Naquela tarde, o clima tinha ficado terrivelmente ruim. As nuvens pesadas pairavam no céu cinzento, ameaçando despejar sua carga de chuva a qualquer momento. No entanto, apesar das condições adversas, o treinamento dos cavalheiros não foi cancelado. No pátio do castelo, os sons metálicos de espadas colidindo ecoavam, misturados com o ruído dos cascos dos cavalos batendo no chão molhado.
Os cavalheiros, vestidos com suas armaduras reluzentes, praticavam habilidades de combate sob a supervisão atenta dos mestres de armas. Alguns se engajavam em duelos amistosos, enquanto outros se dedicavam a exercícios de destreza e agilidade. Ao redor do pátio, escudeiros corriam de um lado para o outro, entregando armas e equipamentos, enquanto os espectadores observavam com admiração e respeito.
Uma fatia do castelo estava reunida para assistir os rapazes treinarem, uma exceção à rotina habitual que havia sido criada naquele dia. A pequena multidão estava ansiosa, observando cada movimento dos guerreiros no pátio com intensa expectativa. Entre os espectadores estavam Morrígan e Adela, com os olhos fixos no campo de treinamento repleto de atividade.
— Nossa, finalmente podemos ter um pouco de entretenimento! A rotina no castelo está tão chata — comentou Adela, entusiasmada.
Morrígan, por outro lado, permanecia apática, alheia à agitação ao seu redor. Sua visão estava desfocada, e seus pensamentos vagueavam para além do momento presente. Ela não conseguia se envolver completamente com a empolgação dos outros, sua mente ocupada com questões mais profundas e preocupações pessoais.
Enquanto os rapazes continuavam seus treinos com habilidade e determinação, Morrígan lutava para encontrar o mesmo entusiasmo. Ela se sentia desconectada da cena diante dela, perdida em suas próprias reflexões e emoções tumultuadas.
Adela lançou um olhar preocupado para sua amiga, percebendo sua falta de envolvimento com o que estava acontecendo ao redor delas.
— Ei, está viva? Estou falando com você! — disse Adela, com uma pitada de irritação em sua voz, enquanto observava Morrígan piscar como se estivesse despertando de um transe.
Morrígan forçou um sorriso para sua amiga, tentando disfarçar sua distração.
— O que disse? — perguntou Morrígan, tentando recobrar o foco da conversa.
A expressão de Adela suavizou-se ligeiramente ao perceber a desconexão de Morrígan com o momento presente.
— Menina, o que foi? Você parece tão distante hoje. Está acontecendo alguma coisa? — indagou Adela, sua preocupação transparecendo em sua voz.
Morrígan hesitou por um momento, lutando para encontrar as palavras certas para expressar o turbilhão de emoções que a consumia. Ela sabia que não podia esconder mais suas preocupações de sua amiga.
— Desculpe, Adela. Estou apenas com muitos pensamentos na cabeça hoje.
Adela colocou uma mão reconfortante no ombro de Morrígan, expressando seu apoio silencioso.
— Entendo. Você sabe que sempre estarei aqui para você, não é? Se precisar conversar sobre qualquer coisa, estou aqui para ouvir — disse Adela com gentileza.
A garganta de Morrígan deu um nó, e seus olhos marejaram ao sentir o calor do gesto de sua amiga.
— Céus, você está bem, minha amiga? Quer ir na enfermaria? — perguntou Adela, preocupação evidente em sua voz.
Morrígan limpou uma lágrima que teimava em escapar de seus olhos, seu coração pesando com a dor que estava prestes a compartilhar.
— Infelizmente os curandeiros não podem resolver meu problema — respondeu Morrígan, sua voz embargada pela emoção.
Adela franziu a testa, perplexa com a resposta enigmática de sua amiga.
— O que foi então, Morrígan? — indagou Adela, seu tom transbordando de preocupação e compaixão.
Morrígan suspirou, sentindo um misto de alívio e apreensão por finalmente abrir-se com sua amiga.
— Ah, minha amiga... É tão complicado de falar — disse Morrígan, lutando para encontrar as palavras certas para expressar seus sentimentos tumultuados.
Ela olhou nos olhos de Adela, buscando conforto e compreensão em seu olhar acolhedor.
Adela passou os olhos pelo pátio, observando os jovens guerreiros no combate de espadas, perdida em pensamentos diante da situação de sua amiga. O que poderia estar incomodando Morrígan a ponto de deixá-la tão perturbada?
Enquanto observava, a multidão aplaudiu, iniciando um novo turno da atividade. Um jovem cavalheiro loiro pegou sua espada e partiu para enfrentar um dos filhos do rei, seus movimentos ágeis e precisos cortando o ar com elegância e destreza.
Adela sentiu um clique em sua mente, uma compreensão repentina do que poderia estar afligindo Morrígan tão profundamente.
— Acho que já sei qual é seu problema — disse Adela, sua voz suave e carregada de empatia, enquanto seus olhos se encontravam com os de Morrígan.
Os olhos de Morrígan pousaram em Gaelen, seu olhar carregado de uma dor silenciosa enquanto suas sobrancelhas se inclinavam, revelando a profundidade de suas emoções. Ela desviou o olhar para Adela, que tentava limpar as lágrimas que teimavam em escapar de seus olhos.
— Esqueça esse assunto, minha amiga. Pare de sofrer por ansiedade. Nem tudo está perdido. Talvez... — Adela hesitou por um momento, lançando um olhar cauteloso ao redor para garantir que ninguém estivesse ouvindo sua conversa. Mesmo assim, ela abaixou o tom de voz, revelando um vislumbre de esperança em suas palavras — Talvez seu pai ceda sua mão para ele. O rei gosta muito dos filhos do conde.
Morrígan olhou para Adela, surpresa com a sugestão ousada de sua amiga. Ela nunca tinha considerado essa possibilidade antes, mas a ideia de que seu pai poderia permitir seu relacionamento com Gaelen trouxe uma chama de esperança em seu coração.
— Você acha mesmo que isso poderia acontecer? — perguntou Morrígan, sua voz repleta de incredulidade e uma pitada de esperança.
Adela deu de ombros, um sorriso tranquilizador se formando em seus lábios.
— Nunca se sabe, minha amiga. O amor tem um jeito engraçado de abrir caminho, mesmo nos lugares mais improváveis. Apenas mantenha sua esperança e continue seguindo seu coração. Quem sabe o que o futuro reserva para vocês dois?
Morrígan sacudiu a cabeça com descrença, sua voz carregada de dor e negatividade.
— Impossível — ela cuspiu as palavras, sua voz ecoando com a angústia que pesava em seu coração — Isso nunca aconteceria.
Adela colocou uma mão reconfortante no ombro de Morrígan, sua expressão suave e cheia de compaixão.
— Morrígan, entendo que você esteja se sentindo assim agora, mas não podemos prever o futuro. Às vezes, as coisas podem surpreender-nos de maneiras inesperadas. Não desista tão facilmente. Você e Gaelen podem encontrar uma maneira de superar todos os obstáculos juntos. Acredite em si mesma, minha amiga.
Morrígan soltou um suspiro, seus ombros caídos com o peso de suas preocupações.
— Não sei, Adela. Parece tão complicado, tão impossível... — ela murmurou, lutando contra as lágrimas que ameaçavam transbordar.
Enquanto Morrígan e Adela conversavam, a plateia ao redor delas irrompeu em outra salva de palmas, anunciando a vitória de Gaelen no confronto de espadas. Os aplausos ecoaram pelo pátio do castelo, misturando-se com os murmúrios animados da multidão que se aglomerava para testemunhar a competição.
Gaelen ergueu a espada triunfante sobre a cabeça, seu rosto iluminado por um sorriso vitorioso. Seus cabelos loiros brilhavam sob a luz do sol, e seus olhos azuis cintilavam com uma mistura de determinação e exultação. Ele parecia radiante, imerso na emoção do momento, enquanto seus músculos tensos relaxavam após o esforço da batalha.
Seu olhar varreu a multidão, como se estivesse procurando por alguém específico entre a aglomeração de espectadores. Seus olhos percorreram as fileiras de pessoas, buscando por um rosto familiar entre a multidão, até que finalmente encontraram seu destino.
Os olhos de Gaelen encontraram os de Morrígan, e por um instante, o tempo pareceu desacelerar ao redor deles. Em meio ao alvoroço da multidão e à agitação do pátio do castelo, seus olhares se encontraram em um momento de conexão silenciosa, uma troca de sentimentos não expressos e promessas implícitas.
Por um breve momento, Morrígan se viu perdida na intensidade do olhar de Gaelen, sentindo-se envolvida por uma sensação de calor e familiaridade. Era como se, naquele instante fugaz, todo o mundo ao seu redor desaparecesse, deixando apenas ela e Gaelen imersos em uma bolha de tempo e espaço, onde nada mais importava além da força magnética que os unia.
Enquanto a multidão continuava a aplaudir e comemorar a vitória de Gaelen, a voz estridente de Clarice ergueu-se acima do clamor, ecoando pelo pátio do castelo. Seus gritos de entusiasmo cortaram o ar, chamando a atenção de todos ao seu redor.
— Bravo, bravo! — ela exclamava com entusiasmo contagiante. — Viva Gaelen, viva!
O fervor de Clarice era evidente, sua voz carregada de uma energia vibrante que preenchia o espaço ao redor dela. Ela agitava os braços no ar, aplaudindo freneticamente enquanto seu olhar se fixava em Gaelen com admiração evidente.
Morrígan foi despertada do seu torpor pelos gritos animados de Clarice, seus olhos piscaram enquanto ela se reorientava para a realidade ao seu redor. A presença enérgica da jovem princesa era como uma rajada de vento fresco, cortando a atmosfera tensa e infundindo o pátio do castelo com uma sensação de fervor e celebração.
No entanto, ao lado de Morrígan, Adela parecia cada vez mais irritada com a efusividade da sobrinha da rainha. Seus olhos estreitaram-se em desaprovação enquanto ela observava Clarice se destacar na multidão, seus gestos exagerados e sua voz estridente se destacando entre os espectadores.
A irritação de Adela era palpável, sua expressão endurecida enquanto ela observava a cena com uma mistura de desconforto e desagrado.
Enquanto Clarice continuava a celebrar com fervor, Adela lançou um olhar significativo para Morrígan, suas sobrancelhas franzidas em desaprovação silenciosa. Parecia que a energia incontrolável de Clarice estava começando a exasperar até mesmo a mais paciente das almas.
— Por que ela tem que ser tão desagradável! Olhe só, Gaelen nem sabe quem é ela. Céus, alguém tire essa menina daí.
Morrígan assentiu, compartilhando o sentimento de sua amiga diante da situação desconfortável. Ela observou Clarice se agitar na multidão, sua voz alta e gestos exagerados chamando ainda mais atenção para si.
— Concordo, Adela. Ela parece não ter nenhum senso de decoro — Morrígan murmurou, seus olhos seguindo os movimentos frenéticos da jovem princesa.
Adela suspirou, seu olhar ainda fixo em Clarice.
— Acho que é o preço que pagamos por ter a realeza tão próxima de nós. Eles sempre trazem consigo um certo... drama.
Morrígan concordou com um aceno de cabeça, embora seu coração se apertasse com a lembrança de sua própria condição naquele ambiente. Como filha do rei, ela sabia que seu destino estava intrinsecamente ligado às expectativas e demandas da realeza.
Enquanto ouvia as palavras de Adela, Morrígan deixou seu olhar vagar pelo pátio, observando a animação de Clarice contrastar com a presença serena de Gaelen. Uma ideia começou a se formar em sua mente, alimentada pelas palavras de sua amiga e pela observação da dinâmica entre os dois.
— Você não acha que, talvez, Clarice tenha um interesse particular em Gaelen? — Morrígan perguntou em voz baixa, mantendo sua voz cautelosa para evitar ser ouvida pelos outros ao seu redor.
Adela arqueou uma sobrancelha, sua expressão se tornando pensativa diante da sugestão de Morrígan.
— Não espero nada de bom dessa garota, Morrígan. Ela sempre foi assim, lançando seus encantos sobre qualquer rapaz que cruze seu caminho. Mas, acredite em mim, o coração de Gaelen não pertence a ela. Pertence a uma certa mocinha de olhos lilases, que fica por aí, ansiosa e preocupada — a concubina dirigiu um olhar divertido para a amiga — Se ele não tivesse sentimentos por você, não teria feito um memorial de desenhos, todos dedicados a você. É óbvio que você é a musa da inspiração dele.
— Sério?! Você acha isso? — Morrígan perguntou, seu coração se aquecendo com as palavras de Adela.
— Claro que sim! Você é muito mais especial do que imagina, Morrígan. Não se deixe abalar pelas incertezas. Confie em mim, o amor de Gaelen por você é tão evidente quanto a luz do sol — afirmou Adela, com um sorriso acolhedor.
Morrígan considerou as palavras de sua amiga, sentindo uma centelha de esperança se acender dentro de si. Talvez Adela estivesse certa, e Gaelen realmente sentisse o mesmo por ela. Ela se permitiu imaginar um futuro em que seus sentimentos fossem correspondidos, e a ideia trouxe um sorriso tímido aos seus lábios.
— Obrigada, Adela. Isso realmente acalma meu coração.
— Sempre estarei aqui para te apoiar, Morrígan. Agora, vamos aproveitar o espetáculo e deixar o destino seguir seu curso — disse Adela, com determinação em sua voz.
Juntas, as duas amigas voltaram sua atenção para o pátio, prontas para testemunhar os eventos que estavam prestes a se desenrolar.
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Atualizado até capítulo 27
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