Um baterista fanboy?

― Tô indo mais cedo hoje.

― De novo?

Rafael encarava frustrado o seu amigo, que jogava o material para dentro de sua mochila.

― A gente ia pedir pro professor dar uma olhada no nosso projeto.

― Já falei com o professor, ele não vai implicar com vocês. ― Leonardo parava antes de se virar aos amigos. ― Ah, já que não tenho feito a parte prática ultimamente, deixe que eu organizo o projeto e a parte escrita do trabalho.

― Por mim tudo bem, mas por que você tem saído cedo ultimamente? ― Questionava Juliano.

Respirando fundo Leonardo tentava organizar os próprios pensamentos. Faziam quatro dias que não ficava junto com seus amigos para cuidar do projeto deles. Sempre tinha que sair, fosse para ir trabalhar na oficina por meio período, fosse por precisar ir para casa.

E ainda Vicente aparecia sempre na faculdade para avisá-lo que suas coisas já haviam sido empacotadas e levadas para o seu novo... Lar?

Aquele lugar nem fazia ideia do que se tratava. Quer dizer, já ouvira falar aquele nome estranho, mas sempre dava um jeito de ir para longe ou colocar fones e aumentar o volume de músicas. Não se permitiria saber das novidades para evitar memórias desnecessárias.

Mas a maré havia mudado, não é mesmo?

Leonardo fazia uma careta ao se sentar novamente na cadeira.

― Vocês sabem de alguma mansão naquele parque?

― Parque?

Juliano e Rafael entreolhavam-se e então negavam com a cabeça. Como poderia explicar para eles a enrascada da qual se enfiara ao concordar com os planos de Vicente? Nem ele mesmo entendia direito a situação.

― Eaí galera!

― Opa, Gustavinho chegou. Qual é, tá livre hoje?

Gustavo era todo sorrisos, como sempre. Um garoto animado que ficava ainda mais empolgado quando perto daqueles três veteranos. Sentando-se ao lado de Leonardo ele abraçava a própria bolsa.

― Tenho uma palestra, por quê?

― Nem adianta a gente ir tocar se o Leo não vai poder ir. ― Lembrava Rafael.

― Ah verdade.

― O que tá rolando?

― Caçulinha, você conhece alguma mansão lá no parque? ― Perguntou Rafael sem deixar o assunto ser esquecido.

― Na Dreamland, vocês falam? ― Tendo os três assentindo, Gustavo concordava com a cabeça também. ― Dizem que dentro da Cove of Mermaid tem uma ruazinha estreita e reta, seguindo ela por alguns metros há uma mata fechada. Se conseguir atravessar ela encontrará um portão e uma mansão escondida.

― Que bizarro...

― É sério isso aí? Me parece mais histórias que a molecada cria só pra botar medo ou criar teste de coragem.

Gustavo balançara a cabeça agitadamente.

― É verdade! Chamam ela de Dreamland Mansion, alguns amigos de escola dizem ter conseguido chegar no portão, mas uns funcionários os arrastaram para longe. Os funcionários contam que lá descansam as principais atrações do parque.

Os três veteranos semicerravam os olhos em descrença. A forma como Gustavo contava a história parecia uma lenda urbana digna de trote da televisão. Além disso, o baterista parecia estar muito empolgado em falar sobre o parque, seria ele algum fanático?

― As principais atrações? O que é isso?

O baterista coçara a cabeça e então abrira a sua mochila puxando um caderno grosseiro de dez matérias. Pegando também uma caneta, ele fora até as últimas páginas onde escrevia algo. Depois de rabiscar a folha, Gustavo erguera o caderno para os três veteranos, apontando para a primeira escrita circulada.

― Aqui, a Cove of Mermaid é o parque de diversões. Dizem que sua principal atração é um mágico chamado Ray. É como se fosse um mascote. Eu já fui lá com meus pais e o vi, é um cara que sempre faz brincadeiras e usa roupas coloridas apesar de velhas.

― Deve ser um cara fantasiado.

― Mas não deixa de ser O cara. ― Rebatia Gustavo em defesa. ― Sempre falam que os shows de mágica dele são sensacionais.

Leonardo tinha a certeza agora, o seu colega de banda era um fã do parque.

― Ok... Então ele seria uma das principais atrações?

― Isso, Leo. ― Arrastando a caneta para o círculo do lado, Gustavo continuara ― Quando entramos no parque já damos de cara com o Bluemoon Plaza, que é o shopping de céu aberto do parque. Ele é administrado por um cara que faz rondas por lá, e  acaba chamando atenção por estar sempre de cosplay.

― Eu ia dizer que isso é bizarro, mas é um circo.... ― Ria Rafael, recebendo um tapa em sua cabeça vindo de Juliano.

― Presta atenção, o caçulinha tá falando.

― Ele também é a principal atração então? Mesmo não fazendo nada além de cosplay? ― Questionava Leonardo mostrando interesse.

― Ele dá oficinas de costura e automaquiagem artística. Então, ele se tornou uma forte atração do plaza. Minha irmã mais velha já participou de uma das oficinas que fizeram lá na Dreamland, e ela elogiou horrores aquele cara.

― E esse último aí?

― Dreamland Circus, a atração principal é um trapezista chamado Benjin. Muitos elogiam os espetáculos que ele participa, mas acho que a maioria gosta mesmo é do rostinho bonitinho dele.

Um trapezista?

Não teria sido ele quem Leonardo tentara ajudar naquele dia? Lembrava do modo como a plateia havia aplaudido, ou ovacionado, a sua entrada no circo naquela noite. Se bem que também poderia ser outra pessoa, já que não vira o espetáculo inteiro.

Ah... Mas aquele nome era familiar.

― Isso significa que esses três moram na tal da mansão?

― É o que dizem os rumores, já que ninguém nunca os viu ir para casa depois que o parque é fechado. Tem tudo quanto é tipo de história sobre essa Dreamland Mansion na internet. Mas a maioria é pra botar medo.

― Daqui a pouco vão estar na deep web.

― Se já não estiverem.

Apesar da conversa sobre as lendas assustadoras que cercam o parque, Leonardo não conseguia evitar de se preocupar. Vicente havia dito aquele nome, Dreamland Mansion, o declarando o seu lar temporário. E que um grupo seleto de pessoas saberiam a verdade sobre Leonardo.

Seriam aquelas três pessoas?

Leonardo teria que viver com eles?

Com o celular tocando sobre a mesa, Leonardo lia o nome de Vicente e já suspirava baixo. Estava atrasado e o dito cujo provavelmente o esperava já na faculdade.

― Quem é?

― Um cara. Foi mal galera por ultimamente não ajudar vocês em bosta nenhuma, mas é que estou me mudando.

― Sério? Tu ganhou algum bônus no seu trampo pra conseguir algo melhor?

Leonardo ria diabolicamente.

― Até parece. ― O sorriso logo se desfizera quando Leonardo olhara para Rafael. ― To indo pra casa onde meu pai morava. Tenho algumas coisas pra resolver.

Juliano estava prestes a fazer mais perguntas quando Rafael tampara sua boca.

― Tá tranquilo então, Leo. Vai lá. Depois que a gente falar com o professor a gente te liga e manda os arquivos pro teu email. Fecho?

― Tu é foda, Rafinha. ― Ria Leonardo afastando-se do grupo, não antes de bagunçar os cabelos volumosos de Gustavo. ― Vejo vocês depois.

Enquanto observavam o amigo se afastar, Juliano afastara a mão que cobria sua boca, virando-se curioso para Rafael.

― Qual foi? Queria saber mais...

― Se o Leo mencionar o pai dele, nunca façam perguntas. Acho que o Leo não superou a morte do pai.

Talvez Rafael estivesse certo em algum ponto. Leonardo dificilmente mencionava seu pai, mas a notícia de seu adoecimento repentino o abalara consideravelmente. Sua morte então... Bem, nenhuma lágrima havia sido derramada, mas certamente uma parte de si também morrera.

Mesmo que cortasse os laços com sua infância, Leonardo ainda sangrava dolorosamente.

Na saída do campus, em um estacionamento... Mais precisamente parado na frente de um chevette preto, estava a figura de Vicente. Assim que avistara Leonardo, ele fizera uma ligeira mensura com a cabeça.

Nos minutos seguintes, Leonardo já dirigia seguindo a rota orientada por Vicente. Os dois mergulhados no silêncio dentro do carro, sem tornar o clima desagradável.

Dreamland Mansion. Com certeza era algo que fora construído logo após a sua saída. Em sua época, apenas o parque e o circo funcionavam. Até mesmo as lojas que vira na outra vez eram uma novidade. Todas aquelas mudanças tornavam a realidade muito distante de suas lembranças.

Aquele lugar definitivamente não o pertenceria mais.

De toda forma estava voltando para lá. Seria por pouco tempo, só para encerrar suas pendências e romper com o cordão umbilical. E então estaria livre para fazer o que quiser.

― Nessa estrada, jovem mestre.

Virando na rodovia seguindo as orientações de Vicente, haviam tomado um caminho anterior à rotatória que os jogariam na entrada do parque. Ainda assim, por ainda ser dia, era possível ver o parque e a tenda do circo ao longe.

Provavelmente estaria lotado, principalmente por estar próximo do final de semana.

A estrada simples parecia ser mais velha e com pouca passagem de carros. Se estivesse dirigindo à noite certamente a consideraria assombrada.

No meio do caminho Vicente apontara para uma estrada de chão que entrava na mata. Por um segundo Leonardo ponderou em jogar seu precioso carro naquela passagem, e por isso diminuíra a velocidade para seguir a estrada quase invisível.

― Por acaso tá me levando pra algum lugar descampado pra me matar?

Vicente rira.

― Não, jovem mestre. Essa é a única estrada que permite passagem de carros na mansão. Se eu fosse cometer algum crime, certamente o jovem mestre estaria vendado.

Rapidamente Leonardo lançara um olhar esbugalhado para Vicente, que gentilmente segurara seu queixo o fazendo olhar para a estrada novamente.

Deveria pular do carro?

Dar meia volta?

Estava ficando com medo.

Ao final da longa estrada cerca por árvores, finalmente um muro de tijolos e um portão de ferro apareceram. Vicente tirara um controle do bolso o apertando, tendo os portões se abrindo automaticamente. Muito bem, haviam investido um pouco de tecnologia na tal da mansão.

Assim que o carro passara pelos portões, Vicente tornara a apertar o botão para fechá-los, e então Leonardo continuou a seguir a estrada cercada por árvores. Não demorou mais que dez minutos para finalmente a fachada da mansão ser avistada.

Estilo chalé, cercada de árvores e plantas parecendo ter sido construída de pedras, era uma mansão consideravelmente bonita e natural. Leonardo estacionara o carro na frente da mansão, olhando em volta boquiaberto. Não parecia requintado por fora, mas era bonito. Muito bonito.

Pegando sua mochila no banco de trás e saindo do carro, Leonardo seguia Vicente até as escadarias que também eram preenchidas por trepadeiras. No topo das escadas, duas estátuas de pedras de leões sentados davam um toque charmosamente antiquado ao ambiente.

Vicente abrira a porta dupla, tendo o piso amadeirado lhe dando as boas vindas e uma imensa janela do outro lado da sala. A mobília parecia antiquada, ou vintage como os entendedores do assunto denominariam, mas muito bem preservados. Cores claras combinavam com o verde que as janelas apresentavam.

― Agora que se encontra aqui, devo me ausentar para resolver alguns assuntos. Ficará bem sozinho, jovem mestre?

― Onde é o meu quarto?

― Suba as escadas até o segundo andar, vire o corredor à esquerda e encontrará a última porta. Seus pertences já estão lá.

Arrumando a mochila em suas costas, Leonardo seguira as instruções de Vicente, sem deixar de apreciar a decoração do local. Alguns detalhes amadeirados como as escadas e o corrimão eram belíssimos. Quadros remetendo ao circo ganhavam sua atenção ao darem certa vida às paredes brancas.

O silêncio em todo aquele casarão era assustador, todavia. Mas a sua curiosidade e admiração pelo lugar não davam brechas para o medo falar mais alto.

Capítulos
1 Começo de um espetáculo
2 Visita de um administrador
3 A vida de um universitário ansioso
4 O brilho de um parque
5 Universitário heróico
6 O reinado da força bruta
7 Encurralado por um palhaço
8 Um baterista fanboy?
9 De volta pra casa
10 Acorrentado nas atrações principais
11 Brincadeira de criança
12 Mundo particular do universitário
13 Chá da tarde
14 Cansaço vs desconforto
15 Beijo de tirar o fôlego
16 Perseguindo objetivos
17 O detetive conhece o administrador
18 Gatilho angustiante
19 Conhecendo um novo amigo
20 Aposta para um desejo
21 Começo das investigações
22 Um mágico enciumado
23 As costas de um grande homem
24 Sol brilhante fora da Dreamland
25 O relato de um espião
26 Um domingo tedioso
27 Pensamentos de um jovem mestre solitário
28 Fim de uma pequena gripe
29 Garoto perdido
30 Desaparecimento na cerração
31 Silhueta de um suspeito
32 Conhecendo o jovem mestre Evilian
33 Churrasco dos capatazes
34 Casaco e lábios vermelhos
35 Promessa medrosa
36 Ele está diferente
37 Permissão tímida e silenciosa
38 Pela primeira vez, prazer
39 Medo versus Vergonha
40 Faça o seu desejo
41 Despertar da garota
42 Pedido do trapezista
43 Almoço do cachorro
44 Ilusão dos olhos
45 Cansaço do detetive
46 Convite do dono da Dreamland
47 Calor no camarim do trapezista
48 O último dia do espetáculo
49 O espetáculo da marionete
50 O caminhar da sonâmbula
51 O trauma de um Evilian
52 Pesadelo do jovem mestre
53 Cão de guarda
54 O rapaz do espelho na tenda
55 O trapezista quer ser mimado
56 Invasão ao circo
57 Pensamento assustador
58 Brincando de esconde-esconde
59 Como acalmar a marionete
60 Contrato de Rohan
61 A atração do Bluemoon Plaza
62 Reencontro de amigos
63 Sou o herdeiro
64 O chorão cresceu
65 Secretário dedicado
66 Mime a sua marionete
67 Com todo o amor para a Marionete
68 Relatório do detetive
69 Viola consegue!
70 Conflito de Aslan
71 Não me deixe para trás
72 Distraindo o detetive
73 Acidente no circo
74 Luz no fim do túnel
75 Um jantar na mansão
76 Minha marionete
77 Farol do trem
78 O espelho do vagão
79 A origem de Vicente
80 Fantasia da meia noite
81 Desejo insaciável
82 Esperança do baterista
83 Início das suspeitas
84 O inferno de Gustavo
85 Um novo amigo
86 Acordo com um Evilian
87 Ilusão dos espelhos
88 O último sequestro
89 O nervosismo de Leonardo
90 A determinação do jovem mestre
91 Beijo do diabo
92 Passando pelo espelho
93 Reencontro com Diablo
94 Velhos tempos
95 Noite traumática
96 Devorador de almas
97 Lucca Evilian
98 Doce canção de ninar
99 Pós terremoto
100 Caixa de brinquedos quebrada
101 Epílogo
102 Notas da autora <3
Capítulos

Atualizado até capítulo 102

1
Começo de um espetáculo
2
Visita de um administrador
3
A vida de um universitário ansioso
4
O brilho de um parque
5
Universitário heróico
6
O reinado da força bruta
7
Encurralado por um palhaço
8
Um baterista fanboy?
9
De volta pra casa
10
Acorrentado nas atrações principais
11
Brincadeira de criança
12
Mundo particular do universitário
13
Chá da tarde
14
Cansaço vs desconforto
15
Beijo de tirar o fôlego
16
Perseguindo objetivos
17
O detetive conhece o administrador
18
Gatilho angustiante
19
Conhecendo um novo amigo
20
Aposta para um desejo
21
Começo das investigações
22
Um mágico enciumado
23
As costas de um grande homem
24
Sol brilhante fora da Dreamland
25
O relato de um espião
26
Um domingo tedioso
27
Pensamentos de um jovem mestre solitário
28
Fim de uma pequena gripe
29
Garoto perdido
30
Desaparecimento na cerração
31
Silhueta de um suspeito
32
Conhecendo o jovem mestre Evilian
33
Churrasco dos capatazes
34
Casaco e lábios vermelhos
35
Promessa medrosa
36
Ele está diferente
37
Permissão tímida e silenciosa
38
Pela primeira vez, prazer
39
Medo versus Vergonha
40
Faça o seu desejo
41
Despertar da garota
42
Pedido do trapezista
43
Almoço do cachorro
44
Ilusão dos olhos
45
Cansaço do detetive
46
Convite do dono da Dreamland
47
Calor no camarim do trapezista
48
O último dia do espetáculo
49
O espetáculo da marionete
50
O caminhar da sonâmbula
51
O trauma de um Evilian
52
Pesadelo do jovem mestre
53
Cão de guarda
54
O rapaz do espelho na tenda
55
O trapezista quer ser mimado
56
Invasão ao circo
57
Pensamento assustador
58
Brincando de esconde-esconde
59
Como acalmar a marionete
60
Contrato de Rohan
61
A atração do Bluemoon Plaza
62
Reencontro de amigos
63
Sou o herdeiro
64
O chorão cresceu
65
Secretário dedicado
66
Mime a sua marionete
67
Com todo o amor para a Marionete
68
Relatório do detetive
69
Viola consegue!
70
Conflito de Aslan
71
Não me deixe para trás
72
Distraindo o detetive
73
Acidente no circo
74
Luz no fim do túnel
75
Um jantar na mansão
76
Minha marionete
77
Farol do trem
78
O espelho do vagão
79
A origem de Vicente
80
Fantasia da meia noite
81
Desejo insaciável
82
Esperança do baterista
83
Início das suspeitas
84
O inferno de Gustavo
85
Um novo amigo
86
Acordo com um Evilian
87
Ilusão dos espelhos
88
O último sequestro
89
O nervosismo de Leonardo
90
A determinação do jovem mestre
91
Beijo do diabo
92
Passando pelo espelho
93
Reencontro com Diablo
94
Velhos tempos
95
Noite traumática
96
Devorador de almas
97
Lucca Evilian
98
Doce canção de ninar
99
Pós terremoto
100
Caixa de brinquedos quebrada
101
Epílogo
102
Notas da autora <3

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