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Capítulo 7 – Victória

A comida foi trazida em grandes pratos de madeira, recheados com pães frescos, carnes assadas e uma variedade de legumes que eu nunca tinha visto antes. O cheiro era inebriante, algo que não conseguia deixar de sentir enquanto olhava as garotas ao meu redor, todas com os olhos arregalados de surpresa e prazer. Para alguém que passou tanto tempo em uma jaula, essa refeição parecia um pedaço do céu.

As garotas começaram a comer com apetite, algumas rindo e conversando entre si, talvez pela primeira vez desde que fomos capturadas. Elas estavam em um estado de êxtase com o sabor, os olhos brilhando enquanto mordiam pedaços de carne suculenta e pegavam as fatias de pão com as mãos, sem se importar com nada, como se nada de ruim tivesse acontecido com elas. Um delas, uma garota com cabelos castanhos escuros e olhos claros, falou com a boca cheia.

— Meu Deus, essa carne é deliciosa! Eu nunca comi nada assim na vida!

— E o pão, é tão macio… Como vocês acham que eles fazem isso? — perguntou outra, uma mais alta, com cabelos loiros e uma expressão encantada.

Eu não disse nada, apenas as observei com um certo distanciamento. A comida era boa, sim, mas não conseguia me entregar completamente à sensação de prazer que as outras pareciam sentir. Ainda havia muitas perguntas em minha mente, muitas coisas que não estavam bem resolvidas. Por exemplo, a conversa que tive com aquela mulher feérica ainda ecoava em minha cabeça, me fazendo questionar tudo o que sabia sobre Aron e a conexão entre nós.

Enquanto as garotas se deliciavam, eu não conseguia tirar os olhos de Aron.

Ele estava à mesa com os outros feéricos, observando-nos com uma expressão calculista, quase como se estivesse estudando cada movimento nosso. Seus amigos estavam próximos, e cada um tinha um olhar atento, mas Aron… Aron estava diferente. Seus olhos violeta pareciam me seguir a cada movimento. Eu não sabia o que pensar sobre isso, mas a sensação era estranha. Ele não parecia preocupado com as garotas se alimentando, nem com o que estávamos fazendo. Ele parecia mais interessado em mim do que em qualquer outra coisa.

Eu me senti estranha, então desviei o olhar para minha comida, tentando focar no sabor e no momento. Mas a sensação de ser observada era inescapável. Eu sabia que ele estava me observando.

— Não acredito que estamos comendo assim… Como é possível que tudo aqui seja tão… perfeito? — comentou a garota ao meu lado, a loira que estava rindo antes. — Se eu soubesse que os feéricos tinham essas coisas, eu teria fugido para cá muito antes!

Ela estava visivelmente relaxada, mas ao mesmo tempo, não podia deixar de notar o fato de que os feéricos ainda estavam ao nosso redor, não como anfitriões, mas como… observadores. Eles estavam todos em seus próprios lugares, quietos, mas com os olhos atentos em nós. Aron, em particular, estava com os braços cruzados, mantendo uma postura firme, e de vez em quando, seus olhos se encontravam com os meus. Isso me fazia estremecer por dentro, mas eu não sabia como lidar com isso.

Aron não parecia ser um simples “salvador” como muitos de nós pensávamos. Ele tinha algo mais, algo que não conseguíamos entender.

— Não sei se vou conseguir me acostumar com isso — a loira continuou, interrompendo meus pensamentos. — É tudo tão… mágico. Nunca imaginei que o mundo dos feéricos fosse assim.

Olhem para isso, é como se estivéssemos em um conto de fadas.

A conversa continuou, com as garotas se empolgando a cada palavra, como se estivessem em um lugar completamente novo. Eu entendo o que elas estavam sentindo, mas não consegui me entregar totalmente àquela fantasia. Havia algo de errado. Algo que não se encaixava. Não só sobre a situação, mas sobre aquele vínculo.

A conversa com a mulher feérica ainda me martelava na cabeça. Ela perguntou se eu sabia o que era esse elo. E eu não sabia. Mas agora, mais do que nunca, eu sentia a verdade daquilo. Não era só uma conexão mágica. Era mais forte que isso, mais… pessoal.

Olhei mais uma vez para Aron. Ele estava me observando com uma intensidade que me fazia questionar seus próprios sentimentos. O que ele queria de mim? O que significava esse vínculo? Ele estava me tratando como uma pessoa normal, mas havia algo mais escondido por trás de suas palavras e gestos. Seus amigos estavam ao redor, com suas expressões igualmente impenetráveis, mas nada parecia afetá-los como afetava Aron. Ele estava diferente.

Minha mente se encheu de mais perguntas, mas minha boca permaneceu em silêncio. O que mais eu poderia perguntar? Ele não era alguém com quem eu poderia simplesmente dialogar sobre meus medos ou inquietações. Eu tinha que entender mais antes de colocar qualquer palavra no ar. Mas não consegui evitar o pensamento que surgiu, tentando entender tudo isso. O que estava acontecendo comigo?

— Aron — falei finalmente, quase sem pensar, minha voz baixa, mas firme o suficiente para chamar sua atenção.

Ele olhou para mim, seus olhos violetas brilhando debaixo da luz suave da sala. Ele não se moveu, mas sua expressão mudou ligeiramente.

— O que está acontecendo entre nós? — perguntei, desafiando minha própria coragem ao fazer a pergunta. — O que você quer dizer com "parceria"?

Ele me observou em silêncio por um tempo, como se estivesse decidindo como responder a algo tão… direto.

— Não se trata de querer nada, Victória — disse ele por fim, a voz grave. — Trata-se de algo que não pode ser controlado ou entendido tão facilmente. Esse vínculo, essa "parceria", vai além do que você pode compreender agora.

Eu o encarei, sem saber o que dizer. Ele parecia tão seguro, tão confiante, mas isso não me fazia sentir melhor. Na verdade, só me deixava mais inquieta.

As outras garotas estavam comendo e conversando entre si, mas a sala parecia repentinamente muito mais silenciosa do que antes. Eu sentia a pressão crescente dentro de mim, como se algo estivesse prestes a acontecer e eu não estivesse preparada para isso.

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