O salão do rei era mais do que um mero espaço de audiências reais; era um verdadeiro testemunho da opulência e do poder do reino de Astaroth. Cada detalhe, desde os móveis luxuosos até os mínimos adornos nas paredes, emanava uma aura de majestade e grandiosidade.
As paredes eram revestidas com tapeçarias tecidas com fios de ouro e prata, retratando cenas gloriosas da história do reino. As lareiras altas espalhavam um calor reconfortante pelo salão, enquanto candelabros de cristal iluminavam o ambiente com uma luz suave e dourada.
As grandes cortinas, além de decorativas, também serviam para manter a privacidade do rei durante suas audiências. Feitas com os tecidos mais finos e adornadas com bordados intricados, elas adicionavam um toque de elegância às imensas janelas que ofereciam vistas panorâmicas do reino.
Os escrivães, meticulosamente alinhados ao redor do salão, trabalhavam incansavelmente para registrar cada palavra pronunciada na presença do rei. Suas penas raspavam o papel com precisão enquanto eles documentavam as queixas e petições dos cidadãos, garantindo que nada escapasse à atenção real.
Enquanto isso, o arauto, vestido com trajes cerimoniais impecáveis, proclamava com voz solene as causas daqueles que vinham buscar justiça ou favor junto ao monarca. Sua presença imponente e sua eloquência eram uma extensão do próprio poder do rei, transmitindo autoridade e respeito a todos os presentes no salão.
O rei Alistair permanecia imponente em seu trono, sua expressão séria evidenciando a responsabilidade que pesava sobre seus ombros ao lidar com os assuntos do reino. Seus conselheiros estavam estrategicamente posicionados ao seu lado, prontos para intervir e auxiliar sempre que necessário. Quando a fadiga ameaçava se manifestar, os auxiliares assumiam a condução das audiências, enquanto sua Majestade observava atentamente, intervindo apenas quando sua perspicácia real era imprescindível.
Na fila de espera, Morrígan e Morgause aguardavam pacientemente sua vez, a mãe segurando firme a mão da filha para evitar qualquer tentativa de fuga. Morgause, por sua vez, ansiava por um rápido desfecho daquele encontro, desejando evitar qualquer contrariedade adicional naquele dia.
— Vossa Majestade — anunciou um dos servidores, com uma mesura reverente —, uma de vossas esposas, Morgause, busca uma audiência convosco. Permitis que avancemos com sua solicitação?
Os olhos do rei se estreitaram momentaneamente diante do nome mencionado, sua expressão revelando uma mistura de surpresa e intriga. O olhar perscrutador de Alistair varreu a multidão em busca daquela que ousara se apresentar diante dele.
— Morgause? — sua voz ressoou pelo salão, ecoando autoridade — E o que a traz até aqui, afinal? Que seja trazida à minha presença imediatamente.
O rei Alistair ergueu-se ligeiramente em seu trono de ébano, os olhos perscrutando a multidão enquanto sua expressão assumia uma mistura de surpresa e intriga. Seus ajudantes, cientes da sensibilidade do momento, trocaram olhares discretos.
Morrígan e Morgause, mãe e filha, mantinham-se sérias diante da imponência do salão real, embora o nervosismo de Morrígan fosse perceptível nos dedos que se entrelaçavam aos da mãe. O rei observou-as atentamente, reconhecendo a figura familiar de sua concubina e seu fruto.
— Morgause — ecoou o nome nos corredores do salão, reverberando com um tom de interesse e cautela. Enquanto o rei aguardava sua chegada, os murmúrios da corte aumentaram em intensidade, alimentados pela curiosidade e pelas especulações sobre a presença da mulher ali naquele momento.
A medida que Morrígan e Morgause se aproximavam, a atmosfera no salão parecia eletrizar-se, cada olhar voltado para elas, cada movimento acompanhado com expectativa contida. O rei, por sua vez, permaneceu imóvel em seu trono, observando-as com uma expressão curiosa, aguardando as palavras que viriam a seguir.
— Minha senhora, o que te traz aqui? — questionou o rei, lançando um olhar para Morrígan, que já estava à beira de uma crise de pânico.
Morgause, com uma expressão tensa, aproximou-se do trono real, buscando as palavras certas para explicar a situação que os afligia.
— Vossa Majestade, uma tragédia ocorreu — começou ela, seus olhos transmitindo uma mistura de angústia e determinação — Gaelen, filho do conde Leofric, se machucou gravemente em nossos jardins.
O rei Alistair, já ciente do ocorrido, observou Morgause com uma expressão que revelava um misto de apreensão e preocupação, tentando entender onde exatamente Morrígan se encaixava nessa narrativa.
—Estava com ele, majestade — continuou Morgause, sua voz trêmula, enquanto lutava para manter a compostura — Eles foram brincar perto da grande árvore nos jardins... e foi lá que o acidente ocorreu.
O semblante do rei endureceu instantaneamente diante da revelação, seus olhos refletindo uma mistura de choque e desapontamento.
— Morrígan não deveria estar entre os homens! — declarou o rei com firmeza, sua voz ecoando pela sala com autoridade. — Ela é minha filha, e sua presença não é adequada para tais atividades. Além disso, Gaelen é filho do conde, um de nossos mais fiéis apoiadores.
Morgause baixou os olhos, sentindo o peso das palavras do rei.
— Eu sei, majestade —, murmurou ela, lutando para conter as lágrimas. — Mas por favor, entenda... foi um acidente terrível. Morrígan jamais desejaria mal a Gaelen.
— Como foi permitir isso, Morgause? — rugiu o rei, sua voz ecoando pelo salão enquanto ele batia com violência no braço do trono, irado. — Ela é sua filha, e deve estar sob sua responsabilidade! E agora, como ousarei enfrentar o conde Leofric e lhe dizer que seu filho foi ferido por causa das travessuras imprudentes de Morrígan? Isso certamente criará problemas entre nós. O sangue do filho do conde mancha o solo sagrado de meu palácio, e como diabos vou justificar isso?!
Morgause engoliu em seco, sentindo o peso das palavras do rei pesarem sobre ela como uma corrente de ferro. Ela ergueu o olhar para encontrar os olhos flamejantes de Alistair, sabendo que precisava encontrar uma resposta que acalmasse sua ira e, ao mesmo tempo, oferecesse alguma forma de solução para o problema que havia surgido.
— Vossa Majestade, eu assumo toda a responsabilidade por esta tragédia — começou Morgause, sua voz tremendo ligeiramente. — Eu deveria ter supervisionado melhor as atividades de Morrígan. Permiti que ela se aventurasse além de seus limites, e agora estamos todos sofrendo as consequências disso.
O rei Alistair fixou seu olhar penetrante em Morgause, as chamas de sua ira parecendo diminuir ligeiramente diante da honestidade e humildade em suas palavras. Ele respirou fundo, tentando controlar a torrente de emoções que o consumia.
— Você cometeu um erro grave, Morgause — disse ele, sua voz agora mais calma, porém carregada de autoridade. — Mas o que importa agora é como podemos remediar essa situação antes que se torne ainda mais complicada.
O coração de Morrígan foi se acalmando gradualmente quando uma voz conhecida rompeu o tumulto do salão.
— A única forma de remediar essa situação é educando sua filha melhor, Alistair, já que Morgause claramente não sabe como educar sua prole.
A presença da rainha Lysandra irrompeu no local, e os súditos abriram caminho para sua poderosa figura. Ela estava envolta em um vestido dourado, que harmonizava com a cor de seus cabelos, enquanto uma coroa imponente pesava em sua cabeça. Sua beleza era inegável, mas havia uma aura de mágoa em seus olhos, uma lembrança constante dos filhos que perdeu durante os anos.
— Sinto pena dessa nova criança que irá nascer, pois a mãe é uma terrível irresponsável, e a filha assim será, se você permitir — prosseguiu a rainha, sua voz ecoando pelo salão com autoridade. — Dê um castigo digno à garota, antes que ela envergonhe você e sua linhagem.
O rosto de Morgause se enrijeceu diante das palavras da rainha. Sua senhora era conhecida por sua dureza quando necessário, e agora não era exceção. A tensão no ar era palpável, especialmente agora que Lysandra sabia da gravidez de Morrígan, algo que a rainha nunca havia conseguido sustentar por muito tempo.
A entrada da rainha trouxe consigo uma tensão palpável, que envolveu todo o salão como um véu pesado. Enquanto os olhares dos súditos se voltavam para ela, o rei Alistair sentiu seu coração se apertar diante das palavras incisivas de sua esposa. Ele conhecia a verdade nas palavras dela, mas enfrentar a realidade da situação era uma tarefa que pesava em seus ombros como um fardo insuportável.
Por um momento, o rei se debateu interiormente, lutando contra a vontade de proteger sua filha a todo custo e o dever de exercer sua autoridade como monarca. Morrígan era sua única filha, seu precioso tesouro, e a ideia de castigá-la era como uma faca que machucava seu coração. No entanto, ele também compreendia a importância de não mostrar fraqueza diante de seus súditos; não dar a Morrígan o devido tratamento por seu comportamento imprudente seria o mesmo que admitir ser um rei omisso, incapaz de manter a ordem em seu próprio reino.
Com um suspiro pesaroso, o rei Alistair ergueu-se de seu trono, seu semblante, uma mistura de determinação e resignação. Ele sabia o que precisava ser feito, mesmo que isso significasse enfrentar a dor de desapontar sua filha.
— Você tem razão, minha rainha — respondeu ele, sua voz ecoando com uma autoridade inflexível. — A responsabilidade recai sobre meus ombros, como rei deste reino, de garantir que a justiça seja cumprida. Morrígan receberá o castigo adequado por suas ações, pois não posso permitir que a imprudência seja tolerada entre nós.
— Deixe ela na masmorra escura por alguns dias, e assim, aprenderá a lição de não se esgueirar entre os homens, Alistair. Uma verdadeira dama deve se saber portar, e não trazer desgraça ao seu pai e rei.
Diante das palavras decididas da rainha Lysandra, o rei Alistair sentiu um peso ainda maior sobre seus ombros, agravando a agonia de sua decisão. Ele abaixou os olhos por um momento, deixando que sua longa cabeleira platinada caísse sobre os ombros, ocultando a tormenta que se agitava em seu interior.
— Você tem razão, Lysandra — murmurou ele, sua voz carregada de pesar. — Que assim seja o veredito para minha filha, Morrígan. Que o castigo sirva como exemplo para todos que passarem pelas ordens do rei.
Com um gesto solene, o rei deu por encerrado o caso, permitindo que o arauto proclamasse o fim da audiência real. Enquanto os súditos se afastavam em murmúrios sussurrantes, o rei se recolheu em seu trono, sentindo o peso de sua responsabilidade como monarca pesar sobre ele como uma corrente.
— Caso encerrado! — bradou o arauto, fazendo ecoar as últimas palavras do julgamento real, enquanto dava passagem para o próximo cidadão que desejava a atenção do rei.
— Espero sinceramente que sua filha aprenda a lição, assim como você, Morgause. É importante que você entenda seu lugar neste reino, e que você não passa de mais uma diversão de meu marido. Você está aqui porque quero, e pode ser que eu mude de ideia. — A rainha sussurrou para a mulher, sua voz carregada de desdém, enquanto seus olhos faiscavam com superioridade. Com um último olhar de desprezo para Morrígan, como se visse nela um reflexo do que considerava inadequado, a rainha deslizou elegantemente para fora da corte, seguida pela pompa de sua comitiva.
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Atualizado até capítulo 27
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