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Capítulo 20 – O Festival da Colheita

Era uma noite carregada de tensão, uma noite que me fazia sentir uma estranha agitação no ar. O céu estava tingido de vermelho, a lua cheia brilhando com um tom macabro, mais intensa do que eu já havia visto. Em algum lugar, lá no fundo de meu ser, eu sentia uma vibração primal, um instinto despertando, e algo dentro de mim sabia que o que estava por vir seria como nunca antes. O Festival da Colheita estava chegando, o evento que ocorria a cada 50 anos, quando a natureza tomava conta de tudo, e os feéricos se tornavam... primitivos.

Aron havia me explicado isso, mas mesmo assim, as palavras ainda estavam frescas em minha mente, ainda me causavam um certo desconforto. O festival, embora comemorado com grande reverência, não era algo do qual os feéricos falassem facilmente. Era uma tradição, algo enraizado em sua biologia, algo que não podia ser ignorado. Durante o Festival da Colheita, a lua vermelha desencadeava uma fase de extrema fertilidade nos feéricos, algo que eles não podiam controlar.

Aron me olhou com seriedade quando falou sobre isso. Ele explicou como, a cada 50 anos, a lua vermelha tornava os machos feéricos mais instintivos, mais primitivos. O controle racional desaparecia, e em seu lugar surgia uma força animalesca que tomava conta de seus corpos. Eles ficavam completamente dominados pelos cios, irracionais, quase como predadores em busca de uma presa. O instinto de reprodução se tornava tudo, e a luta pela sobrevivência tomava uma forma brutal.

"Você precisa entender, Victória", Aron havia dito, sua voz grave e tensa, "durante o Festival da Colheita, os feéricos se tornam mais selvagens. Eles perdem a capacidade de racionalizar. Muitos de nós fazemos o possível para manter o controle, mas nem todos conseguem. O impulso é forte demais. Você precisa ficar em seus quartos essa noite. Não saia. Não queira se tornar a caça de um feérico."

Eu sabia que ele estava me advertindo por uma boa razão. Ele se preocupava comigo, eu podia ver isso em seus olhos. Mas o que ele não sabia era o que eu estava sentindo por dentro. Algo estava me chamando, como se a lua vermelha tivesse uma ligação direta comigo, algo que eu ainda não compreendia. Meu corpo e minha mente estavam confusos, e por mais que eu tentasse racionalizar, uma parte de mim queria entender o que estava acontecendo. O festival, a lua vermelha, os feéricos em sua forma primitiva... tudo isso era novo para mim, algo que eu não conseguia simplesmente ignorar.

A noite se arrastou lentamente, e logo todos começaram a se preparar. As garotas se reuniram em seus quartos, obedecendo a Aron, como se já soubessem o que esperar. Mas eu não conseguia me aquietar. Algo me puxava para fora do castelo, algo que parecia mais forte do que minha razão. A névoa começou a se formar lentamente ao redor do castelo, envolvendo as árvores e o terreno com uma espessura tão densa que mal conseguíamos enxergar além de um metro.

Eu sabia que deveria ficar dentro, mas algo dentro de mim me impulsionava a sair. Algo nas profundezas da floresta chamava meu nome, e eu não conseguia resistir. As palavras de Aron ecoavam em minha mente, mas a sensação de urgência era mais forte.

Quando me vi diante da porta, a névoa se fechou ao meu redor como se me guiasse para fora, como se eu não tivesse escolha.

Foi então que eu ouvi o som da terra se movendo atrás de mim. Não era uma brisa. Era algo mais pesado, mais profundo. Algo estava ali, e a presença de Aron, em alguma forma animalesca, parecia preenchê-lo completamente. Eu olhei para trás, e o vi.

Mas não era o Aron que eu conhecia. Seus olhos estavam vermelhos, seus músculos mais tensos, e a selvageria de sua postura parecia dominá-lo. Ele estava em sua forma bestial, sua aparência mais selvagem e primitiva, como se a lua tivesse arrancado toda a humanidade de seu corpo. O olhar que ele me lançou era predatório, como o de um caçador observando sua presa. Era ele, mas não era mais o mesmo.

"Victória", sua voz soou rouca, quase como um rugido. Ele não parecia mais Aron. Ele era puro instinto agora, e naquele momento, ele se tornou um predador.

O medo se espalhou por mim como fogo, mas ao mesmo tempo, algo em meu corpo se acendeu. A adrenalina correu pelas minhas veias, e meu instinto de fuga entrou em ação. Eu virei e corri. Corri pela floresta densa, a névoa me envolvendo, a sensação de estar sendo caçada tornando-se mais real a cada passo.

Ouvi os passos dele atrás de mim, a força de sua corrida quebrando o silêncio da noite. Ele não estava mais tentando me chamar, ele estava me perseguindo. Seus grunhidos e rosnados reverberavam pela floresta, como se ele estivesse se deleitando com o jogo de caça. Eu sabia que não tinha chance de vencê-lo, não nessa forma. Aron, na sua forma bestial, era muito mais rápido, mais forte, mais ágil. Ele era um feérico, e eu não passava de uma humana frágil.

A floresta parecia não ter fim. Eu sentia meu corpo cansado, as folhas e galhos arranhando minha pele enquanto eu corria, mas não me atrevia a parar. Eu sabia que, se o fizesse, seria minha última chance de escapar. O som dos pés dele batendo contra o chão aumentava, e cada vez que ele se aproximava, o medo se tornava mais forte. Eu estava sendo caçada.

Eu virei a cabeça por um momento, apenas para ver seus olhos brilhando na escuridão, como dois pontos vermelhos brilhando em meio à névoa. Ele estava mais perto agora, e eu sentia seu cheiro, o de terra, de algo selvagem e incontrolável. Meu coração disparou, e foi nesse momento que eu percebi o quão vulnerável eu realmente estava. Aron, ou o que restava dele, não era mais a pessoa que eu conhecia. Ele era a essência do feérico, a fera que se soltava quando a lua vermelha dominava.

A dor e o medo me impulsionaram ainda mais para a frente, e eu sabia que, se não conseguisse me distanciar dele, a noite poderia terminar de maneira muito diferente.

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Comments

Marsane

Marsane

Ué, mas ela tá com medo dele agora? Mas ela não foi avisada pra não sair? Pra ficar no quarto? Porque teimou? Então não devia ficar com medo, nem fugir dele… sinceramente não entendi a atitude da Vitória!!!!

2025-04-02

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Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

ela procurou ela sabia que ia acontecer a curiosidade matou o gato kkkk

2025-04-02

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Rosária 234 Fonseca

Rosária 234 Fonseca

parabéns autora pelo talento trabalho maravilhoso amei

2025-04-02

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