A Noiva Do Mafioso

A Noiva Do Mafioso

Beatrice

Hoje será a festa de inauguração da loja do meu noivo. Ricardo

trabalhou duro para conseguir abrir sua loja de materiais de construção, mas

para alguém que sempre quis realizar o sonho de se tornar o seu próprio

patrão, hoje ele não parecia estar muito empolgado, como vinha

demonstrando há semanas. Talvez seja algo da minha cabeça ou cansaço

pelo último plantão. Eu não dormi muito depois de uma longa jornada de

trabalho.

Estou no apartamento do meu noivo. Na verdade, este lugar é mais meu do que dele. Desde que

vim “morar” com ele — entre aspas, pois ele vive viajando —, concordei que deveríamos dividir as

despesas e aceitar que já éramos quase casados, tirando o fato de ele nunca ter feito sexo comigo,

devido a sempre estar em viagens. Ele trabalhava como operador de máquinas e recebia um bom

salário. Juntando isso com o empréstimo que conseguiu no banco, pôde abrir a sua loja.

Nessa noite eu lhe prepararei uma linda surpresa. A lingerie sexy que vou usar já está em meu

corpo. Ela é lilás, a nossa cor favorita, e atraente. Estou me sentindo bem nela, mesmo que eu esteja

dez quilos acima do peso, como minhas colegas de equipe costumam me dizer. Até mesmo o meu

noivo já me sugeriu que eu fizesse uma dieta para o casamento, que será em quatro meses.

Quando me vi noiva, eu me senti especial. Alguém como eu se casará. Alguém cujo o passado é

tão marcado.

Minha mãe sempre fez e faz de tudo para me proteger da família do meu pai. Quando eu era

criança, por volta dos meus 9 anos, ele faleceu. Papai era alguém que se envolvia em esquemas ilegais

para uma poderosa máfia. Ele era italiano e consigliere de Mateo Massino, um importante chefe de

uma máfia italiana, que faleceu há dois anos, deixando todo o seu poder e império para o seu filho

mais velho, Deméter Massino. Até onde eu pesquisei e sei informar, ele é um homem muito bonito e

14 anos mais velho que eu. Ou seja, ele está com 37 anos. Meu pai aceitou um acordo de casamento

para eu me casar com o filho do seu chefe, devido a uma longa amizade de lealdade e confiança que o

senhor Massino depositava nele.

Lembro-me vagamente de estar em eventos de gala nos quais as pessoas sentiam admiração pelo

meu pai. Minha mãe sofreu muito após sua morte. Papai tomou um tiro no lugar do senhor Massino,

seu chefe e melhor amigo, para o salvar. Depois desse dia, mamãe sabia que precisava fugir. Ela não

queria me ver casada com um mafioso e em perigo pelo resto da minha vida, pois eu seria a senhora de

uma máfia e um alvo para os inimigos. Por isso fugimos. Desde os meus 9 anos, vivemos no Brasil,

bem longe da Itália e do meu passado, que é guardado e escondido a sete chaves.

— Está linda, meu amor — minha mãe me desperta do meu transe. — Maravilhosa!

Meu vestido preto soltinho não marca a minha barriga, deixando-me com a cintura mais afinada.

Eu fiz uma maquiagem leve e estou me sentindo bem. Mamãe me diz que Ricardo é areia demais para

o meu caminhãozinho e não aprova o meu noivado com ele, por dizer que ele é tóxico. Mas ela não o

entende como eu.

— Obrigada.

— Estou de saída, amor. Vou trabalhar em um evento. Dessa vez eles vão pagar o dobro.

— Que legal, mamãe.

— Filha, está levando o spray de pimenta? Lembre-se: sempre tome cuidado.

— Mamãe, estarei segura. Não se preocupe.

Ela acredita que possam estar nos procurando. Mas se eles não nos encontraram ainda, significa

que nunca irão colocar as mãos em nós. Minha mãe teme que eles me levem para a Itália e me

executem por termos fugido. É assim que funciona na máfia, por isso faço qualquer coisa para não

viver naquele mundo de trevas.

Já pensei em, inúmeras vezes, seguir os conselhos que escuto sobre tentar uma dieta. A genética

da minha mãe me concedeu pernas grossas, bumbum grande, seios mais fartos e até minha barriguinha

nada satisfatória aos meus olhos. A única pessoa que diz que é para eu me amar do jeito que sou é a

Tália, minha melhor amiga e confidente. Ela é a única pessoa que tem me feito rir ultimamente.

Meu celular vibra sobre a mesa do criado-mudo. É a minha sogra. Ela ganhou um celular do filho

no Natal do ano passado e agora vive me enviando mensagens sobre dicas de saúde e de sucos detox.

Uma vez ela me disse que eu deveria emagrecer. Todos me dizem isso, exceto minha melhor amiga.

O áudio dela diz para eu não usar algo muito curto, muito menos chamativo. Ela não quer que eu

envergonhe o filho dela mostrando minhas estrias. Minha sogra não era assim, mas está ficando cada

vez mais chata. A viúva até sugeriu morar comigo e com o Ricardo após o nosso casamento. Eu

poderia até aceitar se ela não fosse tão incômoda algumas vezes.

Respiro fundo e lhe respondo que já estou pronta e que chegarei em breve. Estou apenas

esperando o meu noivo, que não vejo há pelo menos oito dias. Depois que ele chegou de viagem, eu

tive plantão duas vezes e fiquei até mais tarde no hospital com Tália para ajudar, mesmo sem ser meu

expediente. Mal nos vemos.

Ouço o barulho da tranca sendo aberta. Ele sempre cuidou bem da nossa segurança. Além de

uma boa tranca, há também dois ferrolhos com cadeados que só tranco à noite. Corro, apressada, para

a sala, louca para o abraçar. Eu o conheci em um dos momentos mais tristes da minha vida.

Sozinha e solitária. É assim que eu me sinto depois de um longo plantão, quando chego em casa

e percebo que minha mãe ainda não voltou do trabalho. Ela serve mesas; trabalha como garçonete em

eventos importantes.

Quando conheci o meu noivo na festa do campus, no famoso “trote”, ele estava acompanhado da

sua irmã, que, aliás, é minha melhor amiga. Tália é irmã do Ricardo e minha maior defensora. Ela

sempre me defende.

Já posso sentir o aroma fresco do seu perfume, que está mais forte do que de costume. Ele está

procurando algo na gaveta do painel sobre a parede. Não sei o que é, mas é alguma coisa que parece

ser importante, para ele ter preferido fazer isso em vez de vir até o quarto me ver.

Uma leve pontada de decepção não vai estragar a minha felicidade de vê-lo.

Ultimamente, tenho sentido muitos desapontamentos com ele, porém tento pensar que ele está

mais distante e ausente por causa do trabalho. Ricardo deu duro para inaugurar a sua loja, e eu estou

feliz por ele, pois seu sucesso é o nosso sucesso.

Ricardo ainda não notou minha presença. Observo-o. Ele está muito distraído. Em seguida,

atende uma ligação, ainda sem me ver.

— Paciência, Pacheco. Eu já estou com quase tudo pronto. Será que pode me dar mais alguns

dias? — Ele nunca me falou desse tal de Pacheco. Aliás, ele nunca mais me falou sobre nada. — Uma

semana é pouco tempo. Peço um mês. — Suspira, irritado. — Alô? Alô? Infeliz! — Ao encerrar a

ligação, desliza as mãos pelos seus fios alinhados, chateado.

Seja lá o que esse homem tenha dito, deixou o meu noivo muito aborrecido. Seu peito sobe e

desce quando ele me olha. Enfim, notou minha presença. Ele está tenso, e eu diria que até assustado.

Eu nunca o vi assim antes. Pergunto-me o que aconteceu. Nos últimos meses, Ricardo tem vivido de

mau humor.

— Bem-vindo à nossa casa mais uma vez, amor.

Apesar de nunca termos feito sexo, ele costuma dormir algumas noites no meu quarto comigo.

Meu sorriso é estonteante. Sempre que o vejo, meu dia se ilumina como se eu vivesse em uma

escuridão eterna sem ele. Meu primeiro amor, meu primeiro namorado, meu noivo e, em alguns

meses, o meu marido no papel passado e tudo. Seu olhar está mais sereno, mas ainda há um pouco de

tensão em sua testa. Marcas de expressão em alguém tão jovem. Ricardo só é cinco anos mais velho

que eu. Eu tenho 23 anos, e ele 28. Estamos juntos há dois anos e meio, entre algumas idas e vindas

que já foram resolvidas.

Confesso que sou bastante ciumenta, enquanto ele não demonstra a mesma coisa. Mas eu sei que

ele me ama. Depois do nosso último término, ele me pediu em casamento, e eu aceitei. A aliança em

meu dedo mostra que estou noiva.

Uma noiva em que o noivo nem sequer toca.

Muitas vezes ele me pressiona para o sexo, mas sempre acabo desistindo quando o clima

esquenta um pouco. Não sei explicar por quê. Talvez seja pela pressão que ele me impõe. Por isso eu

lhe disse que só faríamos quando nos casássemos. Meio retrô, mas ao menos me dará tempo.

As palavras que sua irmã me disse em nossa última conversa me atormentam. Quando minha

cunhada me perguntou se, finalmente, já tinha rolado sexo entre nós dois, e eu disse que não, ela ficou

pasma e até brincou ao chamar o irmão de mole.

Meu noivo não sorri por me ver. Será que está chateado com o homem que falou ao celular?

Decido quebrar esse gelo que está vindo dele.

— Tudo bem, querido?

— Aonde você pensa que vai vestida assim? — Sua pergunta faz o meu coração paralisar.

Pela sua expressão, desagrada a ele a maneira como me vesti.

— Como assim? À inauguração, amor. — Sinto um nó na garganta.

Esse olhar dele me derruba. É com desdém, como se ele sentisse vergonha de mim.

— Desse jeito, Beatrice?

Beatrice? Não sou mais o seu amor? Outra pontada em meu peito me deixa totalmente sem

resposta e arrasada.

Ricardo parece se arrepender do que disse ao perceber que estou triste com sua atitude.

— Pensei que estivesse bem vestida.

Contenho algumas lágrimas que insistem em escorrer pela minha face. Não sou uma pessoa tão

forte quando o assunto são as minhas emoções, sou uma manteiga derretida.

— Amor... Querida, me perdoe. — Finalmente, ele me abraça.

Eu sinto essa tristeza todas as vezes que ele lança para mim aquele olhar julgador, com o qual,

mesmo em silêncio, parece gritar comigo: “Você não combina com essa roupa”.

Eu não ser padrão de beleza sempre irá gerar esse tipo de ofensa?

A única vez em que minha sogra me deu um bom conselho nesta vida foi para me dizer que

ninguém nunca deveria me diminuir, pois mesmo que eu não seja bonita, somente eu posso dizer isso,

não os outros. Isso foi dito em uma passagem de ano. Detalhe: ela havia bebido muito.

Mas, em parte, ela tem razão. Talvez eu deixe as pessoas falarem muito sobre mim, quando não

há necessidade de opiniões.

— Perdão. Estou com a cabeça quente e cansado, querida. Ontem fiquei até tarde na loja para

organizar tudo. Me desculpe. — Suavemente, seus lábios beijam a minha testa. Já não é a mesma

empolgação de antes. — Vim em casa buscar um documento. Me desculpe mesmo, estou com sono.

Sabe quando você passa a noite em um plantão e, no outro dia, só quer dormir? — Assinto. — Estou

me sentindo assim hoje. Mais uma vez, me desculpa. Prometo te levar para jantar amanhã.

Ele está arrependido, porém pedir desculpa depois que a merda já foi dita nem sempre resolve e

não apaga o que foi falado, o que magoou. Mesmo sabendo que ele está cansado, eu deveria ouvir

mais o único conselho bom que sua mãe me deu nesta vida.

— Nesse sábado vamos viajar eu, Tália e mamãe — comunica-me.

Como assim só eles três?

— Só vocês três?

Ele não quer que eu vá? Como o meu noivo vai viajar e não me levar junto, depois de ter passado

dias fora e ter retornado sem mal ter pisado em casa?

— Desculpe, amor. Será uma viagem de um dia apenas. Mamãe quer ficar um pouco comigo e

minha irmã. Ela diz que já está velha e que quer passar um tempo com os filhos antes de morrer.

— Claro.

Ela não quer que eu vá. Sinto que a cada dia que passa, minha sogra dá um jeito de me excluir da

vida do seu filho e me afastar aos poucos dele. E, na verdade, às vezes Ricardo parece permitir, como

foi no último aniversário dele. Nesse dia, sua mãe lhe fez um bolo surpresa e me enviou mensagem já

no final da pequena festa que ela organizou para os amigos de faculdade dele. Até a ex-namorada dele,

ela convidou. Eu cheguei quando já não havia mais bolo, e ela me disse que era bom assim, que eu

não comia bobagens.

— Não fique magoada. Vamos viajar só nós dois, eu prometo.

Promessas e mais promessas. Ele nunca cumpre nada.

— Você não vai à loja hoje, não é mesmo? — ele pergunta como se estivesse afirmando.

Ricardo conseguiu tirar a minha vontade de conhecer o seu negócio. Agora não me sinto mais

bem para ir. Minha presença lá não é desejada sequer pelo meu noivo, que dirá pelos demais.

— Pensando bem, eu vou dormir mais um pouco.

Ele parece estar cego. Não quer ver que eu me arrumei toda para ir ao evento. Às vezes a

impressão que Ricardo passa é que tem vergonha de mim e do meu corpo. Eu não deveria estar

insegura, mas... Quando todos à minha volta são desagradáveis e tóxicos, como eu deveria ficar?

Sorrir e fingir que meu coração não está apertado? Que não há uma faca enterrada em meu peito? É

assim que me sinto todas as vezes que me tratam com indiferença.

— Te vejo amanhã? — ele pergunta.

— Amanhã?

— Mamãe me pediu para dormir na sua casa hoje. Ela está com a pressão alta.

O velho problema da pressão alta. O “engraçado” é que ela não toma nenhum remédio regular,

como deveria, devido ao seu problema. Parece que ela só sente hipertensão para tirar o seu filho de

mim.

Respiro fundo. Quando o meu noivo vai embora, ele nem me dá um beijo.

Volto para o quarto. Parada em frente ao espelho, eu retiro o meu vestido e algumas lágrimas

rolam pela minha face. Tenho pensamentos como:

E se eu fosse mais magra?

Seco minhas lágrimas. Não posso me permitir ficar assim, porém está óbvio que Ricardo estava

com vergonha de mim e da roupa que eu usava. Eu me sentia tão bem nela, só que agora já nem sei

mais se eu estava mesmo bem. Se ele não queria uma namorada gordinha, por que não ficou com a sua

ex, que era magrinha e esbelta, como sua mãe mesma repete?

“Tatiana é linda.”

“Tatiana é esbelta e doce.”

De doce, ela não tem nada. Já estive em lugares que ela estava. Ela fala com o Ricardo e beija a

sua bochecha, sendo que para mim nem sequer dá um “oi”. Ela terminou com ele, no entanto parece

estar arrependida, e a minha sogra dá o maior apoio para eles voltarem.

O melhor que posso fazer é dormir. Amanhã já voltarei ao trabalho.

Pelas redes sociais, acompanho a live da inauguração. Tudo está bonito e organizado. Meu noivo

está feliz. Todos estão lá, menos eu.

Espero-o voltar para casa, mesmo sabendo que ele não virá.

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Comments

Jucelia Oliveira

Jucelia Oliveira

coloca fotos deles fica mais interessante estou gostando muito

2024-03-22

0

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

ih parece que ele a está levando em banho maria enquanto a traia com a ex...

2024-03-08

0

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

começando a ler mais uma obra📖

quem tem facilidade de prometer tem dificuldades para cumprir...

ela merece alguém que a aceite como é , ele não a quer nem a deixa, pra ele esta cómodo, deve estar com ela para fazer ciúmes a ex ... o amor é ser...
o querer é ter...ela é dependente emocional dele por isso si menospreza tanto...

2024-03-08

0

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