Em Ruínas

Isabela sentia o peito apertado conforme caminhava apressada pelos corredores da faculdade. Sua respiração estava errática, e suas mãos tremiam levemente. A conversa com Noah não deveria ter mexido tanto com ela, mas a verdade era que ele estava conseguindo destruir todas as certezas que ela tentava manter.

Ela amava Lucas. Certo?

Então por que era Noah quem ocupava seus pensamentos?

Por que seu coração acelerava com as provocações dele?

Por que, quando ele se aproximava, ela sentia aquela maldita eletricidade percorrendo seu corpo?

Ela queria odiá-lo. Precisava odiá-lo.

Mas tudo o que sentia era confusão.

—

A aula seguinte passou arrastada, e Isabela sequer conseguiu prestar atenção. Quando o sinal anunciou o fim do período, pegou suas coisas e saiu rapidamente da sala. Precisava de ar.

Ela estava prestes a mandar uma mensagem para Lucas quando ouviu uma voz conhecida atrás dela.

— Fugindo de novo?

Seu corpo enrijeceu antes mesmo de se virar.

Noah estava encostado na parede do corredor, os braços cruzados e aquele olhar intenso que parecia enxergar tudo o que ela queria esconder.

— Me deixa em paz — ela respondeu, sem energia para discutir.

Ele empurrou o corpo para frente, aproximando-se.

— Não precisa fugir de mim, Isa. Não sou eu de quem você tem medo.

Ela apertou os lábios, irritada.

— Eu não tenho medo de nada.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Então por que sempre corre quando eu me aproximo?

Ela quis gritar. Quis dizer que ele estava errado, que nada disso significava nada. Mas as palavras travaram em sua garganta.

Porque ela sabia que ele estava certo.

— Você é um problema, Noah — ela murmurou.

Ele riu baixo.

— Talvez. Mas acho que você gosta de problemas.

Isabela sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

Não. Ela não gostava.

Ela não podia gostar.

Sem responder, virou-se e saiu, ignorando o olhar dele queimando suas costas.

—

Quando chegou em casa naquela noite, sentia-se exausta. O conflito interno estava consumindo suas energias, e tudo o que queria era dormir e esquecer.

Mas o universo parecia determinado a testar sua sanidade.

Pouco depois de entrar no apartamento, o som da campainha a fez suspirar. Por um momento, pensou em ignorar, mas então sua curiosidade venceu.

Ao abrir a porta, seu coração deu um salto.

Lucas.

Ele segurava uma sacola com comida e sorria para ela.

— Surpresa.

Isabela piscou, tentando afastar o nó em sua garganta.

— O que você está fazendo aqui?

— Achei que a gente podia passar um tempo juntos. Fazia tempo que não tínhamos uma noite só nossa.

Ela abriu espaço para ele entrar, mas seu peito estava apertado.

Lucas era um namorado incrível. Gentil. Atencioso.

Mas, naquele momento, tudo o que conseguia pensar era em como a presença dele não causava o mesmo efeito que a de Noah.

E isso estava destruindo tudo dentro dela.

Eles jantaram juntos, conversaram sobre coisas leves, mas Isabela se sentia distante. Presa dentro de seus próprios pensamentos.

Até que Lucas segurou sua mão sobre a mesa.

— Isa… tá tudo bem? Você anda estranha ultimamente.

Ela congelou.

— Não… Eu só… estou cansada.

Ele franziu a testa, analisando-a.

— Tem certeza? Você sabe que pode me contar qualquer coisa.

O nó em sua garganta apertou ainda mais.

Ela queria ser honesta. Queria dizer que sua mente estava uma bagunça, que havia algo dentro dela que ela não entendia.

Mas não conseguia.

— Sim. Eu só preciso descansar.

Lucas hesitou, mas assentiu.

— Ok. Se precisar de mim, estou aqui.

Ela forçou um sorriso.

— Eu sei.

Mas, no fundo, sentia que estava desmoronando.

E temia que, quando tudo ruísse, não houvesse mais nada para salvar.

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