ARON GARDNER
Capítulo 10 – Pedra e Sombra
A estrada se estendia à frente como uma linha sinuosa entre as colinas, coberta pelo brilho pálido da lua. As carruagens avançavam em um ritmo constante, suas rodas pesadas cortando o solo de pedra batida. O vento da noite soprava firme, carregando consigo o aroma das florestas distantes e o eco do mar que batia contra os penhascos.
Eu estava montado em meu cavalo negro, um imponente garanhão de olhos vermelhos, cavalgando ao lado da primeira carruagem. Meus olhos, no entanto, não estavam fixos na estrada. Estavam nela.
Victória.
Entre as humanas capturadas naquela noite, ela era a única que me fazia hesitar. As outras eram apenas peças no jogo, mas ela… Ela era diferente.
Sua pele era de um branco quase translúcido sob a luz prateada, um contraste brutal com a escuridão ao nosso redor. O cabelo ruivo descia em ondas até sua cintura, selvagem, brilhante como fogo líquido. Os olhos azuis, intensos como um céu gelado, eram cheios de perguntas que ela ainda não ousava fazer em voz alta. Seu rosto tinha uma delicadeza que desafiava a brutalidade daquele mundo. E seu corpo, magro, de curvas sutis, parecia feito para se mover com leveza, mas agora estava tenso, como se lutasse contra a própria existência naquele lugar.
Ela não pertencia a esse mundo. Mas agora fazia parte dele.
A beleza dela se destacava entre as outras garotas, não apenas por sua aparência, mas pela maneira como se portava. Mesmo assustada, mesmo perdida, ela não parecia quebrada. Havia fogo nela.
Um fogo que eu não sabia se queria apagar ou alimentar.
O pensamento me incomodou.
Eu nunca havia sentido essa hesitação antes.
Sempre soube o que fazer, quando agir, quando m@tar, quando poupar. Mas Victória... ela bagunçava essa certeza de um jeito que eu não queria admitir.
A estrada começou a se alargar, e então, diante de nós, ergueu-se a cidade.
Vantharis. A Cidade de Pedra.
As montanhas que cercavam a cidade formavam uma muralha natural, mas as verdadeiras defesas de Vantharis estavam na própria arquitetura. Torres esculpidas diretamente da rocha se erguiam como garras de pedra contra o céu escuro. As construções eram antigas, quase primitivas, mas imponentes, como se tivessem sido erguidas por titãs há milênios.
As ruas eram largas, pavimentadas com lajes negras que refletiam a luz das tochas espalhadas ao longo do caminho. Estátuas de feéricos de tempos passados vigiavam as encruzilhadas, seus rostos desgastados pelo tempo, mas ainda carregados de poder e mistério. O rio cortava a cidade ao meio, suas águas prateadas pelo reflexo das estrelas, cruzado por pontes de pedra adornadas com inscrições antigas.
O som do cascos ecoava entre os prédios enquanto passávamos, e os habitantes da cidade nos observavam das janelas e becos. Alguns abaixavam a cabeça em respeito, outros apenas seguiam com os olhos atentos. Eles sabiam quem eu era. Sabiam o que minha chegada significava.
As carruagens passaram pelos portões principais e seguiram pela avenida central, que levava ao coração de Vantharis. E lá estava ele.
O Castelo Negro.
Ele não era feito de pedra comum. Sua estrutura era formada por obsidiana pura, negra como a noite, lisa e fria como vidro. As torres subiam para o céu como lanças, suas pontas ocultas pela névoa que pairava sobre a cidade.
As muralhas eram altas, protegidas por gárgulas esculpidas com expressões ferozes, seus olhos brilhando em um tom carmesim na escuridão. Os portões eram imensos, reforçados com ferro negro, adornados com runas que se moviam como se estivessem vivas, respirando poder antigo.
No centro do castelo, uma grande cúpula de vidro negro se erguia, capturando o reflexo das estrelas. Era ali que as decisões mais importantes eram tomadas. Onde as vidas eram seladas ou destruídas.
As carruagens pararam diante dos portões, e os guardas feéricos se aproximaram para abrir as portas. Meu cavalo relinchou, inquieto. Saltei da sela com um movimento fluido e caminhei até a carruagem onde Victória estava.
A porta se abriu, e as garotas começaram a descer, seus olhares cheios de medo e confusão. Mas eu só tinha olhos para ela.
Victória hesitou antes de sair. Quando finalmente se moveu, seus cabelos brilharam sob as tochas, o fogo ondulando ao redor de seu rosto delicado. Quando seus pés tocaram o chão de pedra, ela ergueu os olhos para o castelo, e vi a forma como seu peito subia e descia em um suspiro contido.
Ela sentia.
Sentia o peso do lugar, do momento, do que estava por vir.
Eu deveria dizer algo. Explicar. Prepará-la.
Mas apenas estendi a mão para ela.
Ela me olhou com aqueles olhos azuis impossíveis de decifrar. Então, sem dizer nada, aceitou.
E juntos, atravessamos os portões do Castelo Negro.
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Comments
Nilva Moraes
aí tô lendo e imaginando como deve ser .parabéns autora tô me sentindo com 10 anos /Rose//Rose//Heart//Heart//Heart/
2025-03-23
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Rosária 234 Fonseca
nossa que emoção estou ansiosa pela leitura
2025-04-01
0
Milla silva
É uma viagem que fazemos lendo 😀😁😁😀😀
2025-04-07
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