CAPÍTULO 10

Os dias passaram como cavalos apressados, deixando para trás um rastro de agitação e expectativa no castelo. Morrígan viu-se imersa na intrincada teia de preparativos para o nascimento do novo herdeiro do rei. O ambiente pulsava com a energia frenética das criadas, que meticulosamente finalizavam os últimos detalhes para receber o recém-nascido. Flores frescas eram cuidadosamente dispostas em vasos de porcelana, enquanto cortinas de seda eram arrumadas com esmero em torno do leito de Morgause.

Parteiras e curandeiras moviam-se com destreza pelos corredores, prontas para prestar assistência à futura mãe a qualquer momento. O cheiro reconfortante de ervas e ungüentos permeava o ar, criando uma aura de serenidade e preparação para o milagre iminente da vida que se aproximava.

Enquanto o castelo se preparava para receber o novo membro da realeza, Morrígan observava silenciosamente, consciente do peso das expectativas e responsabilidades que pairavam sobre os ombros de todos aqueles envolvidos neste momento crucial da história do reino.

Por mais que uma parte de Morrígan sentisse ciúmes de perder a atenção da mãe, ela encontrava felicidade sincera pelo sucesso de Morgause. Ver sua mãe presenteando o rei com um belo herdeiro trazia uma mistura de emoções contraditórias. Por um lado, havia o receio de que a atenção e o cuidado de Morgause fossem desviados para o novo herdeiro, mas, por outro, havia o orgulho e a alegria de testemunhar o momento de triunfo de sua mãe.

A perspectiva de um herdeiro legítimo, especialmente diante da incerteza sobre a capacidade da rainha em dar filhos ao rei, representava não apenas a continuidade da linhagem real, mas também a segurança do próprio futuro do reino. Este fato não passou despercebido por Morrígan, que compreendia a importância estratégica do nascimento do príncipe.

A notícia da chegada do herdeiro foi recebida com grande regozijo pelo rei, cuja alegria era evidente em seu semblante radiante. Em comemoração a este momento auspicioso, ele imediatamente ordenou a preparação de um grande banquete, um gesto magnânimo para celebrar o nascimento do novo membro da família real.

Embora Morgause não pudesse participar pessoalmente do banquete, seu papel e sua contribuição foram reconhecidos e honrados. A rainha seria homenageada à medida que a festividade transcorria, assim como o pequeno príncipe, cujo futuro se mostrava promissor e digno de celebração.

Morgause havia dado à luz um menino, concedendo ao rei total autoridade sobre ele. Alistair decidiu batizar seu novo herdeiro com o nome de Taliesin, e Morrígan já havia adotado um apelido para seu irmãozinho. 

Ela admirava a beleza de Tali ao lado da mãe, enquanto acariciava a pequena cabeça da criança.

— Olha, mãe, como ele é bonitinho! Ele tem seu cabelo e os olhos do papai — disse ela, sorrindo, satisfeita por ver que a criança não tinha o que considerava ser a "maldição" dos olhos lilases. Taliesin tinha os olhos azuis do pai, o que já a deixava feliz. Pelo menos, as outras crianças não iriam importuná-lo por ser diferente.

Morgause sorriu ao ouvir as palavras de Morrígan, sentindo-se orgulhosa tanto da filha mais velha quanto do novo membro da família. Ela acariciou ternamente a mão de Morrígan antes de responder:

— Sim, querida, ele é realmente lindo. E você também é uma irmã maravilhosa para ele — disse Morgause com ternura, garantindo a Morrígan que seu papel na vida do pequeno Taliesin era igualmente importante.

A garotinha de olhos lilases sorriu e continuou acariciando o irmãozinho. A mãe aproveitou a situação e abriu um diálogo que há muito desejava ter com a filha.

— Morrígan, minha filha, preciso te pedir que tenha paciência neste momento. Por favor, evite procurar confusão no castelo e mantenha-se afastada de Clarice. Não posso mais dedicar a mesma atenção a você como antes, mas saiba que estarei sempre aqui, junto com as outras mulheres do harém. Por favor, não cause problemas e evite aborrecer seu pai, especialmente a rainha, que pode estar mais sensível agora.

Morrígan assentiu com seriedade, compreendendo a gravidade das palavras de sua mãe. Ela sabia que, com a chegada do novo herdeiro, as dinâmicas do castelo estavam mudando e que era importante para ela se adaptar a essas mudanças.

— Entendo, mãe — respondeu Morrígan com voz suave, sua expressão refletindo determinação — Prometo que serei cuidadosa e não causarei problemas. O bem-estar de nossa família é minha prioridade.

Morgause sorriu, tocada pela maturidade de sua filha mais velha. Ela envolveu Morrígan em um abraço reconfortante, sentindo-se grata por ter uma filha tão responsável ao seu lado.

— Obrigada, minha querida — disse Morgause, sua voz carregada de emoção — Sei que posso confiar em você. Juntas, vamos superar qualquer desafio que surgir em nosso caminho.

Com um novo senso de propósito, ela voltou sua atenção para o pequeno Taliesin, determinada a ser uma irmã exemplar e a apoiar sua família durante esses tempos de mudança.

Após sair do quarto, Morrígan percebeu que as palavras de sua mãe eram verdadeiras. Sem querer, acabou por esbarrar com a rainha em um dos corredores do castelo. Seu corpo se chocou com o de Lyssandre, deixando-a desnorteada.

— Desculpe, senhora Lyssandre. Eu não a tinha visto — murmurou Morrígan, tentando se recuperar do impacto.

A mulher lançou-lhe um olhar de desprezo, seus olhos vermelhos e inchados denunciavam o rastro de lágrimas recentes que haviam marcado seu rosto pálido. O semblante da rainha estava marcado pelo sofrimento, revelando uma fragilidade que raramente era vista em público. Seus cabelos dourados estavam desalinhados e emaranhados, uma clara indicação de que ela havia passado por momentos de angústia e desespero.

O vestido que Lyssandre usava, normalmente impecável e elegante, estava amarrotado e sujo, como se ela tivesse caminhado sem rumo pelos corredores do castelo, perdida em seus próprios pensamentos. As mãos da rainha tremiam ligeiramente, evidenciando a intensidade das emoções que a dominavam.

Morrígan sentiu um aperto no coração ao testemunhar o estado da rainha. Ela sabia que os últimos dias haviam sido difíceis para Lyssandre, com a chegada do novo herdeiro e todas as expectativas e pressões que acompanhavam esse evento. No entanto, nunca tinha visto a rainha tão vulnerável e abatida.

— Desculpe, senhora Lyssandre. Se precisar de alguma coisa, estou à disposição para ajudar — ofereceu Morrígan, sua voz tingida de sinceridade e compaixão.

— Você pode lançar um feitiço em meu ventre, Morrígan? Pode me fazer engravidar? Pode tirar essa desgraça de mim?

A menina ficou chocada com o pedido desesperado da rainha Lyssandre. Ela nunca tinha sido confrontada com uma situação tão delicada e angustiante antes. Engolindo em seco, Morrígan tentou encontrar as palavras certas para responder à rainha.

— Sinto muito, minha senhora — começou Morrígan, sua voz ainda carregada de compaixão. — Eu entendo o seu sofrimento, mas não tenho o poder de alterar a natureza dessa maneira. A magia é uma força poderosa, mas não pode mudar o destino de uma pessoa dessa forma.

Lyssandre soltou um suspiro pesado, frustração e desespero evidentes em sua expressão. Ela se aproximou de Morrígan, encarando-a com olhos suplicantes.

— Não sinta, sua pirralha. Eu não sei o que a bruxa da sua mãe colocou em mim, mas eu não posso dar um herdeiro ao rei, não importe o quanto tente. E ultimamente o rei nem quer mais tentar. Ele desistiu, Morrígan. Você sabe o que é isso? Dizem que só uma feiticeira pode desfazer o feitiço da outra. Você pode me ajudar, criança? Pode me curar?

Morrígan sentiu seu coração apertar diante do desespero da rainha. Ela nunca se viu diante de uma situação tão delicada e desafiadora. Com medo, abaixou os olhos.

— Você não pode e nem quer, sua imunda! Vocês se deleitam em minha desgraça, não sabem, mas eu sei que vocês riem por minhas costas. Mas isso não vai ficar assim, criança. Não posso te esganar, embora queira muito, mas seu futuro é meu. E vocês vão pagar por cada lágrima que me fizeram derrubar. 

A menina ficou paralisada diante das palavras carregadas de amargura e raiva da rainha Lyssandre. Ela se sentiu como se tivesse sido atingida por um golpe físico, sua mente girando com a intensidade das emoções que acabara de testemunhar. Uma sensação de medo e desamparo se apoderou dela, enquanto ela observava Lyssandre sair do corredor, deixando-a para trás.

Seu coração batia com força em seu peito, e se sentia amedrontada com a ameaça velada que a rainha acabara de proferir. Ela nunca quis que suas simples interações com Lyssandre poderiam desencadear tanto ódio e hostilidade.

Com os olhos cheios de lágrimas e o coração pesado, Morrígan se lembrou de algo que sua mãe costumava dizer: "Antes que a inocência seja roubada, ela é sua primeiro". Essas palavras ecoaram em sua mente, lembrando-a de sua própria fragilidade e vulnerabilidade como apenas uma criança.

Ela se recostou contra a parede fria do corredor, sentindo-se pequena e indefesa diante das complexidades e crueldades do mundo adulto. Morrígan percebeu que, mesmo que tentasse entender os motivos por trás das palavras e ações de Lyssandre, ela ainda era apenas uma criança, incapaz de compreender totalmente a profundidade da dor e da desesperança que a rainha carregava consigo. 

Nos olhos de Morrígan, brilhava a inocência de uma menininha de 8 anos, que, apesar de tudo, estava sendo forçada a amadurecer muito mais rápido do que deveria. 

E ela não sabia, naquele momento, que no futuro, seria ela o próprio Poder Irrestrito, capaz de mover homens e mundos. 

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