No entanto, à medida que a melodia se desvanecia no ar, o silêncio retornava, rompendo a conexão que havia sido estabelecida entre Kiran e Munihir. A realidade de suas naturezas e da situação em que se encontravam voltava à tona, enchendo o solariano de confusão.
O príncipe sentia-se perdido, confrontado com a complexidade de seus sentimentos em relação ao lunar e os momentos juntos que vivenciaram desde sua chegada ali. As revelações do dia haviam abalado suas certezas e confundido suas perspectivas. Ele se perguntava se poderia confiar em Munihir, se deveria prosseguir com o seu verdadeiro propósito para ter vindo até ali.
O silêncio pairava no ar, tenso e carregado de expectativa. Kiran o encarava com uma mistura de desconfiança e gratidão. Aquele encontro imprevisível havia transformado a dinâmica entre eles, e agora estava diante de uma escolha crucial.
— Você pode ir agora. — disse Munihr de repente, quebrando o silêncio.
Kiran arqueou uma sobrancelha, surpreso com a declaração do lunar.
— Então vai me deixar partir? — perguntou o ruivo, com um tom de incredulidade.
Munihr desviou o olhar, parecendo ligeiramente desconfortável.
— E por que não permitiria? — indagou, interrompendo antes que Kiran pudesse continuar.
O solariano manteve-se em silêncio por um instante, processando as palavras de Munihr. Ainda havia uma tensão no ar, as lembranças do passado recente pairando entre eles.
— Não conversamos. — murmurou, lembrando-se do incidente anterior.
— Está na hora! — Munihr deu de ombros, desviando o olhar para o lago que os cercava. — Vá, antes que eu mude de idéia.
Kiran revirou os olhos, percebendo a teimosia e o mistério que envolviam o homem lunar. Com um misto de alívio e curiosidade, ele deu alguns passos em direção ao nascer do sol. A medida que os raios solares tocavam sua pele, um calor aconchegante o envolveu, renovando suas energias. Sentia-se fortalecido mais uma vez.
Quando se virou, encontrou Munihr ainda imerso na penumbra, revelando-se aos poucos à medida que os raios de sol o alcançavam. O solariano tirou o manto negro que cobria seu corpo e o devolveu ao seu verdadeiro dono.
Munihr permanecia imóvel, com poucas expressões em seu rosto. Kiran raramente o via sorrir verdadeiramente, exceto quando se recordava de suas próprias memórias ou quando falava com entusiasmo sobre reino e suas atrações. Era como se ele fosse uma rocha, impassível e distante. Seus olhos vazios, sempre perdidos em algum horizonte distante, transmitiam uma frieza intrigante.
Agradecido, embora incomodado com a hospitalidade duvidosa do lunar, Kiran limitou-se a sorrir. Por enquanto, decidira manter uma trégua e depositar um pouco de confiança em seu inimigo. No entanto, a incerteza dominava seus pensamentos, pois ainda desconhecia o caminho que o levaria de volta a Solaria. Como poderia regressar ao seu lar?
Munihr se aproximou lentamente, colocando-se diante do ruivo. Seus olhos sem cor pareciam penetrar a alma do príncipe, enquanto o coração deste batia descompassado no peito. O Solariano sentia uma mistura de apreensão e curiosidade sobre o que viria a seguir, temendo as ações imprevisíveis do homem.
Num movimento surpreendente, Munihr estendeu uma das mãos e a colocou sobre o peito de Kiran. O toque era suave, mas carregado de um significado que escapava à compreensão do solariano. Munihr rompeu o silêncio com sua voz suave e enigmática.
— É só seguir em frente, que vai encontrar o seu caminho. — disse ele, enquanto suas palavras ecoavam no ar como uma despedida.
Antes que Kiran pudesse abrir a boca para responder ou questionar, foi empurrado com força contra o lago. O susto tomou conta de seu ser, o fazendo perder momentaneamente o controle de seu corpo. Conforme atingia a água, sentiu-se imobilizado, incapaz de se mover ou lutar contra a força que o arrastava para as profundezas.
Enquanto era levado para baixo, Kiran lançou um último olhar em busca de Munihr, vendo sua silhueta desaparecer sobre a superfície do lago. As palavras finais do jovem lunar ecoaram em sua mente.
— Até breve, meu sol.
Após deslumbrar o corpo do solariano se perder nas águas turvas do lago, Munihir sentiu uma mistura de alívio. Ele sabia que aquela era a única alternativa para ele retornar a Solaria, mesmo que a idéia de empurrá-lo sobre as águas fosse quase como um ato de terror.
Desviando o olhar do lago, Munihir seguiu seu caminho de volta ao majestoso castelo. Enquanto caminhava pelos exuberantes jardins, sua mente se perdia na beleza da natureza ao seu redor. As flores exalavam perfumes delicados e as árvores balançavam suavemente ao sabor da brisa suave. O sol brilhava acima dele, iluminando seu caminho com sua luz dourada.
Ao adentrar novamente o castelo, Munihir sentiu-se envolvido por uma sensação de familiaridade reconfortante. Os corredores silenciosos e as paredes sólidas emanavam uma aura de segurança e tranquilidade. Ele compreendia que seu papel como líder dos lunares exigia solidão e vigilância, e estava disposto a honrar essa responsabilidade em nome daqueles que foram esquecidos durante suas vidas.
Enquanto a noite caía, Munihir dirigiu seu olhar para o horizonte, onde o sol se despedia com um espetáculo de cores vibrantes. Lembranças dos momentos agradáveis que compartilhara com Kiran naquele dia, apesar da rivalidade entre seus povos, afloraram em sua mente, trazendo um suave sorriso aos seus lábios.
Subindo as escadas até a torre mais alta do castelo, contemplou a vista panorâmica do Reino dos Mortos e a paz da noite que envolvia aquele lugar esquecido no tempo, e ali, encontrou consolo na energia serena que emanava daquele lugar precioso.
Enquanto as estrelas cintilavam no céu noturno e a lua iluminava o horizonte com seu brilho suave, Munihir encontrou um momento de tranquilidade em sua solidão, aproveitando de sua própria companhia. Ainda que agora o futuro se mostrasse incerto.
Em meio a essa paz, uma pergunta inesperada ecoou em sua mente.
"Como é que ele chegou aqui?" Munihir se viu mergulhado em um enigma, incapaz de desvendar os caminhos entrelaçados do destino que haviam levado Kiran até aquele Reino que deveria ser oculto do restante do mundo.
A perplexidade tomou conta do lunar, mas ele não se deixou abalar. Em vez disso, abraçou a incerteza que rodeava a presença do guardião solariano em suas terras, sabendo que o tempo revelaria as respostas precisava.
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Atualizado até capítulo 182
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