Dias se passaram desde a libertação de Morrígan, e a família do Conde Leofric veio visitar seu pai. O castelo estava agitado com a presença dos convidados, e Gaelen, ainda se recuperando, recebeu-os com alegria, embora sua mente ansiava pela visita de Morrígan.
Gaelen, enquanto se recuperava, enfrentava ocasionais dores de cabeça, resquícios das torturas que sofrera. Apesar disso, sentia-se revigorado, pronto para embarcar em uma nova aventura ao lado de Morrígan. No entanto, sua expectativa foi frustrada pela ausência da amiga durante seus dias de enfermidade. Em vez disso, teve a companhia dos irmãos de Morrígan, filhos de outras concubinas do rei, cuja presença não despertava nele o mesmo interesse e afinidade que a de Morrígan.
Enquanto isso, Morrígan passava os dias em um silêncio pesado. Sua alegria juvenil fora substituída por uma melancolia que a consumia lentamente. Embora se mantivesse ocupada com as atividades impostas pelo castelo, como aulas de costura e piano, não conseguia desviar seus pensamentos de Gaelen.
Na solidão de seu quarto, Morrígan deitava-se na cama, revivendo os momentos compartilhados com Gaelen. No entanto, ela se sentia aprisionada, impedida de visitá-lo pela vigilância constante de sua mãe, Morgause, que a alertara sobre os perigos de desobedecer às ordens do castelo.
Morgause, com sua autoridade materna, enfatizou a Morrígan que, se ela continuasse a desafiar as regras impostas, ambas poderiam enfrentar consequências graves, colocando em risco não apenas suas próprias vidas, mas também a segurança de sua família.
Tentando evitar problemas, a garotinha lutava para manter-se distante de confusões tanto quanto possível, mas parecia ser um ímã para problemas, pois a confusão sempre encontrava seu caminho até ela.
Um dia, Morgause se compadeceu ao ver a filha, Morrígan, encarando melancolicamente pela janela da torre mais alta do castelo. Seus olhos pareciam distantes, como se contemplassem o além, e um brilho vazio refletia neles, despertando a compaixão da mãe. Morrígan estava imersa em um mundo de tristeza e solidão, sua expressão um reflexo de sua alma inquieta.
Movida pela compaixão, Morgause decidiu liberar Morrígan para um passeio nos jardins do castelo, desde que fosse acompanhada por um de seus irmãos. Ela esperava que a companhia familiar e a beleza serena dos jardins pudessem aliviar um pouco o peso que a filha carregava em seu coração.
Aquela ideia não poderia ser pior. Morrígan achava Percival extremamente infantil. Desde o momento em que ele a ajudou a montar no pônei, foi uma enxurrada de pirraças e brincadeiras inconvenientes.
Apesar de ser mais velho que ela, Percival se comportava pior do que as crianças de colo. Os nervos de Morrígan estavam ficando cada vez mais acentuados enquanto ela escutava suas piadas de mau gosto, que se tornavam ainda mais desagradáveis quando começavam a sugerir que ela possuía habilidades mágicas, insinuando que ela era uma bruxa.
A garota cerrava os punhos enquanto o irmão continuava com suas provocações.
— Pare com isso, Percival — ela rosnou, seus olhos faiscando de raiva.
Percival riu, ignorando o tom de Morrígan.
— Ah, Morrígan, não seja tão sensível. Afinal, se a vassoura serve, não é? Talvez você devesse voar para bem longe daqui.
Morrígan lançou a ele um olhar gelado.
—Você é patético, Percival. Seu humor só mostra sua falta de inteligência e compaixão.
Ele apenas riu, parecendo se divertir com a reação dela.
— Ah, mas é tão divertido ver você se contorcer de raiva, Morrígan. Não sei por que você não se torna uma bruxa de verdade e me lança um feitiço para me fazer calar a boca.
Morrígan soltou um suspiro exasperado enquanto as piadas de Percival continuavam.
—Ah, claro, Percival — ela respondeu com sarcasmo — Porque é óbvio que eu passo minhas noites tecendo feitiços e preparando poções mágicas para você.
Ele deu de ombros, parecendo não perceber o tom de ironia de Morrígan.
—Bem, não seria a primeira vez que alguém usa magia para tentar me conquistar.
A menina arqueou uma sobrancelha, um sorriso irônico brincando em seus lábios.
— Oh, acredite, Percival, se eu estivesse realmente amaldiçoando alguém, não seria você. Teria alvos muito mais interessantes em mente.
Percival franziu o cenho, percebendo finalmente a determinação na voz de Morrígan.
—Você está falando sério, Morrígan?
Ela assentiu, sua expressão séria.
— Completamente. Então, a menos que queira se tornar o próximo alvo da minha ira mágica, sugiro que pare com suas brincadeiras tolas antes que seja tarde demais.
Percival olhou fascinado para Morrígan, com os olhos brilhando de interesse.
— Sério que você é um ser mágico? Então faça aparecer um pote de ouro.
Morrígan suspirou profundamente, sentindo sua paciência se esgotar.
— Percival, eu já disse que não sou uma bruxa, mas você é burro demais para entender isso. E mesmo que fosse, não usaria meus poderes para satisfazer suas fantasias infantis.
Ele soltou uma risada de deboche.
— Ha! Você não é bruxa coisa nenhuma. Farsante!
Morrígan parou o pônei abruptamente, virando-se para enfrentar Percival com uma expressão furiosa.
— Chega, Percival! Estou cansada de suas provocações sem sentido. Você não tem ideia do que eu sou capaz de fazer, então sugiro que pare de menosprezar minha inteligência e me respeite!
O irmão franziu o cenho, encarando ela com surpresa e indignação.
— Como ousa falar assim comigo? Eu sou um cavaleiro respeitado, e você não passa de uma garotinha mimada!
A discussão entre os dois aumentou, com palavras ásperas e acusações sendo trocadas enquanto o clima tenso pairava sobre eles. Morrígan desceu do pônei com raiva, recusando-se a tolerar mais insultos de Percival.
Ela saiu andando, mas o irmão foi atrás dela e pegou em seu braço.
— Você é muito estressadinha!
— E você é muito chato! Me deixa em paz!
— Não até você admitir que estava errada em não me contar sobre seus poderes mágicos.
Morrígan tentou se soltar, sua voz carregada de frustração.
— Eu não tenho poderes mágicos, Percival! E mesmo que tivesse, não é da sua conta. Agora me solte!
Percival permaneceu firme, determinado a resolver o conflito.
— Você acha que pode me enganar, Morrígan?
Morrígan cerrou os punhos, sentindo a tensão aumentar.
A tensão atingiu seu ápice quando ela soltou suas palavras com amargura.
— Mesmo que quisesse te enganar, não seria algo difícil. Você é um idiota, igual a sua mãe, aquela pata.
Essa provocação foi o estopim para Percival, que, sem perceber, cedeu aos seus impulsos e ergueu a mão para a irmã.
— Bate, seu bruto! Você só presta para isso mesmo. Continue!
Ela desafiou, encarando-o com olhos flamejantes de raiva e determinação, preparada para enfrentar as consequências de suas palavras.
De repente, uma voz ecoou pelo ar, cortando o silêncio tenso que pairava sobre os irmãos. Morrígan sentiu uma leve agitação no ambiente, indicando a presença de uma terceira pessoa se aproximando. Ela não desviou o olhar de seu irmão, mas uma curiosidade latente começou a se insinuar em sua mente.
— Percival, o que está fazendo?
A voz, suave e autoritária ao mesmo tempo, pertencia a um jovem rapaz da mesma idade que o irmão da garota. Morrígan virou-se lentamente para encará-lo e se viu momentaneamente surpreendida pela sua aparência. Ele era esplendidamente bonito, com olhos cinzentos que pareciam capturar os tons cambiantes do crepúsculo, e cabelos negros que caíam em suaves ondas ao redor de seu rosto esculpido.
O rapaz se aproximou com uma elegância natural, sua presença imponente contrastando com a tensão que permeava o ar. Morrígan sentiu-se momentaneamente cativada por sua beleza, mas rapidamente sacudiu a cabeça para afastar tais pensamentos, focando-se novamente na situação diante dela.
Ainda segurando o braço de Morrígan, Percival virou-se para encarar o novo intruso, seu rosto contorcido por uma mistura de surpresa e indignação. A presença do rapaz parecia ter um efeito calmante sobre ele, desmanchando a raiva que sentia.
— Kay, o que você está fazendo aqui? — o irmão de Morrígan perguntou sem graça, soltando a irmã.
A mesma se afastou, massageando o braço machucado.
— Percival, como pode bater em uma mulher, ainda mais sua irmã?
Kay, com sua presença calma e autoritária, dirigiu um olhar repreensivo para Percival, suas sobrancelhas franzidas em desaprovação. Ele se aproximou de Morrígan, preocupado, e gentilmente tocou seu braço ferido.
— Você está bem? — perguntou, sua voz suave e reconfortante.
Morrígan assentiu, ainda se recuperando do choque do confronto com seu irmão. Ela se sentia grata pela intervenção de Kay, mas também incomodada com a presença dele, consciente de como sua aparência impecável destacava ainda mais sua própria agitação.
Percival, por sua vez, encolheu-se diante da repreensão de Kay, uma expressão de constrangimento cruzando seu rosto. Ele abaixou a cabeça, sem conseguir encontrar palavras para se desculpar pelo seu comportamento impulsivo e imprudente.
— Bom, eu sou Kay, filho do conde. E você deve ser Morrígan, não é? Meu irmão falou muito de você.
Morrígan permaneceu em silêncio, seu coração batendo acelerado enquanto ela sentia as bochechas arderem de constrangimento. Sem proferir uma palavra, ela virou-se abruptamente e saiu correndo pelos campos, segurando o vestido azul enquanto o vento soprava em seu rosto, deixando para trás uma trilha de cabelos loiros ao vento.
— Morrígan, espere! — chamou Kay, sua voz carregada de preocupação e curiosidade, mas ela não olhou para trás.
Percival assistiu a cena com um sorriso condescendente, seus olhos seguindo Morrígan enquanto ela se afastava. Ele deu de ombros, tentando minimizar a situação.
— Ela é assim mesmo, Kay. É a esquisita da nossa família, não aprendeu os bons modos. Esqueça essa tonta, vem, vamos praticar espadas juntos. Espere só para ver o que aprendi!
Kay observou Morrígan desaparecer no horizonte, um sentimento de intriga brotando em seu peito. Por que seus olhos eram tão… Diferentes? Ele se perguntou, mas logo a questão foi silenciada pelas conversações de Percival.
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Atualizado até capítulo 27
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