A luz do sol escaldante do meio-dia penetrava pelas janelas empoeiradas do saloon, iluminando o ambiente abafado e enfumaçado. Kiran, com o rosto franzido pelo aborrecimento, sentia a impaciência crescendo dentro de si, enquanto esperava ansiosamente por Munihr. A cada minuto que passava, a sua paciência se esvaía como areia entre os dedos. O saloon pulsava com vozes animadas, risadas e conversas, que se entrelaçavam com a música desajeitada do pianista.
Ao lado do príncipe estava Astrea, a Deusa das Estrelas, com sua presença chamativa entre o cenário rústico do Velho Oeste. Seus cabelos longos brilhavam sob a luz difusa do ambiente, e seu olhar penetrante parecia capturar cada movimento no ambiente.
O local estava repleto de mesas ocupadas por jogadores de cartas, cowboys de chapéus largos e mulheres com vestidos coloridos. O ar estava impregnado com o cheiro forte de fumaça de cigarro e bebidas alcoólicas, misturado com o som estridente das fichas de jogo sendo empurradas e as apostas sendo feitas.
Kiran observava com impaciência a porta do saloon, ansiando pela chegada do líder dos lunares. O suor escorria pela sua testa, e a tensão se intensificava a cada batida do seu coração. E sua irritação crescia a cada segundo, enquanto a música criava uma atmosfera melancólica ao fundo. O guardião se voltou para a deusa, com olhos revelando uma mistura de frustração e impaciência, como chamas ardentes que ameaçavam consumi-lo por dentro.
— Você tem certeza de que mandou o recado para ele, não mandou? Já estou farto de esperar. — desabafou com desânimo.
Astrea, com seu olhar desafiador e brilhante como estrelas distantes, parecia mergulhada em pensamentos cósmicos. Ela deixou escapar um sorriso leve, como se soubesse algo além do alcance do príncipe.
— É claro que mandei o recado, seu impaciente. — respondeu com uma pontada de sarcasmo, desafiando a paciência do ruivo.
Kiran suspirou profundamente, sentindo-se exasperado pela espera prolongada. Seus ombros tensos se curvaram ligeiramente, demonstrando a carga emocional que carregava.
— Queria saber o que aquele maluco faz para desaparecer por tanto tempo assim. — resmungou.
Astrea balançou a cabeça em negação.
—Eu mandei o recado para ele há três dias. — disse ela, com um leve traço de impaciência transparecendo em sua voz divina.
O príncipe franziu a testa, sentindo uma pontada de preocupação se infiltrar em seus pensamentos.
— Mas ele não respondeu.
A deusa suspirou suavemente, tentando explicar as peculiaridades do líder dos lunares.
— Mas ele responderá, tenho certeza. — afirmou a mulher com confiança. — Munihr é assim mesmo. Às vezes, ele precisa de algum tempo sozinho, longe dos outros. É parte de sua natureza.
Kiran apertou os braços ao redor do próprio corpo, expressando sua frustração com a resposta evasiva. Sentia-se como uma folha ao vento, impotente diante das circunstâncias.
— Mas nós estamos em uma situação urgente! Não podemos esperar indefinidamente por ele. Agora que é nosso aliado, ele precisa estar aqui quando mais precisamos, especialmente considerando que muitos solarianos ainda não o vêem com bons olhos. — desabafou, com uma angústia.
Astrea soltou uma risada breve e sarcástica.
— Você acha que eu não sei disso? Eu também gostaria de tê-lo aqui neste exato momento, mas Munihr tem sua própria maneira de fazer as coisas. — respondeu ela.
Kiran desviou o olhar, contemplando a multidão agitada ao redor, sentindo-se frustrado e impotente diante da situação.
— E como você e ele se conheceram, afinal? — perguntou, curioso para desvendar os mistérios que envolviam a ligação entre eles.
A deusa sorriu enigmaticamente, com os lábios se curvando em uma expressão misteriosa.
— Vou deixar você imaginar sozinho. — respondeu de forma vaga, deixando o solariano ainda mais intrigado e cativado pela relação entre eles.
— Sempre com os mistérios... — resmungou, enquanto seu olhar se perdia no ambiente, em busca de respostas que pareciam estar além de seu alcance.
Astrea soltou um suspiro, evidenciando um certo cansaço na conversa. Decidindo mudar de assunto, ela percebeu que os pensamentos relacionados ao lunar pareciam pesar na mente confusa de Kiran.
— Soube que você esteve no mundo dos humanos, é verdade? — quis saber, demonstrando curiosidade.
O guardião ergueu uma sobrancelha, mostrando interesse em sua pergunta.
— Isso já faz muito tempo. Uns 15 anos mais ou menos. — respondeu com um tom de desdém. — E o que isso tem a ver com você?
A mulher sorriu, percebendo que tinha capturado a atenção do ruivo.
— Nada. Só estou curiosa. Geralmente, quando um deus deixa suas origens e vai para o mundo mortal, é por motivos maiores.
Kiran sorriu com nostalgia, entendendo o que ela queria dizer.
— Sim, uma humana. — respondeu ele, revelando um lado mais pessoal de sua história.
Astrea não perdeu a chance de provocar, lançando um comentário irônico.
— Então, até alguém como você pode ser romântico? Que fofo.
— Você não me conhece, Astrea. — retrucou.
— Pelo visto não.
Enquanto esperavam, se envolveram na atmosfera do saloon, observando atentamente os jogadores de cartas habilidosos, os dançarinos animados e os bêbados tagarelas. O ambiente estava impregnado de energia e tensão, e ambos sentiam que algo importante estava prestes a acontecer.
Finalmente, a porta do saloon rangeu ao abrir-se, revelando a figura misteriosa de Munihr. Seus passos eram silenciosos e calculados, enquanto ele adentrava o local com uma presença imponente. Seus olhos, sem vida, brilhavam como a lua cheia no céu noturno, emanando uma aura enigmática e inquietante. Seu rosto sério era obscurecido parcialmente pela sombra de sua capa negra, conferindo-lhe um ar sombrio.
No momento em que o lunar adentrou o local, o ambiente mergulhou em um breve silêncio. Todos os frequentadores, jogadores de cartas, dançarinos animados e até mesmo os bêbados tagarelas, direcionaram seus olhares curiosos e desconfiados para o homem lunar. O ar parecia pesar com uma tensão palpável, como se todos estivessem prestes a presenciar algo extraordinário ou perigoso.
Enquanto isso, Kiran e Astrea trocaram olhares significativos. Um entendimento silencioso passou entre eles, revelando a complexidade de sua relação com Munihr. G príncipe sentiu um misto de alívio e ansiedade ao vê-lo. Astrea, por sua vez, parecia satisfeita com a chegada do amigo.
Munihr aproximou-se deles, lançando um rápido olhar ao redor do saloon, como se estivesse avaliando cada pessoa presente. A atmosfera carregada de expectativa e desconfiança parecia não afetá-lo. Ele puxou uma cadeira e se sentou, mantendo sua postura ereta e seu olhar penetrante.
O saloon voltou à vida, com o som das conversas e risadas lentamente preenchendo o ar. No entanto, a presença do lunar permanecia como uma sombra, deixando todos conscientes do inimigo.
— Achei que não fosse mais aparecer.— Kiran foi o primeiro a se pronunciar.
Munihr lançou um olhar sombrio para o solariano, seus olhos sem cor pareciam brilhar com uma intensidade perturbadora. Uma aura gélida emanava dele, envolvendo a atmosfera em uma tensão palpável. Um arrepio desconfortável percorreu a espinha de Kiran, como se dedos invisíveis e gelados estivessem rastejando por sua pele, fazendo-o questionar o que havia acontecido com o homem desde o último encontro. Munihr parecia diferente, como se uma sombra profunda e sinistra tivesse tomado conta de sua essência antes tão luminosa e enigmática.
Incapaz de conter a frustração crescente e o medo que o assolava, Kiran se levantou bruscamente. Com um movimento rápido e explosivo, ele bateu com os punhos sobre a mesa, fazendo com que copos e garrafas tremessem em seu lugar, ameaçando cair e espalhar estilhaços pelo chão de madeira. O impacto foi tão forte que a própria mesa tremeu, rangendo sob a força do golpe. Ao mesmo tempo, sua cadeira foi abruptamente derrubada com um estrondo assustador, ecoando pelo local como um trovão súbito em uma noite tempestuosa.
O som retumbante reverberou pelo ambiente, cortando o ar abafado como um presságio sombrio. O silêncio foi quebrado instantaneamente, e todos os presentes no saloon viraram suas cabeças em direção à origem da perturbação. Olhares curiosos e preocupados se fixaram no guardião, enquanto os murmúrios e conversas ainda eram ouvidos ao fundo.
Os olhos de Kiran ardiam de raiva e desespero, fixando-se intensamente no lunar. Sua voz, trêmula e carregada de emoção contida, rompeu o silêncio tenso.
— Que semblante é esse? — questionou — Pode me explicar, porque eu realmente não entendo... Na última vez que nos vimos, você estava tão... diferente... — Kiran deixou as últimas palavras morrerem, incapaz de descrever completamente a mudança que havia percebido em Munihr.
O silêncio se espalhou pelo local novamente, enquanto todos os presentes fixavam seus olhares curiosos na cena que se desenrolava. Munihr permaneceu sentado, com rosto sério e inexpressivo. Ele fitou o príncipe por um momento, como se ponderasse as palavras que escolheria para responder. Com uma voz fria desafiadora, que aumentou ainda mais a raiva de Kiran, disse:
— Recebi a mensagem de Astrea. E estou aqui, não estou?
Kiran cerrou os dentes, uma fúria incontrolável tomava conta dele. Astrea rapidamente interveio, tentando acalmar a situação.
— Chega de arrumar confusão, Rider. Está nos fazendo passar vergonha.
Ele olhou para a deusa com a mesma expressão de raiva e frustração.
— Você não consegue ver? Olhe para esse sujeito!
Astrea olhou para Munihr, parecendo não notar nada fora do comum, e em seguida, voltou o olhar para o solariano, com um olhar que beirava a explosão.
— O único exaltado aqui é você. E se causar problemas para Munihr por sua causa, você vai se ver comigo.
Incapaz de conter sua raiva e confusão, o Kiran saiu do saloon em passos firmes, deixando para trás Astrea e Munihr. A atmosfera tensa permaneceu no ar enquanto os outros frequentadores do local voltavam às suas atividades, como se nada tivesse acontecido.
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Atualizado até capítulo 182
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