Fantasia Da Meia Noite
...Se esta rua, se esta rua fosse minha...
...Eu mandava, eu mandava ladrilhar...
...Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes...
...Para o meu, para o meu amor passar...
― Você ouviu falar? Dreamland World terá um novo dono.
― Quem iria querer herdar aquele lugar? Ouvi dizer que os palhaços sequestram pessoas para matá-las.
A neblina se torna densa, mergulhando em todo o parque sendo capaz de esconder as pessoas.
...Nesta rua, nesta rua tem um bosque...
...Que se chama, que se chama solidão...
...Dentro dele, dentro dele mora um anjo...
...Que roubou, que roubou meu coração...
― Uaaaaau, é ele mamãe! Veja, ele está lá no alto. Parece um anjo!
― Tão bonito... Será que é solteiro? Benjin, você é demais!
...Se eu roubei, se eu roubei teu coração...
...Tu roubaste, tu roubaste o meu também...
...Se eu roubei, se eu roubei teu coração...
...É porque, é porque te quero bem...
Os aplausos da plateia, os gritos e a admiração que direcionam aos artistas sobre o palco era o cerne daquele lugar. Quando a noite chegava, todos eram recepcionados para dentro da enorme tenda onde mais um espetáculo iria começar. Pipocas, doces e refrigerantes à postos.
Era hora do show.
...⋈...
Em um bar de casa cheia, uma banda se apresentava. O som alto da bateria e das guitarras enlouquecia o público, que cantavam junto do vocalista da qual parecia entregar a própria alma naquele microfone. O pequeno palco não permitia muito movimento por parte dos musicistas, no entanto o vocalista conseguia ir de uma ponta à outra, subir em caixotes e interagir com o seu pequeno público.
Mesclando músicas autorais e covers, aquela pequena banda mostrava sua habilidade com clamor. Era certo que o público aplaudira o seu final, erguendo garrafas de cerveja e copos de chopp brindando a bela apresentação que aqueles quatro jovens os presenteara.
Já passava da uma da manhã quando os quatro rapazes desceram do palco suados e ofegantes. Os sorrisos em seus rostos era a prova contundente do prazer que sentiam em tocarem juntos mais uma vez.
― Aqui rapazes, cerveja gelada para vocês e... ― Sorria a dona do bar segurando três garrafas de cervejas as deslizando sobre o balcão, tendo os rapazes segurando prontamente. Para o último integrante da banda, o vocalista, a mulher alta e trans entregava uma xícara de alumínio fumegante ― Leite quente para o nosso bonitão.
— Abençoada sejam as suas mãos divinas, Betinha.
O vocalista abria um largo sorriso ao segurar a xícara e erguê-la em um agradecimento silencioso. O cheiro do mel misturado ao leite aquecido não combinava de maneira alguma com um bar como aquele, apesar do rapaz não parecer se importar com tal detalhe. Bebera um gole com cuidado, sentindo o calor relaxar sua garganta arranhada.
― Ah... Que delícia!
― Por acaso tem feito algum treinamento vocal? Sua voz parecia diferente essa noite. ― Quis saber a dona do bar, preparando um drink ao receber o pedido de um dos garçons.
― Tenho visto alguma coisa na internet. Ficou ruim?
A careta do rapaz fazia a mulher revirar os olhos e rir negando com a cabeça. Era notável o seu esforço daquela noite, a dona do bar precisou inclinar-se um pouco para ouvir o rapaz que estava rouco. Ainda assim, sua voz era gostosa de ser escutada.
― Pelo contrário, acho que essa foi uma das melhores apresentações dessa noite.
― Ei! Dona Berta, poderia descolar uns petiscos para nós, não acha?
― Tenho cara de empregada, senhor Rafael? ― Reclamava a mulher para o guitarrista, que alargava ainda mais o seu sorriso besta. Tão sem vergonha que a mulher tentava não sorrir ― Vai ser fritas com cheddar por enquanto.
― Você é demais!
O vocalista soltara um riso baixo ao tomar mais um gole do seu leite quente com mel, se divertindo com os amigos que logo entravam no mesmo clima que os demais clientes do bar. Uma cerveja atrás da outra, gritando e pregando peças para encerrar a noite esplendorosa. Conversas paralelas à brincadeiras, bebidas em mãos e assim o zum zum zum começava.
Só que para aquele vocalista os assuntos corriqueiros não pareciam tão interessantes. Geralmente era o mais empolgado, o que mais gritava sem desistir de elevar o ânimo de seus amigos. Estava cansado de pular no palco pequeno, e aquele leite quente o relaxava à beça. Ou seriam as noites mal dormidas das últimas semanas? Enquanto desfrutava de sua bebida exclusiva, ele olhava para a televisão de plasma sem som, onde passava uma matéria do jornal.
― Ei, Leo!
A voz feminina ganhara não somente a atenção do vocalista, como também de toda a banda e até mesmo da Dona Berta. O sorriso de antes fora substituído por caretas desgostosas dos rapazes, tendo apenas o vocalista a olhar para a garota que lhe dirigia um sorriso afável.
Definitivamente não estava preparado em falar com ela novamente. Não depois da tempestade que criou quando flagrava a sua, então, namorada com outro cara. E ainda pior, o antigo baterista da banda. Recém deixará de usar a faixa que envolvia a cicatriz em sua mão direita. Mas lá estava ela, parecendo uma boneca de porcelana.
― Como você tem estado? Cantou bem hoje... ― Dizia a mulher de vestes delicadas e cabelos castanhos claros alisados. ― Tinha ouvido falar que não faria mais parte da banda, mas vejo que foi só um boato.
― Não abrimos mão desse vocal, mas nem fodendo! ― Sorria o baixista abraçando o amigo vocalista pelo ombro.
A mulher ria ajeitando uma mecha atrás da orelha. Foi quando um homem alto e musculoso aparecera por trás dela, passando o braço por seu ombro direcionando um olhar afiado ao vocalista.
― Eh, quem é vivo sempre aparece. O que é isso aí? Conhaque?
O vocalista baixara os olhos para a xícara quase vazia, sem responder. Apenas virara o resto do conteúdo e estendera a xícara para a dona do bar.
― Poderia fazer mais um? Minha garganta ainda está um pouco arranhada.
― Como quiser meu querido, mais um leite quente com mel.
― Leite quente? Que bebezão ― Ria o homem musculoso. ― Por acaso regrediu depois de ter sido trocado?
― Alex por favor...
Os integrantes da banda, e até mesmo Dona Berta, arregalavam os olhos quando o assunto sensível fora tocado. O vocalista apenas acompanhava a dona do bar terminar de esquentar o leite e misturar alguns fios de mel na xícara de alumínio antes de entregar o pedido. Segurando entre seus dedos, o rapaz abria um sorriso ladino.
― Não quero cometer o mesmo erro do nosso antigo baterista. ― Sorria o rapaz virando-se para o brutamontes. ― Vocês dois se merecem. Uma traidora e um alcoolista.
O rubor tomava as bochechas da mulher, cujo último relacionamento havia sido com o vocalista da banda. Faziam dois meses que haviam terminado? Provavelmente. O rapaz parecia ter superado a relação, dada a apresentação animada que fizera minutos antes.
― Como é?
― Garotão... Se aprontar de novo no meu bar, farei questão de te enterrar numa cadeia. ― Avisava a dona do bar, com um olhar ameaçador que seria capaz de criar uma faca afiada de gelo naquele mesmo momento.
O brutamontes rosnara em resposta, puxando a namorada para longe da banda. Mesmo que ela olhasse para o ex, ele não retribuíra o olhar. Continuava a beber do seu leite quente e a sorrir para a xícara.
― Uau, que cara de pau a dela de vir conversar contigo, hein.
― E ainda trouxe aquele cara com ela. Ainda bem que nos livramos dele. ― Dizia o guitarrista, abraçando o novo baterista da banda.
― Ele me dá medo. ― Afirmava o novo integrante.
― Se preocupa não, bebê. Tia Berta cuida de vocês por aqui.
O rapaz de dezoito anos ainda era tímido perto da banda, porém suas habilidades na bateria eram bem melhores que o antigo integrante. Um achado e tanto do vocalista, que o ouvira tocar na sala de instrumentos da faculdade.
― Ignore ele. Se ficar dando trela aquele cara vai te pegar pra Cristo. ― Avisava o vocalista.
Os petiscos logo foram entregues, e os demais rapazes se sentavam à bancada para comerem. O novo baterista escolhera a banqueta ao lado do vocalista, olhando curiosamente para a sua xícara de alumínio.
― Mas por que você bebe leite?
O vocalista abria um sorriso ladino, apontando para a própria garganta.
― O álcool fode com o vocal. Preciso cuidar dela se quiser ficar nessa posição na banda. Ou terei de voltar pra batera.
― Nem pense nisso, Leo! ― Reclamava o rapazote assustado. ― Essa vaga já é minha.
O vocalista ria afagando os cabelos bagunçados do menino, e então algo na televisão chamara sua atenção.
O nome daquele lugar escrito na tela fazia com que o sorriso fosse embora. Seu coração acelerava ao tempo que seu cérebro buscava memórias, das quais foram custosas a serem esquecidas. Apertando os dedos em torno da xícara de alumínio, o vocalista tentava entender sobre o que seria a matéria do jornal.
Na tela mostravam um parque de diversões, que ao fundo haviam portões de ferro fechados mostrando um terreno cheio de maquinários e operadores. Uma tenda listrada na cor vermelha e branca se erguia de pouco em pouco, mostrando sua grandiosidade.
― Ora, parece que finalmente o circo vai voltar. ― Dizia a dona do bar, enxugando um copo que acabara de lavar. ― Ouvi dizer que ficaram sem se apresentar por estarem de luto pela morte do dono.
― Nossa, mas isso já fazem meses! ― Dizia o baterista, pegando uma das batatas e a mergulhando no queijo derretido. ― Mas é impressão minha ou eles mudaram a cor da tenda?
― Eles sempre mudam de acordo com os espetáculos... Ora, ora, veja só, vão voltar com aquele espetáculo.
Lentamente as vozes ficaram distantes.
Toda a alegria que o vocalista sentia por uma apresentação de sucesso fora substituída pelo tremor em cada músculo de seu corpo. Apertando os lábios, ele fitava aquela televisão acompanhando a enorme tenda ser erguida sob olhos curiosos da clientela.
“― Venha Leo! Podemos brincar lá perto do...”
A voz infantil da pessoa que segurava sua mão trouxera a nostalgia de volta. Até seus dedos ficaram vermelhos de quentura, como se naquele momento tivesse sido puxado por aquela pessoa. Tal lembrança era envolta de uma densa neblina e escuridão. Não se recordavam, porém, do local exato para onde iriam.
Mas sabia que era distante do circo.
E que era um lugar da qual nunca mais gostaria de voltar.
― Faz anos que não apresentam esse espetáculo. Ah, acho que vou assistir. ― Dizia o baterista com um sorriso nostálgico, logo virando-se para o vocalista. ― Né, Leo, gosta do circo?
O vocalista piscara algumas vezes para retornar a sua realidade. Baixando a cabeça para se situar no bar novamente, o rapaz abria um sorriso carismático no rosto.
― Costumava gostar quando moleque. Mas nunca mais fui em um.
― E se a gente fosse todos juntos?
O vocalista tornara a afagar os cabelos do garoto.
― Logo estaremos em semanas de provas. Faz favor de estudar direitinho hm?
― Você é terrível por me lembrar de um pesadelo desses.
O vocalista rira baixo e divertido, deixando de prestar atenção à televisão. Apenas bebera o resto do seu leite quente com mel para conversar com seus amigos. E quando o bar estava prestes a ser fechado, a banda finalmente pode apreciar um baita hambúrguer feito pela Dona Berta.
Mais tarde, já passando das três da manhã, o vocalista dirigira o carro deixando cada integrante da banda em sua casa. Sendo o último, ele fora para a kitnet que alugava sem deixar de pensar na matéria do jornal.
Quando entrara no pequeno apartamento deixando as chaves jogadas na bancada da cozinha, o vocalista se jogara na cama fechando os olhos.
― Eles vão voltar... Bom, eu não tenho nada a ver com isso mais.
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Atualizado até capítulo 102
Comments
Deise💙Fujoshi sem salvação💙
Oi, oi, oi, chegay!!!
Estava eu em busca de mais uma história para entreter-me, és que eu entro no meu perfil, vi o perfil dessa autora que sou xonada pelas suas história, e aqui estou eu em busca de muitas emoções...
Senti saudades autora, sempre olhava no seu perfil pra ver se vc já tinha história nova e graça ao céus tem... (Aeeeee feliz estou😊).
2022-06-01
5
Mary Keule
Que maravilha autora,estava com saudades das suas histórias🥰
Sinto que vou gostar dessa também.
2022-05-31
4