A garota dos olhos lilases estava prestes a se recolher com o cair do crepúsculo quando a batida na porta interrompeu seus preparativos.
Os criados, semblantes sérios, traziam consigo uma mensagem urgente. Ela fora requisitada com pressa no grande salão pela Vossa Alteza. Morrígan ergueu uma sobrancelha, sua curiosidade despertada pelo convite inesperado. Seu pai raramente a convocava para eventos sociais, especialmente não para um jantar, e muito menos na presença do Conde, o mais ilustre hóspede da família.
Com a ajuda da criada, Morrígan vestiu-se adequadamente para a ocasião, escolhendo um elegante vestido preto adornado com delicadas rendas nas mangas. A tonalidade escura do traje realçava sua figura esguia e conferia-lhe uma aura de seriedade e elegância que combinava com a atmosfera solene da convocação.
Enquanto a criada cuidadosamente arrumava seus cabelos loiros, trançando-os habilmente até que uma cascata de fios dourados caísse graciosamente sobre suas costas, Morrígan contemplava seu reflexo no espelho. A trança adicionava um toque de simplicidade e sofisticação à sua aparência, complementando perfeitamente o estilo do vestido.
Satisfeita com sua aparência, Morrígan agradeceu à serva antes de partir em direção ao grande salão, sua mente repleta de especulações sobre o que poderia aguardá-la naquela reunião tão improvável.
Morrígan subiu as largas escadas de pedra que levavam ao grande salão do castelo, onde a luz das tochas dançava nas paredes de pedra, criando sombras dançantes que pareciam ter vida própria. Ao alcançar o topo, seus olhos se abriram para um espetáculo de festividade e fartura.
O salão estava ricamente decorado com tapeçarias coloridas que retratavam cenas de batalhas heróicas e lendas antigas. Grandes candelabros de ferro suspensos no teto lançavam uma luz dourada sobre a cena, iluminando a longa mesa de carvalho que ocupava o centro do salão.
A mesa estava repleta de uma variedade exuberante de iguarias: cordeiro assado, patos dourados, pilhas de pães recém-assados, queijos artesanais e uma profusão de frutas frescas. O aroma tentador de especiarias e assados enchia o ar, fazendo o estômago de Morrígan roncar de antecipação.
Os nobres convidados estavam sentados em cadeiras esculpidas, conversando animadamente enquanto desfrutavam dos banquetes. Músicos habilidosos tocavam melodias alegres em flautas e alaúdes, enchendo o salão com uma atmosfera festiva e jovial.
Morrígan sentiu seu coração dar um salto ao avistar sua mãe em uma extremidade da mesa, envolta em conversas animadas com alguns dos convidados mais próximos. Seus olhos percorreram rapidamente o salão e, inevitavelmente, encontraram seus irmãos mais velhos. Entre eles estava Percival, aquele insuportável.
Ao lado de seus irmãos, Morrígan avistou Gaelen, o jovem cavaleiro que há muito tempo ocupava um lugar especial em seu coração. A visão dele ao lado de seu irmão, Kay, fez seu coração parar por um instante, uma mistura de alegria e apreensão se agitando dentro dela.
Ela tentou disfarçar a onda de emoções que ameaçava inundá-la, mantendo uma expressão impassível enquanto se aproximava da mesa. Por mais que desejasse evitar confrontos com Percival e suas complexas dinâmicas familiares, a presença de Gaelen a deixava simultaneamente temerosa do que o futuro reservava para eles.
Com passos determinados, Morrígan se juntou aos demais à mesa, forjando uma máscara de calma e compostura enquanto seu coração continuava a bater descompassadamente em seu peito, ansiando por respostas e temendo as consequências de suas emoções.
No centro da mesa, o rei Alistair estava sentado em seu trono ornamentado, um sorriso caloroso iluminando seu rosto envelhecido. Ele estendeu a mão em direção a Morrígan com um gesto acolhedor, convidando-a a se juntar a eles na mesa.
Morrígan avançou com cautela em direção à mesa, os olhos varrendo o salão em busca de qualquer sinal de perigo ou intriga. Ela se perguntava por que sua presença havia sido tão urgentemente requisitada em um ambiente tão festivo, e a inquietação se instalou em seu peito enquanto ela se aproximava do rei Alistair e dos outros nobres.
— Minha filha Morrígan, aí está você! — cumprimentou o rei Alistair com um sorriso caloroso, mas os olhos perspicazes pareciam penetrar através dela, deixando-a desconfortável.
— Estávamos à sua procura — acrescentou um dos nobres mais próximos, com uma expressão que não revelava suas verdadeiras intenções.
— Venha, minha filha! Junte-se a nós. Quero que aproveite esse banquete juntamente com meu grande aliado, Leofric. Divirta-se, hoje a noite é de celebração pela vida do Conde e de sua família!
Morrígan forçou um sorriso em resposta, lutando para ocultar sua crescente sensação de inquietação. Ela se perguntava por que sua presença era tão necessária naquela ocasião e o que poderia estar por trás da convocação tão repentina.
Enquanto os outros convidados começavam a conversar entre si, Morrígan permaneceu à margem, observando com uma mistura de desconfiança e curiosidade. Ela sentia os olhares dos presentes sobre ela, como se estivessem avaliando cada movimento, cada palavra que ela proferia.
Gaelen não conseguiu conter sua ansiedade e se aproximou rapidamente de Morrígan, um sorriso largo iluminando seu rosto quando ele se sentou ao lado dela.
— Olá, Morrígan. Como está? Senti muito a sua falta. Por que não foi me visitar? Eu fiquei te esperando, e você não apareceu. Queria tanto que estivesse comigo durante esses dias difíceis — sua voz carregava um tom de sinceridade e afeto.
Apesar da felicidade que a presença de Gaelen lhe trazia, Morrígan sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao perceber os olhares inquisitivos da rainha Lyssandre. A menina fechou o semblante, sentindo-se subitamente desconfortável com a situação.
— Porque eu não quis — respondeu ela, sua voz soando mais fria do que pretendia. Ela sabia que sua resposta poderia soar rude, mas a presença de Lyssandre e suas intenções ocultas a deixavam alerta e na defensiva.
O brilho nos olhos de Gaelen desvaneceu gradualmente, substituído por uma expressão de desapontamento que cortou o coração de Morrígan. Sua atenção foi atraída para a cicatriz em sua testa, uma lembrança física do terrível incidente que os tinha afetado profundamente. Morrígan sentiu uma onda de culpa varrer sobre ela, mas ela se forçou a manter sua fachada impassível, especialmente na presença da rainha.
— Como assim, não quis? Eu pensei que fôssemos amigos. É isso que amigos fazem, não é? Ficam um do lado do outro, e se apoiam — a voz de Gaelen soava magoada, carregada de uma confusão dolorosa.
Morrígan sentiu o peso de suas palavras e o aperto em seu peito se intensificou. Ela sabia que suas palavras soaram cruéis e injustas, mas a presença de Lyssandre e a pressão da corte a forçavam a se defender com unhas e dentes.
— Porque eu não quis, oras! É tão difícil de entender?! — sua resposta saiu mais áspera do que pretendia, suas palavras ecoando pelo salão com uma intensidade que a surpreendeu. — Não senti vontade de te visitar, e acho que não é correto uma dama ter amizade com homens. Agora por favor, não me incomode mais. Você parece uma criança chorona.
— Poxa, me desculpe. Se soubesse disso, não teria subido naquela árvore por você. Talvez seja por isso que ninguém gosta de você, e todo mundo fica falando coisas ruins sobre sua pessoa. Acho que eles estavam certos. — As palavras de Gaelen ecoaram em sua mente, cortantes como facas afiadas. Ela se sentiu repentinamente sozinha e incompreendida, a dor da rejeição esmagando seu coração com um peso insuportável.
As palavras de Gaelen atingiram Morrígan como um golpe doloroso, perfurando sua armadura de indiferença e expondo as feridas de sua alma. Seu estômago se contorceu em agonia, e uma sensação de náusea a invadiu enquanto as lágrimas ameaçavam transbordar de seus olhos.
Ela lutou para manter sua compostura diante das palavras cruéis de Gaelen, mas a ferida em seu orgulho estava aberta e sangrando. Se não fosse pela presença dos outros, teria desabado ali mesmo, deixando as lágrimas fluírem livremente como um rio de tristeza e frustração.
Enquanto Gaelen se afastava, Morrígan sentiu o olhar de Clarice, a sobrinha intrometida da rainha, fixo sobre ela. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios enquanto ela cochichava algo para sua amiga, e Morrígan soube imediatamente que seria o alvo de seus comentários maldosos e zombarias. A sensação de isolamento e rejeição a envolveu como uma névoa sombria, obscurecendo sua visão e tornando cada respiração um esforço doloroso.
A presença de Clarice sempre causava um desconforto profundo em Morrígan. A jovem era tão esnobe e presunçosa quanto sua tia, a rainha, e sua mera existência parecia ser uma lembrança constante das injustiças e intrigas da corte. Morrígan evitava cruzar o caminho de Clarice sempre que possível, uma sensação de aversão instintiva a impulsionando para longe da jovem arrogante.
A história triste de Clarice, privada de sua mãe desde o nascimento e criada sob a asa da rainha, poderia ter suscitado simpatia em muitos, mas para Morrígan, era difícil encontrar compaixão em seu coração. Ela via na sobrinha da rainha apenas uma extensão do poder e da influência opressiva que governava a corte, uma sombra escura pairando sobre todos os que se atreviam a desafiá-la.
A sensação de isolamento e rejeição que envolvia Morrígan como uma névoa sombria só se intensificava na presença de Clarice, e ela se via desejando ardentemente escapar das garras cruéis da intriga palaciana. Talvez fosse a lembrança da rainha que despertava esse sentimento de repulsa em relação a Clarice, ou talvez fosse algo mais profundo e instintivo, algo que Morrígan preferia não explorar. O que quer que fosse, uma coisa era certa: a presença de Clarice só servia para aumentar o sentimento de desespero e desamparo que Morrígan enfrentava na corte.
Naquela noite, ela encontrou um pouco de consolo na companhia da mãe e das concubinas que a rodeavam. Embora a presença delas não fosse tão reconfortante quanto a dos mais jovens, ela sabia apreciar a familiaridade e o calor humano que emanavam. Enquanto as mulheres conversavam sobre assuntos que Morrígan mal compreendia, ela fazia o seu melhor para acompanhar, ansiosa por se sentir parte daquele círculo de adultas.
De vez em quando, porém, Morrígan se pegava perdida em pensamentos, observando Kay, o irmão de Gaelen, com um misto de curiosidade e inquietação. Quando seus olhares se encontravam, ela rapidamente desviava o olhar, fingindo interesse nas conversas das mulheres e beliscando distraídamente alguma comida.
A presença de Kay despertava um turbilhão de emoções conflitantes na garota. Ela se perguntava o que ele estaria pensando naquele momento e se ele compartilhava de suas inquietações e incertezas. No entanto, ela sabia que qualquer tipo de envolvimento com os irmãos de Gaelen poderia desencadear uma série de complicações e intrigas na corte, e ela estava determinada a manter sua distância, por mais difícil que isso fosse.
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Atualizado até capítulo 27
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