Victória Eloise
Capítulo 19 – A Arena
O dia estava claro, o sol ainda baixo no horizonte, e a brisa da manhã trazia consigo uma sensação de frescor que eu sabia que logo se transformaria em calor intenso. Eu podia ouvir o som distante dos outros se preparando para o treino, as risadas abafadas e o barulho dos pés batendo contra o chão. A arena estava prestes a ganhar vida novamente.
Eu, no entanto, não estava totalmente focada no que acontecia ao meu redor. Minha mente estava ocupada com os acontecimentos da noite anterior, algo que eu sabia que não poderia simplesmente deixar de lado. Havia algo nos olhos de Aron ontem, algo que me fazia sentir… ansiosa. Ele não estava apenas tentando me proteger, ou talvez estivesse, mas havia algo mais. Algo que me fazia questionar o que ele realmente queria de mim. E, ainda assim, eu não conseguia ignorar o impulso de me aproximar mais, de explorar o que aquelas emoções significavam.
O olhar de Malthius também estava gravado em minha mente, mas não era ele que dominava meus pensamentos. Era Aron, com sua atitude protetora, a maneira como ele me havia puxado para perto dele com uma possessividade que eu não conseguia esquecer. Não que fosse algo ruim, mas eu me perguntava se ele também estava ciente do que seus gestos provocavam em mim.
Quando eu me aproximei da arena, vi os outros se organizando. Os amigos de Aron estavam ali, como sempre. Darius, com sua postura imponente, e Lucas, com seu jeito descontraído, ambos pareciam tão prontos para o que viria a seguir quanto qualquer outro. Mas o que mais me chamou a atenção foram as garotas que haviam sido resgatadas — algumas pareciam ainda desconfortáveis, outras com um brilho de gratidão nos olhos. Eu não conhecia todas, mas algumas, como Maya, haviam se tornado próximas de mim, compartilhando experiências e me dando força.
As garotas estavam se preparando para a luta também, ou pelo menos para aprender como se defender. O clima na arena era tenso, mas havia uma energia positiva, como se todos estivessem se unindo para algo maior, para a sobrevivência.
"Pronta para continuar, Victória?" A voz de Aron me tirou dos meus pensamentos. Eu virei para ele, e o vi parado ali, com seu olhar focado, seus músculos tensionados sob a camisa justa. Ele parecia diferente hoje, mais… presente, se é que isso fazia sentido. O jeito como ele me olhou me fez sentir uma onda de nervosismo, algo que não tinha sentido antes. Ele sempre teve uma presença forte, mas hoje era como se eu estivesse sentindo essa presença de maneira mais intensa, mais intimamente.
"Sim", respondi, minha voz mais baixa do que o normal, mas firme. Eu estava preparada. Pelo menos, eu queria estar.
Ele me guiou até o centro da arena, onde o treino de combate corpo a corpo começaria. Eu sabia o básico, mas Aron tinha uma maneira única de ensinar. Ele sempre foi direto, sem rodeios, e por mais que fosse instrutor, sempre havia algo em sua abordagem que me fazia ficar em alerta. Ele sabia exatamente como me fazer questionar os meus próprios limites, como me desafiar da maneira que eu mais precisava.
"Hoje, vamos focar na técnica, Victória", ele começou, suas palavras carregadas de uma confiança que me fez engolir em seco. "Não importa o quão rápido você seja ou o quanto você seja forte. O que importa é como você usa sua força. Você tem que aprender a controlar a situação. A controlar seu corpo."
Ele se posicionou de forma que seus olhos ficaram fixos nos meus, um olhar que parecia ir direto ao meu centro. Meu coração acelerou. Eu sabia que ele estava prestes a me forçar a lidar com minhas próprias inseguranças. O movimento seguinte veio sem aviso. Aron avançou em mim, rapidamente fechando a distância entre nós, e antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para o chão, um movimento tão fluido e eficaz que me fez sentir a pressão do seu corpo contra o meu.
"Não pense. Sinta", ele disse, sua voz baixa e intensa. Sua respiração estava tão próxima da minha, e quando ele me segurou, seus braços envolvendo os meus, a proximidade foi quase demais. Não pude evitar. Algo dentro de mim se agitou de forma irracional, um desejo confuso e inexplicável. Ele estava tão perto. Sua pele contra a minha. O calor de seu corpo contra o meu. Eu sentia o ritmo de sua respiração, e isso me desconcertava.
"Levante-se", ele disse, suas mãos guiando-me para que eu me colocasse de pé. Eu me forcei a seguir seus movimentos, tentando afastar a sensação de que ele estava me tocando mais do que o necessário. A proximidade dele estava me deixando nervosa, mais do que eu queria admitir.
Aron me corrigiu quando eu fiz um movimento errado, me ajustando com uma paciência que eu sabia ser difícil para ele. Ele não era o tipo de pessoa que tinha muita paciência, mas para mim, ele parecia mudar. Sua mão estava sempre ali para me guiar, seus dedos tocando meu ombro ou minha cintura com uma firmeza que me fazia sentir… frágil. Eu não estava acostumada a isso. Não estava acostumada a ser tocada assim, com tanto cuidado, com tanto foco.
"Não relaxe. Se você relaxar, ele vai perceber", ele disse, sua voz mais grave do que antes. Eu o olhei, mas não consegui manter o contato visual por muito tempo. Eu estava ciente da tensão que havia entre nós, a energia carregada que só aumentava à medida que ele se aproximava mais para corrigir meus movimentos.
Ele se posicionou de maneira que agora nossos corpos estavam ainda mais próximos. Quando ele me mostrou a maneira certa de aplicar uma chave de braço, sua mão foi diretamente para a minha, e eu senti o toque de seus dedos firmemente pressionando, ensinando-me onde colocar a força, onde aplicar a técnica. A maneira como ele tocava minha pele, como se estivesse realmente absorvendo cada movimento meu, me fez perder um pouco a noção do tempo. Eu estava ciente de sua presença a todo momento. Cada vez que ele se aproximava, cada vez que seus músculos se moviam, a proximidade dele se tornava ainda mais difícil de ignorar.
"Concentre-se, Victória. Quando estiver perto do seu oponente, não se distraia", ele disse, sua voz tensa. Mas seu olhar era diferente. Eu sabia que ele não estava apenas me ensinando a lutar, ele estava testando algo mais, algo que eu não estava completamente pronta para enfrentar. Minha respiração estava descompassada, e eu sabia que Aron estava ciente disso.
Eu respirei fundo, tentando afastar os pensamentos que me deixavam ansiosa. Mas sabia que, ao lado dele, seria impossível ignorar o impacto de cada movimento. E, de alguma forma, isso só me fazia querer continuar lutando, querer continuar sentindo.
A cada toque, a cada movimento, a tensão entre nós crescia. E, no fundo, eu sabia que essa luta – essa dinâmica – estava apenas começando.
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Comments
Rosária 234 Fonseca
estou torcendo por eles muito mesmo
2025-04-02
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