CAPÍTULO 11

Morrígan olhou-se no espelho, observando seus fios platinados refletidos de volta para ela. Seu olhar percorreu os cosméticos dispostos meticulosamente sobre a penteadeira, uma tentação silenciosa de cores vibrantes e aromas sedutores. Entre os frascos de perfumes, destacavam-se os matizes ricos de tintas para os olhos e lábios, cada um prometendo transformar sutilmente sua aparência e realçar sua beleza natural. Havia um frasco de perfume de rosas, cujo aroma floral inundava a sala, envolvendo-a em uma aura romântica e misteriosa.

Ela estendeu a mão hesitante, tocando a ponta de seus dedos nos pigmentos delicados, sentindo a textura suave e sedosa sob sua pele. As sombras para os olhos pareciam conter o segredo para autoestima, prometendo revelar um brilho oculto em seu olhar. Os batons exibiam tons de vermelho ardente, rosas delicados e nudes sutis, cada um convidando-a a experimentar uma nova faceta de si mesma.

Morrígan ponderou sobre sua reflexão no espelho, seu olhar encontrando a própria imagem com uma mistura de esperança e incerteza. Ela se viu confrontada com a pergunta persistente: valeria a pena todo o esforço de se embelezar quando a pessoa que mais desejava impressionar parecia tão distante e inacessível?

Uma onda de autodúvida a envolveu enquanto ela continuava a examinar os cosméticos diante dela. Seria ingênuo pensar que um simples toque de maquiagem poderia resolver os complexos problemas de seu coração. No entanto, havia algo irresistível na promessa de transformação contida nos frascos coloridos e perfumados. Talvez, ela pensou, o ato de se arrumar fosse mais sobre ela mesma do que sobre qualquer outra pessoa.

Com um suspiro resignado, Morrígan decidiu seguir em frente. Ela escolheu uma sombra de tom neutro para os olhos e um batom suave que realçava a cor natural de seus lábios. Cada pincelada era um gesto de auto-cuidado, uma afirmação silenciosa de sua própria dignidade e autoestima.

Ao finalizar a maquiagem, Morrígan não pôde deixar de se sentir uma beleza recém-descoberta. Ela contemplou o reflexo no espelho e viu uma jovem mulher emergindo das sombras de sua adolescência. Com seus dezesseis anos, Morrígan reconheceu que o tempo das brincadeiras havia ficado para trás; agora, era uma jovem dama, incumbida de vestir-se de acordo com o título de filha do rei. Sua aparência não apenas refletia a dignidade de seu pai, mas também a dela própria.

Ela endireitou os ombros, sentindo uma mistura de nervosismo e determinação enquanto se preparava para enfrentar o mundo exterior. Cada detalhe de seu traje - desde o vestido elegantemente bordado até os ornamentos delicados em seu cabelo - era um lembrete de sua posição na corte e das expectativas que pesavam sobre ela como filha de um rei.

Enquanto se dirigia para a porta, a voz impaciente de um mensageiro rompeu o silêncio de seu quarto, fazendo-a sobressaltar-se ligeiramente.

— Morrígan! — a voz esbravejou do outro lado da porta, acompanhada de batidas fortes — Morrígan, você morreu aí dentro? Estamos te esperando! Todo mundo já está na carruagem.

A ansiedade apertou o peito de Morrígan quando ela percebeu que havia se perdido em seus próprios pensamentos por tempo demais. Ela ajustou o vestido com um gesto nervoso e respirou fundo antes de abrir a porta.

Adela surgiu com uma expressão preocupada por trás da porta, mas assim que seus olhos encontraram Morrígan, sua expressão se transformou em uma mistura de surpresa e admiração.

— Meu Deus, menina! — exclamou Adela, balançando a cabeça em incredulidade. — Nós vamos fazer compras, e não para uma festa. Agora está explicado a demora. Vamos, ande logo! As outras mulheres estão nos esperando.

Com um gesto rápido, Adela puxou Morrígan pelo braço, levando-a consigo pelas escadas do castelo com uma energia contagiante. Elas desceram rapidamente, o tecido de seus vestidos sussurrando suavemente a cada passo, até chegarem ao pátio do castelo, onde a carruagem aguardava, reluzente ao sol da manhã.

O veículo estava preenchido com as esposas do rei, juntamente com alguns guardas disponíveis para a segurança das mulheres.

Dentro da carruagem, Morrígan avistou Clarice, a sobrinha da rainha. Clarice tinha crescido ao lado dela e agora era uma jovem bonita, com cabelos castanhos claros e uma pele clara e levemente corada. Seus olhos castanhos brilhavam com vivacidade e sua expressão era calorosa, mas um leve ar de desdém pairava sobre ela. Vestida com um simples vestido de seda, sua elegância natural destacava-se, mas seu comentário mordaz cortou o ar.

— O que é isso? Liberaram os palhaços do rei antes dos festivais? — Clarice riu, cobrindo a boca com o leque, enquanto seus olhos cintilavam com um brilho travesso.

Morrígan manteve a compostura diante do comentário debochado de Clarice, mas seus olhos faiscaram com determinação.

— Eu acho que sim, minha cara Clarice. Deve ser por isso que você anda livremente por aí, eles quiseram antecipar a parte do horror — respondeu Morrígan, sua voz tranquila carregada de um sarcasmo sutil. Seu olhar desafiador refletia a resposta à altura, enquanto ela mantinha uma postura firme e elegante.

Morrígan se acomodou ao lado de uma das esposas do rei, enquanto Clarice se recolhia em outra parte da carruagem. Um desconforto silencioso pairava no ar, interrompendo o clima leve e alegre que antes havia preenchido o ambiente.

A sobrinha da rainha lançou um olhar de desdém na direção de Morrígan, seus lábios se curvando em um pequeno sorriso de superioridade mal disfarçada. Ela sentiu o peso do julgamento nos olhos da moça, mas manteve sua compostura, resistindo à tentação de se retrair diante da hostilidade.

Enquanto a carruagem seguia seu caminho pelas estradas sinuosas do reino, Morrígan lutava contra uma crescente sensação de desconforto. O calor da maquiagem em seu rosto parecia sufocante, como se estivesse aprisionada em uma máscara que não pertencia a ela. Ela ansiava por arrancar aquela pintura de seu rosto.

"Por que inventaram de trazer essa menina para cá? O dia estava tão bom!", pensou Morrígan, sentindo-se cada vez mais desconfortável em seu assento. “Não posso deixar de sentir que estou sendo observada como um animal em exposição. Será que ela não entende que não ganha nada sendo hostil assim?”

A carruagem seguiu em frente, cruzando as movimentadas ruas da cidade até alcançar o grande comércio, o coração pulsante da vida urbana medieval. À medida que Morrígan descia da carruagem, seus olhos se arregalavam diante da cena colorida e caótica que se desdobrava diante dela.

O comércio se estendia ao longo de ruas estreitas e sinuosas, com barracas e tendas alinhadas em ambos os lados, exibindo uma miríade de mercadorias tentadoras. O ar estava impregnado com uma mistura de aromas - o perfume doce das especiarias, o cheiro forte dos couros e o odor adocicado dos doces caseiros.

As barracas ofereciam uma variedade infinita de produtos, desde alimentos frescos e temperos exóticos até roupas coloridas e utensílios domésticos. Mercadores gritavam seus produtos em vozes estridentes, tentando atrair a atenção dos transeuntes com promessas de qualidade e bons preços.

Músicos ambulantes tocavam melodias animadas, criando uma trilha sonora animada para o cenário vibrante. Artistas de rua exibiam suas habilidades em malabarismo, contorcionismo e outras artes circenses, atraindo multidões de espectadores fascinados.

Em meio à agitação do comércio, mercadores negociavam fervorosamente com clientes ávidos, enquanto crianças corriam entre as pernas das pessoas, brincando e se divertindo em meio ao tumulto.

Os guardas do rei marchavam em formação ao lado do pequeno grupo de mulheres, suas armaduras reluzindo sob a luz do sol enquanto garantiam a segurança de todas elas. Suas presenças imponentes e vigilantes proporcionavam uma sensação de proteção em meio à agitação do comércio.

As damas se aproximaram de uma tenda adornada com tecidos coloridos e acessórios femininos, cujo toldo era decorado com bordados elaborados e penduricalhos brilhantes que capturavam os raios de sol. O aroma do incenso pairava no ar, misturando-se com o cheiro suave dos tecidos expostos ao ar livre.

Ao entrar na tenda, Morrígan e as outras mulheres foram recebidas por uma explosão de cores e texturas. Os tecidos estavam dispostos em pilhas ordenadas, exibindo uma variedade deslumbrante de padrões e estampas, desde sedas luxuosas até linhos simples.

Ao redor da tenda, prateleiras exibiam uma seleção de acessórios femininos, incluindo colares de contas coloridas, pulseiras de prata adornadas e lenços de seda finamente bordados. Espelhos polidos estavam estrategicamente posicionados para que as clientes pudessem admirar sua aparência enquanto experimentavam os produtos.

O vendedor, um homem de idade avançada com olhos sagazes e um sorriso acolhedor, cumprimentou as damas com cortesia, oferecendo sua assistência enquanto elas examinavam os tecidos e acessórios com interesse.

Morrígan sentiu-se envolvida pelo ambiente encantador da tenda, maravilhando-se com a variedade de opções à sua disposição. Ela sabia que ali encontraria o tecido perfeito para confeccionar novas roupas e os acessórios ideais para complementar seu estilo pessoal.

Enquanto andavam pelas tendas, Morrígan envolveu-se em uma conversa animada com Adela, a esposa mais jovem do rei. Adela, poucos anos mais velha que a filha do rei, ainda não havia dado filhos à Alistair. Apesar das diferenças em suas posições sociais, Morrígan sentia que, pela primeira vez, havia encontrado uma amizade feminina verdadeira além de sua mãe.

Adela também parecia encantada com a companhia de Morrígan, expressando alívio por ter alguém com quem compartilhar sua jornada no castelo. Para as esposas recém-chegadas, o ambiente opulento do castelo podia ser solitário e intimidador, mas a presença calorosa e acolhedora de Morrígan oferecia um conforto bem-vindo em meio à solidão.

Morrígan sorriu animada enquanto mostrava os tecidos e as linhas para Adela.

— Veja, Adela. Comprei alguns tecidos e linhas! Estou pensando em fazer uma túnica para Tali. Ele parece estar crescendo tão rápido, e suas roupas já estão ficando apertadas demais — explicou Morrígan, com um brilho nos olhos enquanto compartilhava seus planos com a amiga.

Adela sorriu, admirando os tecidos com interesse genuíno.

— Que ótima ideia, Morrígan! Tenho certeza de que Taliesin vai adorar uma túnica feita por você. Deve ser tão especial para ele ter algo feito com tanto amor e cuidado. E você é uma costureira e tanto, hein? Aposto que até os nobres da corte ficariam com inveja da habilidade de costura da minha amiga! — respondeu Adela, com um brilho travesso nos olhos, provocando Morrígan com um sorriso divertido.

O sorriso brincava nos lábios de Morrígan, pronta para responder com outro comentário divertido, quando seu olhar foi capturado por uma imagem que fez seu sorriso desaparecer instantaneamente do rosto. Uma sombra do passado pareceu surgir diante de seus olhos, uma presença que a fez gelar até o âmago de sua alma. Era como se tivesse visto um fantasma, um vulto do passado que ela tentara esquecer, mas que agora ressurgia diante dela, implacável e inescapável.

Morrígan permaneceu em silêncio por um momento, tentando recompor-se diante da inesperada aparição do passado. Enquanto isso, Clarice, alheia à mudança de atmosfera, comentou animada:

— Ei! Não são Kay e Gaelin ali, os filhos do conde? Céus, como cresceram e ficaram bonitos! — Clarice exaltou, erguendo a voz enquanto se aproximava dos irmãos com passos confiantes — Ei, Gaelin! Oi!

Morrígan observou Clarice com uma expressão de surpresa misturada com desconforto. O modo como Clarice se aproximava dos jovens, com uma postura um tanto exagerada e um sorriso um pouco sugestivo, não passou despercebido por Morrígan. Ela não pôde deixar de sentir que Clarice estava agindo de forma um tanto oferecida, mais interessada em chamar a atenção dos filhos do conde do que genuinamente apreciar sua presença.

Adela sussurrou com um sorriso sarcástico:

— Essa menina não tem jeito... Não perde a oportunidade de aparecer. Olhe só, como ela vai.

Morrígan deu um sorriso amarelo, sentindo o mundo girar ao seu redor.

Enquanto observava Gaelen, Morrígan notou como ele havia mudado. Ele realmente havia se transformado em um jovem impressionante, com uma aparência viril e atlética. Seus ombros largos e sua postura confiante transmitiam uma sensação de poder e determinação. Seu cabelo loiro caía em ondas sedosas ao redor do rosto angular, destacando seus olhos intensos e sua expressão marcante. 

Enquanto observava Kay, Morrígan sentia seu coração acelerar a cada segundo que passava, mas não era por ele que seu coração pulsava com tanta intensidade. Era Gaelen quem dominava seus pensamentos e emoções, cuja presença fazia seu coração bater descompassadamente.

Apesar de reconhecer a beleza e o charme de Kay, para Morrígan, ele era apenas um reflexo pálido diante da luminosidade radiante de Gaelen. O jovem tinha uma aura magnética que a atraía como um ímã, fazendo-a perder-se em um turbilhão de emoções indescritíveis no momento que o viu.

“Ah, Gaelen… Se você não tivesse me odiado desde o último dia que nós vimos. Eu poderia ir até você, e te admirar de perto.”

A voz de Adela irrompeu em seus pensamentos como um trovão distante, trazendo Morrígan de volta à realidade com um sobressalto. Com um grito estridente, ela chamou pela sobrinha da rainha, rompendo o transe em que Morrígan se encontrava.

— Clarice! Precisamos ir! — O tom urgente e enérgico de Adela ecoou pelos corredores do mercado, cortando o ar com uma urgência palpável.

Enquanto sua mente saía mergulhada em um mar de pensamentos turbulentos, Clarice retornou ao grupo de mulheres, interrompendo os devaneios de Morrígan. Os rapazes observavam a cena com interesse, e Morrígan sentiu o olhar penetrante de Gaelen sobre ela, como se fosse capaz de sentir sua presença mesmo à distância.

O simples encontro de seus olhares foi o suficiente para fazer o coração de Morrígan disparar, como se o mundo ao seu redor desaparecesse, deixando apenas ela e Gaelen em um momento suspenso no tempo. Os gritos dos comerciantes ao redor tornaram-se distantes e abafados, e ela sentiu como se o chão tivesse sido retirado de seus pés, deixando-a flutuando em um mar de emoções tumultuadas.

Ela prendeu a respiração, incapaz de desviar o olhar do rapaz, enquanto seu coração batia descompassadamente em seu peito. Apesar das barreiras que os separavam, Morrígan sabia que o que sentia por ele era real e inegável.

Com um peso no coração, Morrígan teve que despregar seus olhos daquela figura que ela considerava celestial, e retornou junto às mulheres do rei. Cada passo parecia mais difícil do que o anterior, como se estivesse se afastando não apenas de Gaelen, mas também de uma parte de si mesma que só ele conseguia alcançar.

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