Morrígan permanecia imersa em seus pensamentos durante a aula de música, alheia às explicações do professor. Enquanto ele explicava diligentemente, ela estava perdida em um turbilhão de emoções. Seu coração batia descompassado, e sua mente estava repleta apenas de Gaelen. Ela sabia que o amava, que esse sentimento era profundo e verdadeiro, apesar das brigas passadas.
Cada palavra trocada entre eles, cada olhar compartilhado, apenas alimentava a chama dessa paixão crescente. Morrígan sentia seu coração pulsar mais forte sempre que Gaelen estava por perto, e a simples visão dele era capaz de fazê-la esquecer tudo ao redor. Ela ansiava por se entregar completamente a esse amor, por sentir seus braços ao redor dela, protegendo-a do mundo exterior.
A ideia de que Gaelen seria seu primeiro beijo, o rei de seu coração, a inundava com uma mistura avassaladora de emoções. Ela tinha lido sobre esse tipo de amor intenso nos livros, mas agora estava experimentando isso em sua própria vida, e era mais avassalador do que jamais poderia ter imaginado. Cada pensamento, cada suspiro, era dedicado a ele, e Morrígan não conseguia evitar a sensação de que esse amor era tudo o que sempre desejara.
Apesar do fervoroso desejo de ficar com Gaelen, Morrígan estava ciente da triste realidade que Adela tão brutalmente lhe recordara: seu destino já estava traçado, e ela seria entregue a outro. Essa certeza pairava sobre ela como uma sombra constante, obscurecendo a esperança de um futuro ao lado do homem que amava.
A cada vez que seus olhos encontravam os de Gaelen, Morrígan sentia um aperto no peito, um desejo arrebatador de mergulhar naqueles olhos azuis profundos e se perder no oceano de emoções que ele representava. Mas mesmo diante desse desejo avassalador, ela era assombrada pela dúvida.
Por mais que Gaelen parecesse inclinado a corresponder seus sentimentos, Morrígan não tinha certeza se ele compartilhava do mesmo amor intenso que a consumia. As palavras gentis, os sorrisos cúmplices, tudo isso alimentava sua esperança, mas ela não conseguia decifrar os segredos do coração de Gaelen. Essa incerteza a atormentava, fazendo-a questionar se seus sentimentos eram correspondidos ou se ela estava apenas iludindo a si mesma com fantasias de um amor impossível.
— Parece que você está mesmo viajando, Morrígan. Estou fazendo a mesma pergunta há horas, e você só assente com a cabeça. Me diga, o que atribula esse jovem coração? — o professor perguntou, curioso.
Morrígan levou um susto ao ser trazida de volta à realidade pelas palavras do professor. Ela piscou algumas vezes, tentando focar sua mente nele, mas seus pensamentos continuavam a girar em torno de Gaelen, como se ele fosse o epicentro de todo o seu universo emocional.
Sentindo um rubor de constrangimento subir pelas suas bochechas, Morrígan tentou reunir seus pensamentos dispersos. Ela sabia que não podia revelar a verdadeira causa de sua distração, não podia expor seu coração tão vulnerável diante do olhar inquisitivo do professor. Em vez disso, ela lançou um sorriso sem graça, tentando disfarçar sua confusão.
— Desculpe, professor — ela murmurou, tentando ganhar tempo enquanto sua mente procurava por uma desculpa plausível — Estava apenas refletindo sobre algumas questões pessoais. Nada relacionado à aula, eu prometo.
Ela esperava que suas palavras fossem o suficiente para afastar qualquer suspeita sobre sua verdadeira angústia. Mas por dentro, Morrígan sabia que seus sentimentos por Gaelen eram tão intensos que seria impossível escondê-los por muito tempo.
O professor observou Morrígan com ternura, seus olhos transmitindo uma mistura de compreensão e simpatia. Ele era um homem de experiência, familiarizado com as complexidades do coração humano, e estava disposto a oferecer seu apoio à jovem princesa, mesmo que apenas em palavras sábias e conselhos discretos.
— Você sabe que tenho uma filha da sua idade, princesa. E posso dizer que já estou acostumado com isso. Nessa idade, as questões do coração são altas. Ao mesmo tempo que sabemos de tudo, não sabemos nada. Não estou na posição de que me confie seus segredos, sou um mero servo, mas se precisar de ajuda, estou aqui.
O alívio inundou Morrígan ao ouvir essas palavras reconfortantes. Ela se sentiu compreendida e cuidada, mesmo que apenas por um breve momento. Reunindo sua coragem, ela formulou uma pergunta, aproveitando a oportunidade para desabafar seus sentimentos, ainda que de forma velada.
— Tenho uma dúvida sobre a Canção de Leliana. Foi você que compôs, não foi? Qual o plano de fundo?
O rosto do professor se iluminou com um sorriso sincero, e seus olhos brilharam com uma nostalgia suave e melancólica.
— Sim, minha querida. A Canção de Leliana é uma ode ao meu primeiro amor, à mulher que cativou meu coração como nenhuma outra. Leliana era uma musa, uma visão de beleza e graça que iluminava até mesmo os dias mais sombrios. E o mais especial de tudo, ela era a mãe da minha filha. Era ela quem eu via nos meus sonhos mais profundos, e era por ela que minha alma suspirava em cada acorde daquela canção. Mas o destino, às vezes cruel e imprevisível, nos separou, levando-a para longe de mim. No entanto, seu espírito continua a ecoar em cada nota, em cada palavra dessa melodia eterna. E agora, ao compartilhar essa história contigo, sinto-me honrado em poder preservar sua memória através da beleza da música.
Seus olhos se perderam por um momento, perdidos nas lembranças do passado, antes de retornarem à realidade com um brilho suave.
— Espero que essa pequena revelação sobre a origem da Canção de Leliana tenha saciado sua curiosidade, princesa.
Morrígan refletiu por um momento, absorvendo a revelação dolorosa do professor sobre o destino de Leliana.
— E ela se foi? Ela partiu para outro mundo?
— Não, minha princesa. Ela nos abandonou. Infelizmente, a mãe de minha filha fugiu com outro, e nos deixou só. Hoje, eu cultivo só as boas memórias.
Morrígan sentiu uma onda de indignação e raiva percorrer seu corpo. Como alguém poderia ser tão cruel, abandonando sua própria família, sua própria filha? A injustiça da situação a deixou atordoada.
— Como, professor? Como ela foi capaz de fazer isso com vocês? Vocês tinham uma filha! Além disso, você compôs uma música com seu nome.
O professor abaixou os olhos por um momento, uma sombra de tristeza atravessando seu semblante.
— Nem tudo na vida acontece como gostaríamos, minha princesa. Às vezes, somos confrontados com escolhas difíceis e dolorosas, e nem todos têm a coragem ou a bondade para enfrentá-las da maneira certa. Apesar de tudo, eu escolhi não deixar que a amargura e a decepção me consumissem. O amor que senti por Leliana, e que ainda sinto em algum canto do meu coração, é independente das ações dela. Eu aprendi a aceitar que nem sempre podemos controlar o que os outros fazem, mas podemos escolher como responder a essas situações.
Ele olhou para Morrígan com serenidade, transmitindo uma sabedoria acumulada ao longo dos anos.
— Escrever música, ensinar e cuidar da minha filha foram formas que encontrei de transformar essa dor em algo positivo. O amor verdadeiro é uma força poderosa, minha princesa, e não devemos permitir que as más ações dos outros o roubem de nós. Devemos nos adaptar, encontrar novos caminhos e continuar a buscar a beleza e a bondade no mundo, mesmo quando as circunstâncias parecem sombrias.
Morrígan expressou sua indignação com uma mistura de incredulidade e revolta.
— Mas ela errou com você! Ela te trocou por outro!
O professor assentiu, reconhecendo a dor da traição e a profundidade do sofrimento que isso causara.
— Sim, minha princesa, ela errou. E essa ferida ainda dói, mesmo após todos esses anos. Mas escolhi não permitir que essa dor definisse minha vida. A dor da traição é uma carga pesada, mas também é uma oportunidade para crescermos mais fortes. Aprendi que perdoar não significa esquecer ou justificar as ações dos outros, mas sim liberar-me do peso do ressentimento e da amargura.
Ele olhou nos olhos de Morrígan com compaixão, transmitindo a sabedoria de suas experiências.
O professor sorriu gentilmente para Morrígan, reconhecendo a verdade por trás de suas palavras.
— Mas nem tudo na vida é ruim. Deixe-me contar-lhe algo que descobri este ano...
Ele pausou por um momento, uma expressão de gratidão iluminando seu rosto.
— Este ano, conheci uma linda donzela. Uma mulher cuja presença trouxe luz e alegria para minha vida, de uma maneira que eu jamais imaginei possível novamente. Seu sorriso fez meu coração bater mais rápido, e sua bondade me deu esperança para o futuro. Às vezes, a vida nos leva por caminhos tortuosos, nos lança desafios inesperados, mas também nos presenteia com momentos de beleza e felicidade.
Ele olhou para Morrígan com ternura, compartilhando um vislumbre de sua própria jornada de superação e renovação.
— Ainda há beleza no mundo, minha princesa, mesmo nas sombras mais escuras.
— Então significa que você vai se casar de novo?
O professor sorriu com indulgência diante da curiosidade de Morrígan. Ele balançou a cabeça com um leve riso.
— Er... Creio que não tão cedo, princesa. Mas por falar em casamento, me permita ser bisbilhoteiro. A pessoa que pesa em seu coração estava no banquete, não estava?
Morrígan corou levemente diante da mudança de assunto, surpreendida com a percepção perspicaz do professor.
— Sim, ele estava lá - ela confessou, um sorriso tímido brincando em seus lábios. - Mas, como você disse, nem tudo acontece conforme planejamos.
O professor observou Morrígan com um brilho divertido nos olhos.
— Bom, princesa, como seu amigo, não posso deixar de notar algo evidente. Durante sua interpretação da Canção de Leliana, Kay parecia nutrir um sentimento forte por você. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que não passou despercebida. É gratificante perceber que minha música é capaz de unir corações tão jovens.
Morrígan sentiu o rubor subir às suas bochechas, surpresa com a revelação do professor.
— Como assim, Kay, professor?! Eu não estava falando dele.
O professor inclinou a cabeça em compreensão, percebendo a confusão de Morrígan.
— Entendo, minha princesa. Mas às vezes, o amor surge quando menos esperamos, e em formas que nunca imaginamos. Kay pode ser um pretendente inesperado, mas não menos digno de consideração.
Ele olhou para Morrígan com um brilho de curiosidade nos olhos.
— Oras, pela situação, eu achei que era o filho do conde. Todos os criados falam a mesma coisa. Um burburinho está ecoando no castelo. É sempre assim, as paredes têm ouvidos e as línguas não param de fofocar.
Morrígan sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao imaginar as conversas dos criados sobre sua vida amorosa. Ela sabia que viver no castelo significava estar constantemente sob escrutínio, mas nunca se acostumaria com a intrusão em sua privacidade.
— Eu não me vejo junto de Kay, professor. Não consigo ver nada além de uma boa amizade. Enfim, as pessoas vêem coisas onde não existem. Até hoje acham que eu sou uma bruxa. Imagino que não seja diferente das outras coisas.
O professor assentiu com compreensão, respeitando a decisão de Morrígan. Ele colocou uma mão reconfortante sobre o ombro dela.
— Sim, você tem razão, Morrígan. Acho melhor deixar esse assunto para lá. Você guarda o meu segredo, assim como eu guardo o seu. Pode ser?
Morrígan assentiu, sentindo-se grata pelo apoio e pela compreensão do professor.
— Sim, claro. Seu segredo está seguro comigo, professor.
Eles compartilharam um sorriso cúmplice, unidos pelo laço de confiança que haviam construído naquela conversa íntima.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 27
Comments