Amor E Vingança

Amor E Vingança

Prólogo

Abracei os joelhos enquanto descansava meu queixo nestes, olhando fixamente para o chão enquanto ouvia os gritos vindos do andar de baixo. Mamãe estava desesperada e pedia para ele parar, mas eu sabia que não pararia enquanto não se sentisse satisfeito. Ele era esse tipo de pessoa.

Seus gritos eram incansáveis e agoniados e me faziam querer levantar e tentar impedi-lo, mas eu sabia muito bem o que aconteceria se eu saísse daqui. Sabia que ele iria me agredir também, tal como na primeira vez. Lembro deste dia como se fosse ontem, pois foi onde todo esse inferno começou. Mamãe nunca mais foi a mesma. Aos poucos ela perdeu toda a sua luz. E ver aquilo acontecer sem poder fazer nada me torturava.

Um barulho de vidro se chocando contra o chão soou, me fazendo apertar os braços em volta das minhas pernas. Eu queria poder ajuda-la. Queria poder tira-la deste sofrimento, mas sou apenas uma criança inútil. O que posso fazer para aquele homem parar de machucá-la? Ela está gritando e chorando tanto. Isso faz o meu coração se partir em mil pedacinhos.

Eu conseguia ouvir os tapas e os chutes que ele proferia e parecia que estes sons ficavam impregnados em minha cabeça, martelando nesta e me torturando.

Por que ninguém aciona a polícia? Todos os nossos vizinhos ouvem as brigas entre meus pais, mas por que ninguém sequer a ajuda?

Na segunda vez que ele a agrediu eu liguei para a polícia, e por conta disso acabei apanhando no lugar da mamãe. Ele me ouviu e veio até mim, mentindo para os policiais, dizendo que eu estava tentando passar um trote ou algo do tipo. Por algum motivo eles acreditaram e então, quando a chamada se encerrou, ele me socou até que eu perdesse a consciência. Fiquei sem ir para a escola por dias para esconder os meus hematomas, sendo que o que eu mais queria era sair e gritar por ajuda.

Faz 5 anos que as agressões começaram. Na época eu tinha 5 anos e atualmente tenho 10. Sinto que todos esses anos demoraram uma eternidade. A cada ano novo eu acreditava que ele iria parar, mas ele não parou. Pelo contrário, tudo apenas piorou.

Na escola vejo os mais velhos dizerem que as crianças devem ser felizes e amadas e que devem aproveitar a infância ao máximo, e eu me pergunto como é essa sensação. Como é ser feliz? Como é ser amado? Eu sei que mamãe da tudo dela para cuidar de mim. Sei que se preocupa comigo. Mas sei também que ela está cansada de toda a nossa situação. Às vezes tenho sonhos perturbadores, os quais ela vai embora e me deixa aqui. Quando a contei sobre esses sonhos, ela apenas sorriu tristonha e afagou a minha cabeça.

A risada sombria daquele homem soou, me puxando de volta para a realidade. Fechei as mãos em punhos, sentindo estas tremerem. Meus olhos começaram a arder, mas lutei contra a vontade de chorar. Eu precisava ser forte pela mamãe.

Ouvi todos os xingamentos que ele proferia a ela, sempre com um tom debochado. Aquilo aumentou a minha raiva, aquela que alimentei por anos. Eu podia dizer com todas as minhas forças que eu o odiava. Odiava a sua voz, o seu rosto, a sua maneira de falar. O odiava pelo simples fato de existir.

— Você nunca deveria ter nascido. — Sussurrei, sentindo o meu peito doer ao perceber que os gritos de minha mãe haviam cessado. Ele a agrediu até que ela perdesse a consciência.

Deitei a cabeça sobre meus joelhos, sentindo toda a tristeza me atingir. Estou tão cansada disso. Estou cansada de ver a mamãe sofrer. Eu quero vê-la sorrir novamente. Eu só quero que ela seja feliz. Por que esse homem simplesmente não desaparece?

Ergui lentamente a cabeça, piscando alguma vezes enquanto refletia a respeito de minhas palavras. Elas nunca fizeram tanto sentido como agora. Olhei para as minhas mãos, estas agora abertas, e percebi que precisava ser forte para aguentar todos os anos que estavam por vir. Eu precisava aguentar por mim e pela mamãe. Voltei a fechar as mãos em punhos, respirando fundo para tentar me acalmar.

Me levantei e caminhei até a minha penteadeira, o local onde se encontrava um porta-retrato de minha família virado para baixo. O peguei, sentindo o nojo e o desprezo tomarem conta do meu corpo enquanto observava aquele homem sorrir na foto. Aquele que, em algum momento, chamei de pai, mas que hoje não passa de um estranho para mim.

— Eu irei suportar todos esses anos apenas para me vingar de você. Eu irei crescer e guardarei comigo todas as coisas ruins que você nos fez. Irei fazê-lo sofrer e pagar por todos esses anos de tortura. Isso é uma promessa.

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