Capítulo 9 – Victória
Aquele momento, em que todos os olhos estavam fixos em mim, foi como se o tempo tivesse parado.
Não sabia se estava mais nervosa por todos os feéricos me observando ou por aquilo que o grã senhor da Corte Vantharis acabara de dizer. O impacto de suas palavras reverberava dentro de mim como uma onda prestes a me engolir, uma verdade que eu não compreendia, mas que parecia tão inevitável quanto a chegada de uma tempestade.
Quando Aron me chamou com um gesto da mão, não sabia o que esperar. Seus olhos violetas estavam fixos em mim, e tudo ao meu redor parecia desaparecer, como se o universo tivesse se concentrado em nosso vínculo. Algo dentro de mim tremeu, e as garotas ao meu redor, embora parecessem temerosas, não conseguiam deixar de me olhar com uma curiosidade silenciosa. Elas sabiam que algo estava prestes a acontecer.
Eu hesitei por um instante, o peso de estar no centro de todas aquelas atenções me oprimia. Mas, como se guiada por uma força invisível, me aproximei de Aron. Cada passo parecia mais difícil do que o anterior, e a sensação de ser observada era sufocante. A reação dos feéricos ao redor de nós foi instantânea. Alguns observaram com uma mistura de fascínio e reverência, outros com desconfiança, mas todos, sem exceção, sentiram a tensão que emanava do vínculo que existia entre Aron e eu.
Foi então que o grã senhor, que até aquele momento estava com uma expressão impassível, arregalou os olhos. Ele olhou de Aron para mim, e um estranho silêncio caiu sobre a multidão. A atmosfera parecia tensa, carregada de algo que eu não podia definir.
— Você encontrou a sua parceria… e ela é humana, príncipe? — O grã senhor disse com uma voz grave, quase um sussurro, mas que se espalhou por todo o lugar. Suas palavras estavam carregadas de um misto de surpresa e desconfiança. “Príncipe”… ele chamou Aron de príncipe.
Eu senti o sangue gelar nas minhas veias. A palavra ressoou em minha mente como um eco. "Príncipe"? O que isso significava? Eu olhei para Aron, meu olhar se encontrando com o dele. Ele permaneceu em silêncio, e uma parte de mim queria gritar, exigir respostas, mas estava tão paralisada pela situação que só consegui perguntar com a voz trêmula:
— O que você quer dizer com “príncipe”? — Minha pergunta saiu mais forte do que eu imaginava. Eu não sabia se era a minha curiosidade ou a crescente frustração com a situação que fazia minha voz soar assim.
O grã senhor olhou de Aron para mim, e seus olhos se estreitaram, como se ele estivesse avaliando o peso de minha pergunta. Aron, por sua vez, não demonstrou nenhuma reação imediata. Ele apenas me observava, e naquele olhar, eu vi algo mais. Não era desprezo, nem muito menos condescendência. Era… algo que eu não podia identificar, uma intensidade que me deixava nervosa.
— Príncipe, como o senhor se referiu, é um título de grande respeito — o grã senhor respondeu, sua voz ainda profunda e cheia de uma autoridade inquestionável. Ele fez uma pausa, como se ponderasse suas palavras. — Embora os feéricos, como você bem sabe, sejam liderados por seis grandes senhores, os príncipes, como o de nossa Corte Vantharis, possuem um peso… especial.
Eu o olhei sem entender, e então ele continuou, como se não quisesse esconder nada mais.
— O príncipe Aron, embora não se declare assim para todos, é um dos herdeiros legítimos de nosso reino.
Ele não é apenas um guerreiro ou um feérico qualquer. Ele está entre aqueles que governam e controlam os destinos de todos os feéricos. E seu vínculo com você, uma humana, é uma combinação rara e inesperada. Algo que jamais aconteceria sem um propósito.
Eu engoli em seco, sentindo o peso de suas palavras. Um príncipe? Isso significava que Aron, em alguma parte desse complexo mundo feérico, possuía poder.
Não era apenas uma figura de respeito ou de liderança entre os feéricos. Ele era alguém com um título, um herdeiro de algo que eu mal conseguia compreender. Mas ele não me explicava nada. Só me olhava como se fosse algo inevitável. Algo que, agora, estava acontecendo entre nós.
Olhei para Aron, esperando algum tipo de confirmação, mas ele apenas manteve o olhar fixo em mim. Ele não parecia surpreso com as palavras do grã senhor. Na verdade, ele parecia… entediado. Eu não sabia o que pensar, mas minha mente estava girando com mais perguntas do que nunca.
— Então, o que isso significa para mim? — Eu não consegui evitar a pergunta. — O que acontece comigo agora? Eu sou apenas uma humana… uma garota que mal entende o que está acontecendo.
Como posso ter… esse vínculo com você, Aron? E por que sou tão importante?
Aron, finalmente, rompeu o silêncio. Ele deu um passo em minha direção, e o mundo ao nosso redor pareceu parar por um momento. Todos os feéricos, que estavam à distância, estavam atentos. A pressão do vínculo entre nós parecia densa no ar.
— Isso significa que sua vida nunca mais será a mesma — Aron disse com um tom baixo, mas tão claro como o vento cortante. Ele não sorriu, não se desfez de sua expressão séria. — Agora, você é parte de algo maior. Não há como voltar atrás. Mas eu também não vou forçá-la. Se você quiser entender o que isso significa, terá que seguir meu caminho. Mas, tenha certeza, Victória, que o caminho já foi traçado.
Eu olhei para ele, tentando encontrar algum vestígio de emoção em seus olhos, mas eles estavam impenetráveis. Algo dentro de mim queria gritar, mas eu sabia que isso não adiantaria. Eu não tinha mais controle da situação. Estava envolvida em um mundo que nunca imaginei que existisse, e Aron… Aron estava no centro dele. Mas o que ele queria de mim? O que ele esperava?
Aquela pergunta ficou no ar, sem resposta.
O grã senhor da Corte Vantharis observou toda a troca com um olhar mais suave, como se tudo fosse apenas parte de um jogo maior. Então, ele se virou para os outros feéricos ao redor e fez um gesto com a mão. Era como se ele tivesse cumprido sua parte e agora estivesse aguardando ordens.
— Levem as humanas para as carruagens. — Sua voz soou imponente novamente, e os feéricos começaram a se mover rapidamente. Aron não disse uma palavra a mais.
Os feéricos começaram a organizar as garotas, e logo fomos direcionadas para as carruagens que estavam esperando nas ruas. As grandes carruagens de madeira escura, puxadas por corcéis imponentes, estavam decoradas com detalhes dourados e símbolos que eu não reconhecia. Era como se toda aquela cena estivesse envolta em uma aura de nobreza e poder, mas ao mesmo tempo, havia uma sensação de desespero no ar. Algo estava prestes a acontecer.
Aron não se aproximou mais de mim. Ele observou de longe enquanto as garotas eram colocadas dentro das carruagens. Seus olhos violetas estavam fixos em algo distante, e eu senti uma dor aguda no peito, como se ele estivesse distante de mim, mesmo estando tão perto. Por fim, ele fez um gesto, e as carruagens começaram a se mover. Nós partimos, sem saber exatamente para onde, mas todos os sinais indicavam que nossa jornada estava apenas começando.
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Comments
Marsane
Então vamos nos preparar para uma estória longa, emocionante, intrigante, misteriosa… e incrível!!!!!!! Já li a sua outra estória sobre feéricos, e adorei!!! Uma das melhores e mais bem escritas que já li!!!! Estou empolgadíssima!!!!
2025-03-22
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