Verdades e Punhos Fechados

Isabela não conseguia respirar direito.

Ela saiu da faculdade com passos apressados, sentindo o peito apertar a cada segundo que passava. Seu coração batia descompassado, sua cabeça latejava, e as lágrimas que tentou segurar durante a conversa com Lucas agora desciam sem controle.

Ela não queria chorar.

Não por ele.

Não por alguém que nunca mereceu suas lágrimas.

Mas a traição queimava por dentro. Cinco meses. Cinco meses!

E ela achando que o problema era ela.

Andou sem rumo, sem enxergar direito, até se encostar em um banco qualquer no estacionamento, cobrindo o rosto com as mãos.

E foi assim que Noah a encontrou.

—

Ele estava indo pegar sua moto quando viu Isabela sentada ali, tremendo, as mãos pressionando o rosto enquanto as lágrimas caíam.

Algo dentro dele apertou.

Ele nunca a viu tão destruída.

Seu primeiro impulso foi ir até ela, mas hesitou por um segundo. Ele não sabia o que tinha acontecido, mas sentia que era algo grande.

E então, tomou a decisão.

Aproximou-se devagar, sem fazer barulho, até parar na frente dela.

— Isa.

Ela levantou o olhar, surpresa. Os olhos vermelhos e inchados.

E aquilo foi o suficiente para ele sentir um nó no peito.

— O que aconteceu? — ele perguntou, sua voz mais suave do que o normal.

Isabela respirou fundo, tentando controlar o choro, mas sua garganta ainda estava embargada.

— O Lucas… — ela começou, mas a voz falhou.

Apenas aquele nome foi suficiente para Noah entender.

Ele se abaixou na frente dela, apoiando os braços nos joelhos.

— Ele fez alguma coisa?

Ela soltou um riso sem humor, enxugando as lágrimas rapidamente.

— Ele me traiu. Durante cinco meses.

Os olhos de Noah se estreitaram imediatamente.

— O quê?

Isabela assentiu, soltando uma risada amarga.

— E eu aqui, me sentindo horrível… achando que eu era a errada… quando, na verdade, ele já fazia isso há meses.

Noah cerrou os punhos.

— Filho da puta.

Isabela suspirou, balançando a cabeça.

— Eu só quero esquecer isso.

Mas antes que qualquer um deles pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz familiar chamou pelo nome dela.

— Isa!

Ela fechou os olhos com força.

Lucas.

Noah se levantou no mesmo instante, virando-se para encarar o outro cara que se aproximava.

Lucas tinha a expressão desesperada, mas assim que viu Noah ao lado de Isabela, sua expressão mudou.

— Claro que você tá aqui — ele rosnou.

Noah cruzou os braços, os olhos frios.

— Se eu soubesse antes que você era um traidor de merda, teria chegado antes também.

— Isso não é da sua conta! — Lucas retrucou, a raiva evidente. — Eu vim falar com a Isa.

— Eu não quero falar com você, Lucas — Isabela cortou, se levantando.

Lucas se aproximou mais, ignorando completamente a presença de Noah.

— Isa, por favor. Eu errei, eu sei disso. Mas eu te amo, eu nunca quis te machucar.

— Nunca quis me machucar? — ela repetiu, incrédula. — Você me traiu durante cinco meses, Lucas! Você olhava na minha cara todo dia, dizia que me amava e, no minuto seguinte, estava com outra!

Lucas passou as mãos pelos cabelos, frustrado.

— Eu cometi um erro. Mas eu me arrependi, Isa. Eu só não soube como te contar…

— Ah, entendi — Noah interveio, soltando um riso debochado. — Você passou cinco meses fodendo outra garota e, agora, que foi pego, se arrependeu?

Lucas virou para Noah, furioso.

— Eu não tenho que te dar satisfações.

— Mas tem que dar pra ela — Noah rebateu, dando um passo à frente.

O ar ficou tenso.

Lucas também avançou um passo, ficando frente a frente com ele.

— E você acha que é quem nessa história? O cara que se aproveitou da Isa enquanto eu tava longe?

Noah soltou uma risada seca.

— Você tá falando como se tivesse algum direito de ficar puto. Mas sabe qual a diferença entre nós dois? Eu nunca precisei enganar ela pra conseguir alguma coisa.

O soco veio antes que qualquer um pudesse reagir.

Lucas atingiu Noah no rosto com força, fazendo o rapaz cambalear um pouco para trás.

Isabela gritou.

— Parem!

Mas Noah não era o tipo que levava um soco sem reagir.

Ele limpou o canto da boca, onde já havia um corte pequeno, e, sem hesitar, revidou.

O impacto do golpe fez Lucas cair para trás, mas ele logo se recuperou, avançando novamente.

Os dois começaram a trocar socos, ignorando os protestos de Isabela.

A raiva acumulada nos últimos dias finalmente explodiu.

Lucas tentava acertar Noah novamente, mas este era mais rápido, desviando dos golpes até conseguir imobilizá-lo no chão.

— Você não vale nada — Noah cuspiu. — E se chegar perto da Isa de novo, eu juro que vou te quebrar.

Lucas tentou se soltar, mas Noah empurrou seu rosto contra o chão antes de soltá-lo de vez.

— Sai daqui, antes que eu mude de ideia.

Lucas ficou parado por um segundo, respirando com dificuldade, mas percebeu que havia perdido.

Ele se levantou, lançou um último olhar para Isabela e saiu.

Dessa vez, sem mais desculpas.

—

Isabela ainda estava tremendo quando se virou para Noah.

— Você tá bem?

Ele limpou o sangue no canto da boca com as costas da mão.

— Já levei piores.

Ela suspirou, passando as mãos pelo rosto.

— Isso foi um desastre.

— Foi mais satisfatório do que um desastre — Noah retrucou, fazendo-a soltar um riso curto.

Ela olhou para ele, pela primeira vez sentindo que estava exatamente onde deveria estar.

Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, uma voz feminina surgiu atrás dela.

— Isa?

Ela congelou.

Aquela voz…

Ela se virou lentamente.

E sentiu o coração parar.

A garota que estava parada ali, olhando para ela com culpa nos olhos…

Era Julia.

Sua colega de faculdade.

E uma das meninas que ela considerava uma amiga.

Os olhos de Isabela se arregalaram.

— Foi você?

Julia abaixou a cabeça.

— Isa…

O mundo pareceu girar.

Foi ela.

A garota com quem Lucas a traiu… era alguém que ela confiava.

Isabela sentiu a náusea subir.

Mas, acima de tudo, sentiu a última coisa que ainda segurava dentro de si finalmente se despedaçar.

E, pela primeira vez desde que tudo começou, ela soube com certeza.

Nada nunca mais seria o mesmo.

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