CAPÍTULO 12

Quando a aula de música chegou ao fim, Morrígan não perdeu tempo e correu em direção à biblioteca do palácio. Seu coração batia descompassado enquanto sua mente ecoava apenas uma palavra: Gwavänir. Repetia o nome incessantemente, temerosa de que escapasse de sua memória.

Após anos de espera, o professor de música finalmente revelara a verdadeira letra de "Uma Rosa para Gwavänir", uma canção que ele havia ensinado oito anos antes e que recebera a aprovação da rainha. No entanto, o propósito de Morrígan ao buscar essa informação não estava relacionado à vontade de agradar Lyssandre. Ela havia desistido de buscar aprovação. Agora, seu interesse se voltava para a história oculta por trás daquela melodia encantadora.

A língua na qual a canção fora entoada pertencia a um povo esquecido, cujos sons eram rústicos e carregados de uma aura ancestral. Era como se as palavras fossem fragmentos de uma era perdida, ressoando com uma força ancestral que provocava arrepios na pele de Morrígan. Aquela língua, com seus sons guturais e tonalidades profundas, transmitia uma mensagem que transcendia o tempo e o espaço, evocando mistérios antigos que há muito foram esquecidos.

Enquanto folheava os antigos manuscritos na biblioteca, Morrígan sentia-se como se estivesse desvendando os segredos de um passado há muito enterrado sob as areias do tempo. Cada página amarelada revelava fragmentos da história perdida de Gwavänir, como se fossem peças de um quebra-cabeça esperando para serem montadas.

Entre os registros empoeirados, ela encontrou menções a um reino esquecido, cujo nome havia sido apagado das memórias da maioria. Um lugar mítico, envolto em lendas e mistérios, onde a música era mais do que uma simples expressão artística; era uma forma de magia, capaz de tecer os fios do destino.

— É como se a própria essência de Gwavänir estivesse entrelaçada com a história do povo antigo — murmurou Morrígan para si mesma, os olhos percorrendo as antigas palavras gravadas nas páginas amareladas do manuscrito. As revelações ali contidas despertavam sua imaginação, lançando luz sobre um passado há muito esquecido, mas ainda pulsante com poder e significado.

Um calafrio percorreu sua espinha quando ela se deparou com a descrição da maldição lançada pelo deus Gwavänir  sobre os habitantes de após a morte de sua amada mortal. Era como se as próprias palavras ressoassem com a tragédia daquela história perdida no tempo, ecoando através dos séculos como um lamento silencioso.

— Eles eram filhos da Lua — murmurou Kay, suas palavras carregadas de um significado que transcendia o simples contexto da conversa. 

Antes que Morrígan pudesse refletir mais sobre o assunto, uma voz repentina interrompeu seus pensamentos, fazendo-a pular de susto. Seus olhos se arregalaram quando ela se virou para encontrar Kay parado atrás dela com um sorriso enigmático nos lábios.

Morrígan franziu a testa, ainda surpresa com a presença de Kay na biblioteca do palácio.

— K-Kay?! O que está fazendo aqui?

— Oras, também estou feliz em te ver, senhorita Morrígan. Como você está? — respondeu Kay, seu sorriso amável transmitindo calma e familiaridade.

— Desculpe... É que vocês não vêm no palácio há tanto tempo... — explicou Morrígan, sua voz denotando um misto de surpresa e confusão diante da visita inesperada.

Kay assentiu, compreensivo, e acrescentou, enquanto seus olhos vagavam em lembranças distantes:

— Sim, tem sido um período agitado para nós. Meu pai tem me mantido ocupado com os negócios da família, especialmente agora que estamos ampliando nossas relações comerciais com reinos vizinhos. Além disso, o rei requisitou nossa presença na corte novamente. Ele acredita que é crucial que eu continue meus estudos em diplomacia para fortalecer os laços políticos do reino. Quanto a Gaelen, ele está se preparando para se tornar um cavaleiro, seguindo os passos de nosso pai.

— Poxa, Gaelen vai se tornar um cavaleiro. Era o que ele sempre quis... — Morrígan disse, com um tom pensativo, quase sorrindo.

Kay assentiu, um brilho de orgulho nos olhos enquanto ele respondia:

— Sim, ele está bastante empolgado com isso. Desde criança, Gaelen sonhava em seguir os passos de nosso pai e se tornar um cavaleiro. E agora, com sua determinação e habilidade, não há dúvidas de que ele alcançará seu objetivo.

Morrígan sorriu, compartilhando a emoção de Kay pela realização do irmão. No entanto, uma pontada de desconforto atravessou a expressão de Kay ao perceber que, mais uma vez, a conversa girava em torno do irmão. Ele sabia que Morrígan e Gaelen tinham uma forte ligação, mas não pôde deixar de se sentir marginalizado, como se sua própria presença fosse apenas uma nota de rodapé.

Enquanto isso, Morrígan permanecia cortês, sem perceber a leve mudança no humor de Kay. Seus pensamentos estavam repletos de nostalgia e expectativa pelo futuro que aguardava Gaelen na corte. No entanto, ela não percebeu que sua ênfase constante no seu irmão poderia estar incomodando seu amigo.

— Bem, fico muito feliz com isso, Kay. É realmente muito bom saber que vocês estão por perto — respondeu Morrígan, expressando sua gratidão pela presença de seus amigos.

Kay assentiu, agradecido pelo gesto de Morrígan. 

— Vejo que você está estudando sobre o povo antigo, não? O que te faz procurar sobre Gwanävir e seu povo? É uma história deveras cativante — disse ele, mudando de assunto delicadamente, tentando esquecer a sombra do irmão e focar na curiosidade de Morrígan sobre o assunto.

Morrígan expressou seu interesse pela história, revelando a curiosidade que a impulsionava em sua busca.

— Sim, tenho me interessado bastante por essa história. Parece que há tantos mistérios envolvendo Gwanävir e seu povo, e estou determinada a desvendá-los. Meu professor de música me ensinou uma letra antiga, e não pude deixar de ficar curiosa para saber o que significa. A linguagem é rústica, porém bela. Eu só gostaria de entender o significado da canção, já que a letra é impossível de traduzir.

Kay colocou a mão no queixo, mergulhando em pensamentos profundos.

— Até onde sei, o povo de Gwanänir foi extinto há muito tempo. Eles eram considerados filhos da Lua, e o nome "Gwanävir" significa literalmente "raio prateado", sugerindo que essa divindade era responsável por cuidar desse clã. No entanto, o conhecimento sobre essa cultura é escasso. Há poucos registros disponíveis, e muitos deles são vagos e genéricos, como esse que você está lendo.

— Então quer dizer que essas informações podem não ser verdadeiras? — indagou Morrígan, um brilho de incerteza refletindo em seus olhos.

— Até são verdadeiras em parte — explicou Kay, escolhendo suas palavras com cuidado. — No entanto, o autor escolheu mesclar a história com elementos românticos, o que pode ter distorcido os fatos originais. É importante abordar essas informações com um olhar crítico e cauteloso.

Morrígan ficou impressionada com o conhecimento de Kay sobre o assunto.

— Você parece saber mais do que eu sobre essa história, Kay. Onde descobriu tudo isso?

Kay sorriu modestamente, revelando um pouco mais sobre suas fontes de conhecimento.

— Estudamos bastante sobre culturas antigas na escola de diplomacia. Dizem que, para entender o futuro, você precisa saber do passado. Além disso, tenho muitos amigos no colégio de bardos, e um deles é apaixonado pela história de Gwanävir. Se você quiser, eu posso enviar cartas sobre o assunto para ele, e assim, saber mais sobre essa língua. Se bem que agora, até eu fiquei interessado nisso pelo brilho que causa em seus olhos.

Morrígan sorriu, sentindo-se tocada pela disposição de Kay em ajudá-la.

— Isso seria incrível, Kay. Eu adoraria saber sobre essa língua e a cultura de Gwanävir. Essa história tem tocado meu coração há muito tempo, como se me chamasse.

Kay retribuiu o sorriso de Morrígan, aproveitando a oportunidade para acrescentar um toque de brincadeira à conversa.

— Bem, qualquer coisa para manter esse belo sorriso. Além disso, admito que também estou curioso para desvendar os mistérios por trás dessa história junto com você. Talvez possamos fazer isso juntos, de uma forma ou de outra.

Um relance de pensamento ecoou dentro de Morrígan, e ela se lembrou de sua mãe dizendo para ficar longe dos rapazes, pois ela era uma dama. Mas naquela altura, Kay não era apenas um rapaz. Ele era praticamente um mestre das relações do reino, e ela adoraria aprender mais ao seu lado. Que mal faria, afinal de contas? Aquilo apenas traria mais conhecimento.

— Eu acho uma ótima ideia! Se você aceitar, eu posso tocar harpa para você, e assim fazemos um acordo justo!

Kay ficou encantado com a proposta de Morrígan, sentindo-se cada vez mais atraído por sua determinação e charme.

— Eu adoraria ouvir você tocar harpa, Morrígan. Seria uma experiência verdadeiramente encantadora — respondeu ele, com um brilho de admiração nos olhos.

Morrígan sentiu seu coração dar um salto de alegria diante da resposta calorosa de Kay. Ela percebeu que, além de compartilharem interesses intelectuais, havia uma conexão especial entre eles, como se o conhecimento os unissem. 

— Então está combinado — disse Morrígan, com um sorriso radiante. — Vamos desvendar os mistérios de Gwanävir juntos, e quem sabe o que mais descobriremos nessa jornada.

Kay assentiu, seu olhar transmitindo uma promessa silenciosa de aventura e descoberta.

— Mal posso esperar para começar. Acho que essa será uma experiência inesquecível.

Com um novo sentido de empolgação e determinação, Morrígan e Kay voltaram sua atenção para os antigos manuscritos espalhados diante deles, prontos para mergulhar de cabeça no fascinante mundo de Gwanävir e seu povo esquecido.

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