A noite continuou tranquila, o grupo se dispersando lentamente após o jantar. Os risos suaves e as conversas que preenchiam a casa de Rubens foram substituídos pelo som dos passos dos sobreviventes voltando ao celeiro, onde passariam a noite.
Daniel, ainda com um sorriso no rosto, virou-se para Rubens antes de sair.
— Obrigado pelo jantar de hoje. Eu não como assim desde que todo esse estrago aconteceu — disse ele, tentando manter um tom leve, mas seus olhos tristes traíam as palavras. Era difícil esconder a saudade de tempos mais simples.
Rubens sorriu com compreensão e assentiu.
— Fico feliz que tenham gostado. Temos que aproveitar esses momentos enquanto podemos — respondeu o anfitrião.
Uma jovem de cabelo curto e olhos brilhantes também agradeceu, sua voz carregando uma mistura de gratidão e incerteza.
— Estou grata também, mesmo sem saber se isso ainda tem cura — disse ela, referindo-se à situação que todos enfrentavam.
Rubens colocou a mão no ombro dela com gentileza.
— Enquanto tivermos uns aos outros, sempre haverá esperança — respondeu ele, com um sorriso encorajador.
Com todos os agradecimentos feitos, o grupo finalmente se dirigiu para fora, respirando o ar fresco da noite. A brisa noturna trouxe consigo um pouco de alívio, como se a natureza tentasse acalmar seus espíritos cansados. Alice permaneceu um pouco para trás, observando Kaito enquanto ele conversava com Rubens perto da entrada da casa.
Ela estava perdida em pensamentos quando Daniel apareceu ao seu lado, quebrando o silêncio.
— Será que eles gostaram de nós? — perguntou ele, pegando Alice de surpresa.
— Nossa, Daniel! Você me assustou — ela respondeu, soltando um riso nervoso antes de voltar a encarar o grupo à distância. — Espero que sim. E espero que todos também colaborem em ajudar Rubens na fazenda.
Daniel assentiu, concordando com o que ela disse.
— Todos vão ajudar, acho que ninguém aqui quer se separar do grupo. Mesmo que alguns não acreditem em vocês, como aquela garota... — ele se referiu à jovem que havia causado problemas alguns dias atrás, lançando um olhar preocupado para Alice.
Alice sorriu, mas com um toque de melancolia.
— Eu sei. Mas nem todos são obrigados a confiar de imediato. O importante é que estamos todos aqui, tentando fazer o melhor que podemos — respondeu ela, com serenidade.
Daniel assentiu novamente, percebendo que, mesmo com as divergências, o grupo tinha uma força que não podia ser negada.
— Você está certa. Vamos descansar. Amanhã será um longo dia — disse ele, dando um passo para trás.
— Você também, Daniel. E não durma até tarde — respondeu Alice, sorrindo enquanto ele se afastava, indo em direção ao celeiro onde o grupo estava hospedado.
Alice ficou por mais alguns instantes observando o céu estrelado, sentindo uma mistura de alívio e responsabilidade pesar sobre seus ombros. A noite tinha sido um pequeno refúgio, mas ela sabia que o amanhecer traria novos desafios. Finalmente, ela também se virou e caminhou lentamente para o celeiro, onde os outros já começavam a se ajeitar para a noite.
Lá dentro, a luz suave de lanternas improvisadas iluminava os rostos cansados, mas reconfortados, enquanto se preparavam para dormir. As "salas" improvisadas com fardos de feno ofereciam uma sensação de privacidade e segurança, uma pequena lembrança do que era ter um lar, mesmo que temporário.
Alice se acomodou em seu "quarto", cobrindo-se com o cobertor que Rubens havia providenciado. O cansaço finalmente a alcançou, e, enquanto seus olhos se fechavam, ela pensou nas palavras de Rubens. "Enquanto tivermos uns aos outros, sempre haverá esperança."
Com esse pensamento, ela deixou o sono a envolver, pronta para enfrentar o que o próximo dia traria, sabendo que, juntos, poderiam superar qualquer coisa.
Quando a noite avançava, Alice acordou com um som suave de pisadas, um ruído que se destacava no silêncio do celeiro. Meio sonolenta, ela se levantou, o coração batendo acelerado. Enquanto seus olhos se ajustavam à escuridão, ela notou que algumas lanternas ainda estavam acesas, lançando sombras fracas nas paredes de madeira. Outras luzes, no entanto, haviam se apagado. A porta do celeiro estava aberta, permitindo que a brisa noturna entrasse suavemente.
Curiosa e cautelosa, Alice se moveu devagar, tomando cuidado para não acordar os outros. Ela não queria alarmar ninguém até entender o que estava acontecendo. Ao passar pela porta, o vento fresco tocou seu rosto, mas o alívio momentâneo foi rapidamente substituído pelo choque.
Kaito, em uma postura rígida e alerta, estava logo ali. Antes que Alice pudesse registrar sua presença, ele virou-se bruscamente e apontou sua arma diretamente para ela. O frio metal da arma apontada fez seu coração disparar, e por um breve momento, os dois se encararam com os olhos arregalados.
Reconhecendo-a, Kaito rapidamente abaixou a arma, visivelmente aliviado e envergonhado.
— Desculpe-me, Alice. Não sabia que era você — disse ele, a voz baixa e cheia de remorso.
Alice respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado, e soltou um riso nervoso.
— Sem problemas. Pelo menos não atirou em mim — respondeu ela, tentando aliviar a tensão com um sorriso. Kaito, envergonhado, esboçou um pequeno sorriso de volta.
Ela olhou para ele, notando como seus olhos estavam fixos na escuridão da floresta ao longe, onde a fazenda era cercada por árvores densas.
— Por que você está acordado? — perguntou Alice, curiosa, mas também preocupada.
Kaito continuou olhando para a floresta, seus olhos parecendo buscar algo na escuridão além das árvores.
— Alguém precisa vigiar — respondeu ele, a voz calma mas firme. — Só porque estamos "seguros" aqui, não significa que todos possam dormir tranquilos.
Alice observou Kaito, percebendo a tensão em seus ombros, a forma como seus olhos não paravam de analisar o horizonte. Ele estava sempre alerta, sempre esperando que o pior acontecesse.
— Você nunca dorme, Kaito — comentou ela, a voz suave. — Acho que, às vezes, precisamos confiar um pouco mais no local onde estamos. Talvez seja por isso que você nunca descansa, porque não consegue confiar totalmente, nem mesmo por uma noite.
Kaito continuou em silêncio, apenas ouvindo as palavras de Alice. Ele sabia que ela estava certa. Mesmo em um local aparentemente seguro como a fazenda de Rubens, ele não conseguia baixar a guarda. O medo de que um dos zumbis pudesse invadir e colocar todos em risco o mantinha acordado, a mente sempre em alerta, pronta para agir.
— Não é que eu não queira confiar — disse ele finalmente, a voz baixa. — É que, se eu relaxar... Se eu deixar de vigiar, e algo acontecer... — Ele parou, as palavras se dissipando na noite.
Alice sentiu a dor e a responsabilidade que Kaito carregava. Ela sabia que ele se sentia responsável por todos no grupo, e essa carga era pesada demais para que ele pudesse simplesmente fechar os olhos e descansar.
— Kaito, você não está sozinho nessa — ela disse, aproximando-se e tocando levemente o braço dele. — Todos nós estamos juntos, e todos nós queremos proteger uns aos outros. Você não precisa carregar esse fardo sozinho.
Kaito virou-se para Alice, seus olhos suavizando um pouco. Por um momento, o silêncio entre eles foi carregado de compreensão e solidariedade.
— Eu sei, Alice. Eu só... — Ele suspirou, lutando para encontrar as palavras certas. — Eu só preciso de tempo para confiar que estamos realmente seguros, mesmo que só por uma noite.
Alice assentiu, compreendendo.
— Tudo bem. Mas se precisar de alguém para dividir a vigília, estarei aqui — ofereceu ela, com um sorriso suave.
Kaito agradeceu com um aceno de cabeça, e os dois ficaram em silêncio por mais alguns minutos, observando juntos a noite que os cercava. A lua brilhava no céu, e as estrelas, indiferentes ao caos abaixo, continuavam a brilhar.
Finalmente, Alice deu um último olhar para Kaito antes de se despedir e voltar ao celeiro. Kaito permaneceu ali, ainda atento, mas com o conforto de saber que, de alguma forma, não estava completamente sozinho naquela vigília solitária.
Enquanto Alice se acomodava novamente em seu "quarto" improvisado, ela sabia que Kaito estaria ali fora, garantindo a segurança de todos. Ela adormeceu mais tranquila, sentindo-se grata pela presença dele e pela força que ele transmitia ao grupo. Mesmo em um mundo tão incerto, ela encontrou conforto na união que estavam construindo, na esperança que ainda podia florescer, mesmo nas noites mais escuras.
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Atualizado até capítulo 113
Comments
Cecilia geralda Geralda ramos
kaito precisa descansar tbm
2024-10-10
2
Albert Lucca
/Scream//Scream//Scream/
2024-10-08
1
Albert Lucca
meu deussss
2024-10-08
1