O salão do palácio reluzia com o esplendor de antigamente, sua grandeza e majestade imponentes como sempre. Luzes cintilantes pendiam dos lustres dourados, banhando o ambiente em uma aura calorosa e acolhedora. Era como se o tempo tivesse estagnado, preservando os dias gloriosos do passado.
No centro do salão, sobre uma mesa de madeira maciça ricamente ornamentada, o rei estava assentado entre os poderosos de seu reino. Seu trono, embora não fosse físico, era evidente em sua posição central e na reverência que o cercava. Ele estava rodeado por sua corte, uma assembleia de nobres e cortesãos que se reuniam em torno da mesa real. A mesa, estendendo-se em uma imensa configuração, estava repleta de iguarias dignas de banquetes régios. Os aromas deliciosos de assados, frutas frescas e vinhos finos pairavam no ar, aguçando os sentidos de todos os presentes.
Espalhados ao redor da mesa, encontravam-se os convidados ilustres, uma mistura diversificada de diplomatas, cortesãos e amigos leais do rei. Entre eles, destacavam-se os embaixadores de reinos distantes, trajando túnicas exóticas e ornamentos reluzentes, que acrescentavam um toque de exotismo à atmosfera já rica do salão.
Enquanto o rei presidia o banquete real, sua família real ocupava um lugar de destaque no salão. As concubinas e seus filhos desfrutavam da festividade do ambiente, imersos na atmosfera de luxo e celebração. Entre eles, Taliesen, o mais jovem dos moços, encarava maravilhado as iguarias dispostas à sua frente, enquanto sua irmã mais nova, Morrígan, auxiliava-o com carinho, alimentando-o com cuidado.
Ao lado, Morgause, uma das esposas do rei, envolvia-se em uma animada conversa com Adela e as demais esposas, compartilhando histórias e risadas enquanto desfrutavam das delícias do banquete. O clima era de camaradagem e alegria, como se as preocupações do mundo exterior fossem temporariamente esquecidas em meio à atmosfera festiva.
Enquanto isso, Gaelen e Kay, os convidados de honra do rei, ocupavam seus lugares à mesa dos filhos mais moços do rei. Era um lembrete claro de seu vínculo estreito com o monarca e sua linhagem real. Percival, um dos jovens mais intrépidos, entretinha a todos com suas histórias exageradas e sua presença animada. Seu entusiasmo contagiava os demais, que ouviam suas narrativas com atenção, misturando risos e admiração diante de suas proezas fictícias.
Às vezes, Morrígan se pegava encarando a mesa dos filhos do rei. Seus olhos pairavam em Gaelen, observando sua alegria durante a festa. Enquanto isso, Kay, o irmão mais velho, permanecia sério, mas era notória sua satisfação. Ela se perguntava sobre as preocupações que poderiam ocupar a mente de Kay, mesmo em meio à celebração. Seria a responsabilidade pelo futuro do reino pesando sobre ele, ou algo mais pessoal?
Morrígan não saberia dizer. Mas quando olhava para o irmão dele, não conseguia evitar um leve sorriso. Gaelen estava tão bonito essa noite!
Quando colocou os olhos nele, voltou a pensar no presente que recebera dele. Nunca havia visto algo tão doce, e ao mesmo tempo tão nobre. O filho do conde, através de Adela, havia enviado uma caixinha contendo todos os desenhos que havia feito de Morrígan. Era uma quantidade considerável, e além disso, Gaelen havia caprichado em todos eles. Ela não se via tão bonita assim, mas através dos olhos de Gaelen, parecia radiante.
A alegria de Morrígan foi subitamente enterrada quando percebeu que a rainha a observava do outro lado da sala. O rosto de Lyssandre era uma geleira, e ela não fingia seu descontentamento diante de todas as festividades do castelo.
Morrígan ajeitou sua compostura, sentindo-se desconfortável sob o olhar gélido da rainha. Era como se a presença austera de Lyssandre congelasse o ar ao seu redor, dissipando a atmosfera de celebração que havia preenchido o salão.
Então, de repente, o pai de Morrígan invocou seu nome.
— Morrígan, minha filha amada. Achegue-se ao seu pai.
Com um suspiro aliviado por poder se afastar do olhar intimidador da rainha, Morrígan dirigiu-se prontamente ao encontro de seu pai. Ela sentiu um lampejo de esperança ao se aproximar dele, encontrando conforto na familiaridade de sua presença.
— Sim, meu pai? — ela respondeu, tentando manter a voz firme apesar do turbilhão de emoções que a invadia.
Seu pai sorriu calorosamente para ela, seus olhos brilhando com orgulho e afeto.
— Morrígan, minha querida, toque uma música na harpa para nós. Não via a hora de te ver usando esse instrumento! Ouvi dizer que você é muito talentosa, Lyssandre te elogiou muito — disse seu pai, com um brilho de expectativa nos olhos e um sorriso afetuoso nos lábios.
Morrígan sentiu um calor reconfortante se espalhar por seu peito ao ouvir as palavras de seu pai, mas antes que pudesse responder, a rainha Lyssandre interveio com um sorriso falso nos lábios:
— Oh, sim, Morrígan é de fato talentosa, não há dúvida quanto a isso. Algumas coisas precisam ser balanceadas na vida, não é mesmo? Nada pode ser tão ruim, ao ponto que não tenha nada de bom. Além disso, precisamos agradecer ao Divino, pois todos os talentos são deles, e não nossos.
O rei, notando a tensão no ar, decidiu intervir com uma pitada de humor para descontrair o momento.
— Ah, minha querida Lyssandre, sempre encontrando o equilíbrio perfeito nas suas observações! — disse ele, com um sorriso gentil. — Deixe-nos aproveitar a música de Morrígan agora, tenho certeza de que ela nos encantará com sua habilidade na harpa. Além disso, quero que meus hóspedes de honra, Kay e Gaelen, sejam homenageados o máximo nessa noite. Minha filha, por favor! Nos abençoe com sua música.
Com um aceno conciliatório para a rainha e um sorriso encorajador para Morrígan, o rei esperava dissipar a tensão e permitir que a celebração continuasse sem contratempos.
Morrígan, grata pelo apoio de seu pai, dirigiu-se à harpa com renovado ânimo. Ela estava determinada a demonstrar seu talento e compartilhar sua paixão pela música, deixando para trás quaisquer comentários desagradáveis da rainha.
Os dedos da jovem tocaram o instrumento incrustado de diamantes, as cordas da harpa tão afinadas e sensíveis a qualquer toque.
Ela seguiu uma partitura que havia escolhido cuidadosamente, uma música emocionante, lenta e romântica. O professor havia batizado a peça como "Canção de Leliana", descrevendo-a como uma melodia que parecia emergir dos cantos mais profundos da alma.
À medida que as primeiras notas ressoavam pelo salão, uma atmosfera de magia e encantamento envolveu todos os presentes. A melodia era como um rio sereno, fluindo suavemente através dos corações e das mentes daqueles que a ouviam, levando-os a um reino de sonho e emoção.
Quando tocava, Morrígan costumava pensar em coisas que inspirassem a canção que estava interpretando. E naquela música tão singela, ao fechar os olhos, ela imaginou a melhor coisa que conseguiria: O rosto de Gaelen.
Enquanto tocava, cada nota da melodia parecia ecoar a doçura e a ternura que ela associava a Gaelen. Cada acorde era como uma expressão de seu amor, transmitindo toda a intensidade de suas emoções para aqueles que estavam ouvindo.
Diante daquela multidão, Morrígan não tinha dúvidas: ele estava ali, aproveitando da música. Ela não precisava vê-lo para sentir sua presença, pois cada acorde que emanava da harpa carregava consigo a promessa do seu sentimento. E, de alguma forma, Morrígan sabia que Gaelen estava lá, ouvindo cada nota com o coração aberto, envolvido pela mesma magia que os unia.
Terminando a música, ela abriu os olhos. Os súditos do rei aplaudindo sua performance, algumas pessoas com lágrimas nos olhos, incluindo a rainha. Às vezes, aquele gelo derretia-se, e as lágrimas escapavam de seus olhos.
Enquanto seus olhos encontravam os de Gaelen, ela simplesmente sorriu. Esperava que ele soubesse que aquela música era dedicada a ele.
O sorriso de Morrígan era como um segredo compartilhado entre eles, uma expressão silenciosa de todo o amor e gratidão que ela sentia por ele. Mas também havia algo mais ali: um desejo sincero de retribuir o presente que ele lhe dera mais cedo, uma caixinha repleta de desenhos que capturavam sua beleza de uma maneira única e encantadora.
Ela esperava que aquele momento fosse um marco da reconciliação dos dois, uma oportunidade para renovar os laços que os uniam e deixar para trás qualquer desentendimento passado.
Enquanto o salão ecoava com os aplausos e elogios, Morrígan permitiu-se ser envolvida pela doce certeza de que Gaelen estava ali, compartilhando aquele momento especial com ela, de alguma forma invisível aos olhos, mas palpável em seus corações.
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Atualizado até capítulo 27
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