Enquanto Morrígan corria pelos campos floridos, o sol lançava seus raios dourados sobre o reino de Astaroth, pintando o céu com tons de laranja e rosa. O vento brincava com os fios platinados de seu cabelo, enquanto ela se deleitava com a sensação de liberdade que só os campos abertos podiam proporcionar.
Essa era o tipo de sensação que sua mãe, Morgause, a concubina do rei Alistair, não conseguia lhe restringir. De forma furtiva, Morrígan fugiu do harém e se esgueirou para o lado de fora, onde o dia se revelava em toda a sua beleza.
Além da teimosia e do senso de independência, Morrígan herdara os olhos cor de lilás de sua mãe. Muitas pessoas na corte a olhavam de forma torta, e os garotos da sua idade a chamavam de feiticeira. Era como se a incomum coloração de seus olhos fosse uma marca de sua linhagem, uma lembrança constante de sua herança misteriosa e envolta em segredos.
Morrígan nem sempre gostava dessa característica em si mesma. No começo, ela se sentia desconfortável com a ideia de ser vista como uma feiticeira, temendo ser rejeitada ou isolada ainda mais pela sociedade. No entanto, à medida que crescia e aprendia a se aceitar completamente, começava a compreender que sua singularidade era uma fonte de poder e que poderia usar essa reputação a seu favor.
Aos poucos, Morrígan começou a perceber que poderia usar sua reputação de feiticeira a seu favor. Ela deixava que os garotos a temessem, lançando-lhes olhares enigmáticos e sussurros misteriosos sempre que passava por eles. Logo, sua presença inspirava respeito e até mesmo um pouco de medo, e aqueles que antes a ridicularizavam agora a tratavam com cautela.
Embora as meninas ainda a rejeitassem, seja por rivalidade feminina ou por inveja, os meninos começaram a abraçar a ideia da sua presença. Alguns se tornaram seus amigos com o objetivo de obter benefícios, pensando que Morrígan tinha algum poder arcano. Ela, que não era boba, deixava que eles alimentassem essa fantasia, e se não fizessem o que pedisse, ameaçava-os com a possibilidade de transformá-los em sapos.
A reputação de Morrígan como uma possível portadora de poderes mágicos se espalhou rapidamente entre os jovens da corte. Alguns a cercavam em busca de favores, enquanto outros apenas queriam estar associados à sua aura de mistério e perigo. Morrígan percebeu que podia usar isso a seu favor, manipulando sutilmente as expectativas daqueles ao seu redor.
Embora gostasse dessa sensação de poder, ela sabia que nenhum deles eram seus amigos. Aliás, somente uma pessoa, a qual não tinha nem mesmo laços de sangue, era realmente verdadeira.
Seu nome era Gaelen, e ele estava a esperando logo adiante. Seu amigo estava sentado debaixo de uma macieira, enquanto tinha um caderno em mãos.
Morrígan sentiu um calor reconfortante preencher seu coração ao avistar Gaelen.
Ao se aproximar, Morrígan percebeu que Gaelen estava imerso em seus escritos, perdido em seu próprio mundo de histórias e imaginação. Ela sorriu ao vê-lo tão concentrado, sabendo que ele encontrava refúgio na arte da escrita tanto quanto ela encontrava nos campos de Astaroth.
— Olá, Gaelen — disse Morrígan, interrompendo a concentração de seu amigo.
Gaelen levantou os olhos do caderno, seu sorriso iluminando seu rosto.
—Morrígan! Que prazer vê-la novamente. Fiz um desenho seu, olha!
Morrígan se juntou a ele sob a sombra da árvore, sentindo-se em paz na presença de seu amigo verdadeiro.
Morrígan inclinou-se sobre o ombro de Gaelen para observar o que ele havia criado. Seus olhos cor de lilás se arregalaram com admiração quando viu a representação cuidadosa de si mesma nas páginas do caderno. Cada traço capturava sua essência de uma forma única e encantadora.
— Gaelen, é maravilhoso! Nem parece que sou eu!
— Deixa de besteira! Você é o ser mais belo que já vi em Astaroth, e não estou brincando.
Embora Gaelen não sentisse os efeitos das suas palavras, isso fez com que a garota corasse. Morrígan se sentiu bem em saber que ele a via dessa forma, já que as pessoas ao redor não pensavam o mesmo. Além disso, ele também era um garoto muito bonito, com olhos azuis, os quais tinha puxado do Conde Leofric.
Os pensamentos de Morrígan se voltaram para o futuro, onde visualizava Gaelen crescendo e se tornando um grande cavaleiro. Ela imaginava que ele deveria se tornar um jovem com uma presença imponente, com uma beleza ainda maior do que possuía no momento. E, ao contemplar esse futuro, um desejo secreto começou a crescer dentro dela.
Morrígan queria poder se casar com ele, quando chegasse a hora. Não apenas por causa da profunda amizade e conexão que compartilhavam, mas também porque o via como seu igual, seu par perfeito.
A realidade cruel dos deveres reais pesava sobre Morrígan, ameaçando seus desejos mais íntimos. Ela sabia que, como filha do rei, suas escolhas pessoais estavam limitadas pelas exigências políticas e pelas alianças entre reinos. A perspectiva de ser entregue em casamento para algum príncipe em troca de alianças políticas era uma possibilidade sombria que pairava sobre ela, negando-lhe a chance de seguir seu coração.
Morrígan não queria isso. Ela desejava poder escolher seu próprio destino, decidir quem amar e com quem compartilhar sua vida. Mas sabia que as expectativas da corte e as responsabilidades reais tornavam essa possibilidade quase impossível.
Enquanto ela lutava com esses pensamentos, a voz de Gaelen quebrou seu devaneio, trazendo-a de volta ao presente.
— Toc, toc... Está aí? — Gaelen perguntou curioso, percebendo Morrígan imersa em seus próprios pensamentos.
— Ei, o que acha de algumas maçãs, hein? Acho que já consigo subir na árvore e pegá-las para você, já que você gosta tanto desse pé.
Morrígan forçou um sorriso, agradecendo pelo gesto amável de Gaelen, mas sua mente ainda estava mergulhada na incerteza e na angústia.
— Eu não sei, Gaelen. Acho melhor pedir para algum adulto fazer isso para você. O pé de macieira é grande, e você pode acabar caindo. — respondeu ela, desviando o olhar para evitar que seu amigo visse a tristeza em seus olhos.
— Ah, Morrígan, não precisa se preocupar comigo. Estou me sentindo pronto para isso. Em breve, serei um grande guerreiro, e não deveria sentir medo de nada. Além disso, sei que você adora essas maçãs, e não vejo a hora de poder pegar algumas para você. Deixe-me tentar, por favor. Prometo que serei cuidadoso.
Seu tom era gentil, mas firme, refletindo a confiança que ele tinha em suas próprias habilidades e no futuro que vislumbrava para si mesmo. Morrígan sentiu-se dividida entre a preocupação com a segurança de Gaelen e o desejo de não desapontá-lo. Por fim, ela suspirou, cedendo à insistência de seu amigo.
— Tudo bem, Gaelen. Mas por favor, seja cuidadoso. Não quero que você se machuque por minha causa — disse ela, sua voz carregada de apreensão.
— Tudo bem, Gaelen. Mas por favor, seja cuidadoso. Não quero que você se machuque por minha causa — disse ela, sua voz carregada de apreensão.
— Bobagem! — ele disse, se virando para subir.
O garoto largou seu caderno na grama, e com ânimo, começou a subir no tronco da macieira. Era uma árvore bem grande e farta, e as frutas se pediam de forma robusta.
Morrígan observou Gaelen com um misto de preocupação e orgulho enquanto ele começava a escalar o tronco da macieira. Seu coração batia mais rápido conforme ele se aproximava das pesadas frutas que pendiam dos galhos.
Gaelen progredia com confiança, seus movimentos fluidos e determinados. Ele parecia estar no seu elemento, mostrando uma destreza que deixava Morrígan maravilhada. No entanto, a apreensão persistia em seu peito, lembrando-a dos perigos que sempre acompanhavam as atividades arriscadas como aquela.
Enquanto Gaelen alcançava as maçãs desejadas, Morrígan prendeu a respiração, torcendo para que ele conseguisse pegá-las com segurança. Mas então, no momento em que ele esticou a mão para alcançar a fruta mais alta, seus pés escorregaram no tronco liso, e ele perdeu o equilíbrio.
Morrígan gritou em agonia quando viu Gaelen cair da árvore em uma trajetória desajeitada. O tempo pareceu desacelerar enquanto ele girava pelo ar antes de atingir o chão com um baque surdo.
Um silêncio pesado se instalou sobre o campo enquanto Morrígan corria até o corpo imóvel de Gaelen. Seu coração martelava no peito enquanto ela se ajoelhava ao lado dele, tremendo de medo e angústia.
— Gaelen! — ela gritou, sacudindo-o suavemente. — Por favor, acorde!
— Morrígan, socorro... Eu sinto muita dor.
— Gaelen, vou chamar alguém para te socorrer — respondeu Morrígan, sua voz trêmula com a aflição.
Morrígan se levantou rapidamente e correu em busca de ajuda, seu coração pesado de preocupação enquanto se afastava da macieira. Ela sabia que cada segundo era precioso, e que Gaelen precisava de cuidados médicos imediatos para lidar com seus ferimentos.
Enquanto corria em direção ao castelo, o rosto de Morrígan estava manchado com lágrimas, sua mente turva com o medo pelo destino de seu amigo. Ela rezava silenciosamente para que ele se recuperasse, prometendo a si mesma que faria tudo ao seu alcance para garantir que ele recebesse a ajuda de que precisava.
Enquanto isso, Gaelen permanecia deitado no chão, lutando contra a dor lancinante que percorria seu corpo.
Morgause caminhava de um lado para o outro, seu vestido de seda violeta fluindo no ar, criando um suave murmúrio na sala. Sua barriga proeminente revelava a nova vida que se formava dentro dela.
Seu cabelo, oposto ao da filha, era escuro como a noite, enquanto seus olhos, intensamente lilases, espelhavam os da mãe. Com uma expressão de preocupação, uma mão repousava em seu queixo.
— Não sei mais o que fazer com você, minha filha. Quantas vezes eu já lhe disse para ficar em casa e parar de agir como um menino. Você é a filha do rei e precisa agir de acordo com isso. E agora, a situação piorou ainda mais, pois o jovem Gaelen está inconsciente por sua causa. O que se passa em sua mente, Morrígan?
— Mas eu não fiz nada, mãe! Ele que decidiu subir naquela árvore, e eu até mesmo implorei para que não o fizesse.
Lágrimas começaram a formar-se em seus olhos, refletindo a dor e a injustiça que sentia. Morrígan sentia o peso do mundo sobre seus ombros, como se carregasse não apenas a culpa injusta, mas também o fardo da tragédia que testemunhara.
As sombras dançavam ao redor dela, criando um cenário sombrio que combinava com sua angústia. A sala parecia repleta de silêncio, ecoando apenas os soluços contidos de Morrígan.
— Por favor, mãe, você precisa acreditar em mim. Não posso suportar ser responsabilizada por algo que não fiz.
A voz de Morrígan tremia, carregada de emoção e desespero. Mas, apesar de suas súplicas, sua mãe permaneceu imóvel, endurecida pela pressão das responsabilidades reais.
— Sem mais, Morrígan! Cale-se!
A voz de sua mãe cortou o ar como um chicote, ecoando com autoridade e desaprovação. O silêncio que se seguiu pareceu sufocante, como se as palavras repreensivas ainda pairassem no ar, pesadas e acusatórias. Morrígan se encolheu diante da repreensão, sentindo-se pequena e impotente diante da firmeza materna.
— Mas mãe, eu…
— Eu disse calada!
As palavras da mãe interromperam qualquer tentativa de defesa de Morrígan. Ela se viu incapaz de continuar, sua voz silenciada pela autoridade materna.
A menina então desabou em lágrimas, sua tristeza ecoando pela sala, preenchendo o espaço com sua melancolia infantil. Os soluços de Morrígan eram como notas dolorosas em uma sinfonia de desespero, revelando a angústia que ela carregava dentro de si.
— Engole o choro, agora! Que tipo de mulher você vai se tornar se continuar assim? Pare de chorar, ou então você vai apanhar.
As palavras da mãe cortaram o ar como lâminas afiadas, carregadas de advertência e ameaça. Morrígan sentiu seu coração apertar diante da crueldade das palavras, mas ela se esforçou para conter as lágrimas, sabendo que desobedecer só traria mais dor.
A sala pareceu encolher ao redor dela, o ar pesado com a tensão que pairava entre mãe e filha. Morrígan lutou para controlar seu choro, tentando suprimir as emoções que ameaçavam transbordar a qualquer momento.
— Agora se recomponha! Ande, você já é uma mulher!
A menina respirou fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar. Ela enxugou as lágrimas, forçando-se a endireitar a postura, mesmo que por dentro ainda se sentisse frágil e vulnerável diante da mãe.
— Agora, vamos resolver esse assunto. Primeiro, precisamos falar com seu pai.
— Falar com o papai?
A menina sentiu um nó se formar em sua garganta, quase desmoronando novamente diante da perspectiva de enfrentar a reprimenda paterna.
— Sim, Morrígan. Vamos ter que falar com o rei. Como o pai de Gaelen é seu fiel apoiador, ele precisa saber desse fato.
— Mas ele vai me castigar para sempre!
A preocupação na voz de Morrígan era palpável, suas palavras carregadas de medo e apreensão. Sua mãe permaneceu firme diante da hesitação da filha, sua expressão dura refletindo a gravidade da situação.
— Você precisa enfrentar as consequências de seus atos, Morrígan. Não há como fugir disso. Agora, pare de se lamentar e vamos logo falar com seu pai antes que a situação se agrave ainda mais.
As palavras da mãe eram uma ordem inquestionável, deixando Morrígan sem escolha a não ser seguir adiante, mesmo que isso significasse enfrentar o destino que a aguardava com apreensão.
A garotinha não aguentou ouvir aquelas palavras e, sentada em sua cama, desatou a chorar. Seu choro era tão intenso que parecia ecoar pelas paredes do quarto, preenchendo o ambiente com uma melancolia palpável.
Cada soluço era um lamento angustiante, ecoando como uma música triste no silêncio da noite. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Morrígan, refletindo a intensidade de suas emoções.
Alguns servos, alertados pelo som desesperador, vieram às pressas, seus passos rápidos ecoando no corredor enquanto entravam apressadamente no quarto. Seus rostos estavam cheios de preocupação, temendo que algo terrível tivesse acontecido à jovem Morrígan.
Morgause começou a ficar ainda mais impaciente, embora se esforçasse para conter seus sentimentos devido à gravidez.
Com uma voz controlada, ela dispensou os serventes, deixando-os com um aceno de mão, enquanto seus olhos permaneciam fixos na cena diante dela.
Observou silenciosamente a menina fazer seu chilique, seu rosto preenchido com desprezo pela situação. Seus lábios se apertaram em uma linha fina, revelando sua irritação contida, enquanto ela lutava para manter a compostura diante do comportamento emocional de Morrígan.
Morgause se entristeceu profundamente por dentro. Em sua terra, as garotas eram esperadas para amadurecer rapidamente, assumindo suas posições como sacerdotisas e magas desde cedo. Ela temia que ao retirar Morrígan desse ambiente, estivesse tornando sua filha fraca, algo que ela nunca desejou para sua criança.
A culpa pesava em seu coração enquanto refletia sobre suas decisões passadas. Talvez ter ignorado a linhagem mágica de Morrígan tivesse sido um terrível erro. Morgause havia feito de tudo para apagar seu próprio passado arcano, mas sempre que olhava para filha, uma sensação de inevitabilidade pairava no ar. Ela sabia, no fundo de sua alma, que a magia não tinha desaparecido completamente do sangue que corria em suas veias.
No entanto, ela sentia que não teve escolha. Era uma questão de proteger Morrígan da sina que ela mesma enfrentou, uma vida de servidão à terra sagrada e aos antigos rituais mágicos que governavam sua terra natal.
Um sentimento de angústia a envolveu enquanto ela contemplava o destino incerto de sua filha, lutando com suas próprias dúvidas e arrependimentos.
Quando a birra de Morrígan começou a cessar, Morgause tomou a frente, sua voz agora calma, porém carregada de autoridade.
— Bem, então podemos começar a agir como pessoas civilizadas?
A criança nada respondeu, sua expressão ainda teimosa e obstinada.
Morgause se aproximou com passos firmes, olhando nos olhos de Morrígan com firmeza.
— Morrígan, escute-me atentamente. Como futura rainha, você não tem o luxo de se entregar a acessos emocionais. É preciso aprender a controlar seus sentimentos, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.
Ela colocou as mãos nos ombros de Morrígan com firmeza, transmitindo a seriedade de suas palavras.
— A fraqueza é inadmissível em uma líder. Você precisa aprender a se levantar mesmo quando tudo parece conspirar contra você. Isso é o que diferencia os verdadeiros líderes dos meros seguidores.
Morgause pausou por um momento, permitindo que suas palavras se enraizassem na mente de sua filha.
— Portanto, limpe essas lágrimas imediatamente, erga a cabeça e mostre que é digna do título que carrega. A vida não será gentil com você, Morrígan, e é melhor que você aprenda isso agora.
O salão do rei era mais do que um mero espaço de audiências reais; era um verdadeiro testemunho da opulência e do poder do reino de Astaroth. Cada detalhe, desde os móveis luxuosos até os mínimos adornos nas paredes, emanava uma aura de majestade e grandiosidade.
As paredes eram revestidas com tapeçarias tecidas com fios de ouro e prata, retratando cenas gloriosas da história do reino. As lareiras altas espalhavam um calor reconfortante pelo salão, enquanto candelabros de cristal iluminavam o ambiente com uma luz suave e dourada.
As grandes cortinas, além de decorativas, também serviam para manter a privacidade do rei durante suas audiências. Feitas com os tecidos mais finos e adornadas com bordados intricados, elas adicionavam um toque de elegância às imensas janelas que ofereciam vistas panorâmicas do reino.
Os escrivães, meticulosamente alinhados ao redor do salão, trabalhavam incansavelmente para registrar cada palavra pronunciada na presença do rei. Suas penas raspavam o papel com precisão enquanto eles documentavam as queixas e petições dos cidadãos, garantindo que nada escapasse à atenção real.
Enquanto isso, o arauto, vestido com trajes cerimoniais impecáveis, proclamava com voz solene as causas daqueles que vinham buscar justiça ou favor junto ao monarca. Sua presença imponente e sua eloquência eram uma extensão do próprio poder do rei, transmitindo autoridade e respeito a todos os presentes no salão.
O rei Alistair permanecia imponente em seu trono, sua expressão séria evidenciando a responsabilidade que pesava sobre seus ombros ao lidar com os assuntos do reino. Seus conselheiros estavam estrategicamente posicionados ao seu lado, prontos para intervir e auxiliar sempre que necessário. Quando a fadiga ameaçava se manifestar, os auxiliares assumiam a condução das audiências, enquanto sua Majestade observava atentamente, intervindo apenas quando sua perspicácia real era imprescindível.
Na fila de espera, Morrígan e Morgause aguardavam pacientemente sua vez, a mãe segurando firme a mão da filha para evitar qualquer tentativa de fuga. Morgause, por sua vez, ansiava por um rápido desfecho daquele encontro, desejando evitar qualquer contrariedade adicional naquele dia.
— Vossa Majestade — anunciou um dos servidores, com uma mesura reverente —, uma de vossas esposas, Morgause, busca uma audiência convosco. Permitis que avancemos com sua solicitação?
Os olhos do rei se estreitaram momentaneamente diante do nome mencionado, sua expressão revelando uma mistura de surpresa e intriga. O olhar perscrutador de Alistair varreu a multidão em busca daquela que ousara se apresentar diante dele.
— Morgause? — sua voz ressoou pelo salão, ecoando autoridade — E o que a traz até aqui, afinal? Que seja trazida à minha presença imediatamente.
O rei Alistair ergueu-se ligeiramente em seu trono de ébano, os olhos perscrutando a multidão enquanto sua expressão assumia uma mistura de surpresa e intriga. Seus ajudantes, cientes da sensibilidade do momento, trocaram olhares discretos.
Morrígan e Morgause, mãe e filha, mantinham-se sérias diante da imponência do salão real, embora o nervosismo de Morrígan fosse perceptível nos dedos que se entrelaçavam aos da mãe. O rei observou-as atentamente, reconhecendo a figura familiar de sua concubina e seu fruto.
— Morgause — ecoou o nome nos corredores do salão, reverberando com um tom de interesse e cautela. Enquanto o rei aguardava sua chegada, os murmúrios da corte aumentaram em intensidade, alimentados pela curiosidade e pelas especulações sobre a presença da mulher ali naquele momento.
A medida que Morrígan e Morgause se aproximavam, a atmosfera no salão parecia eletrizar-se, cada olhar voltado para elas, cada movimento acompanhado com expectativa contida. O rei, por sua vez, permaneceu imóvel em seu trono, observando-as com uma expressão curiosa, aguardando as palavras que viriam a seguir.
— Minha senhora, o que te traz aqui? — questionou o rei, lançando um olhar para Morrígan, que já estava à beira de uma crise de pânico.
Morgause, com uma expressão tensa, aproximou-se do trono real, buscando as palavras certas para explicar a situação que os afligia.
— Vossa Majestade, uma tragédia ocorreu — começou ela, seus olhos transmitindo uma mistura de angústia e determinação — Gaelen, filho do conde Leofric, se machucou gravemente em nossos jardins.
O rei Alistair, já ciente do ocorrido, observou Morgause com uma expressão que revelava um misto de apreensão e preocupação, tentando entender onde exatamente Morrígan se encaixava nessa narrativa.
—Estava com ele, majestade — continuou Morgause, sua voz trêmula, enquanto lutava para manter a compostura — Eles foram brincar perto da grande árvore nos jardins... e foi lá que o acidente ocorreu.
O semblante do rei endureceu instantaneamente diante da revelação, seus olhos refletindo uma mistura de choque e desapontamento.
— Morrígan não deveria estar entre os homens! — declarou o rei com firmeza, sua voz ecoando pela sala com autoridade. — Ela é minha filha, e sua presença não é adequada para tais atividades. Além disso, Gaelen é filho do conde, um de nossos mais fiéis apoiadores.
Morgause baixou os olhos, sentindo o peso das palavras do rei.
— Eu sei, majestade —, murmurou ela, lutando para conter as lágrimas. — Mas por favor, entenda... foi um acidente terrível. Morrígan jamais desejaria mal a Gaelen.
— Como foi permitir isso, Morgause? — rugiu o rei, sua voz ecoando pelo salão enquanto ele batia com violência no braço do trono, irado. — Ela é sua filha, e deve estar sob sua responsabilidade! E agora, como ousarei enfrentar o conde Leofric e lhe dizer que seu filho foi ferido por causa das travessuras imprudentes de Morrígan? Isso certamente criará problemas entre nós. O sangue do filho do conde mancha o solo sagrado de meu palácio, e como diabos vou justificar isso?!
Morgause engoliu em seco, sentindo o peso das palavras do rei pesarem sobre ela como uma corrente de ferro. Ela ergueu o olhar para encontrar os olhos flamejantes de Alistair, sabendo que precisava encontrar uma resposta que acalmasse sua ira e, ao mesmo tempo, oferecesse alguma forma de solução para o problema que havia surgido.
— Vossa Majestade, eu assumo toda a responsabilidade por esta tragédia — começou Morgause, sua voz tremendo ligeiramente. — Eu deveria ter supervisionado melhor as atividades de Morrígan. Permiti que ela se aventurasse além de seus limites, e agora estamos todos sofrendo as consequências disso.
O rei Alistair fixou seu olhar penetrante em Morgause, as chamas de sua ira parecendo diminuir ligeiramente diante da honestidade e humildade em suas palavras. Ele respirou fundo, tentando controlar a torrente de emoções que o consumia.
— Você cometeu um erro grave, Morgause — disse ele, sua voz agora mais calma, porém carregada de autoridade. — Mas o que importa agora é como podemos remediar essa situação antes que se torne ainda mais complicada.
O coração de Morrígan foi se acalmando gradualmente quando uma voz conhecida rompeu o tumulto do salão.
— A única forma de remediar essa situação é educando sua filha melhor, Alistair, já que Morgause claramente não sabe como educar sua prole.
A presença da rainha Lysandra irrompeu no local, e os súditos abriram caminho para sua poderosa figura. Ela estava envolta em um vestido dourado, que harmonizava com a cor de seus cabelos, enquanto uma coroa imponente pesava em sua cabeça. Sua beleza era inegável, mas havia uma aura de mágoa em seus olhos, uma lembrança constante dos filhos que perdeu durante os anos.
— Sinto pena dessa nova criança que irá nascer, pois a mãe é uma terrível irresponsável, e a filha assim será, se você permitir — prosseguiu a rainha, sua voz ecoando pelo salão com autoridade. — Dê um castigo digno à garota, antes que ela envergonhe você e sua linhagem.
O rosto de Morgause se enrijeceu diante das palavras da rainha. Sua senhora era conhecida por sua dureza quando necessário, e agora não era exceção. A tensão no ar era palpável, especialmente agora que Lysandra sabia da gravidez de Morrígan, algo que a rainha nunca havia conseguido sustentar por muito tempo.
A entrada da rainha trouxe consigo uma tensão palpável, que envolveu todo o salão como um véu pesado. Enquanto os olhares dos súditos se voltavam para ela, o rei Alistair sentiu seu coração se apertar diante das palavras incisivas de sua esposa. Ele conhecia a verdade nas palavras dela, mas enfrentar a realidade da situação era uma tarefa que pesava em seus ombros como um fardo insuportável.
Por um momento, o rei se debateu interiormente, lutando contra a vontade de proteger sua filha a todo custo e o dever de exercer sua autoridade como monarca. Morrígan era sua única filha, seu precioso tesouro, e a ideia de castigá-la era como uma faca que machucava seu coração. No entanto, ele também compreendia a importância de não mostrar fraqueza diante de seus súditos; não dar a Morrígan o devido tratamento por seu comportamento imprudente seria o mesmo que admitir ser um rei omisso, incapaz de manter a ordem em seu próprio reino.
Com um suspiro pesaroso, o rei Alistair ergueu-se de seu trono, seu semblante, uma mistura de determinação e resignação. Ele sabia o que precisava ser feito, mesmo que isso significasse enfrentar a dor de desapontar sua filha.
— Você tem razão, minha rainha — respondeu ele, sua voz ecoando com uma autoridade inflexível. — A responsabilidade recai sobre meus ombros, como rei deste reino, de garantir que a justiça seja cumprida. Morrígan receberá o castigo adequado por suas ações, pois não posso permitir que a imprudência seja tolerada entre nós.
— Deixe ela na masmorra escura por alguns dias, e assim, aprenderá a lição de não se esgueirar entre os homens, Alistair. Uma verdadeira dama deve se saber portar, e não trazer desgraça ao seu pai e rei.
Diante das palavras decididas da rainha Lysandra, o rei Alistair sentiu um peso ainda maior sobre seus ombros, agravando a agonia de sua decisão. Ele abaixou os olhos por um momento, deixando que sua longa cabeleira platinada caísse sobre os ombros, ocultando a tormenta que se agitava em seu interior.
— Você tem razão, Lysandra — murmurou ele, sua voz carregada de pesar. — Que assim seja o veredito para minha filha, Morrígan. Que o castigo sirva como exemplo para todos que passarem pelas ordens do rei.
Com um gesto solene, o rei deu por encerrado o caso, permitindo que o arauto proclamasse o fim da audiência real. Enquanto os súditos se afastavam em murmúrios sussurrantes, o rei se recolheu em seu trono, sentindo o peso de sua responsabilidade como monarca pesar sobre ele como uma corrente.
— Caso encerrado! — bradou o arauto, fazendo ecoar as últimas palavras do julgamento real, enquanto dava passagem para o próximo cidadão que desejava a atenção do rei.
— Espero sinceramente que sua filha aprenda a lição, assim como você, Morgause. É importante que você entenda seu lugar neste reino, e que você não passa de mais uma diversão de meu marido. Você está aqui porque quero, e pode ser que eu mude de ideia. — A rainha sussurrou para a mulher, sua voz carregada de desdém, enquanto seus olhos faiscavam com superioridade. Com um último olhar de desprezo para Morrígan, como se visse nela um reflexo do que considerava inadequado, a rainha deslizou elegantemente para fora da corte, seguida pela pompa de sua comitiva.
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