No mesmo dia, a tarde dava lugar à noite, e o silêncio envolvia o castelo como um manto, quebrado apenas pelo suave murmúrio das chamas nas lareiras. Adela, impulsionada por uma súbita inspiração, decidiu surpreender Morrígan com sua habilidade em fazer penteados elaborados.
Com passos leves e sorrateiros, Adela dirigiu-se aos aposentos da filha do rei, onde encontrou Morrígan inquieta, incapaz de encontrar o sono. A jovem, em sua aflição silenciosa, buscou refúgio nos braços da amiga, cuja presença oferecia um conforto incomparável.
Adela, trazendo consigo uma pequena caixinha adornada com intricados desenhos, depositou-a com cuidado na cama de Morrígan. O gesto era carregado de um mistério delicado, uma promessa de algo especial prestes a acontecer. Juntas, elas começaram os preparativos para a sessão de penteados.
Apesar de serem apenas alguns anos mais velha que Morrígan, Adela irradiava uma aura de confiança e experiência, refletida em seus movimentos precisos e em sua capacidade de compreender os desejos da jovem princesa. Enquanto os dedos ágeis de Adela deslizavam habilmente pelos cabelos de Morrígan, elas compartilhavam risadas suaves e confidências, estreitando ainda mais os laços que as uniam.
— Com quem você estava conversando mais cedo no bosque, Morrígan? — perguntou Adela, com um tom curioso em sua voz suave.
A filha do rei fez uma pausa, os olhos perdidos na dança das chamas das velas, enquanto ponderava sobre qual resposta dar à sua amiga. Ela sabia que o assunto envolvendo Gaelen era delicado, especialmente porque Adela não estava presente no castelo quando ele desapareceu de sua vida.
— Bem... É um antigo amigo. Ou ex-amigo. Não sei ainda dizer. — Morrígan respondeu com uma mistura de hesitação e sinceridade, revelando a complexidade dos sentimentos que a envolviam em relação a Gaelen.
Adela franziu o cenho levemente, expressando sua surpresa diante da resposta ambígua de Morrígan. — Oras, como não sabe? Ou você é amigo, ou você não é. Não existe meio termo. — argumentou, buscando entender melhor a situação.
— Ah, é uma história muito complicada. — suspirou Morrígan, uma sombra de tristeza passando por seus olhos. — Ele costumava frequentar o palácio antigamente, mas aconteceu umas coisas, e ele deixou de visitar o rei.
Enquanto falava, Morrígan tentava articular as palavras para explicar o que havia acontecido entre ela e Gaelen, mas encontrava dificuldade em encontrar as palavras adequadas.
— Bem, essa história parece bem antiga mesmo. Mas pelo que percebi, você estava muito feliz. Era muita euforia para apenas um amigo. Você gosta do filho do conde, Morrígan? — indagou Adela, com um tom perspicaz em sua voz.
A pergunta de Adela pegou Morrígan de surpresa, fazendo com que ela sentisse o rubor subir rapidamente às suas bochechas. Porém, em vez de admitir qualquer coisa, ela balançou a cabeça com firmeza, negando veementemente.
— Não, não! Nada disso, Adela. É só que... bem, era uma conversa animada, só isso. — disse Morrígan, tentando amenizar a situação com um sorriso forçado.
Adela, percebendo a reação constrangida de sua amiga, decidiu levar a situação com humor, soltando uma risada suave.
— Ah, entendi. Apenas uma conversa animada, é? — brincou Adela, piscando para Morrígan com malícia. — Você sempre tão misteriosa, Morrígan. Quem diria que esconderia um romance secreto debaixo do nosso nariz!
Morrígan não pôde deixar de rir da brincadeira de Adela, sentindo-se aliviada pela forma como sua amiga conseguiu dissipar a tensão do momento com sua leveza e humor.
— Não seja boba, Adela. Não há nada do tipo acontecendo. — respondeu Morrígan, ainda sorrindo.
— Hm, sei. Você não me engana, minha amiga! Dizem que o irmão dele é muito mais bonito, mas pelo que vi, ele é um rapaz muito belo. Fico imaginando então como Kay seja. Provavelmente deva ser uma miragem dos deuses. — Adela comentou com um brilho travesso nos olhos, provocando Morrígan com uma pitada de humor.
Morrígan soltou uma risada, sacudindo a cabeça em descrença diante da observação de Adela. — Ei, não é desse jeito. Eu acho que os dois são iguais. E outra, você acha bonito a esposa do rei ficar olhando pros outros homens dessa forma? — provocou Morrígan, sua voz tingida com uma brincadeira maliciosa. — Vou te denunciar para Lyssandre, você vai ver só.
Adela ergueu as mãos em sinal de rendição, dramatizando sua indignação de forma teatral. — Misericórdia, Morrígan. Não diga isso nem brincando. Lyssandre é o inferno na terra, se ela acreditar nisso, provavelmente eu seja decapitada. Aquela mulher não tem coração, eu juro! — exclamou, acompanhando suas palavras com um olhar exageradamente assustado.
O rosto de Morrígan assumiu um tom sério, sua expressão marcada pela sombra dos pensamentos mais profundos e preocupantes.
— Se bem que você tem razão, Adela. Lyssandre é uma pessoa demoníaca. Me assusta o seu súbito silêncio. Desde o nascimento de Taliesin, ela permanece sem fazer nenhuma maldade contra mim ou minha mãe. Isso me assusta, sabe? Parece que ela vivia só para nos infligir dor. E agora, está muito calada para meu gosto. — confessou Morrígan, sua voz carregada de apreensão e desconfiança.
Adela olhou para sua amiga com compaixão, compreendendo a gravidade do que Morrígan estava compartilhando. Ela sabia muito bem o quão manipuladora e cruel Lyssandre poderia ser, e o repentino silêncio da rainha certamente era motivo para preocupação.
— Eu imagino. É natural ficar inquieta diante dessa mudança de comportamento. Talvez seja uma trégua temporária, ou quem sabe ela esteja tramando algo ainda pior.
— Isso porque você não estava aqui quando ela me prendeu nas masmorras — a filha do rei disse enquanto Adela continuava mexendo em seu cabelo — Eu era só uma criança de oito anos, e ela achou ótima a ideia me prender lá embaixo. Foram os piores dias da minha vida. Nem consigo descrever o que senti ali.
A lembrança sombria daqueles dias difíceis invadiu a mente de Morrígan, e ela balançou a cabeça, tentando afastar as lembranças da sombra falante. Adela protestou contra o gesto.
— Não balance a cabeça, vai ficar torto! — brincou Adela, enquanto continuava a trabalhar nos cabelos de Morrígan. — Mas voltando ao assunto, isso é muita crueldade. O que se passa na cabeça daquela mulher?
Morrígan suspirou, uma expressão de resignação cruzando seu rosto. — Ela só é muito infeliz, e quer que os outros sejam também.
As amigas estavam prestes a continuar a discussão sobre a natureza sombria de Lyssandre, quando a porta do quarto recebeu alguns toques. Alguém estava chamando lá fora.
— Ai, o que será que é agora, hein? — murmurou Adela, dirigindo-se para abrir a porta.
Quando a concubina do rei abriu a porta, seu semblante divertido deu lugar a uma expressão de surpresa e desagrado. Ela se deparou com Clarice a encarando com desdém, pronta para chatear sua noite com seu sarcasmo afiado. A sobrinha da rainha exibia um risinho sarcástico nos lábios, deixando claro que tinha algo na manga.
— Você é muito difícil de achar, Adela. Já estava pensando em te procurar nas camas dos soldados — provocou Clarice, com uma pontada de malícia em sua voz.
Adela, por sua vez, não se deixou abalar pela provocação da jovem nobre. Ela ergueu o queixo com dignidade, respondendo com firmeza.
— Garota, você é pior do que notícia ruim, está por todo canto e ninguém quer saber sobre. E outra, você me respeite, pois sou fiel ao meu rei. O que você quer, sua chata? — rebateu Adela, sua voz tingida com uma mistura de desafio e desdém.
O olhar de Clarice faiscou com uma centelha de raiva diante da resposta cortante de Adela. Por um momento, parecia que ela estava prestes a contra-atacar, mas então uma sombra de sorriso irônico curvou seus lábios.
— Tão corajosa para uma simples concubina. Mas vamos deixar as formalidades de lado, tenho uma mensagem para você do rei. Ele quer vê-la imediatamente em seus aposentos. — anunciou Clarice, sua voz carregada de insinuação.
— E você virou mensageira agora, é? Não tinha ninguém melhor para essa tarefa? — retrucou Adela, com um ar de desdém.
Clarice não se deixou abalar pela provocação de Adela. Ela manteve seu olhar desafiador, respondendo com uma mistura de sarcasmo e autoconfiança.
— Eu sou o melhor rosto que você viu até agora, Adela, não se dê ao trabalho de me ofender. E outra, eu estava com minha tia, e ela pediu para passar o recado, pois ela prefere falar só com pessoas relevantes. Agora ande, pois nosso rei está esperando. — disse Clarice, seu tom de voz carregado de superioridade.
Adela reprimiu um suspiro de frustração diante da resposta de Clarice. Ela sabia que era inútil continuar discutindo com a sobrinha da rainha, especialmente quando havia uma mensagem do rei envolvida. Engolindo seu orgulho, ela assentiu em silêncio, resignando-se a seguir as ordens e enfrentar o que quer que fosse que aguardava por ela nos aposentos do rei.
Com um último olhar desafiador para Clarice, Adela virou-se e seguiu em direção aos aposentos do rei, preparando-se para descobrir o motivo da convocação repentina e enfrentar qualquer desafio que o destino lhe reservava.
Com um último olhar desafiador para Cecilia, Adela virou-se e seguiu em direção aos aposentos do rei, preparando-se para descobrir o motivo da convocação repentina e enfrentar qualquer desafio que o destino lhe reservava.
Antes de sair, porém, ela não pôde deixar de se dirigir a Morrígan, sua amiga leal e confidente.
— Eu já estava me esquecendo. Essa caixinha é para você. — Adela entregou a caixa para Morrígan, mantendo um tom casual, mas seus olhos transmitiam um significado diferente, indicando que havia algo mais por trás desse gesto.
Morrígan, percebendo a sutileza na expressão de Adela, pegou a caixa com curiosidade, seus olhos encontrando os de Adela em busca de esclarecimento.
— É um presente meu. Espero que goste. — Adela adicionou rapidamente, disfarçando para não levantar suspeitas na presença de Clarice. — Agora tenho que ir. Nos vemos amanhã no salão, na hora do café.
Morrígan compreendeu o que Adela queria dizer através de seu olhar e tom de voz disfarçados. Ela assentiu em silêncio, sentindo um calor reconfortante em seu coração pela consideração e pela precaução de sua amiga.
Com o coração cheio de gratidão e curiosidade sobre o que a caixa poderia conter, Morrígan observou Adela se afastar, desejando muita sorte na presença do rei.
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Atualizado até capítulo 27
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