Capítulo 14 – O Destino de Victória
A porta se abriu suavemente, e uma figura imponente entrou na sala. A luz das velas dançava sobre a pele da mulher, que se aproximou com passos silenciosos, quase como se flutuasse. A rainha, com sua postura ereta e olhar penetrante, fez-me sentir como se estivesse diante de um monstro antigo, com olhos que carregavam séculos de sabedoria e segredos.
Ela usava um vestido de seda verde escuro, bordado com fios de ouro que refletiam a luz das velas, e seu cabelo, tão negro quanto a noite, caía em cascata até suas costas. Seus olhos, de um verde tão intenso quanto suas vestes, brilhavam com uma intensidade que parecia penetrar minha alma. A sala, com suas paredes de pedra e tapeçarias pesadas, parecia encolher sob o peso da sua presença.
Fiquei ali, em pé, observando-a, sem saber o que esperar. O silêncio entre nós era denso, como se o ar estivesse carregado de uma tensão palpável. Cada passo dela ecoava como um trovão no meu peito.
Ela parou na minha frente e me observou, seu olhar fixo em mim como se estivesse analisando cada detalhe da minha alma. Não me atrevi a falar, sabia que esse momento não era sobre mim, mas sobre o que ela queria de mim.
— Victória, — a rainha disse, sua voz suave, mas firme, — você veio aqui por um motivo, não é? Não é apenas uma convidada neste castelo, não é?
Eu engoli em seco, o peso das palavras dela caindo sobre mim. A verdade era que eu mesma não sabia o que estava acontecendo, mas também sabia que não tinha mais volta.
— Eu... não sei o que estou fazendo aqui, — minha voz saiu baixa, mas clara o suficiente para que ela ouvisse.
Ela sorriu, mas não era um sorriso amigável. Era um sorriso como se ela soubesse algo que eu não sabia, como se ela visse através de mim.
— Você sabe muito mais do que imagina, Victória. — Ela se aproximou, o perfume doce de flores exóticas envolvendo-me. — O que você sente ao estar aqui?
Eu hesitei. Não queria ser fraca, mas não consegui controlar o turbilhão dentro de mim. A sensação de estar no centro de um jogo que não compreendia me engolia. Eu me senti pequena, insignificante, diante de toda a grandiosidade que a rainha representava.
— Eu... me sinto deslocada, — respondi, minha voz tremendo um pouco. — Eu não pertenço a esse lugar. Nada aqui é como o que eu conhecia. Eu sou humana, e... e tudo aqui é tão... grande. Eu não sei se sou forte o suficiente para lidar com tudo isso.
A rainha me observou em silêncio por um momento. Seu olhar era profundo, quase como se ela estivesse lendo minha alma. Eu não sabia se ela estava surpresa ou se já esperava uma resposta como aquela.
— Você tem razão, Victória. — A rainha finalmente falou, sua voz suave, mas carregada de um peso que me fez arrepiar. — Você é humana. E nesse mundo feérico, isso pode ser tanto uma fraqueza quanto uma força. Mas é justamente por sua humanidade que você foi trazida até aqui.
Eu franzi a testa, sem entender. A rainha deu um passo em direção à janela, olhando lá fora para o vasto reino feérico que se estendia sob a luz da lua.
— Você está aqui porque há um propósito maior para você, Victória. Você foi escolhida, mas não apenas como um peão em um jogo de poder. Não. Você tem um papel a desempenhar que pode mudar tudo o que conhecemos.
Aquelas palavras me deixaram sem fôlego. Eu queria perguntar mais, mas a verdade era que eu não sabia nem por onde começar.
— Mudança? O que quer dizer com isso? — minha voz estava quase imperceptível, mas a rainha pareceu ouvir perfeitamente.
Ela se virou lentamente para mim, e por um momento, seus olhos brilharam com uma intensidade assustadora.
— A humanidade é frágil, Victória, mas também é cheia de potencial. Você tem algo dentro de si que os feéricos não têm. Algo que os assustaria se eles soubessem. Você tem o poder de alterar o curso das coisas.
Eu me senti ainda mais perdida. O que ela queria dizer com isso? Qual poder eu tinha, sendo apenas uma simples humana?
— Eu... não entendo. — Eu quase sussurrei, lutando para manter o controle sobre minhas emoções. — Eu não tenho poder. Sou só uma garota que foi levada para cá sem querer. O que eu posso fazer em um mundo como este?
A rainha se aproximou de mim, e seu olhar era penetrante, como se ela estivesse buscando algo em meu interior.
— O que você pode fazer, Victória, está além do que você compreende agora. A decisão está em suas mãos. — Ela fez uma pausa, como se estivesse ponderando algo importante. — Você tem o poder de escolher. Pode permanecer sendo uma observadora, alguém à margem da história. Ou pode aceitar seu destino e se tornar parte do que está por vir. Mas saiba, uma vez que fizer sua escolha, não haverá como voltar atrás.
Eu fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras. O peso delas era esmagador. Era como se ela estivesse me oferecendo o universo inteiro, mas com o preço de uma decisão que eu não tinha ideia de como tomar.
— O que acontece se eu escolher errado? — perguntei, minha voz quase um suspiro.
A rainha não respondeu de imediato. Ela olhou para mim com um olhar sério, quase triste, como se soubesse que minha vida nunca mais seria a mesma.
— Não existe escolha certa ou errada, Victória. Existe apenas o destino. E o seu está ligado ao meu, de maneiras que você ainda não consegue compreender.
Eu estava confusa, mas também sabia que não podia ficar parada. Algo estava mudando dentro de mim, uma sensação de urgência que eu não podia ignorar. Eu precisava descobrir o que o futuro reservava para mim. O que quer que fosse, parecia que eu estava sendo empurrada para algo muito maior do que eu mesma.
Respirei fundo, tentando reunir a coragem que faltava.
— Eu... aceito. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Aceito descobrir o que está reservado para mim.
A rainha sorriu então, um sorriso que não era apenas de satisfação, mas também de reconhecimento.
— Você fez a escolha certa, Victória. Agora, prepare-se para o que está por vir.
E com isso, ela se afastou, deixando-me com um peso no peito e um coração batendo acelerado, enquanto as portas do destino se abriam diante de mim.
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