Minutos antes da aparição de Kiran, Munihr já tinha uma noção do que estava prestes a acontecer do lado de fora da delegacia. As vozes agitadas e a correria frenética dos guardiões que entravam e saíam do local apenas confirmavam suas suspeitas e o pressentimento sombrio que sentia. Solaria estava sob ataque.
Quando Kiran finalmente apareceu ali, verificando se Munihr ainda estava preso, ambos trocaram algumas palavras breves. O ruivo logo deixou o local, embora aparentasse estar extremamente fraco. Mas ele era um solariano, descendente do sol e ardente como o fogo. Sua teimosia era tão grande que não admitiria sua fraqueza, seguindo em frente para cumprir seu dever como guardião.
Munihr poderia ter permanecido ali, observando todo o caos de perto. Afinal, ele era um lunar, inimigo dos solarianos. Por que ajudaria aquela raça? No entanto, diferente de seus acusadores, Munihr possuía uma humanidade arraigada em seu interior e sentia pena daquela raça tão obstinada.
Decidido, ele se levantou e caminhou até a cela, segurando as barras douradas que deveriam feri-lo profundamente com apenas um toque. No entanto, para sua surpresa, as barras cederam sob sua pressão exercida e a fechadura da porta se rompeu instantaneamente, abrindo-se diante dele.
A delegacia estava vazia no momento, todos estavam mais preocupados em salvar Solaria do que vigiar o prisioneiro e inimigo, que era o lunar.
Munihr caminhou para fora e testemunhou o caos que se espalhava por todos os lados. Ele ergueu os olhos para o céu, encarando a noite agora tomada pelas trevas. Embora aquele lugar não se comparasse à Cidade Lunar lunar, estava sob a noite, seu domínio. Então, irrompendo como uma lua cheia radiante, enquanto sua capa se fundia com as sombras, ele saiu correndo em direção às criaturas que atacavam o reino desolado. Vencendo cada inimigo que encontrava, absorvendo suas trevas para si.
Enquanto o lunar se movia com uma graça sobrenatural, seu corpo emanava uma aura sombria enquanto lutava contra as criaturas das sombras. Cada movimento era fluido e preciso, como se dançasse entre as ameaças que surgiam uma após a outra. Seus olhos brilhavam com uma determinação feroz, e seu poder lunar se intensificava a cada inimigo abatido.
Enquanto o caos se desenrolava ao seu redor, Munihr se tornava uma força quase imparável, uma tempestade de luz e escuridão combinadas. Ele lutava não apenas pelos solarianos, mas também pela própria essência da humanidade que ainda residia em seu coração.
Quando percebeu que a escuridão parecia recuar para o seu lugar de origem, ele se deu conta de que já tinha ido além do necessário, talvez até mais do que os solarianos mereciam. Embora não merecessem sua ajuda, ele encontrou paz interior ao saber que agiu de acordo com seus princípios. Mesmo que seus feitos não fossem reconhecidos e jamais lembrados, estava satisfeito consigo mesmo.
Assim, ele retornou silenciosamente à delegacia, sem que ninguém percebesse sua presença. Entrou na cela em que estivera preso antes, fechou novamente o cadeado e se sentou no chão, como se nada tivesse acontecido. Era como se ele se fundisse com a atmosfera de desolação e esquecimento que permeava aquele lugar.
Enquanto estava ali, imerso na solidão de sua cela, Munihr sentiu a presença de alguém se aproximando. Um sorriso de diversão e satisfação se formou em seus lábios. Afinal, ele havia aprontado um pouco quando ninguém estava observando.
O lunarpermaneceu sentado, aguardando a chegada da pessoa que se aproximava. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém perceberia a mudança, a quebra do silêncio que havia deixado para trás. E, quando isso acontecesse, ele estaria lá, esperando, com um vislumbre de alegria em seus olhos.
Assim, aguardou pacientemente no seu cativeiro auto-imposto, sabendo que sua jornada não havia chegado ao fim. Pois, embora suas ações pudessem ter passado despercebidas naquele momento, ele estava disposto a lutar novamente quando o momento certo chegasse. E, quem quer que viesse até ele, encontraria um lunar resiliente, como se nunca tivesse saído dali.
...
À medida que as últimas forças sombrias foram vencidas, a batalha atingiu seu ápice. O horizonte, outrora mergulhado na escuridão opressora, começou a se iluminar com os primeiros raios de sol que surgiam ao leste, que rompiam as trevas e tingiam o céu com uma paleta de cores vibrantes. Era um espetáculo de renascimento, um sinal de esperança que dissipava as sombras que haviam assolado Solaria por uma noite longa.
Kiran, o guerreiro quase que incansável, sentia seu corpo exaurido, cada fibra de seu ser vibrava com a exaustão. Cada músculo parecia pesar toneladas, enquanto a fraqueza se espalhava como uma névoa insidiosa. Ele havia se esforçado até o limite, utilizando seus poderes ao máximo para proteger sua terra natal e se exposto demais a noite. Agora, a fadiga o envolvia, clamando por repouso e recuperação.
Enquanto seus companheiros guardiões comemoravam a vitória conquistada, ele apenas se encontrava em um estado de serenidade solitária. Não conseguia se juntar à festa efusiva, mas permanecia sorrindo, um sorriso de alívio e gratidão, enquanto se sentava em um local afastado. Seus olhos, pesados e embaçados pelo cansaço, lutavam para se manterem abertos. A exaustão física e mental começava a se tornar insuportável, como uma carga que ele carregava há tempo demais.
Com um suspiro lento e profundo, Kiran se entregou ao cansaço que o dominava. Seu corpo cedeu à gravidade, recostando-se contra a parede fria e sólida que servia como suporte. Ele se deixou levar por um sono profundo e revigorante, mergulhando em uma esfera de tranquilidade e paz. Cada respiração era um bálsamo para sua alma cansada, enquanto ele se afundava nas profundezas do descanso tão merecido.
Enquanto adormecia, ainda era possível ouvir as vozes alegres e entusiasmadas de seus companheiros. Os sons se misturavam harmoniosamente com a brisa matinal, que sussurrava gentilmente em seus ouvidos. Era uma sinfonia de triunfo e camaradagem, um eco suave que ecoava em sua mente, trazendo-lhe conforto e serenidade. Saber que a batalha havia sido vencida, e que Solaria estava protegida mais uma vez, era um alívio que permeava seus sonhos.
...
Quando Kiran despertou, imediatamente percebeu que algo estava errado. Em vez de estar em sua casa, encontrava-se em um quarto do palácio. No entanto, essa situação não era surpreendente, considerando seu status como um dos guardiões de elite. Como havia conquistado o título de príncipe do reino, ele tinha moradia garantida no palácio e acesso a todas as áreas, embora aquele quarto em particular fosse reservado para reuniões que vez ou outra aconteciam no palácio e ocasiões especiais.
Enquanto a luz do sol da manhã iluminava o quarto, o ruivo sentiu uma estranha sensação de renovação, como se todo o cansaço da batalha da noite anterior tivesse desaparecido. Ele levantou-se da cama e vestiu sua armadura, deixando de lado o casaco de couro que costumava usar. Sem o seu distintivo de xerife, que lhe foi retirado devido aos recentes acontecimentos, o casaco não tinha mais o mesmo significado para ele. No entanto, esperava que sua contribuição fosse reconhecida e que lhe devolvessem seu maior mérito de guardião.
Enquanto caminhava pelos corredores do palácio, Kiran se deparou com Vec, a Estrela da Noite, se aproximando. Era uma visão incomum, já que a guardiã geralmente assumia o turno noturno, quando a maioria das pessoas estavam dormindo.
Vec era uma mulher de beleza intrigante. Sua pele era de um tom moreno, conferindo-lhe uma elegância exótica. Seus olhos castanhos eram profundos e expressivos, refletindo uma mistura de mistério. Seus cabelos eram claros como as nuvens no céu, caindo em ondas suaves ao redor de seu rosto e presos em tranças bem feitas.
Diferente da Estrela da Manhã, sua companheira de juramento, Vec preferia vestir roupas simples e desgastadas, que pareciam carregar consigo as marcas de inúmeras batalhas. Sua vestimenta modesta não diminuía sua presença imponente, mas ressaltava sua personalidade prática e focada. Carregava consigo apenas uma espada, sua fiel companheira, que demonstrava seu domínio perfeito das artes marciais.
Quando Vec se aproximava, sua aura sombria se fazia presente, envolvendo-a como um manto. No entanto, essa escuridão não era malévola, mas sim algo que fazia parte dela como um presença inseparável. Ela emanava uma sensação de serenidade e equilíbrio, como se tivesse encontrado uma harmonia profunda dentro de si mesma.
Seu rosto exibia uma expressão calma e serena, revelando uma sabedoria silenciosa. Cada palavra que proferia era cuidadosamente escolhida e fluía suavemente, como uma melodia que acalmava os ouvidos de Kiran. No entanto, havia algo nela que despertava a curiosidade do guardião. Uma semelhança marcante que ele não conseguia identificar.
— Bom dia, Estrela da Noite. — cumprimentou Kiran, surpreso com sua presença naquela manhã pós ataque — É uma surpresa vê-la aqui a essa hora.
A guardiã simplesmente o encarou em silêncio, o que deixou o príncipe desconfortável. Os dois raramente conversavam, e ele nunca a tinha ouvido falar, exceto quando estava com Ut, com quem compartilhava segredos e confidências.
— Se você está se perguntando por que estou aqui, — disse ela finalmente — é porque estou cobrindo o turno da Estrela da Manhã hoje. Ela lutou intensamente ontem e está exausta demais para seguir seu trabalho.
Kiran ficou impressionado com a capacidade de Vec de captar o que ele estava pensando. Poderia ser apenas uma coincidência, mas havia algo nela que lembrava alguém que ele conhecia.
— E se fosse você... — continuou Vec — se apressaria. Alguém está causando uma grande confusão por aí.
As palavras da guardiã noturna pairaram no ar, carregadas de um certo mistério, antes que ela seguisse seu caminho.
Por um instante, Kiran ficou confuso, tentando entender o significado das palavras de Vec. Foi então que a imagem de Munihr surgiu em sua mente. Novamente consumido pelo desespero, ele saiu correndo, prevendo o que o lunar poderia estar fazendo para deixá-lo infurecido logo de manhã.
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Atualizado até capítulo 182
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