Eclipse Vol.1
Após uma longa explicação, ambos deixaram a biblioteca. Kiran sentia uma dor de cabeça latejante depois de ter decorado tantas palavras. Por outro lado, Munihr irradiava uma alegria contagiante, mesmo não possuindo uma luz própria. Seu sorriso brilhava como um diamante, embora um leve cansaço fosse perceptível em seu semblante. Talvez fosse apenas uma impressão passageira.
À medida que caminhavam, chegaram a uma imponente porta que parecia ser a saída. Munihr sugeriu dar uma volta pelo reino, e a ideia agradou o jovem solariano, embora ele mantivesse uma certa desconfiança em relação às intenções de Munihr.
— Como você espera que eu faça isso? — Kiran franziu a testa — Não posso sair durante a noite.
Munihr sorriu enquanto se posicionava junto à porta, no limiar da escuridão.
— Pegue a minha luz.
— Como assim?
— Embora eu não possua luz própria como você, posso guardar e emanar luz quando necessário. Então, pegue o que precisa. Vamos!
Kiran sentiu-se intrigado, mas decidiu confiar plenamente no lunar. Tocando suavemente a lateral de seu rosto com as mãos, ele fechou os olhos e permitiu que uma onda de calor percorresse seu ser. Sua luz interior ressurgiu, irradiando um brilho intenso e resplandecente. Ao abrir os olhos, percebeu que o fulgor do lunar havia desaparecido. Seus cabelos outrora radiantes agora eram como fios de prata, seus olhos haviam perdido sua tonalidade. Ele parecia ter se despojado do pouco que lhe restava. Seus lábios, pálidos e trêmulos, no entanto, mantinham um sorriso inalterado.
Nesse momento, o solariano contemplou a beleza paradoxal de Munihr, cujo esplendor havia se dissipado, mas cuja serenidade interior permanecia. Era como se a própria essência do lunar brilhasse através de sua alma, transcendendo a aparência física. Uma luz etérea e delicada, que se manifestava no sorriso que se mantinha nos lábios do lunar.
— Não se preocupe comigo. Agora, ponha a mão no meu ombro.
— Como assim?! — Kiran engoliu em seco, sentindo seu coração acelerar de repente.
— Mesmo que você tenha recuperado sua forma, a escuridão pode roubar sua luz. Eu irei refletir seu brilho de volta para você mesmo. — explicou — Ou prefere que seguremos as mãos? — riu.
Kiran revirou os olhos e fez bico. Embora achasse tudo aquilo desnecessário, atendeu ao pedido dele. Com a mão no ombro do lunar, saíram juntos pela porta. Ao emergirem na escuridão, Munihr resplandeceu no meio das trevas. Seus olhos brilhavam com a mesma intensidade de antes, e seus cabelos levemente azulados cintilavam como uma cabeleira solitária de cometa.
Kiran ficou impressionado com a transformação diante de seus olhos.
— Como você...
— A noite é o meu domínio, esqueceu?
— Claro.
E assim, envolvidos por aquela nova luz que o lunar emanava, eles caminharam juntos, explorando o território sombrio que se estendia à sua frente.
Banhado pela luz mística da lua, o Reino do Mortos ou também conhecido como "Cidade Lunar" erguia-se majestosamente em meio a um deslumbrante cenário noturno. Sua beleza era marcada pela fusão entre a poesia e o esquecimento, um lugar onde os destinos abandonados encontravam um novo propósito.
As muralhas da cidade eram construídas com pedras prateadas, que brilhavam suavemente sob o luar, emanando uma aura de mistério e encantamento. Torres altas e esguias se erguiam em meio às muralhas, pontuando o horizonte com silhuetas elegantes. Cada torre, adornada com delicados arabescos e finas filigranas, parecia alcançar as estrelas, como se buscasse tocar o céu noturno.
Ao adentrar as portas da cidade, revelava-se um emaranhado de ruelas estreitas e sinuosas, iluminadas por lamparinas negras que pendiam dos postes. O chão era revestido por paralelepípedos gastados pelo tempo, testemunhas silenciosas das histórias que ali se desenrolavam.
As construções da Cidade Lunar exibiam uma arquitetura singular, uma mescla de estilos que pareciam ter sido tecidos pelos sonhos esquecidos. Palácios de cúpulas prateadas e minaretes curvilíneos se misturavam a casas de contos de fadas, com telhados pontiagudos e janelas adornadas por rendas sutis. Cada edifício contava uma história, e as paredes, gastas pelo tempo, pareciam sussurrar segredos esquecidos.
Os habitantes eram seres peculiares, como fragmentos de memórias esmaecidas. Lunares de todas as formas e tamanhos perambulavam pelas ruas, cada um com sua própria história de abandono e redenção. Esqueletos vestidos com roupas desbotadas flutuavam graciosamente, suas expressões refletindo uma melancolia serena. Almas errantes, envoltas em véus diáfanos, vagavam em busca de sentido, deixando um rastro de nostalgia no ar. Figuras sombrias, sombras vivas de antigas lendas, percorriam os becos escuros, sussurrando segredos ao vento.
A atmosfera da cidade era carregada de uma aura melancólica, mas também de esperança. Era um refúgio para aqueles cujas histórias haviam sido esquecidas, um lugar onde encontravam acolhimento e a oportunidade de resgatar sua identidade perdida. Ali, as feridas da alma podiam ser curadas e os sonhos reavivados, pois cada ser naquelas ruas compreendia a dor do abandono e a busca por um novo começo.
No coração da cidade, situava-se uma praça ampla e iluminada, adornada por uma fonte de prata que jorrava água cristalina em cascata. Era ali que os lunares se reuniam, compartilhando suas histórias e encontrando força na união. O som suave de violinos e pianos ecoava pelos arredores, envolvendo a cidade em melodias que acariciavam as almas e despertavam emoções adormecidas.
Aquele lugar era um berço para aqueles que foram esquecidos, um lugar onde as memórias perdidas encontravam um novo lar. Era uma ode à resiliência humana, onde a luz da lua guiava os passos dos abandonados, iluminando o caminho rumo à redenção e à renovação.
No éter mágico da cidade, um mosaico de raças díspares se uniam em harmonia, tecendo uma morada para as aberrações. Nesse berço de singularidades, os guardiões, como Kiran, encontravam seu propósito divino, erguendo-se contra as sombras do mal.
Cada ser trazia consigo uma peculiaridade ímpar, e, embora Kiran brilhasse como um sol ambulante, sua presença parecia pequena, quase esquecida, na vastidão da multidão.
Sozinho, o frio gélido percorria as mãos do solariano, preenchendo-o de angústia, especialmente cercado por inimigos multifacetados, impotente diante da impossibilidade de lutar.
— Algum problema? — indagou Munihr, por cima do ombro.
— Não.— respondeu.
O lunar fitou os olhos de Kiran, mergulhando nas profundezas de sua alma.
— Está tudo bem. — disse.
E aquela voz bastou para acalmar o coração de Kiran.
Despojando-se de sua capa sombria, Munihr a depositou sobre os ombros do ruivo, deixando-o perplexo, inebriado por tamanho gesto.
— Você é um guardião, quase considerado como um deus aos olhos de muitos. — disse, enquanto ajeitava o capuz sobre sua cabeça — Assim, não precisará temer ser reconhecido.
O solariano sentiu o peso da capa sombria sobre si, como se fosse um manto sagrado. Um véu que o envolvia, ocultando sua verdadeira identidade.
Com um aceno silencioso, Kiran expressou sua gratidão, desviando o olhar. E então, com Munihr ao seu lado, os dois voltaram a caminhar pelas ruas iluminadas pela luz da lua.
...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 182
Comments
W0lf >yaoi<
essa história é tão detalhada, parece até que a autora (ou autor) esteve dentro desse universo, como se ela (ele) tivesse visitado um lugar assim.
2023-11-20
3