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Eclipse

Capítulo 1

No silêncio profundo e misterioso das primeiras horas da manhã, Kiran já estava acordado, antes mesmo das auroras abrirem caminho para o sol. Sua inquietação o arrancava dos braços do sono, e ele se encontrava sentado à janela, envolto pela penumbra que ainda persistia sobre o reino de Solaria, onde a paisagem desértica se fundiam com a atmosfera quente.

Solaria, marcada pela dureza e pela desolação, revelava-se em meio às primeiras luzes do amanhecer. As casas, com suas fachadas de madeira desgastada pelo tempo e pelo clima impiedoso, brilhavam como estrelas cintilantes. Os reflexos luminosos dançavam nas janelas, criando uma ilusão de vida e esperança em meio ao ambiente hostil. Era como se aqueles pequenos pontos de luz fossem faróis de alento em meio à vastidão desértica.

Os olhos de ruivo permaneciam fixos no vasto horizonte, absorvendo cada detalhe da paisagem que se estendia diante de si. O deserto, com suas dunas imponentes e sua aridez implacável, parecia ecoar sua própria existência solitária. A insônia, cruel companheira, havia privado Kiran de seu sono por inúmeras noites, deixando-o vulnerável à solidão e às aflições que assombravam seu coração.

A cada despertar, a pergunta persistia, ecoando em sua mente como um eco inquietante: qual seria a causa de suas aflições? Por que seu coração se sentia tão inquieto, mesmo em meio à aparente calmaria? Kiran buscava respostas, vasculhando os recônditos de sua alma na esperança de encontrar a origem de suas angústias.

Enquanto o sol começava a espreitar timidamente no horizonte, as tonalidades quentes e poeirentas do deserto ganhavam vida. Os raios dourados iluminavam a vastidão, criando uma atmosfera mágica e efêmera. No entanto, mesmo com o despertar da aurora, a paz parecia continuar fugindo dos dedos de Kiran, como um miragem que se desvanecia ao mais leve toque.

E assim, enquanto o sol se erguia majestosamente no céu, Kiran ficou um pouco mais ali, encarando o horizonte, envolvido pelo esplendor efêmero da alvorada. Ele sabia que sua jornada interior era desafiadora, mas estava determinado a desvendar os mistérios que o atormentavam e, finalmente, encontrar a paz que tanto ansiava.

Kiran suspirou uma última vez e finalmente decidiu sair de seus aposentos. Consciente de que inúmeras vidas dependiam dele lá fora, ele sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Assim como o Sol que iluminava o mundo, sua presença era uma obrigação inerente à sua própria existência. Sentia a chamada urgente de seu dever, o dever de guiar a luz próspera que traria vida e esperança ao novo dia. Era uma missão que não podia ser ignorada.

Embora não tivesse respostas para seus questionamentos, sabia que, mais cedo ou mais tarde, encontraria as respostas que tanto buscava.

Seguiu pelo salão até a porta principal, onde Ut, a estrela da manhã, o aguardava com um sorriso no rosto, como em todas as manhãs.

— Príncipe Kiran — fez reverência — Não é de meu dever repreender vossa alteza, mas está há um minuto atrás de sua pontualidade excepcional.

Ele suspirou. Ainda que as palavras da guardiã fossem verdadeiras, elas o enchiam de temor. Seu atraso poderia parecer insignificante para os mortais comuns, mas para Kiran que carregava o fardo de guardião, um minuto significava sessenta segundos sem luz, um tempo precioso perdido, suficiente para que as trevas prevalecessem.

— Peço desculpas. Realmente não sei o que está acontecendo comigo — coçou a nuca — Mas vamos logo com isso antes que se prolongue ainda mais.

A amazona avançou com confiança em direção à imponente porta diante dela, sua presença imbuída de uma aura quase divina. Sua armadura dourada, reluzente como o sol, concedia-lhe uma aparência celestial, como se ela fosse uma guerreira sagrada enviada pelos próprios deuses para proteger e lutar em nome da justiça. No entanto, seu papel naquele momento não era o de uma mera combatente, mas sim o de uma guardiã dedicada a manter a segurança e o equilíbrio.

Cada placa da armadura era um testemunho da habilidade e dedicação dos artesãos que a criaram. O ouro resplandecente conferia-lhe um brilho intenso, como se as próprias estrelas estivessem encerradas em seu interior. Cada detalhe era meticulosamente elaborado, desde os entalhes delicados até os padrões intrincados que adornavam cada peça. A armadura parecia uma extensão do próprio ser da amazona, envolvendo-a em uma proteção divina que exalava poder e majestade.

Além da armadura, seu visual era uma combinação única de estilos. O estiloso chapéu de couro repousava com elegância em sua cabeça, adicionando um toque do Velho Oeste à sua aparência majestosa. Uma blusa esvoaçante sobre os ombros conferia-lhe um ar de graça e sofisticação. E, é claro, suas pistolas na cintura eram um lembrete constante de sua habilidade como atiradora.

Embora sua aparência pudesse evocar uma figura celestial, a amazona sabia que seu verdadeiro propósito naquele momento era agir como uma guardiã incansável. Sua missão era proteger aqueles que dependiam dela, abrir caminho para os guerreiros que partiam do palácio em busca de glória e vitória. Como sentinela do dia, a donzela trajada não apenas tinha o dever de guardar a passagem e abrir caminho para os guerreiros que deixavam o palácio, mas também carregava sobre seus ombros a responsabilidade de proteger algo muito maior, que muito além da compreensão de Kiran.

Com uma calma impressionante, Ut pressionou sua mão contra a porta imponente. Ela cedeu ao seu toque com uma reverência silenciosa, como se reconhecesse o propósito nobre daquela guerreira de luz. O som do metal se movendo ecoou pelo ar, anunciando a abertura do caminho.

Os primeiros raios dourados do sol emergiram no horizonte, espalhando uma suave luminosidade sobre o rosto sereno do jovem príncipe. Ele fechou os olhos, permitindo-se saborear aquele abraço caloroso do astro que despontava no céu. Cada feixe de luz parecia acariciar sua pele, despertando nele uma sensação revigorante de renovação.

Despedindo-se de Ut, deixou para trás os imponentes portões do palácio que o acolhera desde quando havia se tornado um guardião. Embora carregasse consigo o título de príncipe, Kiran estava ciente de que sua posição era mais do que um simples privilégio. Era um chamado para zelar por seu povo, proteger os fracos e combater as trevas que ameaçavam a paz instaurada por uma Era de guerreiros.

Como em todos os outros dias, ele iniciou seu trabalho. Cada vez mais, encontrava-se imerso em uma rotina que considerava cada vez mais tediosa. Embora se esforçasse para cumprir suas obrigações como guardião do reino, a sensação de monotonia o envolvia. Ele percorria as vastas extensões de seu domínio, visitando vilarejos remotos e ouvindo as histórias e necessidades do povo que servia.

No entanto, Kiran começava a questionar se realmente era adequado para essa tarefa. A paciência necessária para ouvir as preocupações e problemas dos outros nem sempre era uma qualidade que ele possuía em abundância. Às vezes, sua mente vagava para além das palavras pronunciadas, sentindo-se desconectado das histórias que lhe eram contadas.

Desde sua volta do mundo dos humanos, onde teve que enfrentar múltiplas ameaças e viveu suas melhores aventuras, notou que a calmaria se instalara entre os seres das sombras. A necessidade de usar sua força como guardião havia diminuído consideravelmente, e ele raramente se via envolvido em confrontos diretos.

Essa mudança de cenário trouxe à tona um sentimento ambivalente em Kiran. Por um lado, ele sentia um alívio ao ver que a paz havia sido restaurada e que seu povo estava seguro. Por outro lado, a falta de ação e desafios o deixava inquieto. Ansiava por algo mais do que apenas resolver os problemas cotidianos do reino, questionando-se se havia um propósito maior reservado para si.

No entanto, quando estava prestes a prosseguir com sua missão, seu mundo foi abruptamente abalado por uma ameaça misteriosa. O céu se encheu de sombras densas e opressivas, encobrindo o brilho do sol e mergulhando o reino em uma escuridão inquietante. Uma esfera de poeira engolfou o horizonte, transformando o dia em noite em um piscar de olhos.

O pânico tomou conta da população, que clamava por socorro em meio às vozes de desespero que ecoavam por todos os cantos de Solaria. Kiran, em estado de choque diante da magnitude daquela perturbação, testemunhou impotente a grandiosa esfera de poeira, que parecia desafiar a própria ordem natural do mundo.

Então, ecoando pelos ventos, uma voz ressoou de forma rara e incomum. Era a voz da Estrela da Noite, a guardiã que estava sempre ao lado de Ut, que raramente se manifestava durante o dia. Em um tom solene e urgente, ela anunciou um toque de recolher aos cidadãos de Solaria, instando-os a buscar abrigo e proteção até que a ameaça fosse compreendida.

— O que está acontecendo aqui? — Kiran franziu a testa.

— Vossa alteza ainda não foi informada? — era Hamal, um dos soldados do palácio e seu braço direito.

— Você não deveria estar aqui — alertou-o sobre os perigos ocultos que podiam se esconder em uma noite repentina como aquela.

Hamal sorriu.

— Pode me dizer o que está acontecendo? — perguntou o príncipe.

— Ainda não foi confirmado — Hamal encarou o céu, apreensivo — Mas...

— "Mas"?

O soldado permaneceu em silêncio, relutante diante do olhar penetrante de Kiran, que já estava irritado.

— Diga! — ordenou.

— Enquanto estamos aqui, neste exato momento, Solaria está sob ataque. E parece que o campanário...

Kiran não precisou que o soldado terminasse a frase para entender a situação. De repente, o mundo ao seu redor parecia desfocado, obscurecido pela gravidade da situação e qualquer expressão em seu rosto havia desaparecido. O impacto da notícia se espalhou rapidamente por seu corpo, fazendo seu coração bater descompassadamente.

Sem se preocupar com os perigos ocultos da noite, Kiran lançou-se em uma corrida frenética contra o vento gelado que soprava pelo estreito corredor formado pelas casas de madeira. A voz de Hamal ecoava ao longe, advertindo-o sobre sua vulnerabilidade noturna como solariano, mas suas palavras caíam em ouvidos surdos.

No alto do vale, erguia-se o imenso campanário em ruínas, habitado por morcegos. Em tempos passados, aquele local era usado para a cerimônia de juramento dos guardiões, aqueles que se comprometiam a proteger um tesouro mais sagrado do que suas próprias vidas. No entanto, agora estava em ruínas, reduzido a escombros.

Desolado, caiu de joelhos no chão. O monumento que marcava o início de sua jornada e que era a única lembrança de sua vida passada já não existia mais.

Kiran encontrava-se perdido em desespero, sem saber o que fazer. Ao fixar o olhar no que restava do majestoso campanário, uma onda avassaladora de choque e tristeza percorreu seu ser. As lágrimas mesclaram-se à expressão angustiada em seu rosto, enquanto seu coração lutava para processar a devastação diante de seus olhos. O cenário sombrio e desolado de Solaria parecia sufocar toda esperança e vitalidade do reino.

Ao longe, os gritos de dor ecoavam em seus ouvidos, enquanto Kiran testemunhava impotente a ceifa de vidas a sua volta. Ele sentia a presença de seus irmãos guardiões, prontos para agir, enquanto ele mesmo se via incapaz de tomar qualquer atitude. O céu agora era tomado pelas luzes ferozes das armas dos guardiões, refletindo a batalha desesperada que se desenrolava contra o inimigo desconhecido.

De repente, um raio de sol rompeu as nuvens escuras e banhou a terra com sua luz dourada. O príncipe solar ergueu o rosto em direção ao céu, seus olhos se encheram de uma mistura de assombro e de uma esperança quase extinta.

A luz do sol começou a espalhar-se, dissipando as sombras e iluminando cada canto de Solaria. Os raios solares acariciavam sua pele novamente, aquecendo seu coração, mas não o suficiente para impedir que sentimentos de ódio se apossassem de si.

A raiva começou a tomar conta de Kiran, e sua determinação se transformou em uma chama ardente dentro dele. Ele sentiu seu corpo ser envolvido por uma luz intensa, um brilho incandescente que emanava de sua essência. Banhado pela luz solar, Kiran se tornou uma manifestação de pura luminosidade.

Sem hesitar, disparou para o céu com uma velocidade avassaladora, deixando Solaria para trás em um piscar de olhos. Sua figura luminosa rasgava o horizonte, deixando um rastro de estrelas cintilantes em seu caminho. Ele estava determinado a encontrar a pessoa responsável por trazer tamanha destruição a seu reino.

Estava ciente de que apenas uma pessoa no mundo poderia ser responsável por infligir tal atrocidade. Movido por uma determinação inabalável, ele dirigiu-se corajosamente em direção ao local onde a escuridão parecia mais densa, seguindo os últimos rastros do inimigo.

À medida que adentrava a negra e opressiva névoa, Kiran sentiu como se atravessasse um portal para outra dimensão. O cenário ao seu redor transformou-se instantaneamente, revelando um mundo sombrio que parecia existir em uma realidade paralela.

As cores vibrantes e quentes desvaneceram-se completamente, substituídas por tons de cinza e sombras sinistras. A paisagem era composta por terrenos áridos e desolados, onde árvores retorcidas e sem folhas se erguiam como esqueletos petrificados. O ar estava impregnado de uma atmosfera pesada e sufocante, como se carregasse o peso da dor e do desespero.

A luz, outrora radiante, agora era apenas um brilho fraco e enfraquecido, mal conseguindo penetrar a escuridão que dominava o horizonte. Ruínas e destroços se estendiam por toda parte, testemunhas silenciosas da violência que havia sido desencadeada.

O som que preenchia o ar não era como a doce melodia dos pássaros ou risos alegres dos habitantes de Solaria, mas sim um murmúrio sombrio e inquietante. O vento soprava suavemente, mas suas rajadas carregavam um lamento melancólico, ecoando a tristeza profunda que pairava sobre aquele lugar.

A sinistra presença envolvia Kiran como uma névoa gelada, serpenteando ao seu redor e penetrando até os ossos, fazendo com que sua pele se arrepiasse e sua respiração se tornasse mais difícil. Era uma sensação desconhecida, uma opressão tão intensa que ele nunca havia experimentado antes. Sabia que estava diante de algo muito maior, algo que transcendia sua compreensão.

Enquanto sobrevoava aquele lugar, a paisagem ao seu redor se transformava em um espetáculo ainda mais desolador. O horizonte distorcido e ondulado parecia se estender infinitamente à sua frente, uma visão perturbadora que mexia com sua percepção da realidade. Os contornos das formações rochosas pareciam se contorcer e se retorcer de maneira grotesca, como se fossem moldados pela própria maldade.

Vozes sussurrantes ecoavam em sua mente, sussurros inquietantes que pareciam surgir das sombras circundantes. Eram vozes dissonantes e angustiadas, como se pertencessem a seres provenientes dos mais profundos abismos do mundo. A sensação de estar cercado por esses seres das sombras, mesmo que invisíveis aos olhos, deixou Kiran furioso e desnorteado.

Enquanto avançava ousadamente, podia sentir uma presença mais forte se manifestando. Era como se o próprio solo tremesse em antecipação, reverberando com a energia sinistra que se aproximava. O cheiro de enxofre e desolação impregnava o ar, uma mistura pungente que preenchia suas narinas e enchia sua mente de temores sombrios.

Seus olhos percorriam cada centímetro da paisagem, buscando qualquer sinal, qualquer indício do que estava por vir. Ele sabia que estava prestes a enfrentar uma força além de sua compreensão, uma entidade tão poderosa que desafiava os limites da imaginação.

...

As águas cristalinas do lago dançavam ao ritmo da suave brisa matinal. Munihr contemplou a serenidade da paisagem, refletindo seu olhar na superfície tranquila. Um sorriso de paz se formou em seus lábios.

Os primeiros raios solares surgiram timidamente no horizonte, derramando uma luz dourada sobre as montanhas distantes. Munihr sentiu uma certeza profunda, a premonição de que uma força avassaladora se aproximava.

Acabara de despertar quando um de seus servidores se aproximou cautelosamente, consciente de não perturbar sua tranquilidade. Trazendo a notícia do invasor que estava prestes a chegar à cidade.

— Um solariano? — indagou, surpreso. — É raro recebermos a visita de alguém dessa raça tão egocêntrica.

— Já convocamos uma tropa de voluntários, senhor. Eles aguardam suas instruções. — informou o servidor.

Munihr suspirou, refletindo sobre a situação.

— Dispense todos eles — ordenou, levantando-se. — Eu mesmo irei receber nosso convidado.

O servidor expressou preocupação.

— Tem certeza disso? Enfrentar o invasor sozinho pode não ser uma boa alternativa. Ele não é um indivíduo comum.

O homem manteve sua decisão inabalável.

— Faço questão.

Sem mais palavras, ele partiu em direção ao encontro com o seu convidado.

...

Capítulo 2

Kiran sentia-se cada vez mais próximo do inimigo, avançando em direção a um destino incerto. Ao longe, sua visão era capturada por uma paisagem desolada, uma cidade cinza envolta em poeira e lixo, abandonada há muito tempo. Era um testemunho lamentável de uma civilização que havia sido deixada para trás, abandonada à sua própria sorte.

Com uma aterrissagem suave no solo arenoso, Kiran experimentou uma sensação de leveza em seu corpo, quase como se estivesse flutuando. Era como se sua vontade não pudesse ser contida, impulsionando-o adiante. Sem seus poderes, ele talvez tivesse dificuldade em se manter de pé naquele ambiente hostil.

Pequenas crateras pontilhavam a superfície, marcando cicatrizes na paisagem árida. O silêncio angustiante e quase perturbador envolvia tudo ao seu redor, como um manto sombrio. No horizonte distante, as silhuetas escuras das montanhas mal podiam ser discernidas, perdidas nas sombras que dominavam a região.

Kiran confessou para si mesmo que aquele lugar era estranho, uma terra desconhecida que jamais havia ouvido falar, nem mesmo nos registros dos livros. A experiência fora dos limites de Solaria estava se revelando um verdadeiro desafio, especialmente quando não encontrava uma única alma viva em qualquer direção que olhasse, embora sentisse a presença invisível de pessoas ao seu redor.

Inquieto, Kiran olhou ao redor, descontente com o que seus olhos encontravam. Ele se abaixou para tocar o solo arenoso e sem cor, sentindo sua frieza e aspereza em suas mãos. Essa sensação só reforçava a ideia de que aquele lugar não merecia o título de algo grandioso ou o que quer que estivesse além daquelas terras. Era um ambiente estéril e abandonado, esquecido pelas demais civilizações que prosperavam em outros cantos do mundo.

Enquanto Kiran refletia sobre sua decepção e perplexidade, uma voz misteriosa emergiu das sombras próximas.

— Sinto muito se estas terras não lhe agradam. — disse.

A voz enigmática ecoou pelo ar, carregada de um tom misterioso que capturou a atenção de Kiran. Ele parou em seu lugar, sentindo uma mistura de curiosidade e desconfiança se agitarem dentro dele. Seus olhos se fixaram na escuridão adiante, onde a ausência de luz era absoluta. Foi então que notou uma movimentação, uma presença oculta que parecia se aproximar.

Olhos brilhantes, semelhantes aos de um felino, capturaram a luz do sol, refletindo-a como prata na noite eterna daquele lado do mundo, onde a escuridão parecia reinar supremamente.

— Quem é você? — questionou Kiran, com cautela e desconfiança.

— Um simples desconhecido. —respondeu a voz, quase brincando com a situação.

O príncipe solariano franziu o cenho, desconfiado da resposta evasiva. Ele estreitou os olhos, tentando decifrar a origem daquela voz misteriosa que parecia emergir das sombras.

— Você mora nessas terras? — indagou, buscando obter mais informações.

— O que você acha? — provocou o desconhecido, deixando o ruivo ainda mais intrigado.

— Revele-se! — ordenou o príncipe com autoridade.

Um breve silêncio se seguiu, enquanto o desconhecido parecia ponderar suas palavras. Kiran começou a sentir a impaciência se acumular dentro dele. Ele estava cansado dos jogos de palavras e dos segredos.

— Diga-me agora quem você é! — exigiu.

O desconhecido permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse considerando a resposta. Finalmente, com uma calma perturbadora, ele respondeu:

— Não vejo necessidade de fazer isso.

A paciência de Kiran atingiu seu limite. Ele estava farto das evasivas do desconhecido.

— Talvez possa ser uma aberração aos seus olhos.

— Não me recordo de tê-lo ofendido diretamente. — disse Kiran, franzindo a testa enquanto pensava nas palavras anteriores.

— Mas tenho certeza de que pensará assim quando eu me revelar. — respondeu o desconhecido, lançando uma sombra de intriga sobre a conversa.

Kiran suspirou, reconhecendo a verdade em suas palavras.

— Talvez. Estou aqui, conversando com um desconhecido cujas intenções não conheço. Apenas sua voz não é suficiente. Por favor, identifique-se! — exigiu Kiran mais um vez.

O indivíduo misterioso permaneceu em silêncio por um momento, antes de finalmente responder. Sua voz ecoou na escuridão, enquanto ele se movia com uma elegância misteriosa, despertando ainda mais a curiosidade do solariano.

— Sou alguém que busca respostas, assim como você. Mas, se está tão interessado... — se adiantou — Me chamam de Munihr.

Ao ouvir aquele nome, o coração de Kiran disparou. Uma sensação de déjà vu o envolveu, como se ele tivesse ouvido aquele nome antes. "Munihr", ecoava em sua mente, desencadeando uma busca frenética em suas memórias, enquanto ele tentava conectar os pontos e entender a verdadeira identidade daquele misterioso indivíduo.

A figura se aproximou lentamente, emergindo das sombras como uma aparição que desafiava a compreensão. Era um homem alto, cujo corpo estava envolto em uma capa escura e desgastada que parecia se fundir com as sombras ao seu redor. Cada passo que ele dava era calculado e gracioso, como se estivesse dançando em harmonia com o mistério que o envolvia. Seu rosto estava parcialmente oculto pelo capuz, revelando apenas os olhos brilhantes e penetrantes que emanavam uma intensa energia.

E então, com um movimento suave, ele removeu o capuz.

A visão diante de Kiran foi tão deslumbrante que o príncipe solariano não conseguiu conter um ofegar de espanto. Era como se um ser de outro mundo tivesse se materializado bem diante de seus olhos, desafiando todas as leis da realidade.

Os olhos do homem eram de um prateado hipnotizante, brilhando com uma intensidade que rivalizava com as estrelas no firmamento. Eles pareciam conter segredos antigos e profundos, e o ruivo sentiu-se imediatamente atraído por eles. Os cabelos do homem irradiavam uma luz intensa, lembrando os cometas que cruzavam o céu noturno em direção ao grande astro. Cada fio parecia conter um poder cósmico, como se fossem uma extensão das estrelas acima. Sua pele possuía um tom maravilhosamente belo, emanando uma aura de mistério e magia que hipnotizava quem o observava.

Ao fundo, a Cidade Lunar brilhava como diamantes, iluminada pelos raios solares que transformavam suas ruas cinzentas em um espetáculo de reflexos e sombras. A luz da cidade parecia entrelaçar-se com a figura misteriosa diante de Kiran, criando uma atmosfera de encantamento e maravilha.

O solariano ficou imóvel, incapaz de desviar os olhos daquela figura sobrenatural diante dele. Era como se estivesse testemunhando a materialização de lendas e mitos, a fusão de sonhos e realidade. Cada detalhe do ser diante dele parecia transcender a compreensão humana, transportando-o para um reino além da imaginação.

— Munihir... — sussurrou Kiran, as palavras deslizavam de seus lábios como uma prece emudecida diante da grandiosidade daquilo que presenciava.

Um sorriso enigmático curvou os lábios de Munihir, revelando a perfeição de seus dentes brancos como pérolas.

A presença de Munihir envolvia Kiran como uma névoa encantada, e o príncipe sabia que sua jornada havia tomado um rumo inesperado. Ele estava prestes a descobrir segredos que poderiam abalar as bases de seu mundo, enquanto se aventurava ao lado dessa figura celestial e enigmática.

Capítulo 3

Kiran sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir a menção daquela simples palavra: "Munihir". Como um solariano legítimo, ele conhecia profundamente o peso e o significado daquele nome em sua cultura. "Munihir" era um termo que trazia calafrios aos solarianos, representando uma figura misteriosa e temida, envolta em segredos e perigos desconhecidos. Sua menção em conjunto com o ataque em Solaria deixava claro que algo muito maior estava acontecendo.

Além disso, o lugar em que Kiran se encontrava era descrito nas histórias e lendas contadas entre seu povo. Era um reino sombrio, cuja localização era desconhecida por todos, envolto em uma aura de mistério e perigo. Era um lugar onde a luz parecia não ter poder, onde as sombras dominavam e a escuridão reinava supremamente. Aquele lugar obscuro era conhecido como o "Reino dos Mortos" ou a "Cidade Lunar"

A cidade Lunar era um mistério que intrigava os solarianos há séculos. Poucos haviam testemunhado sua existência em vida, e aqueles que o fizeram tinham relatos vagos e perturbadores. Era um reino que apenas seres das trevas podiam acessar, e seus moradores eram conhecidos como lunares, seres esses, enigmáticos e poderosos, cuja natureza e intenções permaneciam envoltas em segredo. Rumores diziam que eles eram tudo aquilo que o mundo temia, servos diretos do próprio Diabo.

As histórias e lendas que cercavam a Cidade lunar descreviam um lugar desprovido de cor e vida. Um domínio onde a luz era sufocada, substituída por uma penumbra constante. As paisagens eram cinzentas e sombrias, com construções em devastação, essas a quais Kiran tinha presenciado bastante durante seu trajeto até ali.

E ele sabia que estava diante de algo terrível e perigoso. Seu povo e até mesmo os deuses haviam procurado incansavelmente pelo Reino dos Mortos, na esperança de desvendar seus mistérios e neutralizar sua influência maligna. Agora, ele se encontrava imerso nesse reino de sombras, enfrentando não apenas o desconhecido, mas também a ameaça que se erguia contra Solaria.

Kiran, ainda incrédulo, sussurrou baixinho:

— Então aquela sensação que eu tive antes era você...

— Nossos caminhos se cruzaram em tempos esquecidos, e agora estamos aqui. Não é fascinante, Kiran? — respondeu Munihir.

O guardião ergueu uma sobrancelha ao finalmente sair do transe, encarando o lunar com misto de curiosidade e desconfiança.

— Você me conhece? — questionou.

— Não me interprete mal, como um observador solitário, eu conheço muito do que acontece nos meus domínios, e você não estava nos meus planos. —respondeu Munihir.

— Meu reino foi atacado, e eu vim confrontar aquele responsável por esse ato. E eu sei que você está envolvido nisso! — acusou Kiran.

O lunar ergueu as mãos em gesto defensivo.

— Eu juro, não tive nada a ver com isso. Você está me acusando injustamente.

— Você nega? Agora que você se revelou, eu sei que é um lunar e sua espécie...— ele hesitou em mencionar o nome deles — ...essas abominações que vivem aqui, são a destruição adormecida.

Munihir olhou para Kiran sem expressão.

— Você está enganado, meu sol. Nós não controlamos as forças que regem o mundo. Vivemos isolados por circunstâncias óbvias, e você compreende bem o motivo.

Kiran sentiu uma pontada de dúvida e abaixou o dedo antes apontado para seu rosto de seu oponente enquanto seguia com as acusações, permitindo que as palavras de Munihir o alcançassem.

— Amaldiçoados? — disse com desdém, lembrando-se das histórias que ouvira sobre aquele povo.

O homem negou com a cabeça.

— Nós não somos amaldiçoados. O universo nos concedeu a solidão, assim como concedeu ao seu povo o calor do sol. Não escolhemos isso. Vocês, que sempre tiveram tanto, não têm o direito de nos julgar e culpar por algo que está além da sua compreensão, deuses.

— E como você explica o que aconteceu em Solaria? — perguntou o ruivo com olhos faiscando em raiva — As sombras que cobriram o céu, os ataques... tudo isso se encaixa na descrição dos seres das sombras! Já enfrentei muitos como você, e você é o único deles que teve a audácia de me encarar por tanto tempo.

Munihir suspirou, sentindo a pressão do momento.

— Você deveria pensar antes de falar, meu sol. Como um dos guardiões do seu povo, a responsabilidade pelo que acontece recai sobre você. Não me culpe se algo ruim acontecer. — suas palavras ecoaram estranhamente.

Kiran ergueu uma sobrancelha, intrigado com a resposta enigmática de seu oponente.

— Há séculos, os solarianos e os lunares são inimigos. Você sabe qual é o motivo desse ódio? — perguntou Munihir.

— Tudo o que sei é o que meus antepassados contaram. Dizem que o povo lunar esteve envolvido em vários conflitos ao longo dos tempos. Além disso, são aliados dos seres das sombras, descritos como demônios, antagonistas dos deuses e de tudo o que era sagrado. — respondeu prontamente, baseando-se nas histórias que aprendera desde a infância.

Munihir balançou a cabeça lentamente.

— Essa é apenas uma versão da história que você conhece. Do nosso ponto de vista, a história é completamente diferente.

O príncipe deu de ombros, desconsiderando a perspectiva dele.

— Sua versão não me interessa nenhum pouco.

O lunar suspirou, sentindo dificuldades em se comunicar com solariano.

— É triste ver tanta ignorância em suas palavras. Conversar com você é realmente uma tarefa difícil.

Kiran retrucou, sacando suas pistolas douradas, que podiam disparar luz.

— Eu poderia dizer o mesmo.

O lunar continuou a observar o ruivo com curiosidade, aguardandoo desenrolar da conversa.

— E agora, o que pretende fazer? — perguntou ele.

Kiran assumiu uma postura de combate, determinado a resolver suas diferenças por meio do confronto.

— Iremos resolver isso da mesma forma como os nossos ancestrais sempre fizeram, já que nenhum de nós está disposto a ceder. — respondeu ele.

— É uma pena. — lamentou Munihir, ciente de que não havia outra alternativa. — Se não há outra escolha, que assim seja.

Ele fez alguns gestos com as mãos, preparando-se para o iminente confronto.

— Mas lembre-se, você está em meu domínio. Se representar qualquer perigo para meus semelhantes, não hesitarei em te eliminar.

Um sorriso astuto se formou nos lábios do príncipe solariano.

— Então, isso é uma ameaça?

— Sim. — respondeu Munihir, lançando-se em direção a Kiran.

Kiran esquivou-se do ataque com uma velocidade impressionante, movendo-se quase à velocidade da luz. Num piscar de olhos, reapareceu atrás de Munihir, percebendo que seu oponente era mais lento e oferecia uma vantagem para um contra-ataque certeiro. No entanto, para sua surpresa, o lunar rapidamente se virou em sua direção, enquanto seus olhos brilhavam intensamente com um ódio profundo. Ele fez outro gesto sutil com as mãos, erguendo pedras brilhantes do chão que flutuavam ao seu chamado e lançando-as em direção a Kiran como mísseis.

Com habilidade e precisão, o solariano recuou, disparando contra as rochas enquanto era bombardeado. Ele tentou se aproximar novamente, calculando cada passo para evitar ser atingido. Quando finalmente chegou perto o suficiente, apertou o gatilho das pistolas, lançando uma enxurrada de faíscas contra Munihir, que instintivamente tentou se proteger com os braços enquanto era envolvido pelas chamas.

Um sorriso triunfante surgiu no rosto de Kiran, convencido de sua vitória, mas sua alegria foi curta.

— O que...?

— Lamento, mas suas balas não têm efeito sobre mim.

O ruivo franziu a testa, perplexo com a resistência de seu inimigo.

— Não sei que tipo de lunar você é, mas se a minha luz não é suficiente, então vamos ver o fogo.

As mãos de Kiran, hábeis e ágeis, moviam-se com destreza enquanto ele girava as pistolas entre os dedos. O brilho das chamas começou a crescer, cintilando em tons quentes de laranja e vermelho. O fogo dançava ao redor das armas, envolvendo-as em uma aura ardente, lambendo suas superfícies de metal com um apetite voraz. As chamas brilhavam com uma luminosidade quase sobrenatural, lançando uma luz quente e vibrante sobre o ambiente.

Kiran sentia o calor do fogo em suas mãos, mas não se queimava. Era como se ele estivesse em perfeita harmonia com as chamas, controlando-as com uma habilidade nata. Estava pronto para usá-la até que uma sensação arrepiante começou a se espalhar pelo seu corpo, percorrendo sua pele como uma corrente gelada. Era como se milhares de pequenos arrepios estivessem dançando ao longo de seus nervos, alertando-o para o perigo iminente. Seu coração parecia congelar dentro do peito, enquanto a sensação de frio implacável penetrava cada vez mais fundo.

Enquanto o ar ao seu redor se tornava mais gélido, Kiran podia sentir a própria essência de sua luz enfraquecendo gradualmente. A energia que costumava pulsar fortemente dentro dele agora parecia diminuir, como uma chama que estava sendo sufocada. A luminosidade que o envolvia e emanava de suas mãos brilhava com menos intensidade a cada instante, como se uma névoa sombria estivesse engolindo seu fulgor.

De repente, um estremecimento percorreu todo o seu ser. E o solariano ficou imóvel por um momento, lutando para se manter de pé, o frio implacável penetrava até os ossos. Cada respiração era um esforço agonizante, e suas pernas trêmulas mal suportavam seu próprio peso. A escuridão ao seu redor parecia se intensificar a cada segundo, envolvendo-o em um abraço gelado. Era um frio que parecia ir além da temperatura física, um frio que parecia se alimentar de sua própria vitalidade.

Kiran olhou desesperadamente para Munihir, mas o rosto do seu adversário permanecia impassível, revelando apenas uma mistura de pena.

— Infelizmente, você está em desvantagem neste momento, meu sol. —, disse o lunar, aproximando-se lentamente, como se quisesse prolongar a agonia de Kiran. — Teve o azar de me enfrentar durante o declínio.

Kiran sentiu um soluço escapar de seus lábios trêmulos. Era uma sensação avassaladora de impotência. Ele nunca imaginou que a luz, sua maior força, pudesse ser restringida dessa maneira. A noite daquelas terras sombrias estavam consumindo tudo, drenando sua energia e esperança.

Ele caiu de bruços no chão gelado, quase sem forças para continuar. Seus braços tremiam enquanto ele se arrastava em direção à luz que se afastava para o horizonte distante. A cada centímetro que avançava, a escuridão parecia se fechar ao seu redor, como se quisesse devorá-lo por completo.

— Eu preciso...— sua voz saiu como um sussurro fraco, mal audível até para seus próprios ouvidos. Ele estendeu a mão trêmula, tentando alcançar o raio de luz que escapava por entre as sombras.

Mas a luz continuava a se distanciar, inatingível e indiferente ao seu desespero. Ele se sentiu como uma estrela queimando em seu leito de morte, sua luz enfraquecendo a cada momento. Estava abandonado na escuridão, sem forças para lutar contra o destino cruel que o aguardava.

Enquanto a noite avançava impiedosamente, Kiran fechou os olhos, aceitando seu destino quase que certo. A escuridão o engoliu por completo, deixando apenas um vazio gelado em seu rastro.

— Deveria ter sido mais cuidadoso. — lamentou o lunar — Melhor do que qualquer um, devia saber que um solariano sem a luz do Sol é como um pedaço de rocha. Uma existência vazia, sem propósito. E infelizmente, agora está diante de seu fim...

À medida que a luz desaparecia completamente, dando lugar às sombras, Kiran já não sentia mais nada além do frio penetrante em seus membros. A ausência de calor e conforto era apenas um reflexo do vazio interior que assolava sua alma. Cada batida do coração era acompanhada por um eco oco, como se a vida estivesse desaparecendo lentamente de seu ser.

Num sussurro carregado de malícia, Munihir rompeu o silêncio opressivo. E suas palavras ecoaram ao redor, penetrando a mente já fragilizada do solariano.

 — Agora você compreende...? Essa sensação não lhe agrada, meu sol?

No vasto horizonte diante de seus olhos, Kiran contemplou o céu noturno, salpicado de estrelas brilhantes. No entanto, mesmo a magnificência cósmica desses pontos de luz celestial não era capaz de dissipar o medo avassalador que o consumia, nem de preencher o abismo de vazio que se formava em sua alma. As estrelas, por mais deslumbrantes que fossem, pareciam distantes e impotentes diante da escuridão que o envolvia por completo. Estava mergulhado em uma sensação terrível, uma dor que superava qualquer tormento que já tivesse experimentado em toda sua vida como guardião da luz.

A voz de Munihir, ecoou mais um vez de algum lugar distante, penetrando seu ser como uma lança envenenada.

— Seja bem-vindo ao meu mundo. — sussurrou ele, provocando uma sensação arrepiante na espinha de Kiran.

A frase carregava uma mistura de triunfo e amargura, como se o homem se deleitasse em compartilhar seu próprio abismo de desolação com o príncipe.

No entanto, o solariano mal ouvia as palavras proferidas. Munihir estendeu a mão em sua direção, e Kiran agarrou-a desesperadamente como se fosse sua última esperança de sobrevivência.

Seu toque era gélido, como o vento frio de uma noite de inverno. Mas Kiran não se importava. Ele simplesmente estava feliz por sentir algo novamente, mesmo que fosse apenas um toque frio e distante, o suficiente para trazê-lo de volta à consciência e reacender uma chama que quase havia se apagado.

— Suas mãos... — ele implorou.

Munihir permaneceu imóvel enquanto o ruivo buscava desesperadamente por suas mãos e o calor de seu corpo.

— Por favor... — Kiran suplicou, quase impotente. — Não... me abandone...

No entanto, Munihir permaneceu imperturbável diante do apelo angustiado. Seu olhar sombrio e sinistro atravessava as sombras, revelando uma satisfação nefasta.

Finalmente, o cansaço triunfou, e o príncipe adormeceu ao lado de Munihir, que apenas sorriu.

Com infinita cautela, o lunar envolveu Kiran com seus braços, segurando-o com uma determinação firme que contrastava com o toque gélido de sua pele. Seus dedos se fecharam em torno do corpo do príncipe, imbuindo-o de uma sensação de segurança aparente, embora permeada pelo arrepio que percorria a espinha de Kiran. Munihir fixou seu olhar sombrio no rosto do solariano uma vez mais, os olhos vazios e carentes de qualquer empatia ou compaixão. Em seu olhar, uma sinistra satisfação parecia dançar nas profundezas da escuridão.

Com passos silenciosos, iniciou sua retirada gradual, desvanecendo-se aos poucos na penumbra circundante. Sua figura, envolta em sombras, dissolvia-se na escuridão como um espectro em movimento, deixando para trás apenas o eco sussurrante de sua presença após a intensa batalha entre eles. O príncipe adormecido repousava em seus braços, alheio ao próximo destino sombrio que o aguardava.

...

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