— As diferenças entre nossos povos são profundas e históricas. Não podemos construir uma aliança duradoura se a sombra da opressão pairar sobre nós — disse Munihir — Eu sei que vocês desejam saber a localização do Reino dos Mortos, assim como todos os deuses e aqueles que se consideram santidades. — um suspiro escapou de seus lábios, carregado de um fardo pesado — Mas eu não vou permitir que meu lar e aqueles que nele vivem sejam ameaçados.
O salão permaneceu em silêncio, como se o ar estivesse impregnado de expectativa. Todos os olhos estavam fixos no homem lunar, esperando ansiosamente pela resposta dos anciãos diante de sua exigência.
— Está querendo pedir isso? Logo você, que invadiu nosso reino sem permissão? — disse Aethon, depois de se recuperar do choque inicial. — Este é um pedido que ambos os lados estão cientes. Aceitamos esses termos, se isso o preocupa. — olhou para seus companheiros, que assentiram em concordância. — Embora eu admita que saber a localização dos lunares seja uma idéia tentadora.
Munihir sorriu, mas havia tristeza em seu sorriso enquanto balançava a cabeça.
— Isso não é um pedido. É uma exigência. — afirmou ele.
Aethon ficou ainda mais impressionado com a audácia do inimigo.
— Está bem, aceitamos sua exigência — cedeu.
— Quero uma garantia de que irão cumprir com sua promessa.
— Acha que não honraremos nossa palavra? — retrucou Aethon, com uma pontada de irritação em sua voz.
— Não. — respondeu Munihir, com uma sinceridade que só cabia a ele.
Os guardiões mais velhos, cujos rostos eram marcados pelo peso dos séculos, exibiram expressões de incredulidade e irritação, com suas sobrancelhas franzidas em uma mistura de desaprovação e descrença. Suas rugas profundas pareciam narrar histórias antigas de batalhas e desafios superados, mas diante da postura desafiadora de Munihir, eles se sentiam confrontados por uma força desconhecida, algo que os desestabilizava em um nível mais profundo.
Ao lado do lunar, Kiran sentia-se tomado por um profundo espanto. Aquele era o mesmo homem que ele havia conhecido há pouco tempo, um ser gentil e sereno que irradiava uma aura aparentemente pacífica. Mas agora, diante dos indivíduos poderosos que podiam acabar com sua vida em um piscar de olhos, Munihir parecia transmutado, de postura rígida e olhos brilhando com uma intensidade que Kiran nunca havia testemunhado antes. A mudança radical de comportamento era desconcertante, lançando uma sombra de incerteza sobre a pouca confiança que Kiran depositava nele. Aquela não era a primeira vez que o líder dos lunares se mostrava hostil. Ele se recordou do incidente anterior, quando o confrontou em seu território. A dualidade de Munihir o confundia, fazendo-o questionar a verdadeira natureza do lunar e a estabilidade da aliança que buscavam estabelecer.
O coração de Kiran disparou, quase audível em sua própria cabeça, enquanto ele buscava uma compreensão mais profunda daquele ser que se mostrava tão imprevisível.
Após uma breve conversa entre os mais velhos, Aura falou:
— Se assim desejar, estamos de acordo, jovem. — disse ela, fazendo um aceno para os guardas que estavam junto à porta abrirem caminho. Foi quando os Guardiões da Luz entraram no salão, ajoelhando-se perante os anciãos. — Cada um desses jovens representa a luz em Solaria. Eles fizeram um juramento maior que suas próprias vidas e estão dispostos a se sacrificar pelo bem maior, caso seja necessário. Podemos entregar um deles como garantia de nosso acordo. Caso o acordo não seja cumprido, você terá permissão para levar a vida dele.
Munihir absorveu aquelas palavras com uma sensação de repugnância. Era visível que o povo de Solaria seguia rigidamente suas ordens e regras, mas colocar a vida de alguém como garantia era o cúmulo. Astrea parecia compartilhar do mesmo sentimento, e até Kiran, que era um guardião pertencente àquela ordem, estava incrédulo com seu próprio povo.
— Vocês são verdadeiramente detestáveis... — sussurrou o lunar, embora soubesse que suas palavras foram suficientemente audíveis para os anciãos ouvirem. — Eu me recuso.
— É isso ou não poderemos prosseguir com a aliança — declarou Aethon, impaciente.
Munihir, mesmo sendo o proponente daquela aliança, se sentiu encurralado. No entanto, ele sabia exatamente como escapar das garras de seu inimigo.
— Está bem — suspirou ele — Não lamentem depois.
O lunar começou a caminhar diante da fileira de guardiões, seus olhos percorriam cada rosto enquanto mantinham suas cabeças erguidas. Até que parou diante de Rylan, o mesmo que o havia provocado mais cedo. Os dois se encaravam, expressando uma mistura de indiferença e um desejo mútuo de causar dano um ao outro. Munihir sorriu de maneira estranha a ele.
Kiran, que observava tudo, sentia seu coração bater mais rápido e encarou o chão. Era incapaz de acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Não podia aceitar que um de seus colegas fosse entregue como peão de troca. E esse colega seria Rylan. A confusão dominava sua mente, até que ouviu os passos pararem diante dele. Levantou o olhar e encontrou os olhos vazios de Munihir e um rosto inexpressivo. O ruivo engoliu em seco, sentindo um nó no estômago.
— Eu escolho este — apontou para Kiran.
Um misto de choque e raiva tomou conta do solariano. Ele olhou para o lunar, incapaz de compreender totalmente a motivação por trás daquela escolha. Havia um ódio profunda nos olhos de Munihir, como se ele estivesse carregando um fardo insuportável. Kiran queria protestar, queria lutar contra aquela decisão injusta, mas as palavras pareciam fugir de sua boca.
O ambiente ficou tenso com a escolha de Munihir. Kiran sentiu um calafrio percorrer sua espinha enquanto o olhar do lunar se fixava nele. O peso da responsabilidade e do perigo iminente pesava sobre seus ombros. Ele tentou manter-se firme, apesar da incerteza que o dominava.
Os anciãos e os próprios guardiões ficaram surpresos com a escolha de Munihir. Alguns murmuravam entre si, tentando entender o motivo por trás da decisão do lunar. Enquanto isso, Kiran sentia o olhar de seus companheiros sobre ele, misturado com preocupação e incredulidade.
— Criança lunar, você tem certeza dessa escolha? — perguntou Aethon, parecendo cauteloso.
Munihir permaneceu impassível diante da pergunta de Aethon. Seu olhar penetrante não vacilou, transmitindo determinação e um propósito oculto.
— Tenho. Este guardião será minha garantia.
Kiran sentiu um aperto no coração. Ele não entendia o que Munihir tinha em mente, mas sabia que não tinha outra escolha a não ser seguir em frente. Ele ergueu a cabeça, encarando o lunar com determinação.
— Se é isso que é necessário para garantir a aliança, então estou pronto para assumir essa responsabilidade.
As testemunhas observaram a troca de palavras entre Munihir e Kiran, sem saber ao certo o que estava acontecendo. Aethon, mesmo contrariado, aceitou a decisão do lunar.
— Está feito. Que essa escolha seja uma prova de sua determinação em cumprir o acordo.
— Já que a aliança entre solarianos e lunares foi decidida e não é necessário confirmar novamente, volto a reforçar que nosso principal dever, com a bênção voluntária da Deusa das Estrelas, é buscar sobre mais respostas sobre Ragnarok e ir atrás da justiça para as perdas causadas. Vocês estão cientes dessa decisão? — continuou Aethon, olhando para Munihir e Kiran.
Ambos assentiram, demonstrando sua compreensão e comprometimento com o propósito da aliança.
— Muito bem. Vamos prosseguir com o juramento solene — disse o velho líder dos anciãos.
Preparativos foram feitos para o juramento final, porém, ao observar os objetos diante de si, Munihir expressou incredulidade.
— Meu sangue não será derramado aqui — afirmou ele.
Aethon, enfurecido, sentiu-se frustrado com a recusa e interpretou como uma exigência excessiva por parte do inimigo.
— Ele está certo — Astrea interveio — Sou filha de deuses, e o que aconteceria se o corpo de uma deusa fosse ferido? No entanto, devido à minha dívida com esse povo, honrarei meu juramento. Mas não insistam com Munihir. Ele está tentando evitar algo maior que vocês não imaginam.
As palavras de Astrea trouxeram uma reflexão profunda aos anciãos. Eles reconheceram que o juramento com sangue era uma tradição antiga do povo solariano, mas também compreenderam a singularidade de Munihir como lunar e a importância de respeitar suas tradições.
Após uma breve pausa, o velho líder dos anciãos falou novamente:
— Percebemos a validade de suas preocupações e respeitamos sua posição. Não o forçaremos a realizar o juramento com sangue. Entendemos que você está buscando proteger sua integridade. Aceitaremos sua palavra como um compromisso válido, pois confiamos em sua dedicação à aliança.
Munihir agradeceu o respeito demonstrado pelos anciãos, reconhecendo sua compreensão e aceitação de sua posição. Ele estava comprometido em cumprir o acordo e trabalhar em conjunto para alcançar os objetivos comuns.
— Eu entendo a importância do juramento com sangue para vocês, mas agradeço pela compreensão e aceitação da minha posição. Estou totalmente comprometido em honrar essa aliança e farei tudo o que estiver ao meu alcance para alcançar nossos objetivos compartilhados. Minha palavra é minha garantia, e como um símbolo dessa promessa, gostaria de oferecer isso — disse Munihir, retirando uma pedra cristalizada do bolso.
A pedra transparente irradiava a luz do local, brilhando com uma beleza cativante. Munihir entregou-a a Kiran, que a analisou cuidadosamente, intrigado com o significado por trás daquele objeto.
Os anciãos observaram com interesse enquanto o príncipe segurava a pedra em suas mãos. Ela parecia conter uma energia especial, transmitindo uma sensação estranha, a qual não sabia descrever.
Aethon, aproximou-se e pediu permissão para examinar a pedra. Ele a segurou nas mãos, sentindo sua textura suave e observando o brilho que emanava.
— É um item verdadeiramente extraordinário. Aceitamos esse símbolo como um lembrete sua promessa. — devolveu o pertence ao ruivo.
— Guarde-a bem, meu sol. — sussurrou o lunar.
Kiran olhou para Munihir com um misto de confusão.
Com o juramento completo, a aliança entre solarianos e lunares estava oficialmente selada. Astrea, com uma expressão nostálgica, foi a primeira a segurar a adaga em suas mãos trêmulas. Com determinação, ela cortou sua própria mão esquerda, permitindo que o sangue fluísse livremente. Uma gota rubra caiu no chão, marcando o início daquele poderoso ato de compromisso.
Em seguida, era a vez de Kiran. Ele hesitou por um momento, suas mãos tremiam de ansiedade. Sabia que aquele gesto não era apenas simbólico, mas um vínculo profundo com seu povo. Com um suspiro, ele apertou a adaga contra sua palma, fazendo uma incisão. O sangue se juntou ao de Astrea, formando uma pequena poça vermelha no chão.
Munihir permaneceu em silêncio, observando atentamente o ritual. Ele compreendia o significado profundo por trás daqueles cortes e do compromisso que representavam. Era um momento solene, onde a união de seus povos estava sendo forjada com sangue.
Astrea e Kiran, com as mãos ensanguentadas erguidas para o alto, proferiram o juramento com voz firme e determinada.
"Com este sangue derramado sobre estas terras, reafirmo minha palavra e prometo cumprir o juramento que agora faço."
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 182
Comments