Eu Sou A Vilã!
Enquanto Morrígan corria pelos campos floridos, o sol lançava seus raios dourados sobre o reino de Astaroth, pintando o céu com tons de laranja e rosa. O vento brincava com os fios platinados de seu cabelo, enquanto ela se deleitava com a sensação de liberdade que só os campos abertos podiam proporcionar.
Essa era o tipo de sensação que sua mãe, Morgause, a concubina do rei Alistair, não conseguia lhe restringir. De forma furtiva, Morrígan fugiu do harém e se esgueirou para o lado de fora, onde o dia se revelava em toda a sua beleza.
Além da teimosia e do senso de independência, Morrígan herdara os olhos cor de lilás de sua mãe. Muitas pessoas na corte a olhavam de forma torta, e os garotos da sua idade a chamavam de feiticeira. Era como se a incomum coloração de seus olhos fosse uma marca de sua linhagem, uma lembrança constante de sua herança misteriosa e envolta em segredos.
Morrígan nem sempre gostava dessa característica em si mesma. No começo, ela se sentia desconfortável com a ideia de ser vista como uma feiticeira, temendo ser rejeitada ou isolada ainda mais pela sociedade. No entanto, à medida que crescia e aprendia a se aceitar completamente, começava a compreender que sua singularidade era uma fonte de poder e que poderia usar essa reputação a seu favor.
Aos poucos, Morrígan começou a perceber que poderia usar sua reputação de feiticeira a seu favor. Ela deixava que os garotos a temessem, lançando-lhes olhares enigmáticos e sussurros misteriosos sempre que passava por eles. Logo, sua presença inspirava respeito e até mesmo um pouco de medo, e aqueles que antes a ridicularizavam agora a tratavam com cautela.
Embora as meninas ainda a rejeitassem, seja por rivalidade feminina ou por inveja, os meninos começaram a abraçar a ideia da sua presença. Alguns se tornaram seus amigos com o objetivo de obter benefícios, pensando que Morrígan tinha algum poder arcano. Ela, que não era boba, deixava que eles alimentassem essa fantasia, e se não fizessem o que pedisse, ameaçava-os com a possibilidade de transformá-los em sapos.
A reputação de Morrígan como uma possível portadora de poderes mágicos se espalhou rapidamente entre os jovens da corte. Alguns a cercavam em busca de favores, enquanto outros apenas queriam estar associados à sua aura de mistério e perigo. Morrígan percebeu que podia usar isso a seu favor, manipulando sutilmente as expectativas daqueles ao seu redor.
Embora gostasse dessa sensação de poder, ela sabia que nenhum deles eram seus amigos. Aliás, somente uma pessoa, a qual não tinha nem mesmo laços de sangue, era realmente verdadeira.
Seu nome era Gaelen, e ele estava a esperando logo adiante. Seu amigo estava sentado debaixo de uma macieira, enquanto tinha um caderno em mãos.
Morrígan sentiu um calor reconfortante preencher seu coração ao avistar Gaelen.
Ao se aproximar, Morrígan percebeu que Gaelen estava imerso em seus escritos, perdido em seu próprio mundo de histórias e imaginação. Ela sorriu ao vê-lo tão concentrado, sabendo que ele encontrava refúgio na arte da escrita tanto quanto ela encontrava nos campos de Astaroth.
— Olá, Gaelen — disse Morrígan, interrompendo a concentração de seu amigo.
Gaelen levantou os olhos do caderno, seu sorriso iluminando seu rosto.
—Morrígan! Que prazer vê-la novamente. Fiz um desenho seu, olha!
Morrígan se juntou a ele sob a sombra da árvore, sentindo-se em paz na presença de seu amigo verdadeiro.
Morrígan inclinou-se sobre o ombro de Gaelen para observar o que ele havia criado. Seus olhos cor de lilás se arregalaram com admiração quando viu a representação cuidadosa de si mesma nas páginas do caderno. Cada traço capturava sua essência de uma forma única e encantadora.
— Gaelen, é maravilhoso! Nem parece que sou eu!
— Deixa de besteira! Você é o ser mais belo que já vi em Astaroth, e não estou brincando.
Embora Gaelen não sentisse os efeitos das suas palavras, isso fez com que a garota corasse. Morrígan se sentiu bem em saber que ele a via dessa forma, já que as pessoas ao redor não pensavam o mesmo. Além disso, ele também era um garoto muito bonito, com olhos azuis, os quais tinha puxado do Conde Leofric.
Os pensamentos de Morrígan se voltaram para o futuro, onde visualizava Gaelen crescendo e se tornando um grande cavaleiro. Ela imaginava que ele deveria se tornar um jovem com uma presença imponente, com uma beleza ainda maior do que possuía no momento. E, ao contemplar esse futuro, um desejo secreto começou a crescer dentro dela.
Morrígan queria poder se casar com ele, quando chegasse a hora. Não apenas por causa da profunda amizade e conexão que compartilhavam, mas também porque o via como seu igual, seu par perfeito.
A realidade cruel dos deveres reais pesava sobre Morrígan, ameaçando seus desejos mais íntimos. Ela sabia que, como filha do rei, suas escolhas pessoais estavam limitadas pelas exigências políticas e pelas alianças entre reinos. A perspectiva de ser entregue em casamento para algum príncipe em troca de alianças políticas era uma possibilidade sombria que pairava sobre ela, negando-lhe a chance de seguir seu coração.
Morrígan não queria isso. Ela desejava poder escolher seu próprio destino, decidir quem amar e com quem compartilhar sua vida. Mas sabia que as expectativas da corte e as responsabilidades reais tornavam essa possibilidade quase impossível.
Enquanto ela lutava com esses pensamentos, a voz de Gaelen quebrou seu devaneio, trazendo-a de volta ao presente.
— Toc, toc... Está aí? — Gaelen perguntou curioso, percebendo Morrígan imersa em seus próprios pensamentos.
— Ei, o que acha de algumas maçãs, hein? Acho que já consigo subir na árvore e pegá-las para você, já que você gosta tanto desse pé.
Morrígan forçou um sorriso, agradecendo pelo gesto amável de Gaelen, mas sua mente ainda estava mergulhada na incerteza e na angústia.
— Eu não sei, Gaelen. Acho melhor pedir para algum adulto fazer isso para você. O pé de macieira é grande, e você pode acabar caindo. — respondeu ela, desviando o olhar para evitar que seu amigo visse a tristeza em seus olhos.
— Ah, Morrígan, não precisa se preocupar comigo. Estou me sentindo pronto para isso. Em breve, serei um grande guerreiro, e não deveria sentir medo de nada. Além disso, sei que você adora essas maçãs, e não vejo a hora de poder pegar algumas para você. Deixe-me tentar, por favor. Prometo que serei cuidadoso.
Seu tom era gentil, mas firme, refletindo a confiança que ele tinha em suas próprias habilidades e no futuro que vislumbrava para si mesmo. Morrígan sentiu-se dividida entre a preocupação com a segurança de Gaelen e o desejo de não desapontá-lo. Por fim, ela suspirou, cedendo à insistência de seu amigo.
— Tudo bem, Gaelen. Mas por favor, seja cuidadoso. Não quero que você se machuque por minha causa — disse ela, sua voz carregada de apreensão.
— Tudo bem, Gaelen. Mas por favor, seja cuidadoso. Não quero que você se machuque por minha causa — disse ela, sua voz carregada de apreensão.
— Bobagem! — ele disse, se virando para subir.
O garoto largou seu caderno na grama, e com ânimo, começou a subir no tronco da macieira. Era uma árvore bem grande e farta, e as frutas se pediam de forma robusta.
Morrígan observou Gaelen com um misto de preocupação e orgulho enquanto ele começava a escalar o tronco da macieira. Seu coração batia mais rápido conforme ele se aproximava das pesadas frutas que pendiam dos galhos.
Gaelen progredia com confiança, seus movimentos fluidos e determinados. Ele parecia estar no seu elemento, mostrando uma destreza que deixava Morrígan maravilhada. No entanto, a apreensão persistia em seu peito, lembrando-a dos perigos que sempre acompanhavam as atividades arriscadas como aquela.
Enquanto Gaelen alcançava as maçãs desejadas, Morrígan prendeu a respiração, torcendo para que ele conseguisse pegá-las com segurança. Mas então, no momento em que ele esticou a mão para alcançar a fruta mais alta, seus pés escorregaram no tronco liso, e ele perdeu o equilíbrio.
Morrígan gritou em agonia quando viu Gaelen cair da árvore em uma trajetória desajeitada. O tempo pareceu desacelerar enquanto ele girava pelo ar antes de atingir o chão com um baque surdo.
Um silêncio pesado se instalou sobre o campo enquanto Morrígan corria até o corpo imóvel de Gaelen. Seu coração martelava no peito enquanto ela se ajoelhava ao lado dele, tremendo de medo e angústia.
— Gaelen! — ela gritou, sacudindo-o suavemente. — Por favor, acorde!
— Morrígan, socorro... Eu sinto muita dor.
— Gaelen, vou chamar alguém para te socorrer — respondeu Morrígan, sua voz trêmula com a aflição.
Morrígan se levantou rapidamente e correu em busca de ajuda, seu coração pesado de preocupação enquanto se afastava da macieira. Ela sabia que cada segundo era precioso, e que Gaelen precisava de cuidados médicos imediatos para lidar com seus ferimentos.
Enquanto corria em direção ao castelo, o rosto de Morrígan estava manchado com lágrimas, sua mente turva com o medo pelo destino de seu amigo. Ela rezava silenciosamente para que ele se recuperasse, prometendo a si mesma que faria tudo ao seu alcance para garantir que ele recebesse a ajuda de que precisava.
Enquanto isso, Gaelen permanecia deitado no chão, lutando contra a dor lancinante que percorria seu corpo.
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Atualizado até capítulo 27
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