Alice sentiu um nó apertando em sua garganta enquanto tentava organizar os pensamentos. As palavras do coronel Lian ecoavam em sua mente, misturando-se com a dor e a raiva pela perda de Diego. Sua voz tremia de emoção e indignação ao continuar a conversa.
— Coronel, vocês esperaram dois meses enquanto a cidade se transformava em um inferno. Eu perdi um amigo, Diego se tornou um deles. Você realmente acha que podemos salvar alguém com esse caos tomando conta? — Alice ergueu o olhar, encarando o coronel com intensidade.
O coronel Lian mantinha sua expressão severa, mas havia uma sombra de cansaço em seus olhos. Ele sabia que a situação estava além do controle, mas não podia permitir que o desespero tomasse conta. Levantou-se novamente, caminhando até o quadro onde estavam mapeados os pontos de infecção.
— Alice, entendo sua frustração. Acredite, eu também perdi pessoas importantes. Mas precisamos de respostas, e você é nossa única esperança agora — disse ele, voltando a encará-la. — O que você descobriu sobre essa infecção é crucial. Precisamos entender como ela funciona para encontrar uma maneira de combater isso.
Alice respirou fundo, tentando manter a calma. Sentia-se exausta e sobrecarregada, mas sabia que não poderia desistir agora. Aproximou-se da mesa do coronel, as mãos apoiadas na borda enquanto buscava forças para continuar.
— Antes de Diego... — Ela engoliu em seco, as lembranças da transformação de seu amigo ainda vívidas em sua mente. — Antes de Diego se transformar, fizemos alguns testes no sangue do soldado que vocês mandaram para nós. Descobrimos que o vírus não apenas mata a vítima, ele a reanima. O sangue se comportava de maneira estranha, como se estivesse comandando o cérebro a consumir carne humana. Achamos um dente preso em uma das mordidas. Não era um dente normal, era mais afiado, monstruoso, mas ao mesmo tempo humano.
O coronel franziu a testa, processando a informação. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao imaginar a magnitude da ameaça que enfrentavam.
— Um dente de monstro, mas humano... Isso explica muito, Alice. Precisamos saber mais sobre esse vírus. — Ele se inclinou sobre a mesa, a expressão séria. — Você disse que a infecção está dentro de todos nós. O que quer dizer com isso?
Alice fechou os olhos por um momento, tentando encontrar a melhor forma de explicar o que havia descoberto. Abriu-os novamente, a determinação em seu olhar queimando com intensidade renovada.
— O vírus não se espalhou apenas pelo hambúrguer contaminado. Ele já estava presente nas pessoas, latente, esperando para ser ativado. A mordida só acelera o processo. O vírus se aproveita das fraquezas do corpo humano, transformando a vítima em um monstro faminto. Mesmo quem não foi mordido está em risco. Estamos lidando com algo que desafia toda a nossa compreensão de biologia. É como se o vírus fosse projetado para nos exterminar, e ele é muito mais inteligente do que pensávamos.
O coronel Lian sentiu um peso ainda maior sobre seus ombros. A ideia de um vírus que pudesse se esconder e atacar a qualquer momento era aterrorizante.
— Alice, isso muda tudo. Precisamos agir rapidamente. Você é nossa única esperança para entender e, quem sabe, combater essa praga.
Alice assentiu, sentindo o peso da responsabilidade se intensificar. Sabia que sua missão agora era mais crucial do que nunca. Estava determinada a descobrir a verdade e encontrar uma maneira de parar a infecção, mesmo que isso significasse enfrentar horrores inimagináveis. Ela respirou fundo, pronta para a batalha que se avizinhava.
— Vou precisar de recursos, de acesso total aos laboratórios que ainda estão em operação. E preciso de uma equipe, pessoas que possam me ajudar a continuar a pesquisa. — Alice falou com firmeza, sua voz carregada de uma nova determinação.
O coronel assentiu, reconhecendo a gravidade da situação e a importância do trabalho de Alice. Ele sabia que a sobrevivência de todos dependia dela.
— Você terá tudo o que precisa, Alice. Vamos lutar juntos para acabar com essa ameaça. — A voz dele estava carregada de resolução, e Alice sentiu uma centelha de esperança se acender dentro de si. Estava pronta para enfrentar o desconhecido, determinada a salvar o que restava da humanidade.
O tempo parecia um eterno ciclo de desespero e frustração para Alice. Uma semana havia se passado desde que ela e sua pequena equipe de sobreviventes estavam tentando encontrar uma cura para o vírus que transformava as pessoas em zumbis. Cada tentativa de encontrar uma solução parecia se chocar contra um muro intransponível. A exaustão física e mental estava cobrando seu preço, mas Alice não podia se dar ao luxo de desistir.
O refúgio onde estavam instalados era uma antiga fábrica abandonada, transformada em uma fortaleza improvisada. As paredes de concreto, agora reforçadas com metal e madeira, cercavam o local, criando um perímetro de segurança que mantinha os zumbis afastados. Dentro da fábrica, cerca de cento e vinte barracas estavam distribuídas de forma caótica, abrigando as poucas almas que ainda lutavam para sobreviver.
O ar estava impregnado com o cheiro de suor, sujeira e medo. Cada canto da fábrica estava lotado de pessoas cansadas e desesperadas, lutando para encontrar algum sentido no meio do caos. Crianças choravam, mulheres e homens discutiam em voz baixa, tentando manter a sanidade em meio ao horror diário.
Alice estava de pé em frente a um jovem zumbi, que antes de se transformar parecia ter uns vinte anos, com um corpo forte e traços que um dia poderiam ter sido atraentes. Ela segurava o fichário com mãos trêmulas, a dor da repetida falha começando a pesar em seus ombros.
— Teste cento e noventa e um. — Alice murmurou para si mesma, a voz rouca de cansaço. — Homem mordido por um zumbi, aparentando ter vinte anos, corpo forte, dentes humanos, nada incomum.
Ela se preparou para injetar a décima dose do novo composto no zumbi, na esperança de que esta fosse a cura que procuravam. Com um suspiro resignado, inseriu a agulha no braço do jovem morto-vivo e injetou a substância.
O zumbi grunhiu, seus olhos vidrados fixos em Alice, mas não houve qualquer sinal de melhora. Ele continuava preso em seu estado animalesco, uma caricatura grotesca de um ser humano.
— Falha. — Alice balbuciou, jogando o fichário na mesa próxima com um gesto de frustração.
O local estava um caos. Pilhas de documentos científicos espalhavam-se sobre as mesas improvisadas, frascos e tubos de ensaio quebrados, amostras de sangue empoeiradas. Equipamentos científicos de segunda mão zumbiam e faiscavam, tentando funcionar em meio a cortes de energia frequentes. As paredes do laboratório estavam manchadas de sangue e sujeira, testemunhas silenciosas dos inúmeros experimentos que tinham fracassado.
Ela saiu do laboratório improvisado e caminhou pelo refúgio, observando a paisagem desolada. A antiga fábrica agora abrigava um grupo diverso de sobreviventes, cada um com sua própria história de perda e dor. Em um canto, um grupo de crianças jogava uma bola feita de trapos, tentando encontrar um vislumbre de normalidade em meio ao caos. Mais adiante, uma mulher chorava silenciosamente, abraçando uma foto amassada de sua família perdida. Homens se reuniam em torno de uma fogueira improvisada, discutindo em voz baixa sobre estratégias de defesa e busca por alimentos.
Alice observava tudo com olhos cansados, o peso da responsabilidade e da culpa pressionando seus ombros. Ela sabia que era uma das poucas pessoas no refúgio com algum conhecimento científico, e a esperança de muitos repousava em suas mãos. Mas cada falha, cada teste que não dava certo, era um golpe em sua determinação.
— Estamos perdendo tempo aqui. — murmurou para si mesma, seus olhos vagando pelo horizonte.
Enquanto Alice contemplava a paisagem desoladora além das muralhas do refúgio, a mente dela era assaltada por pensamentos sombrios. Será que havia mesmo esperança de encontrar uma cura? E se todo esse esforço fosse em vão? A dúvida corroía sua determinação como um ácido lento, mas ela sabia que não podia se permitir sucumbir ao desespero.
Uma sombra atravessou o canto do seu campo de visão. Alice virou-se rapidamente, seus sentidos aguçados pelo constante estado de alerta. Viu um grupo de pessoas se aproximando pela entrada principal, seus passos apressados e expressões preocupadas. Eram soldados, liderados por Kaito, que já estava se tornando uma figura familiar no refúgio.
— Alice! — Kaito chamou, a urgência em sua voz era palpável. — Temos um problema. Um grande grupo de zumbis está se aproximando do refúgio. Precisamos de todos para reforçar as defesas!
Alice sentiu o coração acelerar. Não era a primeira vez que zumbis tentavam invadir o refúgio, mas cada ataque parecia mais feroz do que o anterior. Ela sabia que o refúgio estava ficando sem recursos, e que as defesas estavam começando a ceder sob a pressão constante.
— Onde estão? — perguntou Alice, já se movendo em direção à entrada do refúgio.
— A cerca de meio quilômetro daqui. Temos cerca de uma hora, talvez menos. — Kaito respondeu, o rosto tenso. — Precisamos de toda a ajuda que pudermos para segurar a linha.
Alice assentiu, a adrenalina começando a tomar conta. Ela correu pelo refúgio, avisando as pessoas e organizando as defesas. Enquanto corria, sua mente estava focada em um único pensamento: sobrevivência. Não importava quantas vezes ela falhasse em encontrar a cura, a prioridade agora era manter todos vivos.
Ao longo dos muros improvisados, homens e mulheres estavam ocupados preparando suas armas improvisadas. Facões, machados, barras de ferro, qualquer coisa que pudesse ser usada para se defender dos zumbis. As barricadas foram reforçadas com o que restava de móveis e pedaços de metal, criando uma linha de defesa desesperada contra a horda que se aproximava.
Alice se posicionou ao lado de Kaito, observando a linha do horizonte. Lá, no crepúsculo crescente, uma massa escura de figuras se movia em direção ao refúgio. Era uma visão aterradora, um mar de corpos em decomposição, movendo-se com uma fome insaciável.
— Preparem-se! — gritou Kaito, sua voz cortando o ar tenso. — Eles estão chegando!
O som dos gemidos dos zumbis encheu o ar, uma cacofonia de morte e desespero. Alice apertou a arma improvisada em suas mãos, seu coração batendo como um tambor. Ela sabia que não podia falhar, não podia deixar que essas criaturas invadissem o refúgio e destruíssem o que restava de sua comunidade.
Os primeiros zumbis bateram nas barricadas com uma força descomunal, seus corpos em decomposição caindo sobre os obstáculos improvisados, como um mar de horror. Alice ergueu seu machado improvisado e desferiu o primeiro golpe com toda a força que possuía. O impacto reverberou por seu corpo, e o som do osso quebrando ecoou pela noite.
— Segurem a linha! — Kaito gritou, sua voz cortando o caos ao redor. Ele estava armado com uma espingarda e disparava tiros precisos contra os zumbis que se aproximavam, cada tiro derrubando um deles com um estalo seco.
Alice lutava ao lado dele, seus movimentos desesperados mas calculados. Ela sabia que cada segundo contava, que cada zumbi que derrotava era uma vitória temporária, mas crucial.
— Mais vindo pela esquerda! — um dos sobreviventes gritou, apontando para uma brecha na barricada onde mais zumbis começavam a se aglomerar.
Alice correu para o lado, ajudando a reforçar a defesa. Os zumbis avançavam sem cessar, seus olhos vazios e bocas escancaradas em um grito silencioso de fome. O cheiro de carne em decomposição e sangue fresco estava quase insuportável, mas Alice manteve o foco, golpeando e empurrando os monstros para trás.
Os minutos passaram como horas, cada momento uma luta desesperada contra a maré crescente de mortos-vivos. Os sobreviventes, embora cansados e assustados, lutavam com uma ferocidade desesperada, sabendo que não podiam recuar, que não podiam permitir que essas criaturas entrassem no refúgio.
Kaito, com sua espingarda, mantinha os zumbis à distância, disparando com precisão enquanto os outros sobreviventes os golpeavam com machados, facões e barras de ferro. Alice, suada e ensanguentada, estava ao lado dele, seu machado balançando em um ritmo frenético.
— Estamos aguentando! — Kaito gritou, um lampejo de esperança em seus olhos. — Continuem assim!
Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, a maré de zumbis começou a diminuir. Os mortos-vivos que ainda estavam de pé estavam enfraquecidos, muitos caindo sob os golpes incessantes dos sobreviventes. Com um último esforço conjunto, Alice e os outros empurraram a linha dos zumbis para trás, conseguindo finalmente romper sua resistência.
— Conseguimos! — alguém gritou, a voz cheia de alívio e incredulidade.
Alice, ofegante e coberta de sangue, olhou ao redor. Os zumbis restantes estavam sendo derrubados, um a um, e os poucos que restavam foram rapidamente despachados pelos sobreviventes exaustos, mas vitoriosos. A batalha havia sido ganha, mas a um custo. Muitos dos seus estavam feridos, e o medo do que viria a seguir ainda pairava sobre todos como uma sombra.
— Nós fizemos isso. — Alice murmurou, a voz cheia de emoção. Ela se virou para Kaito, que estava limpando o suor da testa. — Mas por quanto tempo podemos continuar assim?
Kaito olhou para ela, seus olhos duros suavizando um pouco. — Enquanto tivermos forças para lutar, continuaremos. E encontraremos um jeito, Alice. Encontraremos um jeito de vencer isso.
Alice assentiu, sentindo um lampejo de esperança reacender em seu coração.
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Atualizado até capítulo 113
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