Victória Eloise
Capítulo 3
A primeira coisa que me veio à mente ao encará-lo foi seu nome.
Aron Gardner.
Não sei de onde veio essa certeza, mas de alguma forma, eu sabia. Sabia que ele era Aron Gardner, e sabia que ele era lindo de um jeito que me fazia esquecer como respirar.
Seus olhos violetas me prenderam, intensos como uma tempestade, varrendo tudo ao redor. A pele bronzeada contrastava com os cabelos negros, que caíam um pouco bagunçados sobre sua testa. Ele era alto, absurdamente alto, e os músculos delineados por baixo da roupa mostravam uma força que poucos homens possuíam. Mas o que mais me chamou atenção foram as asas.
Enormes. Esvoaçantes. Escuras como a noite. Asas de morcego.
Ele parecia um deus caído da guerra, e sua expressão não ajudava em nada a suavizar sua aparência. O maxilar travado, os olhos semicerrados e a maneira como seus companheiros o encaravam, como se ele estivesse prestes a explodir, só confirmavam: ele era rabugento.
E pelo jeito, eu estava no centro de sua irritação.
As garotas ao meu redor estavam em pânico, amontoadas umas sobre as outras dentro da gaiola, soluçando e tremendo. Eu era a única que ainda não tinha desviado o olhar dele. Não conseguia.
Ele se moveu primeiro, estendendo a mão em direção à trava enferrujada da gaiola. Quando os dedos longos a tocaram, um estalo ecoou e o ferro se quebrou como se fosse feito de vidro.
A porta se abriu.
As garotas gritaram e se empurraram umas contra as outras, tentando se afastar dos feéricos. Eu, por outro lado, avancei antes que qualquer uma pudesse reagir.
— Quem são vocês? — perguntei, cruzando os braços e mantendo o olhar firme. — O que vocês querem?
Um dos feéricos, um homem loiro de olhos dourados que parecia ser o mais calmo do grupo, ergueu as mãos em um gesto pacificador.
— Não vamos machucar vocês — disse ele, a voz baixa e controlada. — Vocês estavam sendo levadas como prisioneiras. Nós as libertamos.
— Libertaram por quê? O que vocês ganham com isso?
Vi Aron revirar os olhos antes de soltar um suspiro pesado.
— Por que diabos ela tem que fazer perguntas? — ele murmurou.
— Você tem certeza? — o outro feérico bufou. — Parece que a sua parceria tem bastante personalidade.
A palavra parceria fez um arrepio percorrer minha espinha.
Aron imediatamente endureceu e lançou um olhar mortal ao companheiro.
— Cala a boca, Soren.
— Ah, não, não, não! — O feérico chamado Soren riu, jogando as mãos para o alto. — Você não vai me dizer para calar a boca depois de ferrar com tudo desse jeito.
— O que ele quis dizer com parceria? — perguntei, estreitando os olhos.
Todos os feéricos pareceram se enrijecer ao mesmo tempo.
Aron passou uma mão pelo rosto e rosnou baixinho antes de me encarar de novo.
— Esqueça isso. Não é importante.
— Se não é importante, por que você está com essa cara de quem quer arrancar a própria cabeça?
Soren gargalhou.
— Eu gosto dela.
Aron lançou-lhe um olhar afiado.
— Ninguém pediu sua opinião.
O loiro, que parecia ser o mais sensato, suspirou e se virou para mim.
— Entre os feéricos, quando encontramos nossa parceria, é um vínculo inquebrável — explicou ele. — É algo raro. Algo que nos une por toda a eternidade.
Pisquei algumas vezes.
— Você está dizendo que eu sou... a parceira dele?
— Sim.
A informação foi como um soco no estômago.
Eu olhei de volta para Aron, que cruzou os braços e me observou com uma expressão exasperada, como se estivesse tão feliz quanto eu com aquela notícia.
— Você não parece exatamente empolgado com isso.
— Porque eu não estou — ele retrucou.
Eu arregalei os olhos.
— E eu deveria estar?!
— Eu também não pedi por isso!
— Nem eu!
— Ótimo!
— Ótimo!
— Pelo amor dos deuses, vocês dois já terminaram? — interrompeu o feérico loiro. — Vocês parecem duas crianças discutindo por um brinquedo quebrado.
Soren riu de novo, cruzando os braços.
— Isso vai ser divertido.
Aron suspirou pesadamente, como se tivesse aceitado que não poderia fugir da situação.
— Isso não importa agora — ele disse, olhando para mim e para as outras garotas ainda encolhidas na gaiola. — O importante é que vocês estão livres. E eu vou levar todas vocês para um lugar seguro, longe dessa guerra estúpida.
As garotas ao meu redor pareciam não saber se confiavam nele ou se temiam mais os feéricos do que os humanos que nos haviam capturado.
Mas algo dentro de mim me dizia que confiar em Aron era o certo a se fazer.
Afinal, se havia um vínculo entre nós, por mais irritante que ele fosse...
Talvez eu estivesse mais segura com ele do que em qualquer outro lugar.
Eu sabia pouco sobre os feéricos, mas o suficiente para entender que estar diante deles era algo raro — e perigoso.
Os humanos costumavam contar histórias sobre essas criaturas antigas e poderosas, sempre à beira do real e do mito. Alguns diziam que os feéricos eram monstros sem alma, que sequestravam humanos para nunca mais serem vistos. Outros afirmavam que eles eram seres divinos, belos e cruéis, vivendo em um mundo separado do nosso, indiferentes às guerras e à destruição que assolavam os reinos humanos.
Mas havia algo que todas as histórias concordavam: feéricos eram extremamente fortes e imortais.
Guerreiros letais, dotados de habilidades além da compreensão humana. E agora, depois de ver como eles m@taram os captores com tanta facilidade, eu sabia que isso não era um exagero.
E então havia a questão dos parceiros.
Eu já tinha ouvido sussurros sobre isso. Algumas histórias diziam que os feéricos tinham laços inquebráveis com suas almas gêmeas, um vínculo tão profundo que nenhum dos dois poderia ignorá-lo.
Outros contos falavam que esses laços eram predestinados, marcando duas vidas como pertencentes uma à outra, não importando o que quisessem. Mas não havia muitas informações concretas, apenas lendas distantes que os humanos não compreendiam completamente.
E agora eu estava presa em uma dessas lendas.
Aron me olhava com uma expressão azeda, como se a simples ideia do nosso vínculo o irritasse.
Eu não sabia o que isso significava para mim. Não sabia o que significava para ele.
Mas algo me dizia que minha vida nunca mais seria a mesma.
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Comments
Ana
q história maravilhosa
eu ri na parte q ela pensa e fala
e" ele é rabugento" kkkkkkkkk
2025-04-16
0
Rosária 234 Fonseca
estou torcendo que atualize logo não quero para de ler
2025-04-01
0
yui
faz mas capítulo por favor
2025-03-24
0