CAPÍTULO 16

Dias após o suntuoso banquete oferecido pelo rei, Adela e Morrígan desfrutavam de uma tarde serena nos bosques que circundavam o castelo. Tinham combinado de levar Taliesin consigo em uma caminhada, pois o jovem príncipe transbordava de energia, e era uma excelente oportunidade para os três se divertirem.

Os raios de sol filtravam-se entre as folhagens das árvores, pintando padrões dourados sobre o caminho coberto de musgo. Adela e Morrígan caminhavam lado a lado, suas risadas ecoando entre os troncos centenários. Taliesin, sempre ávido por aventuras, corria à frente, empurrando uma bola de couro com os pés ágeis.

O príncipe chutava a bola na direção de Morrígan, que, com um sorriso travesso, tentava interceptá-la para enviá-la na direção de Adela. O jogo era uma mistura de risos e tropeços, e o trio se divertia em meio às brincadeiras inocentes.

Porém, o castelo não era apenas um lugar de festas e lazer; também era uma fortaleza onde se forjavam guerreiros. Os filhos mais jovens do rei estavam em treinamento para se tornarem cavalheiros, e as brincadeiras de Taliesin não eram permitidas entre eles naquele dia. Com isso em mente, Adela e Morrígan resolveram levar o garotinho consigo para que ele não se sentisse excluído das atividades recreativas.

Em uma dessas tentativas de passe, Morrígan acabou por perder o equilíbrio e cair na maciez da grama esmeralda que revestia o chão do bosque. Um riso escapou dos lábios da jovem enquanto ela se levantava, varrendo a sujeira imaginária de suas vestes.

— Taliesin, você realmente tem um chute forte! — exclamou Adela, dirigindo um olhar cúmplice para Morrígan, que se aproximava com um sorriso divertido.

O jovem príncipe soltou uma gargalhada, seus olhos brilhando com a excitação da brincadeira. — Foi sem querer, princesa! Mas eu poderia ensinar um truque ou dois, se quiserem!

Com um sorriso travesso, Taliesin ajudou Morrígan a levantar, retirando cuidadosamente a grama do seu vestido rosa.

— Me desculpe, irmã! Eu me acostumei a jogar com os outros, e esqueci que você é uma dama — disse o jovem príncipe, com um brilho travesso nos olhos.

Morrígan riu, passando a mão pelo cabelo de Taliesin com carinho.

— Tudo bem, Taliesin. Afinal, o que seria da vida sem um pouco de aventura, não é mesmo?

Adela, observando a cena com ternura, aproximou-se dos dois com um sorriso curioso.

— Taliesin, qual é a sua brincadeira favorita? — perguntou ela, intrigada.

O príncipe refletiu por um momento, os olhos iluminados pela lembrança das brincadeiras preferidas.

— Ah, eu gosto muito de brincar com espadas com Gaelen — começou ele, com entusiasmo. — Nossos duelos são sempre emocionantes e nos ajudam a aprimorar nossas habilidades como cavaleiros.

Adela assentiu, imaginando os dois jovens nobres treinando com suas espadas sob o olhar atento dos mestres da corte.

— Mas sabe do que eu realmente gosto? — continuou Taliesin, com um brilho ainda mais intenso nos olhos. — Jogar dominó com Kay. Ele é tão inteligente! Adoro desafiar a mente dele.

Ao mencionar Kay, o rosto de Taliesin se iluminou com uma expressão de admiração. Era evidente o respeito que ele nutria pelo jovem, não apenas por sua astúcia nos jogos, mas também por sua perspicácia e inteligência.

Adela assentiu, sorrindo para Taliesin.

— Kay é realmente muito inteligente. Tenho certeza de que vocês se divertem bastante juntos.

Com um olhar sincero, porém curioso, Taliesin encarou Morrígan, que ainda estava ocupada limpando a grama do vestido e do cabelo. Seus olhos azuis brilhavam com uma curiosidade genuína enquanto ele formulava sua pergunta.

— Morrígan, por que você não se casa com ele? — perguntou ele, sua voz carregada de um misto de ingenuidade e perspicácia. — Você é tão inteligente quanto ele, e além disso, irmã, ele fala tanto de você! Vocês têm a mesma idade, os mesmos gostos…

Morrígan ergueu os olhos para encontrar o olhar do irmão, surpresa com a franqueza de sua pergunta. Ela ficou momentaneamente sem palavras, processando as palavras dele. O vento sussurrava suavemente entre as folhas das árvores, enquanto o sol dourado do entardecer pintava padrões de luz e sombra ao redor deles.

— Taliesin... — começou Morrígan, tentando encontrar as palavras certas para responder. Como ela poderia explicar que era do irmão dele que gostava, e não de Kay? A ideia de casamento com o outro filho do conde nunca lhe passou pela cabeça.

Ela tentou esconder a confusão em seus olhos, desviando o olhar por um momento antes de voltar a encarar Taliesin.

— Eu... não sei, Taliesin. Kay é um amigo querido, mas... eu nunca pensei nisso dessa forma.

As palavras saíram em um sussurro, e Morrígan sentiu um aperto no peito ao ver a expressão de expectativa no rosto do irmão. Como poderia explicar que seu coração pertencia a outro, que sua lealdade e afeto estavam reservados para Gaelen?

Taliesin pareceu ponderar suas palavras por um momento, antes de assentir com compreensão.

— Tudo bem, Morrígan. Eu só queria que você soubesse que ele fala muito sobre você, e... bem, talvez seja algo para pensar.

Ele abaixou a voz, como se compartilhasse um segredo.

— Mas não fale nada que te falei, está bem?

Morrígan assentiu com um sorriso triste, grata pela preocupação do irmão, mas também pesarosa por não poder compartilhar com ele seus verdadeiros sentimentos.

— Casamento não é algo tão simples, criança — Adela tocou suavemente nas bochechas do príncipe, seu olhar cheio de carinho e compreensão. — Você vai entender isso quando seu pai te obrigar a casar com uma princesa que você nunca viu na vida, tudo por interesse político. Infelizmente, o seu destino e o de Morrígan estão selados pelo seu pai.

As palavras de Adela foram proferidas com uma mistura de tristeza e resignação, refletindo a dura realidade dos arranjos matrimoniais na nobreza. Ela sentiu um aperto no coração ao mencionar o destino predestinado para Taliesin e Morrígan, sabendo que a vontade do rei muitas vezes prevalecia sobre os desejos dos próprios filhos. Ela sabia quem Morrígan amava, mas se sentia triste pelas convenções políticas.

Mas havia um pouco de esperança, lá no fundo. Adela sabia que o rei prestigiava os filhos do conde, mas será que ao ponto de dar sua filha?

No entanto, ela não podia deixar de se perguntar se, entre todas as alianças e arranjos políticos, ainda havia espaço para a felicidade pessoal. Será que o rei consideraria os sentimentos de Morrígan ao decidir sobre seu casamento? Ou os interesses do reino seriam os únicos a ditar os termos dessa união?

Taliesin absorveu as palavras de Adela com seriedade, seu rosto infantil refletindo uma mistura de confusão e preocupação.

— Mas... eu não quero casar com uma princesa feia, chata igual Clarice! — exclamou ele, com um muxoxo de desgosto. — Ela deve ser daquelas que passam o dia inteiro pintando o rosto e falando sobre vestidos! Eu quero alguém que me faça rir, que goste de brincar e explorar o mundo!

Adela conteve um riso diante da franqueza infantil de Taliesin, mas não pôde deixar de sentir compaixão pelo dilema do jovem príncipe. Ela sabia que as exigências da realeza muitas vezes limitavam as escolhas pessoais, transformando o casamento em uma questão de dever antes de amor.

— Eu entendo, Tali — murmurou ela, suavizando o tom de sua voz. — Mas às vezes, as decisões que tomamos não são apenas sobre o que queremos, mas também sobre o que é melhor para nosso reino e nossa família.

Morrígan estava começando a ficar irritada com o assunto quando, ao longe, uma figura se delineou no horizonte. Seu coração deu um salto, ansiando secretamente que fosse um certo cavaleiro loiro que ocupava seus pensamentos. No entanto, conforme a figura se aproximava, a esperança deu lugar à resignação quando ela reconheceu a familiar silhueta de Kay emergindo das sombras. Seu corpo tenso, Morrígan ergueu-se com uma postura mais formal, preparando-se para a chegada do jovem cavaleiro.

— Falando nele, olha quem vem ali! — ela disse pensativa, observando a aproximação de Kay com uma mistura de nervosismo e incerteza.

A presença do filho do conde não despertou em Morrígan os sentimentos usualmente associados à paixão. Em vez disso, ela se sentiu nervosa ao lembrar das palavras do irmão sobre Kay falar muito dela. Uma sensação de desconforto se instalou em seu peito, enquanto se perguntava o que exatamente o jovem cavaleiro teria dito sobre ela.

— Kay! — exclamou Taliesin com entusiasmo, interrompendo os pensamentos de Morrígan. Sem pensar duas vezes, ele correu em direção ao rapaz, abraçando-lhe as pernas com a alegria inocente de uma criança.

Kay, surpreso com a demonstração espontânea de afeto, abaixou-se para abraçar Taliesin, seu sorriso iluminando o rosto.

— Olá, pequeno príncipe! Como você está hoje? — perguntou ele, com ternura na voz.

Taliesin olhou para cima, os olhos brilhando com admiração.

— Estou bem, Kay! Estávamos brincando nos bosques com Morrígan e a Adela! Junte-se a nós, por favor!

Kay sorriu para Taliesin, apreciando a animação do jovem príncipe.

— Gostaria muito, meu príncipe! Mas estou ocupado agora. Vim por aqui, pois é o caminho mais fácil até a torre de correspondências do castelo. Preciso enviar umas cartas até o anoitecer.

— Por favor, Kay! Por favor, por favor, por favor, por favor!

O apelo insistente de Taliesin fez Kay rir, enquanto o príncipe lançava seu melhor olhar persuasivo.

— Meu príncipe...

— Ah, Kay... Por favor! Morrígan também está aqui — ele disse sussurrando, para que a irmã não ouvisse — Você acha ela bonita, não acha?!

Kay ficou momentaneamente sem palavras, um leve rubor colorindo suas bochechas. Ele não esperava a pergunta direta de Taliesin sobre os sentimentos em relação a Morrígan.

— Bem, eu... — começou Kay, buscando as palavras certas, mas o olhar esperançoso de Taliesin o deixou sem escolha. — Claro, meu príncipe. Morrígan é uma dama encantadora, com todo respeito, pois ela é sua irmã e filha de meu rei.

Taliesin soltou um gritinho de alegria, enquanto Adela e Morrígan observavam a interação com sorrisos divertidos, sem noção do que realmente estava acontecendo entre os dois jovens. O olhar ansioso de Taliesin contrastava com a expressão surpresa e ligeiramente corada de Kay, que se sentiu momentaneamente desconcertado pela revelação inesperada do príncipe.

No entanto, a atmosfera leve e descontraída do momento prevaleceu, e Kay, mesmo com suas tarefas pendentes, decidiu ceder aos pedidos insistentes do jovem príncipe. Ele optou por adiar suas responsabilidades, permitindo-se desfrutar de um momento agradável nos bosques com seus amigos, aproveitando a oportunidade para se distanciar das preocupações do cotidiano e simplesmente desfrutar da companhia daqueles que lhe eram queridos.

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