigia. Não podemos baixar a guarda, nem por um segundo.
Alice acenou, concordando com a importância da cautela. Ela se aproximou da jovem loira e do namorado, que estavam sentados juntos, exaustos.
— Vocês estão bem? — Perguntou, tentando oferecer algum conforto.
— Vamos ficar. — Respondeu o jovem, segurando a mão da namorada. — Obrigado por nos ajudar.
Alice sorriu, embora a preocupação ainda estivesse em seu olhar. — Vamos descansar um pouco. Amanhã, planejaremos nosso próximo movimento.
Alice olhou para Kaito, observando a tensão em seu rosto. Ele estava de pé, rígido, com os olhos fixos na floresta ao redor da cabana. O rifle em suas mãos parecia uma extensão de seu corpo, pronto para qualquer ameaça que pudesse surgir. O ambiente estava carregado de um silêncio opressor, quebrado apenas pelos sussurros do vento e o ocasional farfalhar das folhas.
— Kaito? — Alice o chamou, sua voz suave, mas firme. Ela deu alguns passos em direção a ele, a preocupação visível em seus olhos. Kaito não se moveu, mas Alice sabia que ele a estava ouvindo.
— O que você quer? — Ele perguntou, ainda sem desviar o olhar do local.
— Só queria dizer que precisamos encontrar comida, um abrigo decente para todos. — Alice respirou fundo, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Eu sei que você está sendo duro com todos, mas no fundo sinto que você é uma pessoa boa.
Kaito finalmente olhou para ela, seus olhos frios e calculistas, mas havia um lampejo de algo mais profundo, algo que Alice não conseguia decifrar completamente.
— Você não me conhece, Alice, assim como eu não conheço você. — Ele disse, sua voz carregada de uma dureza que parecia enraizada em uma dor antiga. — Não conheço todos que estão naquele abrigo.
Alice sentiu uma onda de frustração e desespero. Ela queria acreditar que Kaito era mais do que apenas um soldado endurecido pela guerra. Ela queria acreditar que, de alguma forma, ele se importava com o grupo. Mas suas palavras eram um lembrete cruel da realidade brutal que enfrentavam.
— Se não quer liderar um grupo, por que simplesmente não vai embora? — Alice perguntou, sua voz tremendo ligeiramente com a intensidade de suas emoções. — Segue seu caminho sozinho. Muitas pessoas lá dentro precisam descansar. Nem todos foram treinados como você!
Kaito apertou os punhos ao redor do rifle, seus olhos escurecendo com a sombra de emoções reprimidas. Ele se virou lentamente para Alice, sua expressão uma mistura de raiva e algo que se parecia com tristeza.
— Você acha que é tão simples assim? — Ele perguntou, sua voz baixa e cheia de intensidade. — Acha que eu posso simplesmente ir embora e deixar todos para trás? Eu fiz um juramento, Alice. Não apenas para o Coronel Lian, mas para todos aqueles que dependem de mim. Eu não posso abandonar o grupo, não importa o quão difícil seja.
Alice se aproximou dele, seu olhar suave mas determinado. — Não estou pedindo para você abandonar o grupo. Estou pedindo para você nos dar uma chance. Uma chance de sobreviver, de encontrar esperança em meio a este caos. Você pode ser duro, mas também pode ser humano. Mostre isso para nós.
Kaito desviou o olhar, seu rosto marcado pela batalha interna entre seu dever e suas emoções. Ele sabia que Alice estava certa, mas as cicatrizes de seu passado tornavam difícil para ele se abrir, para confiar nos outros.
— Eu... eu vou tentar. — Ele disse finalmente, sua voz quebrando ligeiramente. — Mas você tem que entender, Alice. Eu estou fazendo o que acho que é melhor para todos. Não sou um líder por escolha. Estou apenas tentando sobreviver, assim como você.
Alice assentiu, sentindo uma pontada de empatia por Kaito. Ela sabia que ele carregava um fardo pesado, e que, no fundo, ele queria proteger o grupo tanto quanto ela. Talvez, juntos, pudessem encontrar uma maneira de superar os desafios que estavam por vir.
— Vamos fazer isso juntos, Kaito. — Disse ela, estendendo a mão. — Vamos encontrar um jeito de sobreviver e manter todos seguros. Não somos apenas soldados ou sobreviventes. Somos uma família agora, e temos que cuidar uns dos outros.
Kaito olhou para a mão estendida de Alice, hesitando por um momento antes de apertá-la firmemente.
Enquanto a noite avançava, Alice e Kaito se juntaram ao grupo na cabana. Eles compartilharam um breve momento de descanso e se revezaram na vigília, prontos para enfrentar o que quer que o amanhecer trouxesse.
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Atualizado até capítulo 113
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