CAPÍTULO 4

Enquanto Morrígan se encolhia no canto escuro da cela úmida, sentindo o frio penetrar em seus ossos, uma sensação de desespero a envolvia. O ambiente sombrio e claustrofóbico era um lembrete constante de sua situação precária.

Ela passou os dedos pelas paredes ásperas de pedra, tentando encontrar algum conforto na textura fria e irregular. No entanto, cada toque apenas aumentava sua sensação de isolamento e solidão.

Sem janelas para permitir a entrada de luz ou ar fresco, o tempo parecia estagnar naquele lugar sombrio. O som distante de gotas d'água ecoava pelas paredes, uma trilha sonora melancólica para sua solidão.

Morrígan envolveu os braços em volta do corpo, tentando se aquecer contra o frio implacável que permeava a cela. Seu vestido fino oferecia pouco conforto contra as correntes de ar gelado que serpenteavam pelo ambiente úmido.

Por mais que tentasse, não conseguia afastar os pensamentos sombrios que se agarravam à sua mente. Ela se perguntava quanto tempo ficaria ali, abandonada à sua própria sorte, e se algum dia voltaria a ver a luz do sol novamente.

A sensação de desamparo e desespero envolveu Morrígan enquanto ela se encolhia no chão úmido da cela. Cada batida desesperada na porta de madeira maciça não trouxe nada além de silêncio ensurdecedor como resposta, afundando-a ainda mais na escuridão de sua solidão.

O eco de seus gritos desesperados reverberava pelas paredes frias, sem encontrar eco além das próprias paredes de pedra. Ela chamava pelo nome da mãe em meio às lágrimas e soluços, mas apenas o vazio respondia, uma ausência que parecia sufocante em sua intensidade.

Seus olhos inchados ardiam com o sal das lágrimas derramadas, enquanto o congestionamento em seu nariz a deixava ainda mais desconfortável. Cada respiração era um esforço doloroso, o ar úmido e impregnado de desespero que preenchia a cela apenas aumentava sua sensação de asfixia.

O calor da raiva e da frustração queimava em suas bochechas, contrastando com o frio cortante que emanava das paredes de pedra ao seu redor. O estresse acumulado pesava em suas têmporas, pulsando em uma dor constante que ameaçava desorientá-la.

Morrígan sentiu-se completamente perdida, sem nada para se agarrar além das próprias sombras que dançavam nas paredes da cela. Nem mesmo a fraca luz que filtrava pelas frestas da porta parecia oferecer consolo, apenas servindo para destacar as marcas vermelhas em suas mãos onde ela havia se agarrado com desespero.

O teto escuro da cela parecia se fundir com a escuridão ao redor, criando uma sensação de infinito vazio que ameaçava engolir Morrígan por completo. Ela se sentiu como se estivesse flutuando em um abismo sem fim, sem nenhum ponto de referência para ancorá-la à realidade.

Deitada de barriga para cima, fixou os olhos na escuridão acima, tentando encontrar algum traço de solidez naquele mar de sombras. No entanto, tudo o que viu foram nuvens escuras e ameaçadoras pairando sobre ela, como espectros sinistros de uma noite sem lua.

O delírio começou a se instalar em sua mente, distorcendo sua percepção da realidade e tornando tudo ao seu redor ainda mais surreal. Nada parecia fazer sentido, e cada sombra e movimento parecia assumir uma vida própria, dançando em torno dela como figuras de um pesadelo febril.

Morrígan fechou os olhos por um momento, tentando afastar as ilusões que assombravam sua mente. Mas mesmo com os olhos fechados, ela ainda podia sentir a presença opressiva da escuridão ao seu redor, como uma manta gelada que a envolvia por completo.

Ela sabia que precisava lutar contra a loucura que ameaçava consumi-la, mas cada fibra de seu ser parecia afundar ainda mais na escuridão sem fim. A linha entre realidade e delírio começou a se dissipar, deixando ela perdida em um labirinto de sombras e ilusões.

O coração de Morrígan disparou quando ela abriu os olhos novamente e viu a figura sombria de uma mulher, semelhante a sua mãe, emergindo das sombras da cela. Uma onda de choque percorreu seu corpo, deixando-a sem fôlego diante da visão inesperada.

A mulher na escuridão tinha uma semelhança surpreendente com Morgause, tão próxima em seus detalhes que Morrígan quase poderia acreditar que era uma irmã perdida da concubina. Os traços do rosto, os olhos penetrantes, até mesmo a maneira como ela se movia, tudo parecia ecoar a presença familiar de sua mãe.

No entanto, havia algo de errado na maneira como a figura observava a menina, com um olhar curioso e elevado para o teto, como se estivesse pairando sobre a garota em vez de estar ao seu lado. Era uma postura estranha, desconcertante, que enviava arrepios pela espinha da garota.

Morrígan lutou para encontrar sua voz, seu coração martelando furiosamente em seu peito enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo. Ela não sabia se aquela figura era real ou apenas uma manifestação de sua mente perturbada pela solidão e pelo desespero.

— Ah, criança o que foi que fizeram com você... Tanto potencial perdido, tanto sangue antigo inerte à magia. Morrígan, minha doce menina...

As palavras ecoaram na mente dela, como um sussurro ancestral que a envolveu em um abraço de sombras e mistérios. Ela se viu paralisada diante da figura sombria, incapaz de desviar o olhar da presença enigmática que a observava com tanta intensidade.

— Quem... quem é você? — sussurrou Morrígan, sua voz mal passando de um sussurro na escuridão opressiva da cela.

A figura sombria sorriu, um sorriso melancólico e cheio de pesar, que parecia ecoar através dos séculos de história esquecida.

— Eu sou aquela que veio antes de você, aquela cujo sangue corre em suas veias. Eu também tenho sangue antigo, criança. Não tanto como você, mas também sou filha das terras sagradas.

— Como você veio parar aqui? — perguntou Morrígan, sua voz ainda carregada de hesitação.

 — Eu não estou aí, criança. Estou dentro de você, é sua liberdade quem fala. Morrígan, criança de sangue antigo, não deixe eles te calarem. Não deixe que eu morra, minha pequena. Só você pode me salvar. Me resgate, criança! Salve-me! Sua voz é o escudo que pode me libertar.

A criança franziu o cenho, lutando para entender as palavras da figura sombria em sua mente.

— Estou em uma cela, não tenho condições de salvar nem a mim mesma — protestou ela, a incerteza ainda pesando em sua voz.

A figura sombria respondeu com um suspiro de impaciência.

— Isso é o que eles querem que você pense. Mas dentro de você reside um poder que vai além das grades desta cela. Você é mais do que uma prisioneira, Morrígan. Você é a chave para a sua própria libertação.

Ela riu, desacreditada. O barulho da sua risada era cansado, já que a sua voz havia sido perdida nos gritos desesperados. 

Olhou para a mulher com um sorriso triste. 

— Se sou a chave para minha libertação, então estarei condenada todos os dias.

A figura sombria observou Morrígan com uma expressão de compaixão, compreendendo a profundidade de sua descrença e desespero.

— Nem todos os dias serão fáceis, Morrígan — admitiu ela, sua voz suave e reconfortante. — Mas é nas horas mais sombrias que encontramos nossa verdadeira força. Você pode estar cansada, pode se sentir perdida, mas dentro de você reside uma chama que nunca se apaga. Uma chama negra, obscura, mas poderosa. Ela emana vontade, desejo, poder... Capaz de incendiar um país inteiro.

— Você é apenas mais uma voz na escuridão, uma ilusão, um eco vazio. Suas palavras não têm poder sobre mim, assim como você.

Um som de batidas na porta interrompeu a conversa, e a sombra começou a se dissipar lentamente.

Antes de desaparecer completamente, a figura lançou um último olhar cheio de mágoa e dor em direção a Morrígan, como se estivesse ferida por suas palavras.

— Morrígan! Minha filha! Sou eu, vou abrir a porta. Eu trouxe comida e algumas coisas para você.

Morrígan piscou, confusa com a súbita mudança de atmosfera. Ela se levantou lentamente do chão frio da cela, seus músculos doendo devido ao tempo que passou deitada ali.

— Mãe? — sussurrou ela, sua voz ainda rouca dos gritos anteriores. Ela se aproximou da porta, sentindo uma mistura de esperança e incredulidade.

A porta rangeu quando se abriu, revelando a silhueta familiar de Morgause do outro lado. Seus olhos se encontraram, cheios de preocupação e amor.

— Minha querida Morrígan, o que fizeram com você? — perguntou Morgause, chorando, enquanto seus braços se estendiam para envolver a filha em um abraço reconfortante.

Morrígan se deixou envolver pelo abraço caloroso da mãe, sentindo-se segura e protegida pela primeira vez desde que fora trancada naquela cela sombria.

— Estou bem, mãe — murmurou ela, sua voz embargada pela emoção. — Eu estou pronta para enfrentar o que vier.

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