CAPÍTULO 13

O ambiente tranquilo do bosque do rei envolvia Morrígan como um abraço acolhedor, enquanto os sussurros das folhas e o canto dos canários formavam uma sinfonia suave ao seu redor. Ela caminhava entre as árvores centenárias, deixando seus dedos deslizarem suavemente sobre os caules, como se estivesse acariciando memórias antigas.

Ao chegar ao pé da macieira, seus olhos foram imediatamente atraídos para as letras entalhadas no centro do tronco: "M" e "G" unidas por um coração. Um sorriso nostálgico curvou os lábios de Morrígan, enquanto ela recordava os dias de sua juventude.

Cada ruga no tronco da macieira parecia conter uma história, e Morrígan, com os olhos semicerrados, mergulhava na nostalgia dos tempos passados. Ela podia sentir o eco das risadas infantis e o calor do sol filtrando entre as folhas verdes. O toque suave da casca áspera sob seus dedos a conectava a um passado que ela sempre carregaria consigo.

Enquanto o vento sussurrava suas lembranças ao seu redor, Morrígan fechou os olhos, permitindo-se ser transportada de volta à inocência da infância. Era como se o próprio bosque estivesse lhe contando histórias de outrora, acalmando seu coração e reavivando lembranças preciosas que ela guardava com carinho.

A moça permanecia imersa em suas lembranças, revivendo os momentos felizes ao lado de Gaelen, seu amigo de infância. Ela podia visualizá-lo nitidamente, sentado debaixo da macieira, com os lápis de cor em mãos, desenhando paisagens imaginárias e entoando canções melodiosas que ecoavam pelo bosque. Seus olhos infantis irradiavam a pureza da juventude, e seu sorriso sincero iluminava o ambiente ao redor.

No entanto, o passado parecia se entrelaçar com o presente quando Morrígan, imersa em suas lembranças, sentiu uma presença atrás dela. Seu coração deu um salto, e um arrepio percorreu sua espinha enquanto ela se virava lentamente para encarar Gaelen, que estava ali, não mais apenas em suas memórias, mas fisicamente presente diante dela.

Seus olhares se encontraram, e por um instante, o tempo pareceu congelar ao redor deles. Morrígan sentiu um turbilhão de emoções aflorar dentro de si, enquanto o calor da presença dele a envolvia como um abraço reconfortante.

Morrígan encontrou-se perdida nos traços do rosto de Gaelen, buscando respostas nos sulcos que o tempo havia esculpido ali. Seus olhos percorreram cada linha, cada sombra, como se estivessem tentando decifrar um enigma cujas pistas estavam dispersas pelo tempo.

Era inegável que o tempo havia sido gentil com Gaelen, moldando-o em um jovem de beleza marcante. Seus traços agora carregavam uma maturidade que antes era desconhecida, e sua postura denotava uma confiança que só o passar dos anos poderia conferir. No entanto, por trás da máscara de seriedade que ele exibia, Morrígan detectou uma ausência, um vazio que antes não estava lá.

A inocência que uma vez brilhava em seus olhos agora parecia ter sido substituída por uma sabedoria além de seus dezoito anos. As experiências vividas haviam deixado suas marcas não apenas na superfície de sua pele, mas também em sua essência, transformando-o em alguém cujo entendimento do mundo era tingido por nuances que só o tempo poderia revelar.

Morrígan sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir a voz de Gaelen rompendo o silêncio entre eles. Seu nome, pronunciado por ele após tanto tempo, ressoou no ar como uma melodia há muito esquecida. Ela ergueu os olhos para encontrar os dele, buscando neles algum sinal do rapaz que um dia conhecera tão bem.

— Quanto tempo, Morrígan — disse Gaelen, com uma nota de nostalgia na voz — Nossos horizontes distantes finalmente se encontraram.

As palavras dele ecoaram no bosque, como se trouxessem consigo o peso de todos os anos que se passaram desde que eles se separaram. Morrígan sentiu uma mistura de emoções inundar seu ser: alegria por vê-lo novamente, mas também uma pontada de tristeza ao perceber o tempo que haviam perdido.

Ele ainda a odiava? Ainda havia certo remorso? Morrígan não conseguia ler nada em seu rosto, apenas uma sensação nostálgica pairava no ar.

Agora, ele estava sério. Morrígan estudou o rosto de Gaelen em busca de respostas, mas nada conseguia discernir em sua expressão.

— Sim, os horizontes nos levaram por caminhos distintos — respondeu Morrígan, tentando disfarçar a complexidade de suas próprias emoções — Mas aqui estamos, diante um do outro novamente.

— Exatamente, aqui estamos novamente. Você e eu.

O silêncio que se seguiu à fala de Morrígan envolveu-os como um manto, pesado com o peso das emoções não expressas. Ela sentiu o olhar de Gaelen sobre si, como se ele estivesse esperando por suas palavras, por uma resposta que ela não sabia dar.

Morrígan lutou contra a torrente de lembranças que ameaçava inundar sua mente. A última vez que estivera tão próxima de Gaelen, as coisas não terminaram bem. Os resquícios daquela despedida amarga ainda ecoavam em sua memória, trazendo consigo o peso da culpa e da mágoa.

Ela abaixou os olhos, incapaz de encarar Gaelen enquanto o peso do passado pesava sobre seus ombros. Não sabia mais o que dizer, como consertar o que havia sido quebrado entre eles. Seu coração ansiava por perdão e reconciliação, mas suas palavras se recusavam a sair.

Naquele momento, Morrígan percebeu a preciosidade daquele lugar tranquilo, onde não havia olhares julgadores observando cada movimento, onde não havia malícia ou desconfiança no ar.

O som da voz de Gaelen quebrou o silêncio tenso que pairava entre eles, e Morrígan ergueu os olhos para encontrá-lo, surpresa com sua mudança de assunto. Uma pequena onda de alívio a envolveu, pois percebeu que ele também estava tentando encontrar um terreno comum, uma forma de reconectar-se sem reviver as mágoas do passado.

— Bem, soube que teve um irmãozinho, não?! — disse Gaelen, limpando a garganta. Sua voz era suave, mas carregava um toque de curiosidade genuína.

Morrígan assentiu, permitindo-se um sorriso tímido diante da lembrança de Taliesin. 

—Sim, é verdade. Ele é uma verdadeira bênção para nossa família. Tão pequeno, mas com um espírito tão forte…

—Percival trouxe ele esses dias nos treinamentos — continuou Gaelen, sua voz suavizando ainda mais —Posso dizer que ele é idêntico ao rei, se não fosse o cabelo negro. Achei até que fosse filho da mesma mãe, se sua avó ainda  estivesse entre nós — ele acrescentou, soltando um riso nervoso.

Morrígan não pôde deixar de sorrir diante da imagem que Gaelen pintava. Era reconfortante ouvi-lo falar de forma tão leve e descontraída, como se estivessem apenas compartilhando histórias de velhos tempos. Seu riso, há tanto tempo silenciado, irrompeu novamente de seus lábios, enchendo o ar com uma melodia suave.

Gaelen corou levemente ao vê-la rir, surpreso com a reação dela. Ele próprio não pôde conter um sorriso em resposta. 

Mudando de assunto, Morrígan decidiu que era hora de dissipar qualquer tensão remanescente entre eles.

— Bem, fico feliz que tenha retornado para o palácio, Gaelen — começou ela, buscando manter um tom de voz sereno e acolhedor. — Meu pai o considera muito, e tenho certeza que aprenderá muito ao seu lado. Era isso o que você sempre sonhou, e me alegra saber que está se tornando realidade. Em breve, você será um dos soberanos do rei.

A expressão de Gaelen suavizou-se ainda mais diante das palavras de Morrígan, e um brilho de gratidão reluziu em seus olhos. 

Antes que pudessem continuar a conversa, um grito repentino ecoou pelo ar, interrompendo-os abruptamente. A garota ergueu os olhos, surpresa, reconhecendo imediatamente a voz de Adela, sua amiga, que parecia estar em um estado de urgência.

— Bem, parece que tenho que ir — disse Morrígan, com um sorriso resignado, virando-se na direção do chamado de Adela. — Depois nos encontramos por aí, foi um prazer te rever.

Antes que pudesse se despedir completamente, a voz de Adela continuou a ecoar pelos quatro cantos do bosque, reforçando sua urgência.

— Morrígaaan! — gritou Adela novamente, impaciente.

Morrígan suspirou, balançando a cabeça com um sorriso divertido enquanto se preparava para partir.

— Já vou! Já vou! — respondeu ela, antes de se voltar para Gaelen mais uma vez. — Até logo, Gaelen. Que os horizontes distantes nos unam de novo.

E com um aceno rápido, Morrígan partiu em direção ao chamado de Adela, deixando para trás um Gaelen que, mesmo com sua seriedade habitual, parecia mais leve do que antes.

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