CAPÍTULO 8

Morrígan olhou para fora da janela, vendo a carruagem da família de Gaelen se distanciando lentamente. Um nó se formou em sua garganta enquanto ela percebia que seu melhor amigo partia sem nem mesmo dizer adeus. Ela sabia que era a própria culpada por essa partida silenciosa.

Uma sensação de desolação tomou conta dela quando aceitou a realidade: Gaelen nunca mais falaria com ela. Ele a odiaria para sempre. E, por mais que isso doesse, Morrígan resignou-se ao fato de que não havia mais nada que pudesse fazer para consertar as coisas.

Aceitando ser vista como a vilã da história, Morrígan pensou no bem de todos, especialmente de sua mãe. Ela sabia que qualquer tentativa de explicar seus motivos só causaria mais dor e confusão. Ela preferia que todos a vissem como a culpada, se isso significasse proteger sua família da perseguição da rainha.

A menina deixou escapar um suspiro pesaroso ao lembrar dos planos e sonhos que compartilhava apenas em seus pensamentos mais íntimos. Ela tinha tantos planos para os dois, tantas esperanças que nunca ousaram falar para ninguém.

Na mente de Morrígan, eles se casariam quando fossem mais velhos, construiriam um futuro juntos e se amariam para sempre. Gaelen era a única pessoa que fazia a ideia do casamento parecer algo belo e empolgante, muito diferente das convenções sociais impostas aos jovens de sua época. Mas como todas as coisas boas, aqueles sonhos também desmoronaram diante de seus olhos.

Agora, se via diante da dura realidade de que aqueles planos eram apenas ilusões, e o futuro que ela imaginara ao lado de Gaelen se desfez como fumaça ao vento. Ela se perguntava se algum dia seria capaz de sonhar novamente, se seria capaz de encontrar alguém que a fizesse sentir o mesmo que Gaelen um dia fez.

— Sua tola, ele nunca gostaria de alguém como você — a voz de Clarice ecoou pelo quarto, fazendo Morrígan se virar com surpresa.

— O que você está fazendo aqui? — Morrígan perguntou, tentando manter a compostura.

Clarice deu um sorriso maldoso.

— A mesma coisa que você, sua bruxa. Agora esse quarto é meu, e você vai dormir com os porcos. Foi isso que titia falou.

Morrígan franziu o cenho, sentindo o calor da raiva subindo em suas bochechas.

— Você não pode simplesmente chegar aqui e me expulsar!

Clarice deu de ombros, exibindo um ar de superioridade.

— Eu posso fazer o que eu quiser. E você não é nada além de uma pária neste castelo. Todos sabem disso.

Morrígan cerrou os punhos, lutando para manter a calma.

— Você é tão arrogante quanto sempre foi, Clarice. Mas eu não vou deixar você me intimidar.

Clarice soltou uma risada de escárnio.

— Oh, você é tão ingênua. Acha que pode me desafiar? Acha que tem alguma chance contra mim?

Morrígan manteve seu olhar firme.

— Eu não tenho medo de você, Clarice. E vou lutar pelo que é meu. E até onde sei, esse quarto foi dado exclusivamente pelo meu pai, coisa que você não tem. Nem pai, nem mãe...

Morrígan aproveitou a oportunidade, sua expressão se tornando ainda mais desdenhosa enquanto observava a reação de Clarice.

— Oh, me desculpe, eu esqueci que seus pais estão... ausentes — disse Morrígan, enfatizando a palavra com um tom de desprezo. — Mas não se preocupe, eu tenho certeza de que eles estão muito orgulhosos de como você está lidando com a situação. Afinal, você está seguindo fielmente o legado deles de manipulação e hipocrisia.

As palavras de Morrígan atingiram Clarice como um soco no estômago. Com os olhos cheios de fúria, Clarice começou a tremer de raiva.

— Como você ousa... — começou Clarice, sua voz tremendo com emoção reprimida. Mas então, ela se interrompeu, e seus lábios se curvaram em um sorriso amargo. — Você pensa que é tão esperta, não é? Pensando que pode me provocar dessa maneira.

Morrígan manteve sua compostura, observando com calma enquanto Clarice começava a se descontrolar.

— Eu sei o que você está fazendo, Morrígan — disse Clarice, sua voz subindo de volume. — Você está tentando me difamar, tentando me fazer parecer uma idiota. Mas eu não vou permitir isso! Você é uma bruxa feia, horripilante, cruel! — os olhos da menina começaram a marejar.

Morrígan apenas deu de ombros, mantendo sua expressão indiferente. Ela sabia que não havia nada que pudesse dizer para acalmar a fúria de Clarice.

— Pode gritar o quanto quiser, Clarice — disse Morrígan, sua voz calma e firme. — Isso não vai mudar nada. Eu sei quem eu sou, e não preciso da sua aprovação para isso.

— Você é uma ratazana imunda, uma serpente venenosa que se esconde nas sombras! Você não passa de uma egoísta manipuladora, uma bruxa desprezível que se alimenta da desgraça alheia! Você é a vergonha da sua família, um fardo para todos ao seu redor!

— Isso, fale mais. Desabafe. É isso que você sabe fazer, não é mesmo? Jogar suas palavras venenosas como uma criança mimada! E onde você aprendeu esses insultos, em uma escola para órfãos negligenciados? Você é patética!

Clarice ficou momentaneamente atordoada com a retaliação de Morrígan, não esperando que sua vítima respondesse com tanta firmeza. Sua expressão de superioridade desvaneceu-se, substituída por uma mistura de surpresa e raiva.

Morrígan manteve seu olhar firme, recusando-se a ser intimidada pela reação de Clarice. Ela sabia que precisava permanecer forte diante das investidas de sua rival.

Ela não teve tempo de reagir quando Clarice, cheia de fúria, se lançou sobre ela como uma gata selvagem. Ambas caíram no chão com um baque surdo, os gritos de raiva de Clarice ecoando pelo quarto.

Determinada a não ceder diante da agressão de sua rival, Morrígan revidou com a mesma intensidade. Elas se debatiam no chão, trocando golpes e insultos enquanto a briga se intensificava.

Os móveis do quarto rangiam com o impacto da luta, mas Morrígan estava determinada a não deixar que Clarice a derrotasse tão facilmente. Ela canalizou toda a sua força e raiva, lutando com todas as suas forças para manter sua posição.

— Saia do meu quarto, sua bruxa! — a sobrinha da rainha gritou, enquanto tentava revidar os tapas.

Morrígan sentiu o aperto das mãos de Clarice em seu pescoço, seu coração batendo descontroladamente enquanto lutava para respirar. As veias em seu pescoço pareciam pulsar com mais intensidade a cada segundo que passava, seu rosto se tornando cada vez mais vermelho com a falta de ar.

Desesperada, ela tentou empurrar a sobrinha da rainha para longe, suas mãos agarrando os pulsos da outra garota enquanto lutava contra o aperto em sua garganta. Cada segundo parecia uma eternidade, e Morrígan sentiu uma onda de pânico se espalhar por todo o seu corpo enquanto lutava pela sua vida.

Os sons ao seu redor pareciam distantes e abafados, sua visão começando a se tornar turva à medida que a falta de oxigênio começava a afetá-la. Ela sabia que precisava agir rápido, ou seria tarde demais.

Morrígan fechou os olhos, uma sensação estranha tomando conta dela enquanto se concentrava em sua mente. Uma imagem surgiu, a figura sombria que a assombrava na cela, pairando em sua visão interior. Agora, seus olhos, agora pulsava com um roxo vibrante, refletiam uma determinação feroz.

Então, as palavras brotaram de seus lábios numa língua antiga e misteriosa, uma linguagem ancestral que ela nunca soubera que possuía. As palavras ecoaram pelo quarto, carregadas de poder e magia.

— "Gara'nethar" — disse Morrígan, as palavras fluindo de sua boca com uma força desconhecida.

No mesmo instante, Clarice foi arremessada como uma bola, voando pelo quarto antes de bater violentamente contra a parede. Um grunhido de dor escapou de seus lábios enquanto ela se contorcia no chão, atordoada pelo impacto.

Morrígan observou Clarice reclamando de dor, massageando a cabeça enquanto se levantava do chão.

— Aí, sua bruta... Minha cabeça dói! — Clarice resmungou, lançando um olhar acusador para Morrígan.

A menina conteve um sorriso, compreendendo que Clarice não havia percebido a verdadeira natureza do que acabara de acontecer. Ela não percebia que a força que a lançara contra a parede não era braçal, mas totalmente mágica. "Menos mal", Morrígan pensou, "Seria um ponto a menos para me chamar de bruta".

— Desculpe por isso, Clarice. Não foi minha intenção machucá-la… É que você veio para cima primeiro, e eu aprendi a nunca apanhar dos outros, sem antes revidar — disse Morrígan, sua voz suavizando-se com genuína preocupação.

Clarice lançou um olhar desconfiado para Morrígan, ainda massageando a cabeça dolorida.

— Apenas fique longe de mim, sua... sua bruta! Você tem a força de mil cavalos! — Clarice rosnou, antes de se virar e sair do quarto, deixando Morrígan sozinha com seus pensamentos tumultuados e uma nova consciência de seu próprio poder mágico.

A porta se abriu bruscamente, e Morgause entrou acompanhada por algumas criadas, suas mãos segurando velas que lançavam uma luz oscilante sobre a cena. Os olhares preocupados das criadas ecoavam sua própria apreensão enquanto a mãe de Morrígan avançava para investigar o tumulto. Ao deparar-se com Clarice no chão, a surpresa e incredulidade se refletiram em seus olhos.

— Eu achei que estava ouvindo coisas, mas então é verdade. O que está fazendo aqui, senhora Clarice? Até onde sei, esse quarto é de Morrígan. E você, Morrígan, me explique imediatamente o que está acontecendo aqui. Porque esses gritos? Vocês acordaram todos. Isso é coisa que se faça?

— Mãe, eu...

— Senhora Morgause, sua filha é uma bruta! — Clarice interrompeu.

— Mas ela veio aqui só para me bater, mãe. Olhe! — Morrígan apontou para os vergões em seu pescoço, onde mostrava provas de asfixia.

Morgause olhou de Clarice para Morrígan, sua expressão alternando entre incredulidade e desapontamento diante da situação.

— Foi você que fez isso, Clarice? — Morgause perguntou novamente, sua voz carregada de reprovação.

Clarice hesitou por um momento, tentando encontrar as palavras certas para se explicar.

— Não, quer dizer... — ela começou, mas foi interrompida pela repreensão severa de Morgause.

— Eu não acredito nisso! As duas com idade suficiente e ainda agindo como crianças! Brigando uma com a outra, como se fossem seres da selva. Céus, onde vamos parar assim? — Morgause lamentou, sua voz carregada de frustração e desapontamento.

Ela se virou para Clarice com um olhar firme.

— Vá para seu quarto, Clarice. Onde você tirou essa ideia de vir para cá?! Seu lugar é do outro lado do castelo. Sua tia vai ficar decepcionada quando souber que anda sassaricando no harém, em busca de confusão.

Clarice abaixou a cabeça, envergonhada pela reprimenda de Morgause, e saiu do quarto em silêncio.

Então, Morgause se voltou para Morrígan, sua expressão suavizando-se ligeiramente, mas ainda carregada de preocupação.

— E você aí, Morrígan, pare de rir! — Morgause repreendeu, percebendo o sorriso nervoso da filha. — Quero ter uma conversa séria com você.

Antes de iniciar seu sermão, Morgause dirigiu um olhar de aprovação para Morrígan.

— Você fez bem em não aceitar ser agredida por ninguém, minha filha. Devemos nos defender quando necessário — disse Morgause, reconhecendo a importância de Morrígan ter se defendido.

No entanto, logo em seguida, sua expressão endureceu novamente, e ela voltou sua atenção para sua filha com uma mistura de repreensão e preocupação.

— Mas isso não justifica entrar em brigas, Morrígan. Como minha filha, você deve aprender a controlar suas emoções e resolver conflitos de forma pacífica. Eu espero mais de você, querida. Esta não é a maneira adequada de lidar com problemas, e não é a primeira vez que você faz isso — repreendeu Morgause, sua voz firme, mas cheia de amor materno.

Morrígan abaixou os olhos, sentindo o peso da desaprovação de sua mãe. Ela sabia que tinha cometido um erro e que precisava aprender com isso.

— Eu sinto muito, mãe. Eu sei que agi errado — disse Morrígan, sua voz carregada de remorso.

Morgause suspirou, sentindo-se aliviada pela filha reconhecer seus erros, mas ainda preocupada com seu comportamento impulsivo.

— Eu sei que você é capaz de fazer melhor, Morrígan. Mas você precisa se esforçar mais para controlar suas reações. Prometa-me que vai tentar fazer as coisas de maneira diferente da próxima vez — disse Morgause, sua voz suavizando-se enquanto ela estendia a mão para a filha.

— Eu prometo, mãe. Eu farei o meu melhor — respondeu Morrígan, aceitando a mão estendida de Morgause com gratidão.

Morrígan sorriu satisfeita ao perceber que sua mãe não tinha ideia de que ela havia utilizado um feitiço de magia. Já estava farta de repreensões, e se a mãe soubesse...

Ela nem queria pensar.

Por fim, as duas voltaram para suas rotinas de descanso. Enquanto Morrígan tentava dormir, se sentindo poderosa pelos últimos acontecimentos, Morgause tentava aliviar as dores nas costas, pensando que o dia da chegada de seu filho estava próximo, e que ela precisava descansar até lá, sem poder se estressar com as traquinagens da filha.

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