Kiran caminhava de volta ao palácio solitário, o coração pesado com a confusão que o lunar havia instigado nele. Cada passo o levava mais fundo em seus próprios pensamentos, questionando-se sobre sua própria sanidade e sobre como poderia ter chegado àquela Cidade Lunar sem qualquer lembrança clara.
Enquanto seguia pelo corredor do palácio, ouviu vozes conhecidas à sua frente. Ele parou por um momento, reconhecendo seus colegas guardiões reunidos ali. Eles formavam uma espécie de linha de bloqueio, como se estivessem esperando por ele.
Ao se aproximar, Kiran notou o sorriso sarcástico em seus rostos. Era evidente que eles sabiam o motivo de sua visita à delegacia e estavam prontos para provocá-lo. Um deles, chamado Rylan, deu um passo à frente com um olhar de superioridade.
— Olha só quem decidiu voltar! — Rylan zombou, apontando para o distintivo vazio no peito de Kiran. — Parece que alguém perdeu sua estrela de xerife. Você não é mais digno dela, Danwrider?
O tom zombeteiro perfurou o príncipe como uma adaga. Ele sentiu uma mistura de raiva e vergonha borbulhando em seu interior, mas tentou manter a compostura. Respirando fundo, ele encarou Rylan com determinação.
— Eu não perdi minha estrela de xerife. Apenas aconteceram coisas além do meu controle. — respondeu, lutando para manter a calma. — E vocês deveriam estar mais preocupados em seus próprios deveres do que perdendo tempo em me provocar.
Os outros guardiões riram, aumentando ainda mais a irritação de Kiran. Ele sentiu o desejo de confrontá-los ali mesmo, mas sabia que não era o momento adequado. Engolindo o orgulho ferido, ele decidiu seguir em frente.
— Fiquem com suas piadas. Eu tenho assuntos mais importantes para resolver. — disse, desviando o olhar deles e continuando seu caminho pelo corredor.
Enquanto se afastava, Kiran podia ouvir os risos diminuindo gradualmente. A solidão agora o envolvia, mas estava determinado a desvendar os mistérios que o cercavam. Não importava o que os outros pensassem dele, sabia que tinha um papel crucial a desempenhar na proteção de Solaria e decifrar seus próprios sentimentos.
Kiran adentrou a majestosa biblioteca do palácio, onde o conhecimento era preservado em cada canto. As estantes, altas e imponentes, se estendiam do chão ao teto abobadado, repletas de livros e pergaminhos enfileirados com precisão. O aroma suave de papel antigo e tinta permeava o ar, proporcionando uma sensação de nostalgia e sabedoria acumulada ao longo dos séculos.
A luz suave e difusa emanava de lâmpadas delicadas, estrategicamente posicionadas entre as prateleiras, proporcionando uma iluminação suave que destacava a beleza das letras e desenhos nas páginas amareladas. Os feixes de luz dançavam entre os corredores de livros, criando sombras em movimento que pareciam contar histórias por si só.
Determinado a encontrar mais informações sobre a palavra "Munihr", Kiran começou a examinar os títulos dos livros, deslizando os dedos pelas lombadas gastas. Ele puxou um volume antigo, cujas páginas amareladas eram adornadas com letras delicadas e intrincadas.
Sentado em uma mesa de madeira polida, mergulhou na leitura, algo que raramente fazia desde os seus tempos de adolescência, percorrendo as páginas com os olhos atentos. No entanto, a busca se mostrou infrutífera. Os registros sobre Munihr eram escassos e limitados ao conhecimento superficial que ele já possuía: a palavra era associada a má sorte para os solarianos, uma sombra que pairava sobre aqueles que a mencionavam.
Um suspiro de frustração escapou dos lábios do solariano. Ele esperava encontrar respostas concretas, pistas que o ajudassem a desvendar o mistérios mais intrigantes sobre aquele lunar e suas origens. No entanto, a biblioteca guardava seus segredos, mantendo-os fora de seu alcance.
Enquanto Kiran ponderava sobre seus próximos passos, os sinos da torre do palácio começaram a badalar em um ritmo urgente, ecoando pelos corredores e enchendo o ar com um chamado inconfundível. Era uma convocação para os guardiões, indicando uma situação de extrema importância.
Sem hesitar, Kiran abandonou os livros e saiu disparado da biblioteca, seu coração martelando no peito, impulsionado pela urgência do chamado. Ele sabia que algo terrível estava acontecendo e não podia perder um único segundo.
No trajeto, encontrou outros guardiões correndo apressados como ele, com expressões sérias e determinadas.
— O que está acontecendo?! — perguntou Kiran, sem entender o motivo da agitação.
— Solaria está sob ataque. — respondeu Surya, uma guardiã.
O ruivo arregalou os olhos, atingido por uma onda de choque ao perceber que seu reino estava sendo alvo de mais um ataque, em menos de três dias após o último. A raiva pulsou em suas veias, alimentando sua fúria ao extremo.
O grupo emergiu do palácio e deparou-se com nuvens escuras no horizonte distante, onde um vilarejo remoto estava envolto em uma escuridão densa e ameaçadora.
Os guardiões convocaram seus poderes, seus corpos se transformando em pura luz radiante, e partiram em uma explosão de velocidade em direção ao local.
Quando Kiran e os demais guardiões chegaram, atravessando as trevas, depararam-se com uma cena de devastação. Casas estavam em ruínas, e os habitantes lutavam bravamente contra criaturas sombrias, bestiais e humanoides ao mesmo tempo. Eram seres sinistros, como se fossem feras das sombras ganhando forma e vida. Os guardiões agiram imediatamente, sacando suas armas e lançando rajadas de luz brilhante contra as abominações.
Kiran, tomado pela fúria, atirava sem piedade, enquanto resgatava uma donzela indefesa das garras de uma das criaturas. Porém, para sua perplexidade, os disparos pareciam atravessar seus alvos, como se as balas passassem por eles como fantasmas. Em um momento de distração, enquanto escapava com a mulher em seus braços, ambos foram emboscados por uma das criaturas, caindo ao chão.
— Encontre abrigo em algum lugar seguro! — gritou Kiran para a mulher, enquanto lutava para se libertar do domínio da criatura.
Com uma força sobre-humana, ele conseguiu afastar o inimigo, mas percebeu que suas armas haviam sido perdidas durante a confusão. O ruivo manteve uma distância cautelosa, com olhos fixos na criatura.
Seu oponente era diferente de tudo que ele já havia enfrentado. Parecia ser formado por sombras, manifestações da própria escuridão que o cercava. Seus olhos cintilavam como brasas ardentes, e suas silhuetas distorcidas lembravam feras selvagens.
A criatura avançou em direção a Kiran, que se viu desarmado e cercado pela opressiva presença da noite que roubava sua luz. Então, em um ato desesperado e ousado, canalizou todo o fogo interior que ardia em seu ser e, em uma explosão de chamas intensas, consumiu a criatura por completo reduzindo-a cinzas.
Ele sentou-se no chão, ofegante e exausto, apoiando-se para recobrar a consciência. Sentia sua respiração siar pesada do peito, enquanto refletia sobre a magnitude do que acabara de vivenciar.
Após recuperar suas energias, ergueu-se com uma fúria inabalável e se uniu aos outros guardiões que ainda combatiam as criaturas sombrias. Com olhar que refletia coragem destemida diante do perigo iminente.
Juntos, formaram uma linha defensiva, avançando com precisão. Cada movimento era calculado, cada ataque executado com maestria. Os guardiões combinavam seus poderes, criando uma sinergia única que amplificava seu impacto contra as criaturas das sombras.
Kiran que dominava suas habilidades de manipulação do fogo, lançava chamas ardentes nos inimigos, envolvendo-os em uma dança de destruição. Seus golpes eram rápidos e precisos, aproveitando cada oportunidade para desferir ataques poderosos. Com agilidade, esquivava-se dos golpes e contra-atacava com ferocidade.
No entanto, um horrível presságio pairava sobre o príncipe quando nuvens negras avançaram sobre Solaria. Uma onda repentina de preocupação invadiu seu coração. Sem hesitar por um segundo sequer, ele partiu em voo em direção ao novo caos que se formava, com uma única palavra ecoando em sua mente: "Munihr".
Kiran cortava o ar com determinação, voando em alta velocidade. Seu objetivo era alcançar as nuvens sombrias que ameaçavam seu amado reino o mais rápido possível. Ele sabia que Munihr, poderia estar enfrentando perigo, e uma parte dele se culpava por não tê-lo protegido antes. Enquanto os sentimentos confusos tomavam conta de si, sem entender porquê estava agindo daquela forma.
Enquanto pairava sobre Solaria, pode observar atentamente a situação abaixo. As nuvens escuras emanavam uma aura maligna, e o ar estava impregnado de tensão.
Com seus sentidos aguçados, Kiran detectou uma energia familiar vinda da delegacia. Seu coração se encheu de alívio e esperança. O lunar ainda estava lá.
Ele então, mergulhou em direção ao epicentro da escuridão, liberando seu poder em chamas flamejantes para abrir caminho. Sabia que cada segundo era crucial. Ao se aproximar da delegacia, avistou Munihr dentro da cela, ainda preso, exatamente como da última vez que tinham se encontrado. Kiran apoiou-se em uma parede próxima, sentindo o cansaço acumulado percorrer seu corpo.
Munihr apenas o encarou em silêncio, aproximando-se das grades da cela para fitá-lo.
— O que aconteceu com você? — perguntou.
— Não é da sua conta! — respondeu o ruivo, recuperando o fôlego perdido. Sentia-se aliviado por ver Munihr a salvo, mas seu orgulho não permitia que admitisse isso — Esses assuntos não dizem respeito a você.
— Tem certeza? — questionou o lunar, com um sorriso enigmático.
Kiran deu de ombros.
— Parece que algo interessante está acontecendo lá fora. Você não vai ajudar seus amigos? — indagou.
— Eu disse que isso não é da sua conta e... espere! — Kiran franziu a testa — Como você sabe disso?
— Não é como se eu não pudesse ouvir as vozes de desespero. Além disso, minha intuição é afiada — respondeu.
Kiran o xingou, arrancando uma risada do próprio lunar, e se virou para deixar a delegacia. Já que ainda havia muito trabalho a ser feito.
— Vai assim? — questionou Munihr — Você não parece bem. Imagino que esteja sem energia.
O príncipe virou-se para encará-lo, seriamente.
— Vidas dependem de mim. É meu dever lutar até que não me reste mais forças.
Com essas palavras, partiu determinado a enfrentar os desafios que se apresentavam naquele início de noite, com uma coragem renovada e a determinação de proteger aqueles a quem tinha jurado por sua própria vida.
...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 182
Comments